Ives Macena é referência em minha vida e na de muitos artistas e gestores culturais em todo Rio de Janeiro, sobretudo, na Zona Oeste da capital muitos destes personagens não estão mais entre nós.
Confesso que lágrimas verteram, que meus batimentos alteraram-se um pouco e que minha boca secou; normal quando um ser importante em nossa vida e em nossa trajetória, sem pedir nada em troca, apenas se doando, recebe uma titulação dessa envergadura. Uma moção equivalente à grandeza de sua obra.
Ives Santos Macena, meu amigo, és um farol que ilumina nossos caminhos nestas 3 décadas de dedicação, amor e Referência em minha vida e na de muitos aqui. Confesso que lágrimas verteram, que meus batimentos alteraram-se um pouco e que minha boca secou; normal quando um ser importante em nossa vida e em nossa trajetória, sem pedir nada em troca, apenas se doando, recebe uma titulação dessa envergadura. Uma moção equivalente à grandeza de sua obra. Este texto não é uma matéria profissional ou formal, é uma homenagem pessoal que se estende à absoluta unanimidade de aprovação e positividade que te envolve.
Outorga Dr Honoris Causa Ives Macena
O teu legado está aí: um divisor de águas na cultura carioca e brasileira, sim. Espaços semelhantes às lonas culturais e às arenas–que tu desenvolvestes e criastes no coração pulsante de Campo Grande na Zona Oeste carioca – espalharam-se pelas regiões do país, com o objetivo único de levar as 7 artes a todos, de levar cultura, formação, conhecimento e uma educação libertadora a quem não tem condições de pagar, pois arte é caro e privilégio de poucos abastados.
Seu legado também está, principalmente, no corpo, na mente e n'alma de seus filhos e netos. Teu trabalho está longe de acabar e esta titulação que parte do academicismo federal é mais que merecida; é o desfecho natural de uma biografia do tamanho do universo.
As bases são fundamentais mesmo para o "novo", um ponto de referência sempre se faz necessário. Bases criam lógicas e com isso comprovações. Até para uma inovação é preciso ter uma base para o caminho, para não virar qualquer coisa, principalmente quando nos propomos a trabalhar com uma cultura, um nicho específico que já têm suas bases e características de identidade reconhecidas.
Nesse caso a inovação deve acontecer dentro do próprio nicho, cultura, pois há fundamento pelo conhecimento dessas características bases que funcionam como uma proteção de identidade e define a diferença cultural. Exemplo, um phd em samba não tem o pertencimento e não conhece as características básicas da cultura rock para querer criar inovações nesse nicho que não é o seu, e vice-versa, mesmo que ambos tenham influências em comum, pois tomaram caminhos de identificação diferentes.
Resumindo, todo efeito tem uma causa básica. Sem bases nada fica em pé, sem bases não se consegue contruir estruturas firmes. As bases do rock são as que o definem como rock, em toda inovação do gênero elas estão lá continuando a caracterizá- lo como rock e não samba, forró...Sem bases você descaracteriza qualquer seguimento. Cada estilo de dança tb tem suas bases para caracterizá-las como, inclusive tb culturais. Sendo assim nada mais coerente e certo que o Rock Chain e seu método tenha sido criado com base, no caso a cultura rock por eu pertencer a ela. Minha opção artística? Manter suas características mesmo na inovação, e mesmo que muitos na modernidade acreditem que renovar seja acabar com características bases e misturar tudo em nome de uma individualidade globalizada, com diferentes fórmulas de copia e cola.
Tudo bem, liberdade de expressão, cada um na sua, a minha eu quero que tenha base e respeito a elas, principalmente que sei que ninguém cria nada, somos ferramentas da dona do pensamento, a Mãe Natureza, mas isso é outro assunto, outra cultura...
Rock&Metal Dance®️ Perfect Strangpart part 1- com Black Dog Brazil
Na madrugada do dia 27 de dezembro de 1968, duas semanas depois de o governo decretar o AI-5, Caetano Veloso e Gilberto Gil foram retirados dos apartamentos onde moravam, no centro de São Paulo, e levados em uma caminhonete ao Rio de Janeiro. Conduzidos por policiais à paisana, eles foram presos sem nenhuma justificativa.
Em 'Narciso em férias', volume avulso do capítulo homônimo de Verdade tropical, Caetano Veloso relata o impacto brutal que os 54 dias vividos no cárcere deixariam em sua vida — não apenas pela dimensão política, mas também pela perspectiva psicológica e artística.
Esta edição inclui uma seção com registros do processo aberto pela ditadura militar contra o cantor e compositor. Esses documentos ficaram guardados no Arquivo Nacional e seriam revelados ao artista pela primeira vez cinquenta anos mais tarde, em 2018. No texto de apresentação que inédito, Caetano anuncia: "este, que é meu escrito a que atribuo maior valor, entra na cena atual da vida política brasileira de modo abrasivo".
Como romance gótico, faroeste, violento, sangrento e crítico, "Meridiano De Sangue" funciona. Mesmo com sua aridez a obra de McCarthy impressiona.
