Trio Jacarandá é: Thiago Tavares, clarinete. Waleska Beltrami, trompa. Sara Cohen, piano
Data e Hora:
Terça, 25 de Maio de 2010, às 18:30.
Programa:
Alec Wilder: Suíte para clarineta, trompa e piano. Günter Schüller: Sonata romântica. Johann Sobeck: Trio concertante sobre temas de Don Giovanni Op. 5. Alexandre Schubert: Trio para trompa, clarineta e piano. Heinrich von Herzogenberg: Trio Op. 61.
Tenho o maior prazer de dizer a vocês que finalmente temos em mãos o CD Um dia de Banda, uma homenagem a meu falecido pai, o Maestro-compositor Sebastião de Assis Moreira.
Bem ao seu feitio, o CD inclui não só musicas dele mas também composições de músicos que admirava. Com um repertorio variado, mostrando, através dos sons, um ‘arco’ do dia, começando pelo nascer do sol até a noitinha. Músicas de banda (Banda 12 de Março, BHte.) se mesclando a côro, chorinhos (regional de Gabriel Guedes), música para cravo (uma composição minha, Choro para Cravo), terminando com uma típica modinha mineira - da região de Diamantina -, cantada pela família Moreira e vários amigos, alem da participação especial de Beto Guedes (vocalize).
A gravação do CD, pesquisas de partituras, arte gráfica e toda a produção se tornaram possíveis graças à Lei de Incentivo à Cultura, do MINC (Gov. Federal) e o patrocínio da COPASA/Governo de Minas. Prova de que a união entre as esferas federais e estaduais pode contribuir, em muito, para nossa Arte, Cultura e Musica. O CD tem distribuição gratuita para as Bandas de Música de Minas Gerais, imprensa e pessoas interessadas, na medida do possível.
Idéia Original, Concepção Artística e Direção Musical: Vermelho Produção Executiva e Direção Artística: Marco A. R. Alves - Projeto Gráfico: BUMMUB - SP Seleção de Repertório: Sebastião de Assis Moreira e Vermelho
Mais informações no site http://www.umdiadebanda.art.br/
Segue um texto escrito pelo Maestro-compositor e jornalista Julio Medaglia, que, ao lado de Rogério Duprat deram notável contribuição à música do Tropicalismo. (*)
Um dia de banda. Um dia feliz.
Mais que qualquer romance, filme ou peça teatral, a música tem a capacidade de passar informações em curtíssimo espaço de tempo e um mínimo de elementos. Ouvir esta gravação, que, praticamente homenageia o mestre Sebastião Moreira, é captar em detalhes o espírito da vida interiorana brasileira tradicional através dos acordes da Banda 12 de Março de Belo Horizonte. Esse som vai fundo no coração e nos traz alegria ainda maior pois não se trata de uma charanga lá dos cafundós, que mesmo assim nos traria lembranças, mas de um dos melhores conjuntos de instrumentos de sopros brasileiro.
Enquanto as bandas das capitais, arrogantemente, ficam tocando repertorio americano de bandas militares ou inadequado à essa formação, este verdadeiro documento histórico nos mostra a verdadeira raiz da velha e boa “banda de música brasileira” através de arranjos autênticos e de qualidade dessa tradição.
Parabéns pela iniciativa e grande qualidade musical.”
Os 100 anos de Noel Rosa na voz de Martinho da Vila
Por Antonio Siqueira
Ninguém tem duvidas de que Martinho da Vila é a cara do samba, o permeio do jongo, a ginga carioca elevada à esfera universal da musica de qualidade. Com quase quarenta álbuns lançados, parecia faltar a Martinho um disco cantando as principais obras de Noel Rosa. Noel morreu aos 26 anos deixando um legado de mais de quatrocentas musicas. Martinho escolheu, a dedo, um repertório luxuoso de quatorze sambas de Noel e muito bem acompanhado, diga-se de passagem.
