quinta-feira, 16 de setembro de 2021

O Anfitrião Do Diabo e Seu Bobo Da Corte

Um jantar que reduziu a arte do humor à uma sessão conversa de pátio de presídio




Festa Estranha Com Gente Esquisita...


















Sátira é arte. Humor é arte e arte complexa! Fazer rir é mais difícil que fazer chorar, esteja certo. Mas o humor inteligente é compreendido por todos, por que é simples, eficaz, cênico e limpo. A arte é resistência, é por essência, oposição ao rolo compressor de classes e a sátira, o humorismo, sempre foi um fiel companheiro desse ritual, deste exercício em forma de manifesto social. Não mais no Brasil.

 Não mais no Brasil de Oscarito, Grande Otelo, Costinha, Mazzaropi, Sérgio Porto (pai do icônico personagem Stanislaw Ponte Preta), Ronald Golias, Agildo Ribeiro, José Simão, Ary Toledo, Henfil, Jô Soares, Chico Anísio e mais recentemente do que nunca, Marcelo Adnet, Gregório Duvivier e o fenômeno que se eternizou, assassinado categoricamente pelo genocídio moderno: Paulo Gustavo. A verdade é que a sátira  é uma técnica literária ou artística que ridiculariza um determinado tema, geralmente como forma de intervenção política ou outra, com o intento de provocar ou evitar uma mudança que oprima as massas. Sempre foi resistência e motivo de cárceres nas mais fétidas masmorras do Império Romano, na Europa Medieval e pós medieval, dente outras civilizações. Foi bem como encenou o moleque André Marinho, ex militante da causa bolsonaristas com seu pai milionário, Paulo Marinho sobre "os paus de araras na praça dos três poderes" em alusão ao Presidente  Jair Messias Bozo Bolsonaro, figura central da ridicularizarão em uma mesa que reunia os maiores bilionários do "Brasil Pandêmico". O que pra eles era uma piada, para o povo é humilhação, tortura, porrada, infortúnio...desprezo. E Bolsonaro é isso: um palhaço perigoso, controlado por uma dúzia de banqueiros, industriais, bilionários parasitas e magnatas da comunicação. Não obstante; o grande "barato", a grande piada é Naji Nahas oferecendo um jantar a Temer com todas essa "gente boa" a pastar o luxo. Naji Nahas, um único homem que quebrou a bolsa de valores do Rio. Aliás, a Bolsa de Valores Do Rio De Janeiro jamais se recuperou e, praticamente, encerrou suas atividades no ano 2000. Antes de qualquer coisa, é preciso saber: quem é Naji Nahas?

Naji Robert Nahas nasceu em 1947 no Líbano e em 1969 se mudou para o Brasil trazendo consigo uma fortuna, herança de família, de alguns milhões de dólares. Com 22 anos na época, o objetivo de Nahas era empreender em terras brasileiras por meio de investimentos e compras de empresas de diversos nichos. Por conta disso, o empresário adquiriu fábricas, bancos, seguradoras e investiu até na criação de coelhos. Os investimentos deram resultados e multiplicaram. Nahas consolidou seu império e, antes dos 40 anos, já era dono de um conglomerado multimilionário. Buscando multiplicar ainda mais sua fortuna, na década de 1980 o empresário começou a investir em ações nas bolsas de valores brasileiras; como revelou em matéria recente a jornalista do mercado financeiro, Regiane Medeiros. Nahas foi condenado, cumpriu pena em casa, continuou, supostamente, sabotando o mercado financeiro dentro de casa, em liberdade, rindo de tudo e de todos e oferece jantar a ex presidentes e comensais de fina estampa. Cidadãos de classe e nível!

O pobre de direita que elegeu Bolsonaro, não sabe quem é Naji Nahas, o anfitrião do vampiro. A amnésia coletiva do brasileiro é concernente a fatos históricos, sejam estes recentes ou não. Recebemos o rótulo de "povo sem memória". Por vezes, e não são poucas estas "vezes", o rótulo cabe a "povo sem vergonha". Mas o trabalho feito pelas elites para que passássemos do estágio de "povo sem memória" para "povo ruminante (gado por essência)", foi longo e eficaz. Os bilionários que estão à mesa e a imprensa pintada na cara sorridente de escárnio de Roberto D'ávila não negam fatos. A mesa do jantar promovido a Temer e animado por um moleque palhaço aspirante a humorista, remonta um brasil do Século XIX com o Imperador e seus comensais. Temer era ladeado por Jorge Leman, João Carlos Saad, presidente do Grupo Bandeirantes de Comunicações, alguns banqueiros, um ou outro gigante varejista e um garçom servindo muito bem a estes homens. Aliás, o garçom, na camada inferior ao cheff que preparou o rega-bofe, é o único representante do pobre, seja este pobre um pobre diabo de direita ou de esquerda. Representa ali o que somos: uma massa falida que assina mais um golpe de estado de Michel Temer. Um golpe em cima de uma intenção do golpe, depois de um golpe bem sucedido. Pudera: nós fomos, historicamente, paridos por golpes.