CormacMcCarthy_MeridianoDeSangue
Por Antonio Siqueira
“Meridiano de Sangue” traz a realidade à superfície da ficção, entregando ao leitor um recorte importante da história norte-americana, nos colocando em uma jornada de confrontos entre índios, mexicanos e americanos, onde o que se vê são corpos sendo desmembrados, escalpados, crianças estupradas e muito sangue jorrando, o que faz total sentido ao título da obra, ao mesmo tempo que choca e encanta, não pelas barbáries descritas ao longo das 352 páginas, mas sim pelo lirismo e metáforas inseridas em sua escrita, o que se assemelha e muito ao que Guimarães Rosa fez com “Grande Sertão: Veredas”, o livro mais famoso do brilhante escritor brasileiro.
O romance cumpre com maestria o seu papel. Embarcar na leitura da elogiada e emblemática obra de Cormac McCarthy, não foi um processo fácil e nem dos mais agradáveis. Com uma escrita experimental e uma narrativa bastante linear, McCarthy tece uma história deveras sangrenta, que se desenvolve através de uma estrutura textual pesada e com longuíssimas sentenças.
“Pois suas ideias são terríveis e seus corações são fracos. Seus atos de piedade e de crueldade são absurdos, sem calma, como que irresistíveis. Enfim, vocês temem o sangue cada vez mais. Vocês temem o sangue e o tempo.“ Paul Valéry
Mas nada supera na obra de McCarthy – por mais elogiado e genial que seja – um dos personagens mais interessantes, assustador, enigmático e inteligente que tive a oportunidade de conhecer. Juiz Holden, um homem alto, careca, que não possui pelos pelo corpo, pedófilo, assassino, poliglota, “onisciente”, que nunca dorme, que não envelhece, que se diz imortal, que caminha através do fogo sem se queimar e que fascina e amedronta não somente os personagens, mas também ao leitor. Quem seria este ser? O diabo em forma humana? Tal questionamento intriga e coloca o romance gótico de MarcCarthy ao lado de obras fáusticas como “Fausto” de Goethe e, como citado acima, “Grande Sertão Veredas” de Guimarães Rosa. Tal antagonista se equilibra muito bem com o protagonista Kid, o garoto de comportamentos ambíguos, de inocência perdida, desejado e perseguido por Holden. A jornada e embates entre os personagens nos faz questionar os limites e raciocínios quanto a crueldade humana e a humanidade em sua amplitude. Em meio a tantos conflitos onde vidas são diariamente ceifadas, não estaria realmente o diabo entre nós?
Limpeza étnica era política de Estado dos governos norte-americanos no século 19. A desculpa de sempre, nas disputas territoriais visando à demarcação de fronteiras: os aborígenes (Apaches, Sioux, Cherokees, Comanches, Iroqueses, Gilenos etc.) representavam um obstáculo para o progresso econômico capitalista e à integração nacional do país, que agregou também o Sul agrário, muito semelhante ao Brasil colonial. Estima-se que, em seu movimento para o Oeste, 23 milhões de índios foram dizimados: três vezes o número de judeus mortos pelos nazistas, na Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
The Kid
Além do componente econômico pesava, ainda, a variável cultural do racismo, uma vez que a miscigenação — ao contrário do que aconteceu largamente no Brasil — estava fora de questão para o invasor: brancos judaico-cristãos oriundos da Nova Inglaterra (atual costa Oeste dos Estados Unidos). Uma espécie de “pessoas de bem”, daquela época. A política anti-indigenista tornou-se abertamente agressiva com um dos mais respeitados presidentes do país, o democrata Andrew Jackson (1829-1837), que mereceu de André Maurois, biógrafo francês, o seguinte retrato: “Mal grado seus duelos, suas pragas pitorescas e seus acessos de cólera, lia a Bíblia e tinha a dignidade e as maneiras cavalheirescas do Sul”. Conhecemos bem o tipo, mas nada disso adiantou muito ao cidadão exemplar do Tennessee. A promulgação do “Indian Removal Act”, de 1830, permitiu a este homem do povo segregar mais de 16 mil índios do Sul no estado de Oklahoma, a Oeste do Rio Mississippi. Tais deslocamentos populacionais ficaram conhecidos como Trail of Tears (Rastro de Lágrimas).
E por falar em “Grande Sertão Veredas” de Guimarães Rosa: as histórias sucedem mais ou menos na mesma época, ou seja, a partir da segunda metade do século 19. “Meridiano de Sangue” se passa no inóspito oeste nos Estados Unidos da América, numa zona cruenta onde digladiam os conquistadores americanos brancos, os indígenas e os mexicanos. O cenário do “Grande Sertão: Veredas” é aquele território árido dos sertões mineiro, goiano e baiano, dominado pela sede, pela fome, pelo medo, pela solidão e pela selvageria que, se não garante a existência, pelo menos, adia a morte, num roteiro mais do que imperfeito para propiciar que um cangaceiro se apaixonasse por outro, criando um silente dilema afetivo, o qual somente se desfaz no final da trama, quando ocorre a trágica morte de Diadorim, cuja real identidade pertencia a uma mulher, por nascença, o alvo do amor enrustido sentido por Riobaldo. Nesse ponto, perpassa uma clara discrepância entre as obras: não há espaço para o amor, por mínimo que este seja, em “Meridiano de Sangue”.
