segunda-feira, 14 de outubro de 2013

A natureza antiga é uma canção que resiste ao tempo


Lagoa Viva:
Até quando?

Por Antonio Siqueira

@image:antoniosiqueira




















         





         


          A Terra é um grande organismo vivo, que se recicla, resiste, subverte qualquer lógica, por que a vida tem que prevalecer, por que os rios devem singrar vales, montanhas. Por que o céu é a casa de quem germina o solo, é a realização dos grandes milagres de todas as floras. A Terra é feito música, são todos os movimentos de uma grande sinfonia, de água, fogo, ar...tempestades, de vida, essencialmente vida.




          A poluição a que são submetidas as praias e lagoas da Cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, é uma amostra sublime de como a natureza subverte o improvável. A Lagoa Rodrigo de Freitas recebe uma quantidade pesada de esgoto e de outras substancias que a própria razão desconhece.  A fauna e a flora que ali existe, contava com companhias mais amistosas: Lagoa era habitada pelos índios Tamoios até a chegada do Governador Geral da Capitania do Rio de Janeiro, António Salema em 1575. O canalha pretendia instalar ali um engenho de açúcar e . Para livrar-se da presença indesejável dos indígenas, recorreu ao estratagema de fazer espalhar roupas anteriormente utilizadas por doentes de varíola às margens da lagoa, vindo assim a exterminá-los. Iniciou-se, então, o plantio de cana-de-açúcar e a montagem do Engenho d'El-Rey, onde atualmente funciona o Centro de Recepção aos Visitantes do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Desde então se iniciou um processo indecoroso de aterro. Não faço ideia das dimensões originais deste pedaço do paraíso encravado na cidade entre o oceano aberto e a Baía da Guanabara.  A lagoa tem uma parte dela aterrada. Isso ocorreu nos meados do século XX (lá pelas décadas de 1940, 1950 e 1960), já que muitos morros, como o do Catumbi e o da Praia do Pinto, foram ocupados nas margens da lagoa e, por muitos e muitos anos, abrigou mais de 50 000 moradores. Só que os barracos erguidos nos morros eram de risco, podendo desabar. Então o governo, depois de mais de vinte anos da ocupação dos morros, expulsou todos os moradores e "desmontou" os morros, aterrando grande parte da cidade. Seus moradores foram para o subúrbio e passaram a morar conjuntos habitacionais. No lugar dos morros, foram construídos os prédios de apartamentos e parques.




A fauna resiste bravamente: A Lagoa Rodrigo de Freitas se mantém viva.
 Foto:Antonio Siqueira




            Embora receba as águas de diversos rios tributários que descem das encostas circundantes, entre os quais se destaca o Rio dos Macacos (hoje canalizado), apresenta águas salgadas. A massa aquática da lagoa teve a sua origem através de um vulcão adormecido que teve o seu contato com o oceano Atlântico parcialmente interrompido, exceto por um canal (Canal do Jardim de Alá). O acúmulo de nutrientes contribui para alterações ecológicas que se tornam visíveis nas frequentes florações de microalgas, principalmente cianobactérias e dinoflagelados, que conferem às águas coloração desde o verde a tons de marrom acastanhado. Podem-se destacar, ainda, as alterações ecológicas que resultam em eventos de mortandades de peixes.

          A ‘Rio Águas’ construiu ali uma barreira para evitar as cheias e oxigenar mais a Lagoa, que volta e meia é vitimada por uma mortandade desenfreada de sua fauna marinha.  O problema é que a empresa que cuida dos rios e lagoas da cidade não conta com uma logística que a possibilite proceder de uma forma menos boçal no que concerne às comportas. Volta e meia eles se esquecem de abrir essas comportas, que são monitoras por engenheiros, não biólogos. E o que existe ali, morre por absoluta falta de oxigênio. Os engenheiros sanitaristas da prefeitura não dão conta nem dos deveres que lhes são atribuídos, que dirá cuidar do ecossistema destas lagoas.

           Só que a Rodrigo de Freitas é brava, é dura na queda e mantém-se viva. São milhares de pássaros, centenas de espécies nativas e migratórias e um acervo botânico composto pelo Parque do Cantagalo, que encanta a quem por ali passa. A vida é mais forte que a destruição! O que precisa viver, resiste, mesmo que não seja do interesse de alguns.

*           *           *            *            *               *              *               *


Começando a semana com boa música, a gente ouve e assiste aqui o clipe de Yara Maria cantando "Água" de Djavan. Yarinha que defende a natureza com unhas e dentes e se criou no mar, nas montanhas, aos olhos do criador.




2 comentários:

Celso Lins disse...

Excelente matéria!

Osvaldir Sodré da Silva disse...

Meu nobre! Mais uma bela página, belas fotos, e música para minimizar o que fazem com a natureza. Vamos em frente! Abs

Osvaldir

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