O maior espetáculo da Música Contemporânea Por Antonio Siqueira
O Jazz - geralmente proclamada como "A Música Clássica da América" - recusa uma definição mais fácil. E, de acordo com Louis Armstrong, um dos maiores artistas do jazz, se você tiver que pedir uma definição, você nunca saberá qual é. Enquanto existe um certo elemento de verdade na filosofia de Armstrong ("você sabe o que é quando ouve"), os críticos e historiadores tentam entender e descrever o que torna o jazz uma das formas mais excitantes, exclusivas e complexas da música americana. O Jazz se desenvolveu com a mistura de várias tradições musicais, em particular a afro-americana. Esta nova forma de se fazer música incorporava blue notes, chamada e resposta, forma sincopada, polirritmia, improvisação e notas com swing do ragtime. Os instrumentos musicais básicos para o Jazz são aqueles usados em bandas marciais e bandas de dança: metais, palhetas e baterias. No entanto, o Jazz, em suas várias formas, aceita praticamente todo tipo de instrumento. O improviso é o principio ativo do jazz. E assim, o termo jazz começa a ser usado no final dos anos 10 e início dos anos 20, para descrever um tipo de música que surgia nessa época em New Orleans, Chicago e New York.
Desde sua origem no início do século XX, o jazz gerou uma gama considerável de subgêneros como o Dixieland da década de 1910, o Swing das Big bands das décadas 1930 e 1940, o Bebop de meados da década de 1940, até chegar às pegadas mais modernas do jazz fusion, numa grande variedade melódica, harmônica e rítmica.Filhotes do bom gosto e da genialidade de músicos extremamente bons e de excentrismo bárbaro.
A 1ª Gravação ocorreu em 1917 pela Original Dixieland Jazz Band. Pelo menos vinte anos depois do jazz ser tocado. Reza a lenda que o Jazz teve inicio em New Orleans com grupos que tocavam em Marchas e Paradas, durante os anos de 1880 a 1890, e muitos músicos não possuíam formação musical, e depois de repetidas vezes tocando a mesma melodia começaram a improvisar variações da melodia por pura diversão, em 1895 o cornetista Buddy Bolden (1º musico a ser considerado musico de Jazz), formou sua Banda; alguns utilizam esta data (1895) como nascimento do Jazz. Swing era musica para se dançar, e ainda assim era oferecida aos músicos a chance para improvisação (solos tecnicamente complexos). Desde Swing Big Bands lideradas por: Duke Ellington; Count Basie; Benny Goodman e Tommy Dorsey eram extremamente populares; O termo (Swing) se tornou idêntico aos olhos do público. É injusto chamarmos todas Big Bands de "Swing" - assim como nem todo "Swing" é tocado por Big Bands - Mas os dois estarão para sempre ligados, porque eles foram "Criados" juntos. Além disso, encontramos Big Bands de Diferentes estilos desde Cool Jazz até Jazz-rock, muitas das quais tomam "emprestada" a tradição das Big Bands de Swing. Uma miscelânea, uma farofa que mistura todas as influências da musica negra americana. Jazz é improviso e talento nato.
O que fascina do jazz é o fato de a música ser, na realidade, um processo puramente criativo, moldado por elementos estruturais significativos. Na década de 1980 os dj’s ingleses Chris Bangs e Gilles Peterson inventaram a expressão acid jazz. Eles estavam numa daquelas festas que duravam dias, chamadas raves (eventos que, curiosamente, hoje são considerados grandes novidades pelos jovens adolescentes). Na verdade, as raves já eram realizadas em Roma há 2.000 anos atrás e, mesmo no Rio de Janeiro de 1910, eram famosas as raves promovidas pelas denominadas “tias”. Em Londred, essas festas eram regadas à base de muito schoth e LSD. Daí o termo acid, uma musica quebrada,n cheia de improvisação e virtuosismo. Nascia aí o acid jazz.