“O juiz se curvou para mais perto. O que acha que é a morte, homem? De quem estamos falando quando falamos de um homem que existiu e não existe mais? Serão esses enigmas incompreensíveis ou não farão parte da jurisdição de todo homem? O que é a morte senão um agente?”
O Juiz
“Não faz diferença o que o homem pensa da guerra, disse o juiz. A guerra perdura. É a mesma coisa que perguntar o que o homem pensa da pedra. A guerra sempre vai existir. Antes do homem aparecer, a guerra estava a sua espera. A ocupação suprema à espera do praticante supremo. Assim foi e assim será. Assim e de mais nenhum outro jeito.”
Gostando ou não gostando, sendo um livro complexo, arrastado e as vezes maçante, a verdade é que “Meridiano de Sangue” já nasceu clássico. Um livro que se transforma e nos transforma.
Um jantar que reduziu a arte do humor à uma sessão conversa de pátio de presídio
Festa Estranha Com Gente Esquisita...
Sátira é arte. Humor é arte e arte complexa! Fazer rir é mais difícil que fazer chorar, esteja certo. Mas o humor inteligente é compreendido por todos, por que é simples, eficaz, cênico e limpo. A arte é resistência, é por essência, oposição ao rolo compressor de classes e a sátira, o humorismo, sempre foi um fiel companheiro desse ritual, deste exercício em forma de manifesto social. Não mais no Brasil.
Não mais no Brasil de Oscarito, Grande Otelo, Costinha, Mazzaropi, Sérgio Porto (pai do icônico personagem Stanislaw Ponte Preta), Ronald Golias, Agildo Ribeiro, José Simão, Ary Toledo, Henfil, Jô Soares, Chico Anísio e mais recentemente do que nunca, Marcelo Adnet, Gregório Duvivier e o fenômeno que se eternizou, assassinado categoricamente pelo genocídio moderno: Paulo Gustavo. A verdade é que a sátira é uma técnica literária ou artística que ridiculariza um determinado tema, geralmente como forma de intervenção política ou outra, com o intento de provocar ou evitar uma mudança que oprima as massas. Sempre foi resistência e motivo de cárceres nas mais fétidas masmorras do Império Romano, na Europa Medieval e pós medieval, dente outras civilizações. Foi bem como encenou o moleque André Marinho, ex militante da causa bolsonaristas com seu pai milionário, Paulo Marinho sobre "os paus de araras na praça dos três poderes" em alusão ao Presidente Jair Messias Bozo Bolsonaro, figura central da ridicularizarão em uma mesa que reunia os maiores bilionários do "Brasil Pandêmico". O que pra eles era uma piada, para o povo é humilhação, tortura, porrada, infortúnio...desprezo. E Bolsonaro é isso: um palhaço perigoso, controlado por uma dúzia de banqueiros, industriais, bilionários parasitas e magnatas da comunicação. Não obstante; o grande "barato", a grande piada é Naji Nahas oferecendo um jantar a Temer com todas essa "gente boa" a pastar o luxo. Naji Nahas, um único homem que quebrou a bolsa de valores do Rio. Aliás, a Bolsa de Valores Do Rio De Janeiro jamais se recuperou e, praticamente, encerrou suas atividades no ano 2000. Antes de qualquer coisa, é preciso saber: quem é Naji Nahas?
Naji Robert Nahas nasceu em 1947 no Líbano e em 1969 se mudou para o Brasil trazendo consigo uma fortuna, herança de família, de alguns milhões de dólares. Com 22 anos na época, o objetivo de Nahas era empreender em terras brasileiras por meio de investimentos e compras de empresas de diversos nichos. Por conta disso, o empresário adquiriu fábricas, bancos, seguradoras e investiu até na criação de coelhos. Os investimentos deram resultados e multiplicaram. Nahas consolidou seu império e, antes dos 40 anos, já era dono de um conglomerado multimilionário. Buscando multiplicar ainda mais sua fortuna, na década de 1980 o empresário começou a investir em ações nas bolsas de valores brasileiras; como revelou em matéria recente a jornalista do mercado financeiro, Regiane Medeiros. Nahas foi condenado, cumpriu pena em casa, continuou, supostamente, sabotando o mercado financeiro dentro de casa, em liberdade, rindo de tudo e de todos e oferece jantar a ex presidentes e comensais de fina estampa. Cidadãos de classe e nível!
