Por Antonio Siqueira
“Canção da Despedida” é a única parceria de Dois Geraldos, dos cantores e compositores Geraldo Pedrosa de Araújo Dias, o Geraldo Vandré, paraibano, com Geraldo Azevedo de Amorim, o Geraldo Azevedo, pernambucano.
Para entendermos melhor a letra desta música devemos saber que Geraldo Vandré foi um dos que sentiram fortemente o peso da ditadura militar. E a maior responsável por isso foi sua canção “Pra não dizer que não falei de flores”, ou “Caminhando”, apresentada no III Festival Internacional da Canção, em 1968. A canção ficou em segundo lugar (perdeu para “Sabiá”, de Chico e Tom Jobim, que receberam a maior vaia de suas vidas), mas foi cantada e recantada pelo público e chamada de a “Marselhesa Brasileira”.
O certo é que, após o sucesso estrondoso de “Caminhando”, um verdadeiro hino contra a ditadura, a vida de Vandré tornou-se um martírio. Para se ter uma ideia, Zuenir Ventura faz uma referência a um artigo revoltado de um general, publicado no Jornal do Brasil em 06 de outubro de 1968, com o militar dizendo que a final do Festival da canção contemplara 3 injustiças:
Do Júri, ao colocar a música em segundo lugar, desconsiderando a “pobreza” da letra com seus gerúndios e rimas terminadas em “ão”, sem falar da canção em dois acordes.
Do público, que vaiou “Sabiá”.
De Geraldo Vandré, que se insurgira contra “soldados armados”. Mas neste caso o general dizia que apenas essa terceira injustiça poderia ser reparada.
Antes mesmo de ser proibida oficialmente no dia 23 de outubro de 68, os discos já eram apreendidos, e Vandré vivia na paranoia de ser preso. Medo que se intensificou na sexta-feira 13 de dezembro de 1968, quando veio o AI-5, que fechava o Congresso, suprimia garantias individuais (como o habeas corpus) e fazia com que a ditadura mostrasse sua face mais horrenda.
Vandré era advogado, e sabia dos riscos que corria, passou a esconder-se, viver na clandestinidade, mesmo sem saber se ele seria preso ou não, e, como relata Dalva Silveira, no seu livro “Geraldo Vandré: A vida não se resume em festivais (FT Editora), ele passou a planejar a fuga para um autoexílio. Mas, antes de fugir do Brasil, Vandré passou um tempo escondido com ajuda da viúva de Guimarães Rosa.
No período em que estava foragido, uma das pessoas que tinha acesso a Geraldo Vandré era Geraldo Azevedo, que compunha o “Quarteto livre”, banda que o acompanhara na turnê do show “Pra não dizer que não falei de flores”, cujo título, censurado, passou a ser “Socorro – a poesia está matando o povo”.
Geraldo Azevedo disse que, para ver Vandré, tinha que se comportar “como um militante de organização clandestina; entrava num carro, mudava para outro, fazia tudo para despistar pessoas da repressão que pudessem estar me seguindo para, por meu intermédio, chegar a Vandré”.
Nesse clima compuseram em parceria, Vandré e Azevedo, a “Canção da Despedida”, cuja letra é absolutamente clara e explícita.
A primeira gravação de “Canção da Despedida” foi feita por Geraldo Azevedo no LP A Luz do Solo, em 1985, pela Polygram.
"CANÇÃO DA DESPEDIDA"
Geraldo Vandré e Geraldo Azevedo
Já vou embora, mas sei que vou voltar
Amor não chora, se eu volto é pra ficar
Amor não chora, que a hora é de deixar
O amor de agora, pra sempre ele ficar
Eu quis ficar aqui, mas não podia
O meu caminho a ti, não conduzia
Um rei mal coroado,
Não queria
O amor em seu reinado
Pois sabia
Não ia ser amado
Amor não chora, eu volto um dia
O rei velho e cansado já morria
Perdido em seu reinado
Sem Maria
Quando eu me despedia
No meu canto lhe dizia
Vandré: Uma vida exilada! |
“Canção da Despedida” é a única parceria de Dois Geraldos, dos cantores e compositores Geraldo Pedrosa de Araújo Dias, o Geraldo Vandré, paraibano, com Geraldo Azevedo de Amorim, o Geraldo Azevedo, pernambucano.