O Jantar Infame

Vídeo de O Globo

domingo, 11 de abril de 2021

Lumiar é o paraíso na serra que enfeitiçou Ronaldo Bastos

 

       O jornalista, produtor musical e compositor Ronaldo Bastos Ribeiro, nascido em Niterói (RJ), na letra de “Lumiar”, exalta um vilarejo bucólico, repleto de vida, diversão e um ótimo lugar para quem deseja somente descansar, na região serrana do Rio. A música foi gravada por Beto Guedes, em 1977, no LP A Página do Relâmpago Elétrico, pela EMI-Odeon. Curiosamente, Beto só veio conhecer Lumiar alguns anos depois.



Lumiar é um distrito de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro











LUMIAR
(
Beto Guedes e Ronaldo Bastos)


Anda, vem jantar, vem comer, vem beber, farrear

até chegar Lumiar

e depois deitar no sereno

só pra poder dormir e sonhar

pra passar a noite

caçando sapo, contando caso

de como deve ser Lumiar

Acordar, Lumiar, sem chorar, sem falar, sem querer, acordar em Lumiar

levantar e fazer café

só pra sair caçar e pescar

e passar o dia

moendo cana, caçando lua

clarear de vez Lumiar


Amor, Lumiar, pra viver, pra gostar, pra chover
pra tratar de vadiar

descansar os olhos, olhar e ver e respirar
só pra não ver o tempo passar

pra passar o tempo

Até chover, até lembrar

de como deve ser Lumiar


Anda, vem jantar, vem dormir, vem sonhar,
pra viver
até chegar em Lumiar
Estender o sol na varanda… até queimar
só pra não ter mais nada a perder
pra perder o medo, mudar de céu, mudar de ar

Clarear de vez Lumiar


Lumiar - Beto Guedes e Ronaldo Bastos


quinta-feira, 1 de abril de 2021

Aniversário mais que especial

 

Feliz Aniversário, Zé Renato e muito obrigado por ter feito a minha adolescência muito feliz com esta voz que é o que mais se aproxima da perfeição. Lembro de um show do Boca Livre e sobretudo com você solo ou ... com algum ilustre convidado era  (...é e sempre será) um acontecimento especial. Motivo mais que especial para que nos tirava de casa para lhe prestigiar e, igualmente, locupletarmo-nos com seu talento e empatia.

Obrigado e felicidades.
Tenho acompanhado a sua luta por melhores dias e digo:
Feliz Aniversário, Você não está sozinho!







Zé Ranato e Monica Salmaso em momento maravilhoso 
na Rede Social Facebook





segunda-feira, 15 de março de 2021

100 anos de Piazzolla: 10 clássicos fundamentais do mito argentino


Por Fernanda Carvalho

Cem anos de Piazzola











Há exatos 100 anos, no dia 11 de março de 2021, nascia Astor Piazzolla, bandoneonista e compositor argentino, conhecido mundialmente por revolucionar o tango. Nascido em Mar del Plata, aos 8 anos ele ganhou o primeiro bandoneón, instrumento musical de palhetas livres semelhante a uma sanfona. Na adolescência Piazzolla conheceu Carlos Gardel, o cantor de tango mais famoso da história. Gardel convidou Piazzolla para tocar em sua turnê, em 1935, mas a família do bandoneonista não permitiu, já que ele era menor de idade. A recusa salvou a vida de Piazzolla, pois durante a turnê Gardel e os membros de sua banda morreram em um acidente aéreo.

Em 1937, Piazzolla se mudou para Buenos Aires, onde começou a trilhar seu próprio caminho na música. A inovação de Piazzolla foi inserir no tango elementos do jazz e da música erudita, outra de suas grandes paixões. Na década de 1950, inclusive, ele se tornou pianista e conseguiu uma bolsa para estudar música clássica na França.

Foi com a compositora francesa Nadia Boulanger, professora de Piazzolla, que ele descobriu que poderia escrever suas próprias canções. Com suas composições, Piazzolla criou a “música contemporânea de Buenos Aires”. Realizou trabalhos em diferentes países, incluindo o Brasil, e se tornou uma das maiores referências do tango no mundo.

