quinta-feira, 11 de junho de 2020

Lona Cultural Elza Osborne inicia hoje o "Live in Lona"

Live In Lona com Elizio de Buzios e Alexandre Marins



A Lona Cultural Elza Osborne, a grande pioneira das Lonas Culturais do Rio de Janeiro (fundada pelo produtor cultural Ives Macena e por sua esposa, a atriz e artista plástica, Regina Pierni-in memororian-) surgiu na primeira metade da Década de 1990. Completa 26 anos trazendo o "Projeto Live in Lona", para viabilizar as atividades de grandes artistas da Zona Oeste carioca. Hoje às 20 horas, a Lona Cultural apresenta em live via Youtube, Facebook e Instagram, os grandiosos, Elizio de Buzios e Alexandre Marins. Não perca.



É hoje, às 20 Horas

segunda-feira, 8 de junho de 2020

'Diálogo com Guimarães Rosa' Por Günter Lorenz


O Templo Cultural Delfos é um Repositório Digital de conteúdos culturais, educacionais, artísticos e científicos. Já é considerado por muitos uma das maiores referências biobibliográficas de autores literários de língua portuguesa. E foi de lá que o meu parceiro, editor e multi-artista, Pepe Chaves, garimpou esta entrevista história que transcrevo sua introdução aqui no blog. Boa leitura a todos:


Diálogo com Guimarães Rosa
Gênova, janeiro de 1965.


Guimarães Rosa em foto emblemática com seu gato























LORENZ: Ontem, quando escritores participantes deste Congres­so[1] debatiam sobre a política em geral e o compromisso político do escritor, você, João Guimarães Rosa, político, diplomata e escritor brasileiro, abandonou a sala. Embora sua saída não tenha sido de­monstrativa, pela expressão de seu rosto e pelas observações que fez, podia-se deduzir que o tema em questão não era de seu agrado.

GUIMARÃES ROSA: É verdade; agi daquela forma, porque o tema não me agradava. E para que nos entendamos bem, digo-lhes que não abandonei a sala em sinal de protesto contra o fato de esta­rem discutindo política. Não foi absolutamente um ato de protesto. Saí simplesmente, porque achei monótono. Se alguém interpreta isto como um protesto, nada posso fazer. Embora eu veja o escritor como um homem que assume uma grande responsabilidade, creio en­tretanto, que não deveria se ocupar de política; não desta forma de política. Sua missão é muito mais importante: é o próprio ho­mem. Por isso a política nos toma um tempo valioso. Quando os escritores levam a sério o seu compromisso, a política se torna su­pérflua. Além disso, eu sou escritor, e se você quiser, também di­plomata; político nunca fui.

LORENZ: É uma bela opinião sobre a importância do papel do escritor: mas não será demasiado idealista? Foram discutidos mui­tos aspectos do cotidiano político; e, além disso, acho que um escritor não teria muitas probabilidades de êxito se, como você quer, tra­tasse apenas do homem em geral, deixando de lado a vida diária desse mesmo homem.

GUIMARÃES ROSA: Posso compreender isso e também sei que aqui provavelmente todos pensam de modo diferente do meu. En­tretanto, me propus a dizê-lo claramente: tenho a impressão de que todos eles discutem demasiado, e por isso não conseguirão realizar tudo o que desejam. Perdem muito tempo, que empregariam me­lhor escrevendo. Mesmo supondo-se que tudo aquilo que dizem es­tivesse certo, então seria ainda mais acertado que cada um escrevesse sua opinião, em vez de expressá-la perante um auditório tão limitado. A palavra impressa tem a maior eficácia e além disso estas discussões secas me entediam, pois são muito aborrecidas. Descon­fio que só são feitas para alguns deles poderem se confirmar a si ; próprios sua importância e poderem assim se desligar de sua res­ponsabilidade sem peso de consciência. Naturalmente isto não vale para todos, pois quando homens como Asturias falam pró domo, terão também suas razões. Mas você já observou que os que mais falam de política são sempre aqueles que têm menos livros publi­cados? Quando os têm, não são livros onde expressem idéias semelhantes às expostas aqui. Noto a falta de coerência entre suas obras e suas opiniões.

LORENZ: Você quer dizer então que aprova que um escritor discuta sobre política, apenas quando também às suas obras devam unir acento político, e não quando se mostrar politicamente neutro em suas obras?

GUIMARÃES ROSA: Sim, é verdade que, embora eu ache que um escritor de maneira geral deveria se abster de política, peço-lhe que interprete isto mais no sentido da não participação nas ninharias do dia a dia político. As grandes responsabilidades que um escritor assume são, sem dúvida, outra coisa...