Porém, um dos estilos precursores do jazz estetéticamente visto atualmente, surgido com o disco de Miles Davis, Birth of the Cool, de 1949, embora tenha no saxtenorista Lester Young um precursor. O cool representou uma reação mais cerebral e camerística à tórrida sintaxe do bebop. Entre os expoentes do cool jazz encontram-se Gerry Mulligan, com seu famoso quarteto sem piano, Stan Getz, Chet Baker e Lennie Tristano. Embora mais introspectivo e contido, seria equivocado generalizar e associar o cool jazz com uma espécie de jazz "frio", sem swing ou sem alma. Pode-se encontrar, nas gravações cool, ritmos ágeis, solos intensos e síncopas que nada deixam a dever ao bebop. É interessante notar que o mesmo Miles que fundou o cool jazz ainda iria impulsionar outras revoluções estéticas nas décadas que se seguiriam. No fim da Segunda Guerra Mundial, houve uma migração de músicos de jazz da Califórnia para Nova Iorque. Lá entraram em contato com músicos de bebop, mas bastante influenciados por músicos de swing como Lester Young e Coleman Hawkins, incorporaram um tom mais maduro. A nova variante, o cool jazz, era leve e mais romântico que o bebop e gerou um estilo derivado, o West Coast jazz. Embora Miles Davis tenha aparecido primeiro em gravações bebop de Charlie Parker, sua primeira sessão importante como um líder de banda foi chamada The Birth Of The Cool. Um álbum contendo todas as gravações desse grupo está à venda. O estilo cool jazz foi descrito como uma reação contra os andamentos acelerados e as complexas ideias melódicas, harmônicas e rítmicas do bebop. Essas ideias foram apreendidas por muitos músicos da Costa Oeste americana, e esse estilo por isso também é chamado West Coast jazz. Essa música é geralmente mais relaxada que o bebop. Entre os outros músicos do estilo cool estão os saxofonistas Stan Getz e Gerry Mulligan e o trompetista Chet Baker. Stan Getz também leva o crédito pela popularização de estilos brasileiros, como a bossa nova e o samba, nos Estados Unidos. Esses estilos e alguns poucos outros estilos latino-americanos são às vezes chamados coletivamente de jazz latino.
Muito grupos do estilo cool jazz não usam um piano e contam, em vez disso, com o contraponto e a harmonização entre os instrumentos de sopro, geralmente o saxofone e o trompete, para delinear as progressões de acordes. Entre os grupos liderados por pianistas que saíram dessa escola estão os de Dave Brubeck (com Paul Desmond no saxofone), Lennie Tristano (com Lee Konitz e Warne Marsh no saxofone) e o Modern Jazz Quartet ou MJQ (com John Lewis no piano e Milt Jackson no vibrafone), que também utiliza elementos de música clássica. A incorporação de música clássica no jazz é geralmente chamada de terceira corrente, ou third stream. Uma viagem insólita e fascinante no universo da música.
Depois da fusão do rock, do funk e outros estilos, com o jazz, chamada jazz fusion ou simplesmente fusion, atualmente compõe-se de elementos eletrônicos caracterizando esse flacon estilo nos nossos dias. Os samplers e sequenciadores são utilizados na mistura do drum'n'bass e do techno. Se é difícil definir o jazz, fácil é improvisá-lo. Trata de um dos elementos essenciais na música. O blues mais antigo era habitualmente estruturado sob o repetitivo padrão pergunta e resposta, elemento comum em músicas tradicionais. No blues mais antigo a improvisação era usada com bastante propriedade. É correto afirmar que essas características são fundamentais para a natureza do jazz, o músico irá interpretar a música de forma peculiar, nunca executando a mesma composição exatamente da mesma forma mais de uma vez.
Em algumas composições modernas de jazz, onde os acordes fundamentais da composição são complexos ou de mudança rápida, o compositor ou o intérprete podem criar uma série de "blowing changes", que é uma série de acordes simplificada, melhor aplicada em comping e no improviso solo. elementos que configuram o jazz como o maior espetáculo da música popular contemporânea
Onde quer que houvesse um show do Viradão Carioca nos último três dias - de sexta-feira (23) com Dona Ivone Lara, até este domingo (25), com Diogo Nogueira - o sentimento foi o mesmo: o evento foi um sucesso. A distribuição dos artistas, as apresentações em áreas carentes - geralmente sem acesso a eventos deste tipo - a pontualidade, a qualidade do som... Tudo foi motivo para elogios.