Poeta da Cidade foi idealizado para celebrar o centenário de nascimento de Noel, o compositor que ligou morro e asfalto, nos anos 30, com seus sambas cheios de verve e poesia. Martinho optou por selecionar músicas feitas somente por Noel, sem parceiros ilustres como o subestimado Vadico (1910 - 1962). A exceção é Filosofia, de Noel e André Filho (1906 - 1974).
Os destaques do disco residem nas pérolas raras pescadas no baú de Noel. E Não Brinca Não (faixa em que o canto de Martinho soa leve e solto) e Viola (gravada com Mart'nália, convidada também de Rapaz Folgado) são sambas de acento rural atípico no cancioneiro de Noel, hábil cronista dos costumes do Rio dos anos 1920. Século do Progresso (gravada com Ana Costa) e Quando o Samba Acabou (com Analimar, filha de Martinho) são temas mais lentos em que Noel retratou casos fictícios da violência da época, com muita melancolia e (certo) lirismo.
Quando investe nos clássicos, Martinho é menos feliz. Mas cabe apontar o tom camerístico que sua filha pianista, Maíra Freitas, imprime em Último Desejo. Em contrapartida, Patrícia Hora , filha de Rildo, não consegue transmitir todo o sentimento contido na tristonha Três Apitos. No todo, Poeta da Cidade é bom disco que ratifica o apego de Martinho ao Rio.
No balanço das horas, tudo pode mudar, já diziam Marty McFly e a banda Metrô.
E é assim que essa história, inspirada em fatos reais, acontece. De tanto desejar viver na década perdida, Luisa consegue se transportar para os
anos 80.
Seria mais uma do De Lorean? Seria uma viagem ilícita? Ou simplesmente uma potente ferramenta do mundo virtual, conhecida como Dreams Realizator?
Entre transformações políticas, amores juvenis, o despertar do rock nacional e muito gel com glitter new wave, essa viagem no tempo é, mais que tudo, uma viagem de descobertas.
Em meio a essas revelações, Luisa reafirma seu amor pela cultura pop oitentista, desvenda os motivos pelos quais cantores meia-língua que faziam músicas sobre ursinhos de pelúcia causavam furor na mulherada, concluiu que as chacretes eram as pinups brasileiras e que o melhor lugar para alguns ídolos é realmente no pôster do armário que ficou na adolescência.
Pena que não havia celular pra registrar tudo isso. Ou um plano de minutos que transpusesse a relação espaço-tempo. De volta pra casa, nossa heroína percebe que essa é a única década que já dura 20 anos*.
E hoje vivemos tentando melhorar tudo o que aconteceu, mas com muito menos maquiagem e sem calças semi-bag.
E, para garantir um toque de realidade em meio à viagem maluca de Luísa, algumas "testemunhas" da década (que dizem) perdida dão seus depoimentos sobre a cultura pop oitentista como Evandro Mesquita (Blitz), Clemente (Inocentes, Plebe Rude), Dé Palmeira (ex-Barão Vermelho), Luciano Nassyn (ex-Trem da Alegria), Guilherme Isnard (banda Zero), entre outros.
O livro 80 Maníaca está disponível no site. Diversão e arte garantidas ou o seu mau humor de volta.
Em sua sexta edição, a Virada Cultural acontece este fim de semana na cidade de São Paulo. A maratona de 24 horas de programação --que vai das 18h do dia 15 (sábado) às 18h do dia 16 (domingo), salvo algumas exceções-- ocorre também nos CEUs (Centro Educacional Unificado), com artistas de diversos estilos. Veja alguns destaques:A cantora teen, porém já crescidinha, Mallu Magalhães toca no CEU Casa Blanca, enquanto o Teatro Mágico, grupo que realiza apresentações com elementos de circo, teatro, poesia e música, apresenta-se no CEU Três Lagos.