Continuou em atividade até 1990, quando sofreu uma hemorragia cerebral e ficou em coma. Ele morreu em 1992, em Buenos Aires. Piazzolla deixou mais de três mil composições, sendo 500 delas gravadas. Em homenagem ao centenário do bandoneonista, a Bula reuniu em uma playlist dez de suas principais canções.

A seleção está disponível no Spotify. Para ouvi-la, é necessário possuir cadastro no aplicativo e realizar login. Há opção de assinatura gratuita.



segunda-feira, 8 de março de 2021

Coração em Foco: A importância do uso de máscaras

Drª Marcia Cristina


𝑶 𝒖𝒔𝒐 𝒅𝒆 𝑴Á𝑺𝑪𝑨𝑹𝑨𝑺 , é 𝒎𝒖𝒊𝒕𝒐 𝒊𝒎𝒑𝒐𝒓𝒕𝒂𝒏𝒕𝒆.
𝑷𝒓𝒊𝒏𝒄𝒊𝒑𝒂𝒍𝒎𝒆𝒏𝒕𝒆 𝒂𝒈𝒐𝒓𝒂, 𝒄𝒐𝒎 𝒐 𝒔𝒖𝒓𝒈𝒊𝒎𝒆𝒏𝒕𝒐 𝒅𝒂 𝒗𝒂𝒓𝒊𝒂𝒏𝒕𝒆.

Até que a imunidade populacional induzida pela vacina seja alcançada, o mascaramento universal é um meio altamente eficaz para retardar a disseminação do SARS-CoV-2 quando combinado com outras medidas de proteção, como distanciamento físico, evitar multidões e espaços internos mal ventilados e boa higiene das mãos.











O CDC (Centers for Disease Control and Prevention) conduziu experimentos para avaliar maneiras de melhorar o ajuste de máscaras.
Os dados neste relatório ressaltam a conclusão de que um bom ajuste pode aumentar a eficiência geral da máscara. Demonstrou-se que várias maneiras simples de melhorar o ajuste são eficazes.


𝐀 𝐜𝐨𝐦𝐛𝐢𝐧𝐚çã𝐨 𝐝𝐚 𝐦á𝐬𝐜𝐚𝐫𝐚 𝐝𝐞 𝐭𝐞𝐜𝐢𝐝𝐨 𝐪𝐮𝐞 𝐜𝐨𝐛𝐫𝐞 𝐚 𝐦á𝐬𝐜𝐚𝐫𝐚 𝐝𝐞 𝐩𝐫𝐨𝐜𝐞𝐝𝐢𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨 𝐦é𝐝𝐢𝐜𝐨 (𝐦á𝐬𝐜𝐚𝐫𝐚 𝐝𝐮𝐩𝐥𝐚) 𝐛𝐥𝐨𝐪𝐮𝐞𝐨𝐮 𝟖𝟓,𝟒% 𝐝𝐚𝐬 𝐩𝐚𝐫𝐭í𝐜𝐮𝐥𝐚𝐬 𝐝𝐚 𝐭𝐨𝐬𝐬𝐞 ;  
𝐀 𝐦á𝐬𝐜𝐚𝐫𝐚 𝐝𝐞 𝐩𝐫𝐨𝐜𝐞𝐝𝐢𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨 𝐦é𝐝𝐢𝐜𝐨 𝐚𝐭𝐚𝐝𝐚 𝐞 𝐝𝐨𝐛𝐫𝐚𝐝𝐚, 𝐛𝐥𝐨𝐪𝐮𝐞𝐨𝐮 𝟕𝟕,𝟎% .
𝐍𝐨 𝐬𝐞𝐠𝐮𝐧𝐝𝐨 𝐞𝐱𝐩𝐞𝐫𝐢𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨, 𝐦á𝐬𝐜𝐚𝐫𝐚𝐬 𝐝𝐮𝐩𝐥𝐚𝐬 𝐨𝐮 𝐦á𝐬𝐜𝐚𝐫𝐚𝐬 𝐜𝐨𝐦 𝐧ó𝐬 𝐞 𝐝𝐨𝐛𝐫𝐚𝐝𝐚𝐬, 𝐚 𝐞𝐱𝐩𝐨𝐬𝐢çã𝐨 𝐜𝐮𝐦𝐮𝐥𝐚𝐭𝐢𝐯𝐚 𝐝𝐨 𝐫𝐞𝐜𝐞𝐩𝐭𝐨𝐫 𝐟𝐨𝐢 𝐫𝐞𝐝𝐮𝐳𝐢𝐝𝐚 𝐞𝐦 𝟗𝟔,𝟒% 𝐞 𝟗𝟓,𝟗% , 𝐫𝐞𝐬𝐩𝐞𝐜𝐭𝐢𝐯𝐚𝐦𝐞𝐧𝐭𝐞.