Apresentações de grupos de teatro, artistas de rua em todas as praças e passeios públicos da cidade. Nem parecia o mesmo Rio de Janeiro arrasado há 20 dias pelas enchentes provocadas pelas chuvas. Muito samba no Centro da Cidade, muita Bossa Nova e MPB na Zona Sul e muito Rock’n Roll da Barra da Tijuca a Campo Grande; a agenda musical era repleta de ilustres.
Como diversos outros shows do Viradão Carioca, a apresentação do sambista Nei Lopes começou pontualmente às 19h deste domingo (25) no Leme, Zona Sul do Rio. E, como os demais shows, também foi um sucesso. A platéia sambou, se divertiu com as histórias contadas por Nei e cantou junto os diversos partidos altos. Com o sucesso “Tempo que Dondon”, Nei lembrou que sua música já participou da trilha de duas novelas, sempre nos núcleos mais pobres. Ele começou e terminou sua apresentação com “E eu não fui convidado”, citou várias vezes seu parceiro Wilson Moreira, além de Arlindo Cruz e fez um pout-pourri com canções de Ary Barroso.
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. Na Barra da Tijuca, além das apresentações de bandas de rock na areia da Praia do Pepê e de de excelentes grupos de teatro no Quebra Mar, o público contou com um imenso lual com Dj’s de varias partes do Brasil. Foram 54 horas de musica sem parar. Em Campo Grande, shows de musica e apresentações de artistas de varias partes da região. A literatura ganhou maior espaço este ano e escritores locais ou deram palestras, ou executaram imensos sarais poéticos. No marco zero, Rock e MPB.
Milton Nascimento dispensa apresentação. Ele atraiu os fãs mais emocionados do Viradão Carioca. Tanto é que ao sair do palco da Praça XV, na noite deste domingo (25), após um show impecável, o público chegou a chiar. Mas nada que atrapalhasse o evento. Pelo contrário. Só demonstrou o quanto os fãs são tietes do cantor. E tiete é emoção, nunca razão. Milton parece ser eterno no coração do público carioca, o “Clube da Esquina” teve parte de sua base inicial aqui e o público ainda se emociona diante de tamanha grandeza harmônica e musical.
Diogo Nogueira encerrou com muito samba o Viradão Carioca 2010, na Praça XV, no centro do Rio, neste domingo (25) à noite. O público de 5.000 pessoas que lotou o endereço não arredou o pé após o show de Milton Nascimento e vibrou muito com o show do filho de João Nogueira.
No palco, Diogo agradeceu o convite para participar da maratona cultural do Rio, que está em sua segunda edição. A iniciativa dos paulistanos pegou na cidade do Rio. Isso é de importância vital para a cultura brasileira. Panis ET’ circenses, mas com muita qualidade e bom gosto.
Viradão carioca agita o Rio de Big Field à Copacabana
Por Antonio Siqueira
Desta sexta-feira até domingo, o Rio de Janeiro vai ser o palco da segunda edição do Viradão Carioca. No total, mais de 500 atrações vão se apresentar gratuitamente em 90 pontos espalhados pela cidade. A programação conta com shows, peças teatrais, espetáculos de dança, exposições de arte, apresentações circenses, exibições de filmes e saraus.
O Viradão Carioca vai contar com seis palcos ao ar livre para shows: na Praça XV, na favela Rio das Pedras, na Cinelândia, no Leme, no Piscinão de Ramos e na Praça do Ringue, em Santa Cruz e no Teatro de Arena Elza Osborne em Campo Grande. Além desses pontos, o evento contará com um palco sobre rodas que vai passar pela Penha, Vila Isabel e Méier.
