TERRA E PAZ
Por Antonio Siqueira
Nesta terra não tenho saudade de lugar nenhum
E quero voltar para o senso comum.
Quero a flor plantada crescendo sem vaidade
O horizonte escancarado prometendo sossego
E a ignorância das voltas que o mundo dá.
Quero a displicência camponesa
Um suor no rosto e o olhar
De quem já sabe a hora de cortejar o sol.
Quero a terra sem ciência
E em que se plantando tudo dá
- o milho, o trigo, o feijão
As verduras mais verdes de leviana esperança.
Quero esta terra
Assim cercada só de carinho
Sem dono
Sem certidão
Nem nome de latifúndio:
A terra assim não possuída
E mais que amada,
Querida,
Tratada por mãos piedosas
Com o jeito humilde que semeia
E faz promessa
E cumpre
E não negocia propriedade.
Quero a terra assim permitida a tanta gente -
Quero, pois, a terra toda
Doada livremente
Sem acusação de posseiro ou fazendeiro,
Sem briga de índio, branco fardado ou civil.
Quero a terra assim permitida a toda gente
Para lhe fazer chover necessário
Colorir de dourado seu cheiro molhado
Para lhe poupar.
Quero a terra no cio por toda gente
Por aqui e no fim.
Por mim, quero a terra em liberdade
Porque não sou senhor
E na terra e nesta terra serei sempre terra.
Porque no mar serei o tempo que trará vento e água
E decidirá o tempo das colheitas.
E no ar serei o ar que cuidará
Que terra e gente saibam se amar.
Cio da Terra - Milton Nascimento e Chico Buarque
2 comentários:
Coração na "ponta do dedo".
Emoção descrita e sentida ao ler...
Parabéns!!
Que poema lindo!
Luana BH
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