O pobre de direita que elegeu Bolsonaro, não sabe quem é Naji Nahas, o anfitrião do vampiro. A amnésia coletiva do brasileiro é concernente a fatos históricos, sejam estes recentes ou não. Recebemos o rótulo de "povo sem memória". Por vezes, e não são poucas estas "vezes", o rótulo cabe a "povo sem vergonha". Mas o trabalho feito pelas elites para que passássemos do estágio de "povo sem memória" para "povo ruminante (gado por essência)", foi longo e eficaz. Os bilionários que estão à mesa e a imprensa pintada na cara sorridente de escárnio de Roberto D'ávila não negam fatos. A mesa do jantar promovido a Temer e animado por um moleque palhaço aspirante a humorista, remonta um brasil do Século XIX com o Imperador e seus comensais. Temer era ladeado por Jorge Leman, João Carlos Saad, presidente do Grupo Bandeirantes de Comunicações, alguns banqueiros, um ou outro gigante varejista e um garçom servindo muito bem a estes homens. Aliás, o garçom, na camada inferior ao cheff que preparou o rega-bofe, é o único representante do pobre, seja este pobre um pobre diabo de direita ou de esquerda. Representa ali o que somos: uma massa falida que assina mais um golpe de estado de Michel Temer. Um golpe em cima de uma intenção do golpe, depois de um golpe bem sucedido. Pudera: nós fomos, historicamente, paridos por golpes.
O jornalista, produtor musical e compositor Ronaldo Bastos Ribeiro, nascido em Niterói (RJ), na letra de “Lumiar”, exalta um vilarejo bucólico, repleto de vida, diversão e um ótimo lugar para quem deseja somente descansar, na região serrana do Rio. A música foi gravada por Beto Guedes, em 1977, no LP A Página do Relâmpago Elétrico, pela EMI-Odeon. Curiosamente, Beto só veio conhecer Lumiar alguns anos depois.
Lumiar é um distrito de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro
LUMIAR (Beto Guedes e Ronaldo Bastos)
Anda, vem jantar, vem comer, vem beber, farrear
até chegar Lumiar
e depois deitar no sereno
só pra poder dormir e sonhar
pra passar a noite
caçando sapo, contando caso
de como deve ser Lumiar
Acordar, Lumiar, sem chorar, sem falar, sem querer, acordar em Lumiar
levantar e fazer café
só pra sair caçar e pescar
e passar o dia
moendo cana, caçando lua
clarear de vez Lumiar
Amor, Lumiar, pra viver, pra gostar, pra chover pra tratar de vadiar
descansar os olhos, olhar e ver e respirar só pra não ver o tempo passar
pra passar o tempo
Até chover, até lembrar
de como deve ser Lumiar
Anda, vem jantar, vem dormir, vem sonhar, pra viver até chegar em Lumiar Estender o sol na varanda… até queimar só pra não ter mais nada a perder pra perder o medo, mudar de céu, mudar de ar
Feliz Aniversário, Zé Renato e muito obrigado por ter feito a minha adolescência muito feliz com esta voz que é o que mais se aproxima da perfeição. Lembro que um show do Boca Livre e sobretudo com você solo ou com algum ilustre convidado era (...é e sempre será) um acontecimento especial que nos tirava de casa para lhe prestigiar e, igualmente, locupletarmo-nos com seu talento e empatia. Obrigado e felicidades. Tenho acompanhado a sua luta por melhores dias e digo: Feliz Aniversário, Você não está sozinho!
Zé Ranato e Monica Salmaso em momento maravilhoso na Rede Social Facebook
Há exatos 100 anos, no dia 11 de março de 2021, nascia Astor Piazzolla, bandoneonista e compositor argentino, conhecido mundialmente por revolucionar o tango. Nascido em Mar del Plata, aos 8 anos ele ganhou o primeiro bandoneón, instrumento musical de palhetas livres semelhante a uma sanfona. Na adolescência Piazzolla conheceu Carlos Gardel, o cantor de tango mais famoso da história. Gardel convidou Piazzolla para tocar em sua turnê, em 1935, mas a família do bandoneonista não permitiu, já que ele era menor de idade. A recusa salvou a vida de Piazzolla, pois durante a turnê Gardel e os membros de sua banda morreram em um acidente aéreo.
Em 1937, Piazzolla se mudou para Buenos Aires, onde começou a trilhar seu próprio caminho na música. A inovação de Piazzolla foi inserir no tango elementos do jazz e da música erudita, outra de suas grandes paixões. Na década de 1950, inclusive, ele se tornou pianista e conseguiu uma bolsa para estudar música clássica na França.
Foi com a compositora francesa Nadia Boulanger, professora de Piazzolla, que ele descobriu que poderia escrever suas próprias canções. Com suas composições, Piazzolla criou a “música contemporânea de Buenos Aires”. Realizou trabalhos em diferentes países, incluindo o Brasil, e se tornou uma das maiores referências do tango no mundo.
Continuou em atividade até 1990, quando sofreu uma hemorragia cerebral e ficou em coma. Ele morreu em 1992, em Buenos Aires. Piazzolla deixou mais de três mil composições, sendo 500 delas gravadas. Em homenagem ao centenário do bandoneonista, a Bula reuniu em uma playlist dez de suas principais canções.
A seleção está disponível no Spotify. Para ouvi-la, é necessário possuir cadastro no aplicativo e realizar login. Há opção de assinatura gratuita.