De acordo com a organização do evento, o principal objetivo do Viradão Carioca é integrar as diferentes regiões da cidade e seus moradores, por meio da oferta de uma programação bastante eclética. Na segunda edição, o evento traz como novidade a programação em comunidades, entre elas o Complexo da Maré, a favela Tavares Bastos e os morros Santa Marta, da Mangueira e da Providência.
A abertura oficial do evento está marcada para as 18h30, na Praça XV, com o show de Dona Ivone Lara. O palco ainda irá receber outros nomes conhecidos, como Sandra de Sá, Preta Gil, Pitty, Milton Nascimento e Diogo Nogueira.
Uma grande sacada da Prefeitura de São Paulo que, aos poucos, vai esquentando aqui por terras cariocas. Você poderá saber tudo o que irá rolar durante as 54 horas de programação do VIRADÃO CARIOCA acompanhando online Face Book, no Orkut e no Twitter.
Quando o infinito insiste em nos revelar Por Antonio Siqueira
existem luzes no céu desde a minha tenra infância
mas o infinito não me revelava
o que existia naquelas pequenas luzes
um mago, um homem, um olhar...
desde que um genio pôs-se a voar em um conglomerado de caixotes
e outro ser teorizou as milhares de viagens nas asas da luz
a poesia encanta
a poesia acende
a poesia nasce
a poesia morre
a poesia sobe
a poesia desce
e o infinito sempre insiste em nos revelar
Segundo Epitáfio do Infinito
*Infinito... Em que é que pensamos quando ouvimos esta palavra? Em números enormes, incalculáveis, números que nunca mais acabaríamos de contar...? Um céu imenso, sem nunca mais acabar...? Cada um de nós pensará certamente uma coisa diferente, precisamente porque o conceito do infinito não tem por base nenhuma experiência sensível.
Nenhum assunto provocou tanta polémica e tanta discussão entre matemáticos, filósofos e teólogos como a ideia de infinito. Grande parte da matemática fundamenta-se no conceito de infinito... muito embora nada seja mais difícil de definir e a controvérsia a seu respeito pareça interminável.
O conceito de infinito surge assim como um dos mais importantes de toda a matemática e também como um daqueles cujo significado tem sido mais discutido.
O infinito é uma espécie de enigma matemático, de truque de magia, porque o seu conteúdo é inesgotável. Se retirarmos um elemento a um conjunto infinito restarão, não um a menos, mas exactamente o mesmo número de elementos (e o processo pode ser repetido com qualquer número de elementos, tantas vezes quantas se queira). Foram paradoxos como este que forçaram os nossos antepassados a terem cuidado com argumentos envolvendo apelos ao infinito. Vejam bem: eu não estou enlouquendo.
PUBLICADA EM MAIS DE 2000 jornais em todo o mundo, Calvin e Haroldo (Calvin and Hobbes) pode ser considerada uma obra prima dos quadrinhos. Criada por Bill Watterson em 1985, a série de tiras conta as aventuras do pequeno Calvin, um garoto hiperativo de seis anos de idade dotado de uma impressionante imaginação. Em seu mundo de fantasias, seu tigre de pelúcia ganha vida própria e assume a figura de uma espécie de amigo imaginário, aprontando com ele situações que deixam seus pais à beira da loucura. A última tira foi publicada em 31 de dezembro de 1995 (clique aqui para ver), após ter feito de Watterson uma verdadeira celebridade do ramo.
Nina Simone achava que era a reencarnação de uma princesa egípcia. Seus fãs não precisavam dessa informação para reverenciar a cantora - tampouco a escritora Nadine Cohodas, que, mesmo assim, batizou sua biografia, recém-lançada nos EUA e ainda sem previsão de chegar ao Brasil, de Princess Noire - The Tumultous Reign of Nina Simone (Pantheon Books, 464 págs., US$ 30). As credenciais da biógrafa garantem a seriedade da pesquisa. Antes de Nina Simone, ela escreveu a biografia de outra diva do jazz, Dinah Washington (Queen: The Life and Music of Dinah Washington), sendo também autora da história de uma lendária gravadora de blues, a Chess Records.
