Por Antonio Siqueira
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Photographed By Antonio Siqueira |
A pandemia passou, mas alterou percepção geral do tempo, passamos a esquecer o clichê, “daqui até a eternidade” e começamos a viver um dia após o outro, contando as horas inclusive. Mera desilusão, para muitos foram dias severos demais em detrimento da perda de liberdade e da impossibilidade de aparecer socialmente com drinks, smartphones e muita empáfia depois de uma semana de labuta. Já para poucos saiu caro demais! Para aqueles que se importaram com as mais de 700 mil mortes no país, com o desespero de milhões de vidas perdidas mundo à fora e com as próprias perdas na família.
Em um dia de inverno de 1953, Isaac Asimov folheava um velho exemplar da revista Time de 1932 quando viu em suas páginas a imagem de um cogumelo nuclear. Ficou petrificado. Fazendo as contas, ainda faltavam 13 anos para as explosões de Hiroshima e Nagasaki. Depois ele percebeu que essa imagem era, na verdade, a foto de um gêiser. Dessa confusão nasceu um romance de viagem no tempo chamado O Fim da Eternidade, em que se fala do século 150.000, no qual vivem muitas espécies, mas nenhuma humana.
Pelos caminhos que percorreram da declaração da pandemia até o presente momento com os últimos desastres climáticos, nosso relógio mental parece estar se transformando. Expressões como “pelos séculos dos séculos” ou “daqui até a eternidade” nos parecem absurdas, e são cada vez mais os que apontam que a seta do tempo é, na verdade, uma contagem regressiva. Afinal a percepção do tempo mudou desde março de 2020, mas nosso relógio mental está sempre em transformação.
O cérebro é uma máquina do tempo. O tempo é esse estranho elemento que podemos contar em nanossegundos, em séculos ou em lembranças, mas que sempre escapa de nós. Podemos concordar que sim ou que não. Mas todo conhecimento possível não nos ajuda na hora de decifrar sua misteriosa mecânica. Talvez porque seja como pensar sobre nós mesmos. Segundo Carl Sagan, graças ao senso de tempo, o cérebro pensa sobre o passado para prever o futuro. O cérebro é, na realidade, uma máquina do tempo. Provavelmente, pensar para a frente ou para trás é uma velha obsessão. Não é por acaso que “tempo” é o substantivo mais usado no mundo, segundo o dicionário Oxford. E esta nova e estranha percepção do tempo de agora —essa sensação de que precisamos parar para pensar se não quisermos ir a toda velocidade para lugar nenhum— talvez não seja tão nova.
1 comentários:
Que texto interessante! E com referências muito oportunas. Muito bom
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