Músicas de Adoniran Barbosa, compositor homenageado da edição de 2010 da Virada Cultural, serão interpretadas por Maria Alcina domingo no CEU Jaçanã.Já Inezita Barroso é uma das atrações do CEU Cantos do Amanhecer na abertura da Virada. Jair Rodrigues canta sucessos de sua carreira no CEU Guarapiranga no sábado. No mesmo dia, o CEU Pq. Anhanguera recebe o Samba da Laje.Quem gosta de reggae terá boas opções nesta Virada Cultural. No sábado, o CEU Campo Limpo terá shows de Roots Habitat's e dos maranhenses da Tribo de Jah. Já o CEU Jambeiro promove show da Banda Maskavo e o CEU Paraisópolis, da Planta e Raíz.O roqueiro Jimmy comanda show do Matanza no CEU Capão Redondo, ao passo que Marcelo Nova se apresenta sábado no CEU Aricanduva. Kiko Zambianchi vai até o CEU Cidade Dutra para uma apresentação sábado. No CEU Pq Bristol, toca a banda Raimundos, agora com Tico Santa Cruz (Detonautas Roque Clube) nos vocais. Marcelo Yuka, ex-baterista do grupo O Rappa, será uma das atrações do CEU Tiquatira.A Virada Cultural promovida por seus pioneiros é variada e agrada à diversas tribos. A programação completa dos CEUs e seus respectivos endereços,no site oficial do evento
Quando estou só reconheço
Se por momentos me esqueço
Que existo entre outros que são
Como eu sós, salvo que estão
Alheados desde o começo.
E se sinto quanto estou
Verdadeiramente só,
Sinto-me livre mas triste.
Vou livre para onde vou,
Mas onde vou nada existe.
Creio contudo que a vida
Devidamente entendida
É toda assim, toda assim.
Por isso passo por mim
Como por cousa esquecida.
Alexandre Leal, guitarrista profissional desde 1992, destacou-se em diversas bandas de rock de 1987 a 2000. Desde então, dedica-se ao estudo da música instrumental brasileira e o jazz. Atualmente toca um inovador instrumento de oito cordas – sendo três de baixo e cinco de guitarra, ou seja uma guitarra-baixo – criado pelo guitarrista americano Charlie Hunter. Com esse instrumento, Alexandre desenvolve hoje seu trabalho de compositor e instrumentista.
A cantora Lidi Satier é hoje radicada em Hong Kong, China. Morou por cinco anos em Roterdã, Holanda, onde atuou como cantora, letrista e diretora de palco. Estudou técnica vocal com diversos professores da Escola de Música de Brasília e do Conservatório de Dança e Música de Roterdã. Além de se apresentar, produzir e co-produzir shows em diversas casas de espetáculo no Brasil, Portugal, Holanda, Bélgica e Alemanha, Lidi também atua como letrista junto a compositores conhecidos do público brasileiro, tais como Vanessa Pinheiro (DF) e Tuca Oliveira (MG). Lidi inicia agora a gravação de seu primeiro CD, produzido pelo baixista e arranjador Hamilton Pinheiro.
Neste show, Alexandre e Lidi farão releituras de composições consagradas de Edu Lobo, Tom Jobim, Badem Powell, João Bosco, Ivan Lins e Chico Buarque. Serão ilustremente acompanhados pelo percussionista JC e pelo baterista Fábio Pereira.
Não me surpreendeu a convocação da seleção brasileira de futebol para Copa do Mundo, idealizada pelo técnico Carlos Caetano Bledon Verri, conhecido pela alcunha de Dunga. Que tem em sua carreira um grande divisor de águas entre o fracasso e o triunfo de uma geração não muito boa de bola, mas que obteve importantes conquistas e êxitos; inalcançáveis para muitos gênios das quatro linhas.