Em Princess Noire, Nadine Cohodas tenta ser discreta ao acompanhar a evolução da bipolaridade da grande cantora, que morreu, em abril de 2003, aos 70 anos, de um câncer no pulmão, diagnosticado dois meses antes. Acontece que Eunice Waymon (seu nome verdadeiro) teve uma vida nada discreta. Há, portanto, uma dissonância que perturba a intenção da biógrafa, a de dissecar - sem os instrumentos corretos de um psicanalista - essa personalidade perturbada, algo esquizofrênica, megalomaníaca e dada a acessos de agressividade.
Criada durante a Grande Depressão em Tryon, na Carolina do Norte, numa família de oito irmãos e pai pastor metodista, a idiossincrasia estilística de Nina Simone rivalizava com a pessoal. Quando criança, foi aluna de uma professora inglesa de piano, Muriel Mazzanovich, que a obrigava a tocar Bach sem parar - a primeira hora de aula era sempre dedicada ao compositor alemão. Miss Mazy, como Nina a chamava, era mais que uma professora de música.
Jazz: loucura e criatividade
Seria uma espécie de Maggie Smith no filme A Primavera de uma Solteirona (The Prime of Miss Brodie), uma professora que ensinava às alunas tudo o que seus pais jamais ousariam aprender. Assim, Eunice Waymon adotou-a como sua "mãe branca". Como seus pais não podiam pagar pelas aulas, foi criado em Tryon uma espécie de fundo para custear seus estudos de piano. Miss Mazy, então, preparou a aluna para seu primeiro recital, em 1944, aos 11 anos, no auditório da Biblioteca Lanier, de Tryon. Foi o estopim do trauma que a acompanhou para o resto da vida.
Os pais vestiram-se como se fossem para a igreja. Chegaram e sentaram-se na primeira fileira. Ao entrar no palco, a futura Nina, furiosa, observou que eles haviam sido deslocados para o fundo da sala. Encarou a plateia e pediu aos organizadores que instalassem os pais num lugar onde pudesse vê-los. Constrangidos, os anfitriões cederam ao pedido, contrariando as leis locais, que garantiam aos brancos a escolha dos melhores lugares.
Anos mais tarde, os que assistiram às frequentes provocações da cantora ao público durante os concertos, como a de interpretar seu hino de guerra Mississippi Goddam, passaram pelo mesmo teste de resistência aos impropérios lançados do palco aos brancos. Estava lançada a semente da bipolaridade de Nina, uma intérprete de reconhecida sensibilidade, capaz de emocionar um canibal, e que chegava ao extremo de agredir seu público, dizendo que não precisava do amor dos fãs, mas de dinheiro para viver.
De fato, como conta sua biógrafa, ela foi explorada por agentes, empresários, gravadoras. Vingava-se na hora de pagar as contas. Deu calote em locadores londrinos, numa clínica suíça, no American Express e acumulou uma dívida com o Imposto de Renda americano que chegaria, nos dias de hoje, a quase US$ 500 mil, o que explica seu exílio voluntário em Barbados e na França, onde morreu. Nina gostava de vestir roupas de grife e tomar a champanhe Cristal Louis Roederer. E isso custa muito, muito caro (uma garrafa de Cristal de uma boa safra não sai por menos de US$ 500).
Ainda assim, apresentou-se regularmente nos EUA nos anos 1970 e 1980, graças a um acordo com o Leão americano e à interferência de advogados, obrigados a representá-la como Dra. Simone - ela insistia na "doutora", por ter estudado música erudita na Julliard School, frustração maior, uma vez que não conseguiu se tornar uma pianista clássica. E, mais uma vez, ela culpou os brancos por isso, alegando ter sido rejeitada no exame de admissão no Curtis Institute of Music, aos 18 anos, por ser negra.