LORENZ: Bem, João Guimarães Rosa, creio que neste círculo você é o único a pensar desta forma, já que Borges não está pre­sente para nos dar seu testemunho de apolítico.

GUIMARÃES ROSA: Acho que você me entendeu mal. Aparen­temente está se referindo ao que aconteceu em Berlim[2]. Acerca disto queria dizer que estou do lado de Asturias e não de Borges. Em­bora não aprove tudo o que Asturias disse no calor do debate, não aprovo nada do que disse Borges, As palavras de Borges revelaram uma total falta de consciência da responsabilidade, e eu estou sempre do lado daqueles que arcam com a responsabilidade e não dos que a negam.

LORENZ: Eu não queria que dedicássemos a tais assuntos as poucas horas que temos para conversar durante este caótico con­gresso; não obstante, creio que eles nos conduzem ao nosso tema.

GUIMARÃES ROSA: Certo, já estamos nele. Só quis dizer há pouco que a maioria dos que aqui expressam suas opiniões não exa­minam o verdadeiro sentido de suas palavras antes de pronunciá-las, e por isso não prestam aos demais, que já citei, nenhum bom serviço.

LORENZ: Penso que, para encaminharmos nosso diálogo a uma certa direção, seria melhor estabelecermos uma espécie de itinerário. Você está de acordo?

GUIMARÃES ROSA: Estou. Deixo que você determine a direção.

LORENZ: Pois bem, estes assuntos políticos que abordamos há pouco não estavam em meu itinerário. Cheguei a eles, porque as circunstâncias os trouxeram. Há outros temas que me interessam muito mais, uma vez que tenho a extraordinária ocasião, a sensacio­nal oportunidade, por assim dizer, de haver conseguido uma entre­vista com o inimigo de toda a espécie de entrevistas e terror dos re­pórteres: Guimarães Rosa...

GUIMARÃES ROSA: Devo fazer duas objeções. Primeiro, e já disse isso, agrada-me conversar com você, pois escreveu a meu res­peito coisas tão encantadoras e interessantes que gostaria de tratar delas novamente, ainda que fosse unicamente por razões de egoísmo. Em segundo lugar, peco-lhe que não use essa horrível expressão “entrevista”. Eu certamente não teria aceito seu convite se esperasse uma entrevista. As entrevistas são trocas de palavras em que um formula ao outro perguntas cujas respostas já conhece de antemão. Vim como combinamos porque desejávamos conversar. Nossa con­versa, e isto é o importante, desejamos fazê-la em conjunto.

LORENZ: Considero isto como uma honra, e esteja certo de que sinto uma grande alegria por podermos estar aqui juntos e conversar. Isto não é nada comum e, no que se refere a você...

GUIMARÃES ROSA: Chega. Só me oponho a matar o tempo com insignificâncias e com gente que não sabe nada de nada. Pelo jeito desfruto de uma estranha reputação e, entretanto, sou brasileiro.

LORENZ: Certo, goza dessa fama e provavelmente não sem ra­zão. No Brasil também. Mas vamos nos dar por satisfeitos. Os mo­tivos de nosso encontro ficam assim esclarecidos, e voltemos ao nosso “itinerário”. Gostaria de falar com você sobre o escritor Gui­marães Rosa, o romancista, o mágico do idioma, baseando-nos em seus livros que fazem parte, penso eu, do tema “o homem do ser­tão”.

GUIMARÃES ROSA: Sim, acho que se quiséssemos dizer sobre estes três ou quatro pontos tudo os que temos de dizer, daqui a um ano ainda estariam conversando. Bem, você nem eu temos tanto tempo. Suponho que esta enumeração das coisas que lhe interessam a meu respeito não tem uma seqüência estrita...

LORENZ: Apenas uma seqüência improvisada, intercambiável.

GUIMARÃES ROSA: Precisamente, e por isso gostaria que começássemos pelo que você mencionou como tema final. Chamou-me “o homem do sertão”. Nada tenho em contrário, pois sou um sertanejo e acho maravilhoso que você deduzisse isso lendo meus livros, porque significa que você os entendeu. Se você me chama de “o homem do sertão” (e eu realmente me considero como tal), queremos conversar sobre este homem, já estão tocados no fundo os outros pontos. É que eu sou antes de mais nada este “homem do sertão”; e isto não é apenas uma afirmação biográfica, mas também, e nisto pelo menos eu acredito tão firmemente como você, que ele, esse “homem do sertão”, está presente como ponto de partida mais do que qualquer outra coisa.