Até que a imunidade populacional induzida pela vacina seja alcançada, o mascaramento universal é um meio altamente eficaz para retardar a disseminação do SARS-CoV-2 quando combinado com outras medidas de proteção, como distanciamento físico, evitar multidões e espaços internos mal ventilados e boa higiene das mãos.
O CDC (Centers for Disease Control and Prevention) conduziu experimentos para avaliar maneiras de melhorar o ajuste de máscaras.
Os dados neste relatório ressaltam a conclusão de que um bom ajuste pode aumentar a eficiência geral da máscara. Demonstrou-se que várias maneiras simples de melhorar o ajuste são eficazes.
O cantor, instrumentista, arranjador e compositor cariocaMarcos Kostenbader Vallee seu irmão Paulo Sérgio, na letra de “Viola Enluarada”, retratam um protesto contra a ditadura militar, na época, vigente no Brasil desde 1964. A música foi gravada por Marcos Valle no LP “Viola Enluarada”, em 1967, pela Odeon. A música de Marcos, com letra do seu irmão Paulo Sérgio Valle, virou hino de liberdade de uma juventude esmagada pelos primeiros anos de chumbo do Golpe de 1964. Composta em 1967 e gravada no álbum “Viola Enluarada”, a canção é uma toada, com sabor das músicas que encantavam as plateias nos disputados festivais de MPB que aconteciam naquele final de década. Marcos disse sobre ela que queria provocar e criticar a estrutura social e política do país, então nas amarras da ditadura, com uma canção de protesto bem brasileira.
Além da beleza atemporal da melodia e da poesia, outro ponto de destaque é a participação vocal de Milton Nascimento. Mesmo que eu a tenha escutado inúmeras vezes, quando a coloco para tocar e lá pelos 2 minutos entra o vozeirão do Bituca: “Quem tem de noite a companheira / Sabe que a paz é passageira, / Prá defendê-la se levanta / E grita: Eu vou!” é sempre uma emoção arrepiante!
VIOLA ENLUARADA Marcos e Paulo Sérgio Valle
A mão que toca um violão Se for preciso faz a guerra, Mata o mundo, fere a terra. A voz que canta uma canção Se for preciso canta um hino, Louva a morte.
Viola em noite enluarada No sertão é como espada, Esperança de vingança. O mesmo pé que dança um samba Se preciso vai à luta,
Capoeira.
Quem tem de noite a companheira Sabe que a paz é passageira, Prá defende-la se levanta E grita: Eu vou!
Mão, violão, canção e espada E viola enluarada Pelo campo e cidade, Porta bandeira, capoeira, Desfilando vão cantando
Liberdade.
Quem tem de noite a companheira Sabe que a paz é passageira, Prá defende-la se levanta E grita: Eu vou!
Desde os anos de 1980, com a implantação do chamado ‘neoliberalismo’, o sonho americano como conhecemos morre lentamente e este é o tema do documentário Requiem for the American Dream (O fim do Sonho Americano)
O Documentário mostra através de embasamento científico de Noam Chomsky, considerado como o maior intelectual vivo do planeta, como se mantém a estrutura de poder e corrupção pelo mundo. Como uma minúscula oligarquia mundial, através de seu poderio, consegue sabotar qualquer sonho de democracia e bem-estar.
Mas é preciso alongar e contar toda uma história: Quando Thomas Piketty publicou o seu estudo Capital no Século XXI, um dos maiores levantamentos da distribuição de renda numa linha histórica das últimas décadas, o resultado foi chocante, mas não surpreendente. O economista francês e a sua equipe constataram que estamos no ápice da desigualdade, com uma pequena parcela da população mundial acumulando um excedente de riqueza fora de qualquer projeção e sem qualquer forma de controle ou regulação sobre ela.
O sistema econômico capitalista absorveu anormalidades como essa de forma normatizada, tornando-se anomalias que seriam absurdas em outras configurações de um sistema de economia, mas que no seu seio se tornam características normais. Como essa riqueza e poder se acumularam concentrando-se somente nesse 1% super-rico, tornando-os, segundo a expressão de Adam Smith, “senhores da humanidade”?
Buscando traçar quais os 10 princípios fundamentais da concentração de riqueza e poder, Noam Chomsky — um dos maiores pensadores, linguista e filósofo político vivos — responde a essa questão e elabora reflexões importantes sobre o futuro da humanidade na obra Réquiem Para o Sonho Americano.
O livro é a adaptação do documentário Requiem For American Dream, produzido por Peter Hutchison, Kelly Nyks e Jared P. Scott. Nele, Chomsky expõe, numa espécie de aula, as dez características que baseiam o acúmulo de poder e riqueza na estrutura da economia e da história dos Estados Unidos.
O livro — publicado em 2017 pelo selo Bertrand Brasil, na tradução de Milton Chaves de Almeida — funciona como uma espécie de bloco de anotações do documentário. Todos os elementos abordados por Chomsky no documentário não perdem a força na didática do seu trabalho escrito.