Uma carreira com três importantes momentos: a desgraça nas mãos de um irresponsável Sebastião Lazzaroni, na Itália em 1990, a Glória total como capitão do tetra, em 1994, nos EUA, com Carlos Alberto Parreira e o vice campeonato, acompanhado por vários mitos, em 1998, na França com o eterno e equivocado, Zagallo. Da execração pública ao triunfo maior, com direito a um vice, ainda é coisa rara no futebol. Dunga, apesar de ter sido um jogador desajeitado e violento, tinha uma personalidade forte, insistente e perseverante. Aprendeu um pouco do ofício e brilhou. Talvez o Sr Carlos Caetano brilhe, também, neste mundial como técnico. A infeliz idéia de Lazaroni em promove-lo como o símbolo de uma era de pernas de pau, quase destruiu a carreira deste gaucho que leva consigo as tradições mais fiéis do futebol do sul. Dunga foi campeão em quase todos os clubes por que passou e fazer uma retrospectiva de seus méritos é trabalhoso demais. Superação! Talvez ele passe isso aos jogadores que fracassaram na Alemanha.
O brasileirão está repleto de craques? Sim. O Santos é o time da moda? Corretíssimo. Neymar e Ganso são os grandes “fenômenos”? Indiscutível! Então por que o Dunga não os levou? COERÊNCIA. Apesar de Neymar jogar de forma espírita (às vezes) apesar de também, infelizmente, ser um garoto babaca_ existe coerência com os fatos, segundo Dr. Caetano. A coerência de Dunga é com os fatos, não com o que se chama na realidade destes mesmos fatos de Futebol Brasileiro. Para mim, não houve surpresas. Onde está a coerência? Se o gato não comer; no dia 11 de Julho de 2010, no Soccer City, em Johanesburgo.
Os fatos estão aí: Copa América, Copa das Confederações, amistosos convincentes e uma eliminatória tão bem sucedida que rendeu a classificação com três rodadas de antecedência, mesmo tendo tudo para ser dramática. O Brasil reagiu bem da segunda metade em diante e se classificou com folgas. Perfeito foi o comentarista da radio Sul América Paradiso FM, Maurício Torres, sobre as comparações envolvendo Pelé e Neymar: “O pessoal tem que entender que Neymar joga muita bola, mas Neymar é Homo Sapiens. Pelé era ET, o futebol não é desse mundo, dessa realidade...ele não jogava futebol, jogava outra coisa que não é desse plano físico.”
Parece que essa Copa, para quem curte bom futebol, será uma das mais bem sucedidas da história em termos de bons jogos. O que, também não me surpreenderia, era se uma seleção africana conquistasse ou apenas chegasse às finais deste mundial. Eles estarão em casa e isso, na atual realidade do futebol do continente que é o Berço da Humanidade, conta bastante para uma epopéia deste porte.
Quem tem mais de 30 anos, conhece bem o U2 e a voz do mais novo cinquentão, Bono Vox. O cantor irlandês, líder da banda U2 e ativista dos direitos humanos, é considerado uma das personalidades mais influentes do século. Em 2005, por suas atitudes humanistas, foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz. Bono roda mundo, seja na África, na Ásia, onde houver caos humanitário, sempre espera-se uma manifestação do mesmo. É fato o seu vigor e dedicação a estas causas. E ao que tudo indica, com êxitos até inesperados, como foi um concerto beneficiente em Johanesburgo.
Mistura de Elvis Presley, James Dean e Roy Orbinson, Bono Vox deu ao U2 uma saudável ausência de unidade sonora, o que permitiu uma discografia bailante, entre a rebeldia irlandesa, as baladas londrinas e até o techno pop europeu. Entre o primeiro disco, ‘Boy’ (de 1980) e o ‘No Line on the Horizon’ (do ano passado), muitas influências e multiplicidades sonoras marcaram a banda.
A banda U2 surgiu em 1976, já vendeu quase 150 milhões de discos no mundo todo e ganhou 22 prêmios no Grammy. Causou um dos maiores engarrafamentos que se tem registros na cidade do Rio de Janeiro por conta de sua primeira turnê no tumultuado show no Autódromo de Jacarépagua (um equívoco lamentável da prefeitura da cidade, promovendo o show num beco sem saída) e enlouqueceu São Paulo em 2005.