O sentimento de injustiça pessoal, vítima do racismo dos brancos, perseguiu a militante Nina Simone a vida toda, mesmo quando já era uma diva, adorada por fãs - brancos e negros -, dispostos a pagar uma fortuna para vê-la no palco e cantar apenas seis músicas - como no seu último concerto no Carnegie Hall, em 2001, dentro do Festival JVC. O organizador George Wein pagou a ela um cachê de US$ 85 mil, cobrando US$ 100 por ingresso. Ninguém reclamou. "Ela era adorada como uma deusa e havia se transformado num ícone", comenta o empresário. Não foi a mesma opinião do crítico Gene Santoro, do Daily News. Para ele, aquela havia sido uma noite em que Wein "tentou erguer Roma de suas ruínas". Afinal, no fim da carreira, a voz não era mais a mesma e Nina dava sinais de distúrbio de personalidade, tropeçando nos fios do microfone, falando com a voz empastada dos alcoólicos e deixando a alça do vestido cair como uma decadente diva de melodrama hollywoodiano. mais revolta sentia, mais talento surgia de seu piano
As várias faces da diva
RACISMO
"Toda a minha vida desejei exprimir meu sentimento de prisioneira, esse silêncio atroz que transforma todos os negros em encarcerados."
VERDADE
"Seja o que for que alguém possa concluir sobre minha música, seja o que for que alguém sinta por ela, saiba que a perturbação que ela provoca é também parte da perturbação do ouvinte. Tudo o que você ouve nessa música é absolutamente verdadeiro."
LIBERDADE
"Vou dizer a você o que significa liberdade para mim. Liberdade é realmente não sentir medo de espécie alguma. Todos deveriam ser livres e, se não o somos, é porque somos assassinos."
AMÉRICA
"Não estou no meu país. Nasci aqui, nos EUA, mas este não é o meu lar. Sinto estar à beira de ser crucificada aqui, só não sei dizer por quem."
MILITÂNCIA
"O que eu fazia não era música clássica, nem popular, mas música em defesa dos direitos civis. Todos os meus amigos foram exilados ou simplesmente assassinados. Fiquei meio perdida, amarga, paranoica, imaginando que podia ser morta a qualquer momento."
SEMELHANTES
"Dizem que eu e Billie Holiday somos parecidas. Suponho que seja porque tivemos vidas idênticas, sempre rejeitadas."
O surrealismo mexe tanto com o imaginário humano, que por inúmeras vezes o interlocutor desiste ou arquiva a interpretação do que se expõe a ele nesta linha do pensamento moderno. É tão somente uma combinação do representativo, do abstrato, e do psicológico. Segundo os surrealistas, a arte deve se libertar das exigências da lógica e da razão e ir além da consciência cotidiana, expressando o inconsciente e os sonhos. André Breton, em 1924, publica o primeiro Manifesto Surrealista, devidamente inserido no contexto das vanguardas de uma Paris que por três séculos foi o grande centro cultural do planeta. Como toda ação tem uma reação, e por diversas vezes, uma reação em cadeia; estava ali, já em processo avançado de evolução, o principal embrião do que, de fato, viria ser o Modernismo.
O Brasil é um ambiente fecundo de grandes escritores, porém o primeiro grande escritor surrealista surgido aqui foi, sem dúvidas, o mineiro de Urbelândia, Walter Campos de Carvalho. Um escritor desconcertante, avesso à mídia e à glória, esta última, Campos de Carvalho via com grande desprezo e revelava aos mais íntimos, achar medíocre. Advogado formado aos 22 anos e já em São Paulo tinha a vida ligada, quase que integralmente, à literatura, apesar de ter escrito somente seis livros. O mais conhecido, A Lua Vem da Ásia, é um verdadeiro manifesto surrealista. Contam que o escritor baiano, Jorge Amado, após ler este livro em 1956, entrou em uma livraria em Salvador e comprou todo o estoque de exemplares. Estava tão impressionado com o que tinha lido que resolveu mandar exemplares aos amigos. Eis um trecho desta obra:
“Quando em 1934 atravessei sozinho o deserto de Iguidi, tendo por única companhia um casal de borboletas, ocorreu-me a aventura mais surpreendente que pode ocorrer a um homem vivo ou morto, e que procurarei resumir em três linhas. Foi o caso que um dia despertei transformado em mulher e, nessa qualidade, fui pouco depois recrutado para o harém do sultão de Marrocos, onde servi como pude durante um ano e 14 dias.”