A entrevista é longa e você continua acessando-a aqui no Templo Cultural Delfos


domingo, 7 de junho de 2020

"Por quê vocês o esconderam por 1 século?" Tradução de Machado de Assis em inglês esgota em um dia nos EUA


Os gringos gostaram: "Memórias Póstumas de Brás Cubas" está zerado na Amazon e na livraria Barnes & Noble. E questionavam aos editores brasileiros: "Por quê vocês esconderam esta maravilha literária por mais de 1 século?"

Por Antonio Siqueira


 Projeto Machado de Assis Real/Wikimedia Commons


















O lançamento em 2 de junho, na verdade, foi bastante simbólico, pois Machado de Assis era negro. “Memórias Póstumas de Brás Cubas é uma obra de seu tempo”, escreveu Thomson-DeVeaux em outro Tweet. “Mas, de maneiras que dão crédito a Machado e tiram crédito de nós, também é uma obra de nosso tempo. Há ecos – troque a febre amarela por covid. E há continuidade – racismo sistêmico, tão pungente hoje quanto era na década de 1880.”

Os americanos gostaram muito e o livro físico esgotou nos sites da Amazon e da livraria Barnes & Noble em um dia (diga-se de passagem, ainda está esgotado até a data da redação desta nota, na quinta-feira). É obra de literatura latino-americana mais vendido no momento. Também, pudera: não faltam recomendações. Alguns dos maiores críticos e autores gringos de todos os tempos não economizaram elogios a Machado.

O poeta beat Allen Ginsberg disse que ele é outro Kafka; Harold Bloom afirma que é o maior escritor negro de todos os tempos; Susan Sontag, que é o melhor da América Latina. Sontag, diga-se, assina o prefácio da primeira tradução do livro em inglês, que foi publicada ainda na década de 1950.

Um trecho do prefácio da nova edição foi publicado na revista New Yorker sob o título “Redescobrindo o livro mais espirituoso já escrito” e ajudou a dar um gás nas vendas. Nas semanas que antecederam o lançamento, a tradutora publicou, em fios no Twitter, análises minuciosas de trechos do livro, comentando o desafio de traduzi-los (e também o desafio posterior de inserir notas de rodapé para explicar o que são e significam lugares e expressões brasileiras que escapam completamente aos americanos). Entre eles, este aqui chama a atenção:


























Quando Memórias Póstumas foi lançado, no século 19, o cunhado de Machado precisou consolá-lo porque o livro foi praticamente ignorado: “E se a maioria do público leitor não entendeu seu último livro? Há livros que são para todos, e livro que são para poucos – o seu último é do segundo tipo, e eu sei que ele foi apreciado por aqueles que o entenderam – além disso, como você sabe bem, os melhores livros não são os que estão mais em voga.”

Até hoje, o livro é lembrado por adolescentes como uma obrigação monótona do currículo escolar. É uma pena que o colégio tenha manchado a fama de Machado: ele é sutil e conta histórias que realmente dão vontade de ler – intercaladas com comentários e divagações que realmente dão vontade de rir. É um livro para todos, e não só para alguns. O vocabulário obviamente é antiquado em alguns momentos – mas não é culpa do Machado que ele viveu um século antes de você. Agora é esperar os gringos descobrirem Dom Casmurro. Será que eles vão acreditar em Bentinho ou Capitu?



Clique Aqui: Para Acessar a Obra Completa de Machado de Assis

sexta-feira, 5 de junho de 2020

O Que Vivenciamos
















Em um ensaio publicado em 1995, o célebre acadêmico italiano Umberto Eco listou 14 características do fascismo (ele é só um de muitos pensadores que tentaram fazer essa sistematização). Aqui vão elas, resumidamente. Eco afirma que elas não precisam estar todas presentes simultaneamente:

1. O culto à tradição;

2. A rejeição do movimento modernista, sob alegação de que cultura do Ocidente está depravada;

3. O culto da ação sem reflexão intelectual prévia;

4. Discordar é trair, não cabe ao militante questionar contradições no discurso;

5. Racismo e xenofobia;

6. Apelo à clase média frustrada, que teme as aspirações de classes sociais desfavorecidas;

7. Obsessão com teorias da conspiração;

8. Retórica que retrata as elites como decandentes e afirma que elas podem sucumbir à pressão popular;

9. A vida é uma guerra perpétua, sempre deve haver um inimigo para combater;

10. Os membros que pertencem ao grupo são considerados superiores a todos os forasteiros;

11. Culto ao sacrifício, todos são educados para se tornarem heróis e morrerem pela pátria;

12. Machismo, desdém pela mulher e intolerância com hábitos sexuais que fogem da heteronormatividade;

13. O povo é tratado como uma entidade única, que tem aspirações únicas, sem levar em conta o ponto de vista de cada indivíduo;

14. Emprego de vocabulário empobrecido para limitar raciocínio crítico.

Outros movimentos são bem mais formalizados. O marxismo, por exemplo, antes de ser uma prática política, é uma doutrina com base teórica nos escritos de Marx e Engels. O nazismo, mais próximo do fascismo, teve no livro Mein Kampf (Minha Luta), escrito em 1925 por Adolf Hitler, seu manual de instruções. Mas as regras do regime de Mussolini foram basicamente definidas na hora, no calor do momento. Respeitando sua "lista de desejos", como vemos atualmente no Brasil.