O U2 faz um sucesso quase que ininterrupto há 33 anos, é dos poucos grupos de rock que merecem o status de Mega Banda e, certamente, incluirá o Brasil na grande turnê que promoveu recentemente. O ultimo lançamento, apesar de muito techno, foi bem recebido perla crítica. Fãs do mundo inteiro celebram, nesta segunda-feira, os 50 anos de vida de Bono Vox. Parabéns ao nosso querido Irish Voice.
No verão de 1988 o navio Solano Star deixou em alto mar sua carga clandestina de milhares de latas de cinco litros repletas de maconha. Elas boiaram em direção à costa e deram nas praias em todo o trecho entre Santa Catarina e Rio de Janeiro. Foi o último suspiro "pós-hippie" que atracou no litoral, especialmente na região da Baixada Santista. Faz 20 anos o famoso "verão da lata".
Não havia polícia que desse jeito e a qualidade da maconha era tão alta, uma variedade africana como se constatou depois, que a expressão "da lata" passou a ser, na gíria de qualquer círculo social, sinônimo de "coisa boa". Invadiu a cultura popular, a televisão e, por fim, a música. Entre as dezenas de citações do episódio ou da expressão destacou-se o sucesso "Veneno da Lata", na voz de Fernanda Abreu.
A violência aumentava, o Plano Cruzado que havia falhado, a Aids assombrava, os exilados haviam voltado, Fernando Gabeira usava tanguinha de crochê na praia e a campanha das Diretas Já estava nas ruas. Ao momento efervescente daquele início de 1988 somou-se o que menos se esperava.
"Havia a sensação dos usuários de ter escapado da polícia e dos traficantes. A maconha vinha do mar, como dádiva de Deus", nas palavras de Marcelo Dantas, roteirista do filme que está sendo produzido a respeito do episódio, que tem o título provisório de "Jamais haverá verão como esse".
A história, por si só, é tão boa que o diretor João Falcão diz que o longa vai reproduzir a trajetória de gente que teve contato com as latas - com licença poética para aumentar e criar lendas urbanas. O centro será o empenho de caiçaras e surfistas para encontrar aquele "tesouro" e sua capacidade de tornar praias quase inabitadas em point na época.
João Falcão quer reproduzir nas telas de cinema o "clima de comédia generalizada" que tomou conta do litoral. No filme não faltarão "malucos" que saíam em direção às praias para pegar latas, surfistas que se mantinham horas em cima das pranchas para fugir da polícia, caiçaras que enterravam o fumo na areia, pescadores que enriqueceram ao traficar.
O psicanalista e professor na pós graduação na PUC-SP, Oscar Cesarotto, também se baseou no verão de 1988 para criar fatos fictícios em seu livro O Verão da Lata (Iluminuras, 2005). "Fora do País, ninguém acredita que isso aconteceu." Ele comemora o fato de haver um projeto de filme até para não ficar com a fama de ter inventado a história.
“_Tio Antonio, e se todos nós fossemos humanos da mesma cor? O mundo seria melhor?” Dispara sem dó, o rebento e intrépido Rafael, no infinito dos seus oito anos, filho do jornalista e radialista da Studio 98.7, Claudio Cunha, durante um acalorado debate em mesa redonda, para este humilde escriba, que se viu como um goleiro na hora do pênalti, inclusive com direito à paradinhas desconcertantes. Na verdade o Rafa queria saber mesmo é se todos nós fossemos de uma raça só, o mundo seria melhor e com menos injustiças. Respondi na lata; _"Rafinha, para o tio só existe uma raça, a HUMANA!" O menino filosofou dentro da sua pureza e ingenuidade e lançou-me um olhar desafiador como quem diz: ”Esse cara vai querer me enrolar!”. E não deu outra; Claudio partiu com o filho nos braços às gargalhadas e eu precisei guardar a resposta para quando ele amadurecer mais um pouco, pois vivemos numa atmosfera muito pesada para um "pivete" bem educado como o Rafinha.