sábado, 20 de fevereiro de 2021

Liberdade

 Por Antonio Siqueira


Bituca e Marcos Valle em 1967













O cantor, instrumentista, arranjador e compositor carioca
 Marcos Kostenbader Valle e seu irmão Paulo Sérgio, na letra de “Viola Enluarada”, retratam um protesto contra a ditadura militar, na época, vigente no Brasil desde 1964. A música foi gravada por Marcos Valle no LP “Viola Enluarada”, em 1967, pela Odeon. A música de Marcos, com letra do seu irmão Paulo Sérgio Valle, virou hino de liberdade de uma juventude esmagada pelos primeiros anos de chumbo do Golpe de 1964. Composta em 1967 e gravada no álbum “Viola Enluarada”, a canção é uma toada, com sabor das músicas que encantavam as plateias nos disputados festivais de MPB que aconteciam naquele final de década. Marcos disse sobre ela que queria provocar e criticar a estrutura social e política do país, então nas amarras da ditadura, com uma canção de protesto bem brasileira.

Além da beleza atemporal da melodia e da poesia, outro ponto de destaque é a participação vocal de Milton Nascimento. Mesmo que eu a tenha escutado inúmeras vezes, quando a coloco para tocar e lá pelos 2 minutos entra o vozeirão do Bituca: “Quem tem de noite a companheira / Sabe que a paz é passageira, / Prá defendê-la se levanta / E grita: Eu vou!” é sempre uma emoção arrepiante!


VIOLA ENLUARADA
Marcos e Paulo Sérgio Valle

A mão que toca um violão
Se for preciso faz a guerra,
Mata o mundo, fere a terra.
A voz que canta uma canção
Se for preciso canta um hino,
Louva a morte.

Viola em noite enluarada
No sertão é como espada,
Esperança de vingança.
O mesmo pé que dança um samba
Se preciso vai à luta,

Capoeira.

Quem tem de noite a companheira
Sabe que a paz é passageira,
Prá defende-la se levanta
E grita: Eu vou!

Mão, violão, canção e espada
E viola enluarada
Pelo campo e cidade,
Porta bandeira, capoeira,
Desfilando vão cantando

Liberdade.

Quem tem de noite a companheira
Sabe que a paz é passageira,
Prá defende-la se levanta
E grita: Eu vou!

Porta bandeira, capoeira,
Desfilando vão cantando

Liberdade.

Liberdade, liberdade, liberdade…



Marcos Valle e Milton Nascimento Viola Enluarada


terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

O Réquiem Humano: É um privilégio ainda termos um pensador vivo como Noam Chomsky

Por Antonio Siqueira





















Desde os anos de 1980, com a implantação do chamado ‘neoliberalismo’, o sonho americano como conhecemos morre lentamente e este é o tema do documentário Requiem for the American Dream (O fim do Sonho Americano)

O Documentário mostra através de embasamento científico de Noam Chomsky, considerado como o maior intelectual vivo do planeta, como se mantém a estrutura de poder e corrupção pelo mundo. Como uma minúscula oligarquia mundial, através de seu poderio, consegue sabotar qualquer sonho de democracia e bem-estar. 

Mas é preciso alongar e contar toda uma história: Quando Thomas Piketty publicou o seu estudo Capital no Século XXI, um dos maiores levantamentos da distribuição de renda numa linha histórica das últimas décadas, o resultado foi chocante, mas não surpreendente. O economista francês e a sua equipe constataram que estamos no ápice da desigualdade, com uma pequena parcela da população mundial acumulando um excedente de riqueza fora de qualquer projeção e sem qualquer forma de controle ou regulação sobre ela.

O sistema econômico capitalista absorveu anormalidades como essa de forma normatizada, tornando-se anomalias que seriam absurdas em outras configurações de um sistema de economia, mas que no seu seio se tornam características normais. Como essa riqueza e poder se acumularam concentrando-se somente nesse 1% super-rico, tornando-os, segundo a expressão de Adam Smith, “senhores da humanidade”?

Buscando traçar quais os 10 princípios fundamentais da concentração de riqueza e poder, Noam Chomsky — um dos maiores pensadores, linguista e filósofo político vivos — responde a essa questão e elabora reflexões importantes sobre o futuro da humanidade na obra Réquiem Para o Sonho Americano.