Através de uma série de entrevistas, realizadas durante 4 anos, Chosmky explica Os Dez Princípios da Concentração de Riqueza e Poder:
1.Reduzir a democracia: como uma das maiores preocupações dos “pais fundadores” da sociedade americana, expresso na Constituição e na criação do Senado, a exemplo de James Madinson, era proteger os ricos do “excesso” de democracia, criando mecanismos para que ela “não fugisse do controle”.
2.Moldar a ideologia: o documento “A Crise da Democracia” da Comissão Trilateral, citado por Chomsky, é exemplar nisso.
3.Redesenhar a economia: como o aumento exponencial da participação das instituições financeiras na economia, em detrimento da produção, somada com a desregulação do mercado a partir dos anos 70, potencializada nas décadas posteriores e a elevação do conceito de “insegurança do trabalhador” – celebrado por Alan Greenspan – servem de base para a situação atual.
4. Dividir o fardo: de que maneira o estado de bem estar social dos anos 50 e 60 e a melhora das condições de vida da população foi corroído ao longo do tempo, significando menos impostos para os ricos, que habilmente conseguiram fazer com que a maioria do povo arcasse com os custos básicos da sociedade, enquanto a desigualdade atinge picos históricos hoje em dia.
5. Atacar a noção de solidariedade: obedecendo a máxima de “tudo para mim, nada para os outros” de Adam Smith, como a educação pública e a previdência social foram atacadas e diminuídas, ainda que largamente usada pelas classes A e B no passado e base de sustentação do desenvolvimento da sociedade americana. Partindo desses exemplos, Chomsky mostra como o capitalismo atua para minar nossa capacidade de sentir empatia e solidariedade com o outro, conquistando nossas mentes e nos fazendo refém do egoísmo mais tóxico e abjeto possível.
6.Deixar reguladores atuarem em causa própria: o crescimento absurdo do lobby e como as pessoas escolhidas para definir a legislação são as mesmas que usufruem dela em praticamente todas as áreas da economia e da sociedade.
7. Financiar as eleições:grandes corporações financiando as campanhas presidenciais caríssimas que geram governantes que ficam na mão delas, em um círculo vicioso absurdo. Soa familiar, não?
8. Manter o povo na linha:o ataque ao sindicalismo e todas as organizações de trabalhadores. De que forma eles eram parte essencial da resistência à exploração e ao abuso e, com o tempo, foram minados, seja diretamente pelo governo, seja pelas próprias organizações, que trataram de demonizar profundamente a atuação sindical, chegando a somente 7% de trabalhadores privados sindicalizados hoje.
9. Criar e propagar o consumismo:de que forma a propaganda, de maneira bem engenhosa e eficaz, tratou de criar gerações de consumidores com pouco ou nenhum senso crítico, um roteiro que todos conhecemos bem.
10.Marginalizar a população:“marginalizar” no sentido de excluir o povo das discussões principais, da participação democrática, minando o controle social e gerando cidadãos apolíticos que se engalfinham num ódio à política e ao governo absolutamente cego que, claro, compromete os maiores interessados na melhoria da sociedade: o próprio povo.
Nada disso é novidade, mas a capacidade de Chosmky em mostrar de maneira concisa e didática o seu impacto, somado ao arquivo histórico dos realizadores, faz com que esse documentário seja um excelente resumo de tudo aquilo que é central para o mundo em que vivemos. Vale o documentário e vale, mais ainda, a leitura de "Réquiem para o sonho americano: Os dez princípios de concentração de renda e poder" .
O documentário exibido pela Netflix de "Réquiem para o sonho americano: Os dez princípios de concentração de renda e poder"
O poeta e compositor baiano Lúcio Barbosa tornou-se conhecido, em 1979, quando sua música “Cidadão” foi gravada pelo cantor Zé Geraldo no LP “Terceiro mundo”, da CBS.
Muitos pensam ser esta música de autoria de seu intérprete, por sinal um grande compsitor, mas o poeta e compositor baiano Lúcio Barbosa tornou-se conhecido, em 1979, quando sua música “Cidadão” foi gravada pelo cantor Zé Geraldo no LP “Terceiro mundo”, da gravador CBS. Segundo o próprio Lúcio Barbosa, a música “Cidadão” foi composta em homenagem ao seu tio Ulisses, cuja letra narra a saga de um pedreiro, que, em razão da sua condição humilde, não pode frequentar nenhuma das obras por ele construídas. A inspiração veio do fato do tio também ser pedreiro, ter construído inúmeras obras na cidade grande, mas não possuir casa própria.
A música aborda o preconceito e a discriminação que os nordestinos sofrem nas grandes cidades e faz referência a alguns problemas sociais, tais como moradia, educação e trabalho. E o título “Cidadão” é proposital para demonstrar distanciamento entre os indivíduos privilegiados, em pleno gozo dos direitos civis e políticos, ou no desempenho de seus deveres para com o Estado e demonstra que a sociedade burguesa pode ser muito cruel, quando não considera as pessoas pobres como “cidadãs”.