A trama de A Lua Vem da Ásia se passa num hospício e é repleta de lances hilariantes, como uma tentativa de fuga num Zeppelin envolvendo personagens completamente absurdos. O nome dos capítulos (Capítulo sem Sexo, Capítulo CLXXXIV, Capítulo) e a total ausência de seqüência entre eles (do Capítulo Primeiro pula para o Capítulo 18 graus) dão uma idéia do que espera o leitor. Campos de Carvalho é prazeroso de se ler.
Em 1997, Campos de Carvalho concedeu uma entrevista a uma emissora de TV. Seria esta a primeira e última: Após 40 minutos de um quase monólogo, o entrevistador, desesperado, tentava fazer com que o escritor dissesse algo que fosse além dos três ou quatro monossílabos com que era brindado a cada nova pergunta. E arriscou: O senhor é feliz? Campos de Carvalho olhou para o alto do estúdio, para os lados, para o chão. Após um minuto e meio de um silêncio avassalador, ruidoso, o escritor finalmente respondeu. Não. O entrevistador, visivelmente constrangido, tentou uma saída pela esquerda e emendou: Se o senhor pudesse mudar alguma coisa no mundo, o que mudaria? De novo, um longo silêncio. Um pouco mais leve. E a resposta: Nada.
O autor deixou mais três novelas além de A Lua Vem da Ásia, todas com títulos, digamos, diferenciados: Vaca de Nariz Sutil, A Chuva Imóvel e o Púcaro Búlgaro esta última escrita em 24 dias. Após isso, parou inexplicavelmente de escrever.
Campos de Carvalho morou por mais de 50 anos no bairro de Higienópolis em São Paulo, onde residiu até os últimos dias de vida. Gostava de passear todas as tardes e numa dessas tardes, teve um mal estar súbito. Pouco antes de morrer contou a mulher, Lygia que estava passando mal: “Por causa de um sorvete que tomei”. Este era Walter Campos de Carvalho, talvez o primeiro e último escritor surrealista do Brasil.
No momento em que eu iniciava esse artigo, subia para 145 o numero de mortos devido às fortes chuvas que castigam ininterruptamente o Estado do Rio de Janeiro, segundo boletim divulgado pelo Corpo de Bombeiros. Todos foram vitimados por deslizamentos de terra decorrentes da chuva. Ainda há desaparecidos e esse número pode continuar a aumentar. Com mais esse deslizamento ocorrido há algumas horas no Morro do Bumba, no bairro Fonseca em Niterói, chegando aproximadamentete, a um total de 60 pessoas soterradas. O saldo da tragédia ganha contornos de calamidade. Há 72 horas, chove o maior volume de água registrado aqui no Rio, desde que o mundo novo resolveu evoluir e planejar-se urbanisticamente. Pois é, o mundo está agonizando, endossando aqui a Teoria de Gaia de James E. Lovelock. A Terra está, possivelmente, doente e muito irritada. O cientista britânico, juntamente com a bióloga Lynn Margulis, analisaram pesquisas que comparavam a atmosfera da Terra com a de outros planetas, vindo a propor que é a vida da Terra que cria as condições para a sua própria sobrevivência, e não o contrário, como as teorias tradicionais sugerem, isto é a Terra é um organismo vivo, e como todo organismo vivo reage com uma forte febre a qualquer tipo de infecção grave. Parece que o vírus que provoca essa “infecção” somos nós seres humanos e acabaremos sendo eliminados dessa cadeia biológica.