O livro é a adaptação do documentário Requiem For American Dream, produzido por Peter Hutchison, Kelly Nyks e Jared P. Scott. Nele, Chomsky expõe, numa espécie de aula, as dez características que baseiam o acúmulo de poder e riqueza na estrutura da economia e da história dos Estados Unidos.

O livro — publicado em 2017 pelo selo Bertrand Brasil, na tradução de Milton Chaves de Almeida — funciona como uma espécie de bloco de anotações do documentário. Todos os elementos abordados por Chomsky no documentário não perdem a força na didática do seu trabalho escrito.



Através de uma série de entrevistas, realizadas durante 4 anos, Chosmky explica Os Dez Princípios da Concentração de Riqueza e Poder:

1. Reduzir a democracia: como uma das maiores preocupações dos “pais fundadores” da sociedade americana, expresso na Constituição e na criação do Senado, a exemplo de James Madinson, era proteger os ricos do “excesso” de democracia, criando mecanismos para que ela “não fugisse do controle”.

2. Moldar a ideologia: o documento “A Crise da Democracia” da Comissão Trilateral, citado por Chomsky, é exemplar nisso.

3. Redesenhar a economia: como o aumento exponencial da participação das instituições financeiras na economia, em detrimento da produção, somada com a desregulação do mercado a partir dos anos 70, potencializada nas décadas posteriores e a elevação do conceito de “insegurança do trabalhador” – celebrado por Alan Greenspan – servem de base para a situação atual.

4. Dividir o fardo: de que maneira o estado de bem estar social dos anos 50 e 60 e a melhora das condições de vida da população foi corroído ao longo do tempo, significando menos impostos para os ricos, que habilmente conseguiram fazer com que a maioria do povo arcasse com os custos básicos da sociedade, enquanto a desigualdade atinge picos históricos hoje em dia.

5. Atacar a noção de solidariedade: obedecendo a máxima de “tudo para mim, nada para os outros” de Adam Smith, como a educação pública e a previdência social foram atacadas e diminuídas, ainda que largamente usada pelas classes A e B no passado e base de sustentação do desenvolvimento da sociedade americana. Partindo desses exemplos, Chomsky mostra como o capitalismo atua para minar nossa capacidade de sentir empatia e solidariedade com o outro, conquistando nossas mentes e nos fazendo refém do egoísmo mais tóxico e abjeto possível.

6. Deixar reguladores atuarem em causa própria: o crescimento absurdo do lobby e como as pessoas escolhidas para definir a legislação são as mesmas que usufruem dela em praticamente todas as áreas da economia e da sociedade.

7. Financiar as eleições:grandes corporações financiando as campanhas presidenciais caríssimas que geram governantes que ficam na mão delas, em um círculo vicioso absurdo. Soa familiar, não?

8. Manter o povo na linha:o ataque ao sindicalismo e todas as organizações de trabalhadores. De que  forma eles eram parte essencial da resistência à exploração e ao abuso e, com o tempo, foram minados, seja diretamente pelo governo, seja pelas próprias organizações, que trataram de demonizar profundamente a atuação sindical, chegando a somente 7% de trabalhadores privados sindicalizados hoje.

9. Criar e propagar o consumismo:de que forma a propaganda, de maneira bem engenhosa e eficaz, tratou de criar gerações de consumidores com pouco ou nenhum senso crítico, um roteiro que todos conhecemos bem.

10. Marginalizar a população:“marginalizar” no sentido de excluir o povo das discussões principais, da participação democrática, minando o controle social e gerando cidadãos apolíticos que se engalfinham num ódio à política e ao governo absolutamente cego que, claro, compromete os maiores interessados na melhoria da sociedade: o próprio povo.

Nada disso é novidade, mas a capacidade de Chosmky em mostrar de maneira concisa e didática o seu impacto, somado ao arquivo histórico dos realizadores, faz com que esse documentário seja um excelente resumo de tudo aquilo que é central para o mundo em que vivemos. Vale o documentário e vale, mais ainda, a leitura de "Réquiem para o sonho americano: Os dez princípios de concentração de renda e poder" .




O documentário exibido pela Netflix de "Réquiem para o sonho americano: Os dez princípios de concentração de renda e  poder"








quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

O "Cidadão" de Lucio Barbosa na voz de Zé Geraldo

 Por Antonio Siqueira




Lucio Barbosa_Ilustration

O poeta e compositor baiano Lúcio Barbosa tornou-se conhecido, em 1979, quando sua música “Cidadão” foi gravada pelo cantor Zé Geraldo no LP “Terceiro mundo”, da CBS.

