
Saturnálias e Sacanagens
Por Antonio Siqueira
Quais serão os seus planos para o Carnaval? Enfrentará estradas e esburacadas? Enlouquecerá dentro de um aeroporto entupido? Ou você, com um pouco de juízo, irá alugar a prateleira inteirinha da locadora mais próxima e ganhará uns quilinhos a mais enchendo a cara de cerveja em casa mesmo? Eu que, como muitos, procuram o “Zensossego” nestes tempos pagãos, ficarei em casa mesmo. Porém, na qualidade de carioca do fundo do ovo, sou de um tempo em que, para alcançar essa paz tão almejada, era imprescindível viajar para bem longe da cidade. O Rio de Janeiro fervia das zonas sul a oeste. A cidade inteira se agitava, as ruas com seus blocos de sujos, de fantasiados, bêbados anônimos e ilustres, os clubes ficavam arrebatados de foliões, associados ou não, à procura de uma folia tresloucada, exaustiva e, muitas vezes, inconveniente, mas que alçava o carnaval carioca ao epíteto de maior festa coletiva de todos os séculos. Eu já fui folião e, há pelo menos vinte anos, separo estes quatro dias para ouvir um bom jazz e conversar com as “fadas”. Eu viajava sempre para alcançar esse momento nirvânico, só que, de uns anos para cá, o inferno mudou de lugar: os balneários (alguns verdadeiros santuários da fauna nativa e da cultura brasileira) e as cidades históricas instituíram seus próprios carnavais. Os habitantes de neuróticas metrópoles como o Rio, resolveram carregar junto consigo seus urbanóides para esses lugares que eram verdadeiros retiros de paz e tranqüilidade. As grandes cidades, assim como o Rio de Janeiro que é o berço do samba e das grandes tradições dos festejos de Momo, diminuíram sensivelmente o seu ritmo. Fenômeno mais que esperado diante de tanta insegurança e violência gratuita. Ficar em casa é menos letal... quase uma terapia.