Mas aproveitando o gancho; com certeza, os negros não teriam sido escravizados, não haveria existido o Apartheid, nem o nazismo. Ou seja, a história da humanidade seria completamente diferente. Engano seu, meu pequeno Rafa. A natureza humana é bem mais complexa que isso: mesmo que todos tivessem a mesma cor de pele, textura de cabelo ou formato de olhos bastaria que algum povo se destacasse no desenvolvimento tecnológico e econômico para se sentir superior aos demais. Aí o argumento do domínio não seria a diferença física, mas sim, sócio-cultural, que justificaria a exploração dos mais fracos pelos mais fortes e daria origem a todo tipo de intolerância. Para inventar raças, não se precisa de nenhum marcador aparente, apenas uma narrativa. E nem é preciso muita imaginação para exemplificar como isso ocorreria. Em Ruanda, tútsis e hútus não se distinguem por traços físicos, língua nem religião. Mas, para dominá-los, a Bélgica, seu ex colonizador, criou carteiras raciais que distinguiam os dois grupos. Apoiou a elite tútsi e a jogou contra os hútus. Em 1994, passadas sete décadas, hútus se vingaram matando meio milhão de tútsis.
Um grande professor me disse um dia que “Se evolução não tivesse criado distintos biótipos, a divisão das sociedades seriam baseadas na diferença de língua, religião, ancestralidade ou castas." O Robertão é sabio.
Mesmo por caminhos diferentes, Rafael, no final o mundo estaria dividido, dando origem a disputas por poder, guerras étnicas e, mais adiante, luta por igualdade de orgulho das minorias. Sim, você já ouviu esta história antes...
A inconveniência nunca me foi cara. Se existe uma coisa que me entristece e irrita profundamente é perceber que estou sendo chato. Infelizmente, tenho percebido essa moléstia em minha pessoa; sim, a chatice é isso aí mesmo, uma doença! Tenho até medo do que me passa pela cabeça quando meu próprio eu faz-me perceber que sou um estorvo. Paranóia ou não, serve-me de alerta e deve servir, também, a todos que, de uma forma ou de outra, se tornam verdadeiros transtornos para a vida alheia. Principalmente quando se diz respeito à, agora tão popular, internet. A respeito deste universo, é imperativo um breve comentário.
Certos indivíduos (como eu) esquecem que existe vida útil e inteligente fora da grande rede. É nela que habitam a maciça maioria dos supositórios de plantão. Coisas do tipo: “_A que horas você vai entrar?”, “Você não enviou aquela resposta!”, “Por que você não comentou isso (ou aquilo)?... e por aí vamos. Fora aqueles psicóticos que nos perseguem por anos a fio com toda sorte de ameaças. Um emaranhado de mediocridades que, mesmo com todos os adventos da tecnologia comunicacional, ainda não surgiu uma alma nerd que trouxesse o antídoto definitivo para que se possa neutralizar chatos (como eu), falsos intelectuais e indivíduos babões que fazem uso da rede para se promoverem como celebridades, tentando com isso, esconder o grande LIXO que são suas réles vidinhas.
Pela primeira vez, uso esse blog para fazer o que 99% dos cidadãos e cidadãs que possuem um, fazem: JOGAR CONVERSA FORA.
Espero não mais cometer os mesmos erros que cometi nas últimas horas, para que, também, eu não jogue todos esses equipamentos pela janela, antes da hora que planejo fazer isso; no dia em que o homem inventar algo menos nocivo ao meu bem estar e ao bem estar de vocês como um todo. Bem, é isso. Chato... inconveniente ou não.