Muitos pensam ser esta música de autoria de seu intérprete, por sinal um grande compsitor, mas o poeta e compositor baiano Lúcio Barbosa tornou-se conhecido, em 1979, quando sua música “Cidadão” foi gravada pelo cantor Zé Geraldo no LP “Terceiro mundo”, da gravador CBS. Segundo o próprio Lúcio Barbosa, a música “Cidadão” foi composta em homenagem ao seu tio Ulisses, cuja letra narra a saga de um  pedreiro, que, em razão da sua condição humilde, não pode frequentar nenhuma das obras por ele construídas. A inspiração veio do fato do tio também ser pedreiro, ter construído inúmeras obras na cidade grande, mas não possuir casa própria.

A música aborda o preconceito e a discriminação que os nordestinos sofrem nas grandes cidades e faz referência a alguns problemas sociais, tais como moradia, educação e trabalho. E o título “Cidadão” é proposital para demonstrar distanciamento entre os indivíduos privilegiados, em pleno gozo dos direitos civis e políticos, ou no desempenho de seus deveres para com o Estado e demonstra que a sociedade burguesa pode ser muito cruel, quando não considera as pessoas pobres como “cidadãs”.


"CIDADÃO"
Lúcio Barbosa


Tá vendo aquele edifício moço

Ajudei a levantar

Foi um tempo de aflição, era quatro condução

Duas pra ir, duas pra voltar

Hoje depois dele pronto

Olho pra cima e fico tonto

Mas me vem um cidadão

E me diz desconfiado

“Tu tá aí admirado ou tá querendo roubar”

Meu domingo tá perdido, vou pra casa entristecido

Dá vontade de beber

E pra aumentar meu tédio

Eu nem posso olhar pro prédio que eu ajudei a fazer

Tá vendo aquele colégio moço

Eu também trabalhei lá

Lá eu quase me arrebento

Fiz a massa, pus cimento, ajudei a rebocar

Minha filha inocente vem pra mim toda contente

“Pai vou me matricular”

Mas me vem um cidadão:

“Criança de pé no chão aqui não pode estudar”

Essa dor doeu mais forte

Por que é que eu deixei o norte

Eu me pus a me dizer

Lá a seca castigava, mas o pouco que eu plantava

Tinha direito a comer

Tá vendo quela igreja moço, onde o padre diz amém

Pus o sino e o badalo, enchi minha mão de calo

Lá eu trabalhei também

Lá foi que valeu a pena, tem quermesse, tem novena

E o padre me deixa entrar

Foi lá que Cristo me disse:

“Rapaz deixe de tolice, não se deixe amedrontar

Fui eu quem criou a terra

Enchi o rio, fiz a serra, não deixei nada faltar

Hoje o homem criou asas e na maioria das casas

Eu também não posso entrar”

"Cidadão" na voz de seu grande intérprete

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Brizola reconheceu antes de morrer que Jango estava certo

 Por Luiz Augusto Erthal

Jango e Brizola em 1961









Duas semanas antes de morrer, o ex-governador Leonel Brizola ligou para Denize Goulart - sobrinha de sua mulher, Neuza, e filha do ex-presidente João Goulart - e pediu que ela fosse ao seu apartamento, em Copacabana. Denize foi acompanhada pelo sobrinho Christopher Goulart, filho do seu irmão, João Vicente, que estava em sua casa.

Ela chegou por volta das 11 horas e, embora ainda fosse de manhã, Brizola propôs abrir um vinho. A atitude pouco usual do velho líder trabalhista sugeria uma conversa longa e, talvez, para ele, um tanto difícil.

Começou com um preâmbulo intimista - as reminiscências do exílio, a vida no Uruguai e a própria família - como preparação para algo mais solene que viria em seguida.

“De repente ele olhou para mim e, para minha surpresa, me disse: ‘Eu tenho que te pedir perdão por tudo que vocês passaram. Tenho que pedir perdão a ti, ao teu irmão e aos meus próprios filhos’”, revelou Denize durante um debate organizado pelo Cineclube Macunaíma, da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), na noite desta terça-feira, 2, após a exibição do filme “Jango”, de Sílvio Tendler.