Os nova-iorquinos chamaram Apocalipse II à tempestade de neve que se abateu nestas últimas semanas sobre o noroeste dos Estados Unidos. O primeiro teria sido registrado durante a semana passada. Não é ainda o fim do mundo, mas não deixa de ser um aviso. A concentração humana nas grandes metrópoles, com a perturbação da natureza, agrava as conseqüências dos desastres. Enquanto a neve desaba no Hemisfério Norte, atingindo a região mais densamente povoada e de ocupação pioneira dos Estados Unidos, no Brasil e em outros países do Sul as grandes chuvas fazem desabar as casas pobres e matam impiedosamente. Há também os terremotos, esses males inseparáveis do destino do planeta, posto que a ele congênitos. Mas, também no caso dos terremotos, desde os registrados na Antiguidade, os danos são equivalentes à densidade da ocupação nas áreas atingidas.
A partir do terremoto de Lisboa, ocorrido no dia 1 de novembro de 1755, discute-se essa relação, e o desastre chegou a alimentar a ideia de que a sede do Império deveria deslocar-se para o Brasil. Não há cifras confiáveis, mas se calcula que entre 30 mil e 90 mil pessoas tenham morrido, em uma população de 270 mil. Como relatam os historiadores, o terremoto causou profundo impacto no pensamento europeu. Todas as crenças, filosóficas e religiosas, sofreram grande abalo e, até hoje, filósofos ainda discutem os seus efeitos na razão humana.
A grande discussão que se faz é em torno do chamado “progresso”. Qualquer restrição ao desenvolvimento da técnica, com seus efeitos sobre a natureza, costuma ser considerada atitude reacionária. O mito do progresso infinito, no entanto, se choca com a consciência dos limites da vida humana e dos recursos do mundo. Parece impossível impor rédeas à busca do conhecimento e à aplicação tecnológica das descobertas. O físico brasileiro José Israel Vargas resume o raciocínio em uma frase linear: é impossível “desinventar”. Uma vez descoberto qualquer processo de intervenção na natureza, imediatamente surge seu proveito industrial, isto é, tecnológico. Se aceitarmos esse postulado, o homem pode estar sendo condenado a sucumbir vitimado pela própria razão, a razão que garantiu sua sobrevivência até o momento.
Há os que recusam a tese de que o homem está envenenando o meio ambiente, e atribuem as mudanças climáticas a fenômenos absolutamente naturais, sobre os quais só podemos ter escassa influência, na previsão de sua ocorrência e nas providências que reduzam os seus efeitos. Outros, no entanto, tentam provar que somos os responsáveis pela degradação do meio ambiente e que estamos nos condenando ao extermínio. É melhor considerar que o homem é um ser precário, e sua sobrevivência é ameaçada pelos fenômenos naturais e pela própria insensatez, como a submissão da técnica à ambição do lucro.
Sófocles, em Antígona, depois de manifestar sua profunda admiração pelos inventores, revela seu pessimismo, ao afirmar que eles ultrapassam toda a expectativa, “o talento e habilidade que conduzem o homem ora à luz, ora a malvados conselhos”. Não obstante o seu culto à inteligência e à razão, que levavam os grandes pensadores gregos à certeza de que a tarefa do homem era a de igualar-se aos deuses, havia os que advertiam contra essa presunção. Há sempre, ao lado do fulgor da inteligência, o perigo de que ela nos conduza aos “malvados conselhos”, identificados por Sófocles. Dentro desse raciocínio, a ciência deve estar submetida à razão política, mas isso só ocorrerá, quando formos capazes de dar razão à política, submetê-la à ética do humanismo. Isso significa planejar a vida para todos, buscando a igualdade e a justiça. Por enquanto morrem, sobretudo, os pobres, mas é provável que, diante da intensidade dos desastres, os grandes comecem a pensar de outra forma.
A neve sobre Nova York – onde começam a faltar alimentos – é um aviso, assim como foi o tsunami da Indonésia e o terremoto de Lisboa. Pouco importa se esses desastres – como o terrível terremoto de Porto Príncipe ou o terremoto que arrasou o estreito território chileno, o primeiro com muito mais vítimas do que o de Lisboa – se devem só às terríveis forças cósmicas, ou também ao desvario do homem. O que importa é usar a razão e a ciência na busca da igualdade e da justiça, de forma a que o homem viva melhor, enquanto o mundo existir.