quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

O "Cidadão" de Lucio Barbosa na voz de Zé Geraldo

 Por Antonio Siqueira




Lucio Barbosa_Ilustration

O poeta e compositor baiano Lúcio Barbosa tornou-se conhecido, em 1979, quando sua música “Cidadão” foi gravada pelo cantor Zé Geraldo no LP “Terceiro mundo”, da CBS.

Muitos pensam ser esta música de autoria de seu intérprete, por sinal um grande compsitor, mas o poeta e compositor baiano Lúcio Barbosa tornou-se conhecido, em 1979, quando sua música “Cidadão” foi gravada pelo cantor Zé Geraldo no LP “Terceiro mundo”, da gravador CBS. Segundo o próprio Lúcio Barbosa, a música “Cidadão” foi composta em homenagem ao seu tio Ulisses, cuja letra narra a saga de um  pedreiro, que, em razão da sua condição humilde, não pode frequentar nenhuma das obras por ele construídas. A inspiração veio do fato do tio também ser pedreiro, ter construído inúmeras obras na cidade grande, mas não possuir casa própria.

A música aborda o preconceito e a discriminação que os nordestinos sofrem nas grandes cidades e faz referência a alguns problemas sociais, tais como moradia, educação e trabalho. E o título “Cidadão” é proposital para demonstrar distanciamento entre os indivíduos privilegiados, em pleno gozo dos direitos civis e políticos, ou no desempenho de seus deveres para com o Estado e demonstra que a sociedade burguesa pode ser muito cruel, quando não considera as pessoas pobres como “cidadãs”.


"CIDADÃO"
Lúcio Barbosa


Tá vendo aquele edifício moço

Ajudei a levantar

Foi um tempo de aflição, era quatro condução

Duas pra ir, duas pra voltar

Hoje depois dele pronto

Olho pra cima e fico tonto

Mas me vem um cidadão

E me diz desconfiado

“Tu tá aí admirado ou tá querendo roubar”

Meu domingo tá perdido, vou pra casa entristecido

Dá vontade de beber

E pra aumentar meu tédio

Eu nem posso olhar pro prédio que eu ajudei a fazer

Tá vendo aquele colégio moço

Eu também trabalhei lá

Lá eu quase me arrebento

Fiz a massa, pus cimento, ajudei a rebocar

Minha filha inocente vem pra mim toda contente

“Pai vou me matricular”

Mas me vem um cidadão:

“Criança de pé no chão aqui não pode estudar”

Essa dor doeu mais forte

Por que é que eu deixei o norte

Eu me pus a me dizer

Lá a seca castigava, mas o pouco que eu plantava

Tinha direito a comer

Tá vendo quela igreja moço, onde o padre diz amém

Pus o sino e o badalo, enchi minha mão de calo

Lá eu trabalhei também

Lá foi que valeu a pena, tem quermesse, tem novena

E o padre me deixa entrar

Foi lá que Cristo me disse:

“Rapaz deixe de tolice, não se deixe amedrontar

Fui eu quem criou a terra

Enchi o rio, fiz a serra, não deixei nada faltar

Hoje o homem criou asas e na maioria das casas

Eu também não posso entrar”

"Cidadão" na voz de seu grande intérprete

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