Para entendermos melhor a letra desta música devemos saber que Geraldo Vandré foi um dos que sentiram fortemente o peso da ditadura militar. E a maior responsável por isso foi sua canção “Pra não dizer que não falei de flores”, ou “Caminhando”, apresentada no III Festival Internacional da Canção, em 1968. A canção ficou em segundo lugar (perdeu para “Sabiá”, de Chico e Tom Jobim, que receberam a maior vaia de suas vidas), mas foi cantada e recantada pelo público e chamada de a “Marselhesa Brasileira”.
O certo é que, após o sucesso estrondoso de “Caminhando”, um verdadeiro hino contra a ditadura, a vida de Vandré tornou-se um martírio. Para se ter uma ideia, Zuenir Ventura faz uma referência a um artigo revoltado de um general, publicado no Jornal do Brasil em 06 de outubro de 1968, com o militar dizendo que a final do Festival da canção contemplara 3 injustiças:
Do Júri, ao colocar a música em segundo lugar, desconsiderando a “pobreza” da letra com seus gerúndios e rimas terminadas em “ão”, sem falar da canção em dois acordes.
Do público, que vaiou “Sabiá”.
De Geraldo Vandré, que se insurgira contra “soldados armados”. Mas neste caso o general dizia que apenas essa terceira injustiça poderia ser reparada.
Antes mesmo de ser proibida oficialmente no dia 23 de outubro de 68, os discos já eram apreendidos, e Vandré vivia na paranoia de ser preso. Medo que se intensificou na sexta-feira 13 de dezembro de 1968, quando veio o AI-5, que fechava o Congresso, suprimia garantias individuais (como o habeas corpus) e fazia com que a ditadura mostrasse sua face mais horrenda.
Vandré era advogado, e sabia dos riscos que corria, passou a esconder-se, viver na clandestinidade, mesmo sem saber se ele seria preso ou não, e, como relata Dalva Silveira, no seu livro “Geraldo Vandré: A vida não se resume em festivais (FT Editora), ele passou a planejar a fuga para um autoexílio. Mas, antes de fugir do Brasil, Vandré passou um tempo escondido com ajuda da viúva de Guimarães Rosa.
No período em que estava foragido, uma das pessoas que tinha acesso a Geraldo Vandré era Geraldo Azevedo, que compunha o “Quarteto livre”, banda que o acompanhara na turnê do show “Pra não dizer que não falei de flores”, cujo título, censurado, passou a ser “Socorro – a poesia está matando o povo”.
Geraldo Azevedo disse que, para ver Vandré, tinha que se comportar “como um militante de organização clandestina; entrava num carro, mudava para outro, fazia tudo para despistar pessoas da repressão que pudessem estar me seguindo para, por meu intermédio, chegar a Vandré”.
Nesse clima compuseram em parceria, Vandré e Azevedo, a “Canção da Despedida”, cuja letra é absolutamente clara e explícita.
A primeira gravação de “Canção da Despedida” foi feita por Geraldo Azevedo no LP A Luz do Solo, em 1985, pela Polygram.
"CANÇÃO DA DESPEDIDA"
Geraldo Vandré e Geraldo Azevedo
Já vou embora, mas sei que vou voltar
Amor não chora, se eu volto é pra ficar
Amor não chora, que a hora é de deixar
O amor de agora, pra sempre ele ficar
Eu quis ficar aqui, mas não podia
O meu caminho a ti, não conduzia
Um rei mal coroado,
Não queria
O amor em seu reinado
Pois sabia
Não ia ser amado
Amor não chora, eu volto um dia
O rei velho e cansado já morria
Perdido em seu reinado
Sem Maria
Quando eu me despedia
No meu canto lhe dizia
"Canção da Despedida" com discurso em tom de desabafo de Geraldo Azevedo:
3 comentários:
Morreu em vida, um pobre coitado!
A verdade é que depois Geraldo Vandré se tornou um dos maiores amigos das Forças Armadas, principalmente da Aeronaútica. Porque chegou à conclusão, muito sábia por sinal, que as Forças Armadas ou pelo menos a esmagadora maioria dos seus membros nunca foram inimigos da nação, muito pelo contrário, podemos afirmar que são as instituições mais amigas da pátria.
Demostenes - SP
As notícias que corriam a respeito dele e das torturas sofridas na ditadura eram de que ele estaria quase demente.
Eloy
é para chorar??? maravilha!
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