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quarta-feira, 19 de março de 2025

Elis: A Eternidade em Forma de Voz

 

Elis transformou dor em melodia e deixou um legado que o tempo não apaga

Elis Oitenta Anos





Por Antonio Siqueira

Se a vida fosse justa, hoje Elis Regina estaria completando 80 anos. Estaria aqui, de cabelos grisalhos e olhos ainda incendiários, cantando para um Brasil que seguiu despedaçado, mas ainda capaz de se emocionar com uma canção. Mas Elis não precisou de tempo para se tornar eterna. Morreu jovem, aos 36, deixando para trás um rastro de fogo e lágrimas que até hoje aquece e corta a alma de quem a ouve.

Nascida em Porto Alegre, em 1945, ela não veio ao mundo: explodiu. Uma força da natureza com timbre de veludo e garras de aço. Nos palcos, era um furacão vestido de elegância. Dominava o microfone como quem domina um amante — com intensidade, ciúme e entrega total. Sua voz não era apenas potente; era urgente. Em "Como Nossos Pais", fez de Belchior um profeta. Em "Águas de Março", transformou Tom Jobim em chuva que lava e afoga. Em "O Bêbado e a Equilibrista", virou hino de um país que sangrava sob a ditadura. Elis não cantava: desnudava.

Há quem diga que seu segredo estava na técnica. Mentira. O segredo estava no risco. Elis mergulhava em cada música como se fosse a última, sem medo de se esfacelar. Brigava com compositores, desafiava maestros, bebia a vida com sede de quem sabia que o relógio corria mais rápido para ela. E talvez soubesse. Deixou gravações que são cartas de despedida sem data marcada: "Casa no Campo", "Arrastão", "Madalena"... Canções que soam como suspiros de quem já pressentia o fim.

Elis não foi perfeita. Foi humana, contraditória, ferida. Teve amores turbulentos, filhos que carregou no colo e nas canções, uma carreira que a consumiu como chama consume o pavio. Mas é justo isso que a faz imortal: sua capacidade de traduzir, em uma única frase, toda a delícia e o desespero de existir.

Hoje, ao imaginar seus 80 anos, penso nela não como uma estátua, mas como um vulcão adormecido em cada nota que deixou. Em um Brasil tão carente de verdade, Elis permanece a nos lembrar que a arte não é refúgio: é confronto. Que a beleza não é para decorar a vida, mas para rasgá-la e mostrar suas entranhas.

Se estivesse aqui, talvez riria dessa homenagem. Diria, com seu sotaque gaúcho arrastado: "Ah, para com isso, meu bem. Pega um uísque e me coloca pra cantar". E então, com um só verso, calaria a todos — porque é assim que os deuses se comportam.

Feliz 80 anos, Elis. Ou melhor: feliz eternidade.


Elis Regina "Redescobrir"

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