SENILIDADE
Somente o passado tem cabelos negros
Um longo sono escorreu, translúcido
E tomou a forma de um guarda-chuva preto
(treze judeus pairam, imóveis,
acima do ruído de mastigação)
Os chinelos são tatuagens
Indeléveis de um desespero esquecido
Em suas costas, há leitos
Abertos por calos antigos
Que a decomposição insiste em ignorar
Somente o passado tem cabelos negros
O AVANÇO DA TARDE
Tecidos necrosados balançam nas janelas
De uma penumbra apenas entrevista
Como fósseis, não sorriem
Como esteiras rasgam-se com lentidão
Sobre a caixa d’água, o desespero
Ensaia os passos de seu suicídio
A decomposição impõe seu nome
A todos os que se dignam a fitá-lo
As sirenes apitam: cinco horas
Nas bocas, nada mais que bacilos
No meio à avenida, o desespero
Espalha seus miolos violáceos
Pudesse o avanço da tarde
Frear toda e qualquer paciência
E os corpos se amontoariam pelas ruas
SONHO
Imagens esparsas
Contudo sólidas
Derretem na seiva da noite
(onze cavalheiros de azul
um gato de unhas pintadas
meu primo aos sete anos
roubando os cajás do vizinho)
Meus dias passaram,
Incompletos
Algo não veio
E eu o quis
Recupero-o agora, satisfeito
No momento em que os medos criam garras
E os prazeres têm coxas macias
Fernando Toledo
Obra do autor: Todos os Direitos Reservados ® .
ARTE VITAL - 2005-2012
Fernando Toledo |
Somente o passado tem cabelos negros
Um longo sono escorreu, translúcido
E tomou a forma de um guarda-chuva preto
(treze judeus pairam, imóveis,
acima do ruído de mastigação)
Os chinelos são tatuagens
Indeléveis de um desespero esquecido
Em suas costas, há leitos
Abertos por calos antigos
Que a decomposição insiste em ignorar
Somente o passado tem cabelos negros
O AVANÇO DA TARDE
Tecidos necrosados balançam nas janelas
De uma penumbra apenas entrevista
Como fósseis, não sorriem
Como esteiras rasgam-se com lentidão
Sobre a caixa d’água, o desespero
Ensaia os passos de seu suicídio
A decomposição impõe seu nome
A todos os que se dignam a fitá-lo
As sirenes apitam: cinco horas
Nas bocas, nada mais que bacilos
No meio à avenida, o desespero
Espalha seus miolos violáceos
Pudesse o avanço da tarde
Frear toda e qualquer paciência
E os corpos se amontoariam pelas ruas
SONHO
Imagens esparsas
Contudo sólidas
Derretem na seiva da noite
(onze cavalheiros de azul
um gato de unhas pintadas
meu primo aos sete anos
roubando os cajás do vizinho)
Meus dias passaram,
Incompletos
Algo não veio
E eu o quis
Recupero-o agora, satisfeito
No momento em que os medos criam garras
E os prazeres têm coxas macias
Fernando Toledo
Obra do autor: Todos os Direitos Reservados ® .
ARTE VITAL - 2005-2012
2 comentários:
Fernandinho, Fernandinho, a saudade não passa. Fica grudada como couraça por sobre a pele velha da matéria. E ler seus poemas me transportam lá pra longe, para um passado que nem parece o meu, de tão estranhamente distante. Brigadim, queridíssimo Antonio, por avivar sempre esta chama partilhando versos do nosso amigo especial. Poesia de Fernando Toledo não se pode esquecer em gavetas, nos rabiscos que ele, generosamente, nos dava. Mas que a saudade tritura o coração, ah, isso tritura em pedacinhos incoláveis! Bitokitas de luz procê.
Eu li muito este homem, mesmo sem conhece-lo pessoalmente, era como se o visse todos os dias.
Luana - BH
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