“Mas perdão por quê?  Não há nada que perdoar”, respondeu Denize, confessando que jamais pensou em ouvir algo assim de Brizola. Ela narrou, então, a declaração feita por ele com lágrimas nos olhos no final daquela manhã no antigo edifício da Avenida Atlântica, esquina com a Rua Xavier da Silveira:

“Eu fui muito contra o teu pai, muito contra o Jango. Rompi com ele em 64, nos afastamos, apesar de termos depois nos reconciliado. Mas eu fui responsável por muitas coisas e hoje acho que teu pai tinha razão. Não existia a mínima possibilidade de resistência naquele momento. Teu pai já sabia o que eu não sabia”.

“Ele falou isso olhando nos meus olhos. Eu chorava e ele também”, contou Denize.

Rompimento em 64

Brizola: Metralhadora em punho:
a campanha da legalidade





















A revelação feita por ela remete a uma das questões mais polêmicas da história política recente do Brasil: a decisão do presidente João Goulart de se deixar depor sem luta em 1964. 

Três anos antes, em 1961, após a renúncia do presidente Jânio Quadros e o veto militar declarado em seguida contra a posse do vice-presidente constitucional, João Goulart, Brizola, seu cunhado, havia levantado em armas o Rio Grande do Sul, estado que governava na época, para defender a Constituição e o direito de Jango a assumir a presidência da República. A Campanha da Legalidade, como ficou conhecido o último levante armado do povo brasileiro, liderado por Brizola, foi decisiva para impedir o golpe militar naquele momento.

Três anos depois, com a efetivação, em 1964, dos planos golpistas articulados contra os governos trabalhistas desde Getúlio Vargas (1951-1954) até João Goulart (1961-1964), Brizola, então deputado federal pelo PTB, tentou repetir a resistência armada, mas não teve o apoio do presidente. Ele chegou a assumir a direção do governo gaúcho e o comando das forças legalistas do então III Exército, àquela época o mais poderoso do país por sua missão de defender a fronteira Sul do Brasil.

Após tentar, sem sucesso, desarticular o movimento golpista que eclodiu no dia 31 de março em Minas Gerais, inicialmente no Rio de Janeiro, onde se encontrava, e depois em Brasília, para onde voou na manhã do dia 1o de abril, Jango foi ao encontro de Brizola em Porto Alegre. Eles se reuniram no Palácio Piratini, sede do governo gaúcho, onde Brizola apresentou ao presidente um plano de resistência. 

Jango governaria de São Borja, na proteção dos pampas gaúchos, nomeando a ele, Brizola, Ministro da Justiça e ao general Ladário Teles, que comandava o III Exército, Ministro da Guerra. O III Exército, segundo o general Ladário, teria condições de recrutar e armar 100 mil civis.

Foi uma reunião tensa, segundo relatos do próprio Brizola e de outros presentes, onde também falaram outros chefes militares leais à legalidade democrática. Ao final da reunião e após ponderar as condições militares desfavoráveis à resistência, Jango agradeceu a lealdade oferecida, mas declarou que não pretendia cobrar do povo brasileiro o preço de sangue necessário para defender o seu cargo.


Operação Brother Sam

A revelação - ”Teu pai já sabia o que eu não sabia” - feita por Brizola a Denize, acompanhada do pedido de desculpas e do reconhecimento de que Jango havia tomado a decisão acertada, por não haver condições de resistência, pode estar ligada a informações geopolíticas internacionais que o presidente já possuía no momento da deflagração do golpe.

Jango teria sido informado ainda na manhã do dia 31 de março pelo ex-chanceler San Tiago Dantas, cujas informações haviam sido transmitidas por suas fontes em Washington, de que a Quarta Frota da Marinha norte-americana havia zarpado em direção ao Brasil. Mantida em segredo por 12 anos, a movimentação dos marines para apoiar o golpe de 64 veio a público em 1976 em uma matéria do jornalista Marcos Sá Corrêa publicada pelo Jornal do Brasil.

A esquadra partiu da base naval de Norfolk em 31 de março, de acordo com as instruções do embaixador norte-americano no Brasil, Lincoln Gordon, que participara ativamente da conspiração contra Goulart. Foram deslocados dois porta-aviões da Marinha, com uma esquadrilha de aviões de caça, um navio com 50 helicópteros, um encouraçado, uma embarcação de transporte de tropas, além de navios petroleiros. Foram também colocados à disposição da frota 25 aviões C-135 e 110 toneladas de armas e munições. 