"CIDADÃO" Lúcio Barbosa
Tá vendo aquele edifício moço
Ajudei a levantar
Foi um tempo de aflição, era quatro condução
Duas pra ir, duas pra voltar
Hoje depois dele pronto
Olho pra cima e fico tonto
Mas me vem um cidadão
E me diz desconfiado
“Tu tá aí admirado ou tá querendo roubar”
Meu domingo tá perdido, vou pra casa entristecido
Dá vontade de beber
E pra aumentar meu tédio
Eu nem posso olhar pro prédio que eu ajudei a fazer
Tá vendo aquele colégio moço
Eu também trabalhei lá
Lá eu quase me arrebento
Fiz a massa, pus cimento, ajudei a rebocar
Minha filha inocente vem pra mim toda contente
“Pai vou me matricular”
Mas me vem um cidadão:
“Criança de pé no chão aqui não pode estudar”
Essa dor doeu mais forte
Por que é que eu deixei o norte
Eu me pus a me dizer
Lá a seca castigava, mas o pouco que eu plantava
Tinha direito a comer
Tá vendo quela igreja moço, onde o padre diz amém
Pus o sino e o badalo, enchi minha mão de calo
Lá eu trabalhei também
Lá foi que valeu a pena, tem quermesse, tem novena
Duas semanas antes de morrer, o ex-governador Leonel Brizola ligou para Denize Goulart - sobrinha de sua mulher, Neuza, e filha do ex-presidente João Goulart - e pediu que ela fosse ao seu apartamento, em Copacabana. Denize foi acompanhada pelo sobrinho Christopher Goulart, filho do seu irmão, João Vicente, que estava em sua casa.
Ela chegou por volta das 11 horas e, embora ainda fosse de manhã, Brizola propôs abrir um vinho. A atitude pouco usual do velho líder trabalhista sugeria uma conversa longa e, talvez, para ele, um tanto difícil.
Começou com um preâmbulo intimista - as reminiscências do exílio, a vida no Uruguai e a própria família - como preparação para algo mais solene que viria em seguida.
“De repente ele olhou para mim e, para minha surpresa, me disse: ‘Eu tenho que te pedir perdão por tudo que vocês passaram. Tenho que pedir perdão a ti, ao teu irmão e aos meus próprios filhos’”, revelou Denize durante um debate organizado pelo Cineclube Macunaíma, da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), na noite desta terça-feira, 2, após a exibição do filme “Jango”, de Sílvio Tendler.
“Mas perdão por quê? Não há nada que perdoar”, respondeu Denize, confessando que jamais pensou em ouvir algo assim de Brizola. Ela narrou, então, a declaração feita por ele com lágrimas nos olhos no final daquela manhã no antigo edifício da Avenida Atlântica, esquina com a Rua Xavier da Silveira:
“Eu fui muito contra o teu pai, muito contra o Jango. Rompi com ele em 64, nos afastamos, apesar de termos depois nos reconciliado. Mas eu fui responsável por muitas coisas e hoje acho que teu pai tinha razão. Não existia a mínima possibilidade de resistência naquele momento. Teu pai já sabia o que eu não sabia”.
“Ele falou isso olhando nos meus olhos. Eu chorava e ele também”, contou Denize.
Rompimento em 64
Brizola: Metralhadora em punho: a campanha da legalidade
A revelação feita por ela remete a uma das questões mais polêmicas da história política recente do Brasil: a decisão do presidente João Goulart de se deixar depor sem luta em 1964.
Três anos antes, em 1961, após a renúncia do presidente Jânio Quadros e o veto militar declarado em seguida contra a posse do vice-presidente constitucional, João Goulart, Brizola, seu cunhado, havia levantado em armas o Rio Grande do Sul, estado que governava na época, para defender a Constituição e o direito de Jango a assumir a presidência da República. A Campanha da Legalidade, como ficou conhecido o último levante armado do povo brasileiro, liderado por Brizola, foi decisiva para impedir o golpe militar naquele momento.
Três anos depois, com a efetivação, em 1964, dos planos golpistas articulados contra os governos trabalhistas desde Getúlio Vargas (1951-1954) até João Goulart (1961-1964), Brizola, então deputado federal pelo PTB, tentou repetir a resistência armada, mas não teve o apoio do presidente. Ele chegou a assumir a direção do governo gaúcho e o comando das forças legalistas do então III Exército, àquela época o mais poderoso do país por sua missão de defender a fronteira Sul do Brasil.
Após tentar, sem sucesso, desarticular o movimento golpista que eclodiu no dia 31 de março em Minas Gerais, inicialmente no Rio de Janeiro, onde se encontrava, e depois em Brasília, para onde voou na manhã do dia 1o de abril, Jango foi ao encontro de Brizola em Porto Alegre. Eles se reuniram no Palácio Piratini, sede do governo gaúcho, onde Brizola apresentou ao presidente um plano de resistência.
Jango governaria de São Borja, na proteção dos pampas gaúchos, nomeando a ele, Brizola, Ministro da Justiça e ao general Ladário Teles, que comandava o III Exército, Ministro da Guerra. O III Exército, segundo o general Ladário, teria condições de recrutar e armar 100 mil civis.
