Em um ensaio publicado em 1995, o célebre acadêmico italiano Umberto Eco listou 14 características do fascismo (ele é só um de muitos pensadores que tentaram fazer essa sistematização). Aqui vão elas, resumidamente. Eco afirma que elas não precisam estar todas presentes simultaneamente:
1. O culto à tradição;
2. A rejeição do movimento modernista, sob alegação de que cultura do Ocidente está depravada;
3. O culto da ação sem reflexão intelectual prévia;
4. Discordar é trair, não cabe ao militante questionar contradições no discurso;
5. Racismo e xenofobia;
6. Apelo à clase média frustrada, que teme as aspirações de classes sociais desfavorecidas;
7. Obsessão com teorias da conspiração;
8. Retórica que retrata as elites como decandentes e afirma que elas podem sucumbir à pressão popular;
9. A vida é uma guerra perpétua, sempre deve haver um inimigo para combater;
10. Os membros que pertencem ao grupo são considerados superiores a todos os forasteiros;
11. Culto ao sacrifício, todos são educados para se tornarem heróis e morrerem pela pátria;
12. Machismo, desdém pela mulher e intolerância com hábitos sexuais que fogem da heteronormatividade;
13. O povo é tratado como uma entidade única, que tem aspirações únicas, sem levar em conta o ponto de vista de cada indivíduo;
14. Emprego de vocabulário empobrecido para limitar raciocínio crítico.
Outros movimentos são bem mais formalizados. O marxismo, por exemplo, antes de ser uma prática política, é uma doutrina com base teórica nos escritos de Marx e Engels. O nazismo, mais próximo do fascismo, teve no livro Mein Kampf (Minha Luta), escrito em 1925 por Adolf Hitler, seu manual de instruções. Mas as regras do regime de Mussolini foram basicamente definidas na hora, no calor do momento. Respeitando sua "lista de desejos", como vemos atualmente no Brasil.
O fascismo propriamente dito ocorreu em um contexto bem específico da história, mas há quem considere que o regime de Franco, na Espanha, ou o de Salazar, em Portugal, também tenham sido fascistas. Talvez dessa indefinição surja a generalização. Hoje, a palavra virou sinônimo de “extrema direita”, mas é usada até para se referir a “totalitarismo” e “autoritarismo” – o que não faz sentido, já que o regime comunista de Stalin foi tão autoritário quanto o de Mussolini.
Em suma: a própria definição de fascismo é relativa. E as pessoas vão continuar usando essa palavra cada uma à sua maneira. Mas, na próxima vez em que você escutar alguém usando o termo, saberá do que se trata: alusão a um antigo instrumento de poder romano, que virou símbolo de alguns dos piores momentos do século 20.
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