Pouco importa o que virá depois, porque nenhum homem, nenhum povo, tem em suas mãos as rédeas da História. A rota do homem na Eternidade é semelhante às estradas nos mapas antigos, nos quais as cidades eram marcadas sucessivamente em uma linha reta, com os dias de jornada entre uma e outra. Não podemos retificar o caminho da civilização, fazendo-o derivar para mais ao Norte ou mais ao Sul do tempo transcorrido. Só podemos nos situar no ponto em que nos encontramos, neste dia, nesta hora, neste minuto.
Ninguém sabe por que, nem para que, nascemos. Provavelmente, a vida na Terra terminará antes que alguém responda a essas perguntas. É fácil constatar que todos os seres vivos morrem. É também a cada dia mais provável, diante da agressão ao planeta, ou de um cataclismo, que quase todas as formas de vida pereçam em algum e mesmo momento. Mas não nos é possível localizar o instante inaugural da vida sobre a Terra.
Há, no mundo, o retorno ao infanticídio, com a disseminação mundial de leis que favorecem o aborto. Médicos, filósofos e religiosos tentam definir o instante exato, antes do qual a gestação poderá ser interrompida sem que haja assassinato, porque de homicídio se trata. Ninguém pode situar esse momento. A concepção é um episódio, o mais importante para a construção do novo ser. Mas a vida antecede até mesmo a concepção. Ela é, para lembrar o pensamento antigo, sempre uma possibilidade, a de que o encontro entre o homem e a mulher (e de outros seres vivos) se torne novo ato criador. A vida é, se permitem o paradoxo, anterior à vida.
As principais causas do infanticídio, desde que temos disso registro histórico, são o egoísmo e o medo. Mata-se o inimigo antes que ele possa portar armas; fecha-se uma boca antes mesmo que ela se abra para comer o que faltará à nossa gula. Não queremos que outros nos venham a reduzir o espaço vital, sejam uma etnia, uma cultura ou um filho. Evita-se, como ocorre entre tantos casais, o nascimento de uma criança, que traga despesas e ocupe, com os cuidados e a responsabilidade que exige o tempo dedicado ao prazer. É mais fácil e mais cômodo, embora nem sempre mais barato, sustentar um cão ou um gato de luxo.
Muitos países europeus, ao mesmo tempo em que fecham suas fronteiras aos diferentes, subsidiam os nacionais para que tenham filhos. Isso não lhes constrange o financiamento de projetos de redução da natalidade nos países pobres. O argumento é o de que só podem ter filhos aqueles que dispõem de renda. Mas a vida está além do lucro e dos salários injustos; não pode ser tolhida por essas circunstâncias. Quanto ao genocídio planificado, é conhecida a recomendação do Conselho Nacional de Segurança dos Estados Unidos (memorandum NSC 200, de 1974, firmado por Kissinger) para que se controle a natalidade em países como a Índia, o Paquistão e o Brasil. O texto é explícito, ao assegurar que a medida é necessária à segurança nacional dos norte-americanos.
Em passagem do Grande sertão: Veredas, Guimarães Rosa faz seu personagem maior, Riobaldo, ajudar uma sertaneja no parto. O guerreiro descreve a tapera da mulher com sua pobreza, e diz que tudo o que ali havia não dava para encher uma caixa de fósforos. "Alto eu disse, no meu despedir: - Minha Senhora Dona: um menino nasceu - o mundo tornou a começar!... - e saí para as luas". O mundo recomeçava naquela noite no sertão, como recomeçara em certa gruta de Belém. E, para que aquele menino de Nazaré escapasse da matança de Herodes, foi preciso que o asilassem no Egito.
A História está cheia de exemplos de homens que nasceram na mais extrema pobreza e contribuíram, com o caráter, a inteligência e a sensibilidade, para que o mundo fosse melhor. Entre eles, Chaplin, que se contrapôs, com os andrajos e o passo desafiante de Carlitos, à insensatez do século 20. A vida é valor absoluto e único. Abortá-la é opor-se às razões imperscrutáveis que a fizeram surgir, razões a que a maioria dos homens dá, em todas as línguas, o nome de Deus.