O fascismo propriamente dito ocorreu em um contexto bem específico da história, mas há quem considere que o regime de Franco, na Espanha, ou o de Salazar, em Portugal, também tenham sido fascistas. Talvez dessa indefinição surja a generalização. Hoje, a palavra virou sinônimo de “extrema direita”, mas é usada até para se referir a “totalitarismo” e “autoritarismo” – o que não faz sentido, já que o regime comunista de Stalin foi tão autoritário quanto o de Mussolini.

Em suma: a própria definição de fascismo é relativa. E as pessoas vão continuar usando essa palavra cada uma à sua maneira. Mas, na próxima vez em que você escutar alguém usando o termo, saberá do que se trata: alusão a um antigo instrumento de poder romano, que virou símbolo de alguns dos piores momentos do século 20.






Quem é:







quarta-feira, 3 de junho de 2020

O Fascismo Quer Te Exterminar

Por Antonio Siqueira


AGN















Sabemos, há tempos, que existe uma fenda global que parece crescer, por onde passaria a emergência de novas formas de governo com traços claramente fascistas. Há o medo de certas palavras. Esse medo vem na maneira com que tentamos, até o limite, não utilizá-las. Porque seu uso acende alertas vermelhos, nos quebra a letargia de sentir que, por mais que nossa situação atual seja complicada, a vida corre. E corre com uma velocidade de conspira violentamente contra a liberdade de expressão, contra as instituições democráticas e, principalmente, contra a arte de pensar, isto é: o objetivo é exterminar a cultura sem deixar vestígios.

Este fenômeno não se materializou apenas no Brasil. Se fez presente nos EUA, na Itália, na Hungria, na Polônia, nas Filipinas. Esta confluência de semblantes perplexos dando a volta ao mundo não é mero acaso. Ela indica uma fenda global que parece paulatinamente crescer, fenda por onde passaria a emergência de novas formas de governo com traços claramente fascistas. E aqui se fez, se consumou e está nos consumindo. Víamos estes governos como simplesmente “populistas”? Não é assim que se diz hoje, “governos populistas de direita”? Sim, é assim que se diz.

Esse Estado perverso, injusto, violento e intolerante, somos nós. Nós, que misturamos o público com privado, nós, que corrompemos o Estado e que determinamos que a Polícia Federal deveria servir à família do presidente, nós, que desvirtuamos a Justiça, que mostramos, adulteramos ou escondemos provas de delitos, que julgamos e aplicamos sentenças conforme nossos interesses arbitrários. Nós, nós, nós. O que dá "legitimidade" a toda esta gama de ignomínias é uma estrutura psicológica explicada por Freud; a perversão. A perversão não é a maldade, como o senso comum indicaria, a perversão para a psicanálise é o desdém, é a recusa da lei. O que podemos diante dos perversos?

Mas e se este uso extensivo do termo “populismo” fosse, na verdade, uma forma de não chamar de gato um gato? Pois talvez os chamávamos de “populistas” para não dizer o que eles realmente são: governos nos quais uma certa concepção de ‘estado total’, uma forma explícita de implosão de qualquer possibilidade de solidariedade social com grupos historicamente vulneráveis, uma noção paranoica de nação e o culto da violência são a verdadeira tônica. "Bandido bom é bandido morto", por exemplo, é um termo muito perigoso, mas é o chavão dos ídolos modernos. "Quem não tiver pecado que atire a primeira pedra" é "socialista" demais, Jesus Cristo iria para o tribunal paralelo dos justiceiros institucionalizados dos novos tempos. "Lamento por todos os mortos, pois é o destino de todo mundo" é a frase de ordem na maior crise de saúde que o mundo conhecido já teve notícia.

Mas seria isto exatamente “fascismo”? E por que não falar em “populismo”, neste caso? Por que o nome disso é crueldade. Vocês não elegeram um "coveiro"...e daí...o Messias não faz milagres...e daí!? O verde e o amarelo são lenientes, off course. O Estado perverso, violento e intolerante somos nós. Devemos reconhecer que nossa perversão se alimenta dia a dia e recusar a esse chamado é o que pode ser feito para salvar nossas vidas.