segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Com a palavra: Luiz Felipe Leite




" O Funk, o Samba e a MPB"
        Por Luiz Felipe Leite
        (Rio Claro - SP)




James Lament
Eu andava de bicicleta na manhã do último domingo (7), como normalmente faço, quando vi e ouvi uma cena muito curiosa e cada vez mais comum: Uma festa cuja trilha sonora era Funk. Mas não o gênero musical desenvolvido nos Estados Unidos na década de 1960 com a mistura do Soul, do Jazz e do R&B, e sim o Funk Carioca. O trecho tocado na tal festa era o seguinte: “Quero fazer amor gostoso!”. E com uma ênfase praticamente pornográfica no ‘gostoso’. Na hora continuei meu passeio e desatei a rir, mas não sem pensar em muitas coisas. A principal delas foi: A música popular brasileira está ofensiva? Amoral?


     Claro, não posso ser irresponsável ao ponto de tomar apenas um gênero musical para condenar toda a musicalidade brasileira, mas foi algo que pensei de primeira ao ouvir o som tocado na festa. Fiz uma análise e comparei 2012, musicalmente falando, com o ano de 1912, este mergulhado na efervescência do surgimento do Samba.

     Politicamente o Brasil vivia o começo da República e começava a resgatar as origens e as tradições da população negra, oprimida cruelmente durante séculos nos engenhos de cana e nas fazendas de café. Uma das consequências deste resgate foi a popularização do Samba, fazendo contraponto ao eruditismo das óperas de Carlos Gomes, Vivaldi, entre outros.

    Na ocasião os conservadores condenavam o gênero negro, dizendo que era apenas uma manifestação selvagem, não digna de atenção cultural. Pelo contrário. O Samba era uma das manifestações de uma população que não tinha voz, juntamente com a Capoeira, por exemplo.

     Pulando um século na linha temporal, vemos uma situação parecida. O surgimento do Funk Carioca, com a adaptação do Funk dos E.U.A e misturado com o Miami Bass, ritmo mais erotizado e rápido, geraram um gênero que faz muito sucesso nas favelas e em diversos lugares do Brasil.

     A grande questão a ser analisada é sobre a manifestação cultural aqui presente: Enquanto no começo do século um gênero surgia após séculos de opressão, 100 anos depois um gênero surgiu com a mistura de algo bem sucedido com algo meramente sexual.

     Não deixa de ser cultura, claro. Afinal cultura é toda manifestação/produção intelectual de uma sociedade. Mas isso não impede o seu conteúdo de ser analisado. Não acho que ‘apelação ’ constante seja musicalmente agradável, muito pelo contrário, considero isso uma imensa falta de criatividade.




O Funk como ele é: 





* Luiz Felipe Leite é Jornalista, Repórter do G1 Piracicaba e Região, escriba com o blog "Fala Ligeira" e interessado pelo mundo.

3 comentários:

Anônimo disse...

Muito bem observado, os morros cariocas depreciaram um ritmo maravilhoso!

Celso Lins disse...

Quando você pensa estar livre desta doença que é o funk carioca ele aparece do nada. Ainda não vi nenhuma chilena ou chileno promover um baile desses e acho que aqui não chega; porém, estar em Rio claro, andando de bicicleta tranquilamente e dar com uma cena dessas deve ser horrível.

Antonio Siqueira disse...

Esta resenha tá ótima, Luiz Felipe!

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