A Operação Brother Sam permitiria uma intervenção militar rápida em pontos estratégicos do Brasil. Em caso de resistência no Rio de Janeiro e no Sul do país, onde estavam as bases trabalhistas mais sólidas, o plano seria seccionar o país praticamente ao meio com o desembarque dos marines no Espírito Santo. A Estrada de Ferro Vitória-Minas seria estratégica para conduzir tropas e suprimentos para os revoltosos mineiros. Magalhães Pinto, então governador de Minas Gerais, declararia o “estado de beligerância” e os Estados Unidos reconheceriam o novo estado do “Brasil do Norte”, a exemplo do que ocorreu na Coreia e no Vietnã. 


Reconciliação


Brizola e Jango estiveram rompidos por oito anos. Amargaram, juntos, o exílio no Uruguai, mas não se viam, nem se falavam. Brizola com dona Neuza confinado no balneário de Atlântida, por determinação do regime uruguaio, a pedido do governo brasileiro para impedir sua movimentação, e Jango com Maria Tereza entre Montevidéu e as suas fazendas no interior. 

Ambos eram vigiados de perto por agentes da CIA e das ditaduras que se instalavam àquela altura no Cone Sul: primeiro Brasil, depois Chile, Uruguai, Paraguai e por fim Argentina.

Anos depois, já de volta ao Brasil e como governador do Estado do Rio, Brizola revelou detalhes da reconciliação com o cunhado. Jango foi à sua casa em Atlântida em um dia de 1972 para visitar a irmã, que estaria doente. Na verdade, dona Neuza teria simulado uma doença como artifício para atrair o irmão e buscar uma reaproximação entre ele e o marido.

Jango estava acompanhado de um grupo de militantes trabalhistas gaúchos, que articulavam um movimento no Brasil pela volta dos exilados. Para evitar constrangimentos, Brizola foi para o quarto, onde ligou a televisão, que estava transmitindo um jogo de futebol da Seleção Brasileira.

Jango foi sozinho até o quarto e, segundo Brizola, bateu a mão no seu ombro e disse: “Olha, Brizola, tem um grupo de companheiros aí que está querendo lutar pela nossa volta ao Brasil e precisamos conversar com eles”. 

Deu-se entre eles um diálogo ainda não conhecido completamente, mas o próprio Brizola ofereceu, conforme disse no mesmo depoimento sobre esse encontro, uma pista do tom da conversa que tiveram em Atlântida:

“Nós nos reconciliamos como dois irmãos italianos. Vocês já viram italianos discutirem em voz baixa?”

Algum tempo depois, Brizola, alertado por militares uruguaios que lhe eram fiéis, teve que deixar às pressas o Uruguai para escapar de um plano para assassiná-lo. Seu nome, assim como o de Jango, estava na lista da Operação Condor, urdida pela CIA com o apoio das ditaduras sul-americanas com o objetivo de eliminar as mais importantes lideranças populares do continente.

Brizola foi para os Estados Unidos, onde recebeu asilo do ex-presidente Jimmy Carter, defensor da luta pelos direitos humanos, e de lá para a Europa, até a sua volta ao Brasil com a Anistia, em 1979.

Jango, acometido de uma doença cardíaca, morreu em 1976. Sua morte até hoje está envolta em suspeitas de um plano para matá-lo por envenenamento. Foi o único presidente brasileiro a morrer no exílio.


Assista o debate do Cineclube Macunaíma e as revelações de Denize Goulart:

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Um poema ainda existe: Ilka Bosse


A pedagoga, filósofa, cientista, escritora, cronista e poeta catarinense Ilka Bosse, conhecida como "Bailarina das Letras", escreve sobre todos os assuntos, atualidades ou não, mas o que a hipnotiza é escrever livre e brincar com metáforas, é mais um estado de espírito do que um trabalho que a mente prepara com antecedência…

“Não me prendo à métricas, rimas ou regras rígidas do poetar – embora admire a quem o faça… Quando lanço mão à caneta ou teclado, eu simplesmente viajo num mundo irreal que, às vezes, me leva à trilha do real… São rumos não traçados, mas, é isso que me atrai. O desconhecido, o novo, a ilusão que a mente borda…”, salienta Ilka Bosse.        


Ilka Bosse












"A MENTE"
   Ilka Bosse 

Rendo-me a ser escrava…
Ardendo em brasa, o oco
que o fogo cava…
A dor da ausência ataca,
cortando na carne,
com gume, deste fogo,
da própria faca…
E a mente capta vozes
da própria mente,
que sempre mente,
um pouco,
do que a mente sente…
A alma desnorteada
acredita
nas inverdades
que a mente dita.

“Vamperiza” e suspira,
debilitada…
Prendendo-se à trama
e à rede
firmemente afixada…

A teia que não rompe,
nem corrompe,
mas, intoxica…
A Mente.