Foi uma reunião tensa, segundo relatos do próprio Brizola e de outros presentes, onde também falaram outros chefes militares leais à legalidade democrática. Ao final da reunião e após ponderar as condições militares desfavoráveis à resistência, Jango agradeceu a lealdade oferecida, mas declarou que não pretendia cobrar do povo brasileiro o preço de sangue necessário para defender o seu cargo.
Operação Brother Sam
A revelação - ”Teu pai já sabia o que eu não sabia” - feita por Brizola a Denize, acompanhada do pedido de desculpas e do reconhecimento de que Jango havia tomado a decisão acertada, por não haver condições de resistência, pode estar ligada a informações geopolíticas internacionais que o presidente já possuía no momento da deflagração do golpe.
Jango teria sido informado ainda na manhã do dia 31 de março pelo ex-chanceler San Tiago Dantas, cujas informações haviam sido transmitidas por suas fontes em Washington, de que a Quarta Frota da Marinha norte-americana havia zarpado em direção ao Brasil. Mantida em segredo por 12 anos, a movimentação dos marines para apoiar o golpe de 64 veio a público em 1976 em uma matéria do jornalista Marcos Sá Corrêa publicada pelo Jornal do Brasil.
A esquadra partiu da base naval de Norfolk em 31 de março, de acordo com as instruções do embaixador norte-americano no Brasil, Lincoln Gordon, que participara ativamente da conspiração contra Goulart. Foram deslocados dois porta-aviões da Marinha, com uma esquadrilha de aviões de caça, um navio com 50 helicópteros, um encouraçado, uma embarcação de transporte de tropas, além de navios petroleiros. Foram também colocados à disposição da frota 25 aviões C-135 e 110 toneladas de armas e munições.
A Operação Brother Sam permitiria uma intervenção militar rápida em pontos estratégicos do Brasil. Em caso de resistência no Rio de Janeiro e no Sul do país, onde estavam as bases trabalhistas mais sólidas, o plano seria seccionar o país praticamente ao meio com o desembarque dos marines no Espírito Santo. A Estrada de Ferro Vitória-Minas seria estratégica para conduzir tropas e suprimentos para os revoltosos mineiros. Magalhães Pinto, então governador de Minas Gerais, declararia o “estado de beligerância” e os Estados Unidos reconheceriam o novo estado do “Brasil do Norte”, a exemplo do que ocorreu na Coreia e no Vietnã.
Reconciliação
Brizola e Jango estiveram rompidos por oito anos. Amargaram, juntos, o exílio no Uruguai, mas não se viam, nem se falavam. Brizola com dona Neuza confinado no balneário de Atlântida, por determinação do regime uruguaio, a pedido do governo brasileiro para impedir sua movimentação, e Jango com Maria Tereza entre Montevidéu e as suas fazendas no interior.
Ambos eram vigiados de perto por agentes da CIA e das ditaduras que se instalavam àquela altura no Cone Sul: primeiro Brasil, depois Chile, Uruguai, Paraguai e por fim Argentina.
Anos depois, já de volta ao Brasil e como governador do Estado do Rio, Brizola revelou detalhes da reconciliação com o cunhado. Jango foi à sua casa em Atlântida em um dia de 1972 para visitar a irmã, que estaria doente. Na verdade, dona Neuza teria simulado uma doença como artifício para atrair o irmão e buscar uma reaproximação entre ele e o marido.
Jango estava acompanhado de um grupo de militantes trabalhistas gaúchos, que articulavam um movimento no Brasil pela volta dos exilados. Para evitar constrangimentos, Brizola foi para o quarto, onde ligou a televisão, que estava transmitindo um jogo de futebol da Seleção Brasileira.
Jango foi sozinho até o quarto e, segundo Brizola, bateu a mão no seu ombro e disse: “Olha, Brizola, tem um grupo de companheiros aí que está querendo lutar pela nossa volta ao Brasil e precisamos conversar com eles”.
Deu-se entre eles um diálogo ainda não conhecido completamente, mas o próprio Brizola ofereceu, conforme disse no mesmo depoimento sobre esse encontro, uma pista do tom da conversa que tiveram em Atlântida:
“Nós nos reconciliamos como dois irmãos italianos. Vocês já viram italianos discutirem em voz baixa?”
Algum tempo depois, Brizola, alertado por militares uruguaios que lhe eram fiéis, teve que deixar às pressas o Uruguai para escapar de um plano para assassiná-lo. Seu nome, assim como o de Jango, estava na lista da Operação Condor, urdida pela CIA com o apoio das ditaduras sul-americanas com o objetivo de eliminar as mais importantes lideranças populares do continente.
Brizola foi para os Estados Unidos, onde recebeu asilo do ex-presidente Jimmy Carter, defensor da luta pelos direitos humanos, e de lá para a Europa, até a sua volta ao Brasil com a Anistia, em 1979.
Jango, acometido de uma doença cardíaca, morreu em 1976. Sua morte até hoje está envolta em suspeitas de um plano para matá-lo por envenenamento. Foi o único presidente brasileiro a morrer no exílio.
Assista o debate do Cineclube Macunaíma e as revelações de Denize Goulart: