sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

UM ANO PELA EXTREMA DIREITA

 Por Fernando Gabeira 




Arte: João Bosco 

















Hoje, 13 de dezembro de 2019, até que aqui tudo bem. Em termos, quero dizer. Não decretaram o AI-5 nem massas se revoltaram, como no Chile, apesar dos apelos. O drama se fragmenta em morte de adolescentes em Paraisópolis e assassinato de índios guajajaras no Maranhão.

As pessoas compram presentes e se preparam para o Natal, como o fizeram em dezembro de 1968. E os articulistas fazem o balanço de 2019.

Há muitas formas de analisar o primeiro ano de Bolsonaro no poder. Os mais otimistas veem a economia se recuperando, saúdam a redução dos índices de criminalidade, aprovam a gestão na infraestrutura. Não são apenas essas variáveis que definem o País. Se olhamos de fora para dentro, veremos que o prestígio internacional do Brasil caiu, embora não tenha ainda atingido os negócios.

Bolsonaro começou duvidando da relação com a China. Disse algumas coisas atravessadas, como os chineses comprando o Brasil, mas a resposta de lá foi tranquila. Trabalham com projetos de longo prazo, não se importam muito com os arroubos de estreantes. Agora, no final do ano, Bolsonaro afirmou que serão positivas as relações futuras Brasil-China e os dois países até já anunciam o lançamento de um satélite.

Bolsonaro começou amando Trump. Reaproximou o Brasil dos EUA e sempre esperou muito desse romance. Ao não ser indicado para a OCDE pelos EUA, houve um certo desencanto. Mas a verdade é que o próprio governo brasileiro superestimou a promessa. Não era imediata: a Argentina estava na frente.

Outro grande desencanto veio com o anúncio de Trump de taxar o aço e o alumínio do Brasil. A decisão econômica não é das mais interessantes para os americanos, apesar de seu pequeno valor eleitoral. Mas não foi tanto pela economia que Trump desencantou os admiradores locais, ele acusou, injustamente, o Brasil de manipular o câmbio, e nem se deu ao trabalho de ligar antes para Bolsonaro.

O olhar de fora para dentro, focado nas ideias presidenciais, revela Bolsonaro em toda a sua fragilidade. Para começar, aquele episódio do golden shower foi só um ensaio pelo lado selvagem do governo. Muitos outros tropeços iriam sacudir nossa imagem e desaguar no recorde de 37 denúncias contra o Brasil na ONU.

A questão ambiental foi decisiva. Bolsonaro foi eleito e começou o ano denunciando indústria de multas e combatendo a fiscalização na Amazônia. Aliás, o fiscal que o multou na Reserva de Tamoios, em Angra dos Reis, foi demitido. Mas tudo o que dizia sobre meio ambiente acabou se tornando mais dramático nas queimadas da Amazônia. Ali, confrontado com a crítica internacional, em muitos momentos derrapou. Um deles foi insultar Brigitte Macron, a mulher do presidente da França.

O longo e preocupante vazamento de óleo nas praia do Nordeste pode ter-lhe dado uma rápida trégua em termos internacionais, mas a demora em agir e o aparente distanciamento de Bolsonaro acabaram por aumentar a desconfiança dos brasileiros.

Ao deixar o ringue do confronto entre presidentes, Bolsonaro voltou-se para o show business e escolheu Leonardo DiCaprio como rival, acusando-o de financiar as queimadas na Amazônia.

Nestes dias de dezembro, pelo menos esqueceu-se de assinar o AI-5 para se dedicar a combater Greta Thunberg, a adolescente sueca: pirralha, pirralha.

Houve quem achasse semelhanças entre Hugo Chávez e Bolsonaro. Mas este parece habitar um outro mundo: o programa de TV Chaves.

Visto de dentro, Bolsonaro leva uma guerra cultural que é uma extensão de seu combate externo contra os defensores do meio ambiente. Ele comanda um governo da pós-verdade. Jesus sobe na goiabeira, Theodor Adorno fazia as letras para os Beatles, o rock leva ao aborto, que, por sua vez, leva ao satanismo, e o responsável pela política teatral ofende um símbolo de nossa cultura, Fernanda Montenegro. Não bastasse, o novo presidente da Fundação Palmares vê com bons olhos a escravidão e acha que o Movimento Negro deveria acabar. A luta cultural tornou-se um vale-tudo, com golpes abaixo da cintura das mínimas evidências: o governo adota a pós-verdade.

Tudo isso também funciona como manobra para esconder o fracasso de Bolsonaro em conduzir a bandeira da anticorrupção, que lhe deu tantos votos. As denúncias sobre o laranjal do PSL e, sobretudo, o episódio de rachadinha envolvendo seu filho Flávio o levaram à defensiva nesse campo.

O partido de Bolsonaro esfacelou-se neste ano. Como descreveu Rodrigo Maia, todos nus querendo matar uns aos outros. O que parecia um movimento conservador disposto a recuperar uma certa dignidade da política se tornou uma troca de insultos, rebaixando-a a um inédito nível de grosseria.

Bolsonaro termina o ano com 30% de aprovação. Comparado com outros presidentes, sua rejeição é a maior no primeiro ano. Alguns analistas afirmam que ele manteve sua base. Mas, evidentemente, ela se estreitou. E esses índices são dinâmicos. Outros afirmam também que o Brasil é conservador, mas se esquecem de que está sendo conduzido por uma política de extrema direita. Num país profundamente influenciado pela cultura africana, marcado pela escravidão, até o mais simplório dos políticos percebe a tendência suicida do bolsonarismo.

Neste momento, a esquerda está perdida no seu labirinto. Mas um progressivo isolamento da extrema direita abre chance de ser contestada pelo centro ou pela própria direita mais moderada.

O ano acaba, outro começa. Visto de fora, o governo Bolsonaro não tem mistérios: é tosco e despreparado para a complexidade do País e do mundo.

Aqui dentro, como jogam muitos outros fatores, os mistérios se desfazem mais lentamente. Que vengan los toros de 2020. Em 13 de dezembro veremos quem e como politicamente sobreviveu.

Artigo publicado no Estadão em 13/12/2019

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

A Morte Do Pensamento


Por Antonio Siqueira



A distopia é o AGORA












O raciocínio lógico e o pensamento crítico parecem estar em extinção. Teorias conspiratórias alucinadas, notícias falsas em lotes gigantescos, um mundo obscuro onde até o ato de vacinar uma criança, livrando-a de doenças da primeira infância, muitas delas fatais, passou a ser demonizado.

Analisando o comportamento coletivo brasileiro em situações recentes, é evidente que boa parte das pessoas parece ter abandonado a criatividade como cultura do pensar. Talvez pela ausência de uma educação de base incentivadora do hábito do questionamento, certo é que é raro haver um espírito crítico sério nos debates e diálogos, principalmente nos ocorridos na internet. Um vácuo de conexão entre as pessoas que é campo fértil para a desinformação, e explica, inclusive, o porquê da consolidação de notícias falsas. O que habita atualmente o senado, o congresso nacional e, fatalmente, o poder executivo, são produto desta tragédia psicossocial.

Os semelhantes convergem em tudo e os diferentes são completamente ignorados. Não há construção; pessoas se apegam às ideias mais sedutoras ao seu ego e as defendem sem nenhum escrúpulo, isso quando não se utilizam do argumento alheio como verdade universal em assuntos sobre os quais não têm o mínimo conhecimento. Teorias como a “terraplanista” e a do “nazismo de esquerda” encontram porto seguro nos dias atuais. Pseudo Filósofos, associados à extrema direita radical que prolifera na Europa e ameaça a América do Sul. Estes jogos de loucura têm na ignorância o comburente necessário para uma existência prolongada. O foco é idiotizar-se por diversão.

Guillermo Fernández Vázquez, pesquisador madrilenho e historiador, disse claramente: “A direita radical europeia está muito interessada em derrubar este Papa". O que ocorre no Brasil é a extensão de um presente distópico aterrorizante. Suécia, Holanda, Dinamarca, França e Alemanha estão entre as nações mais prósperas do planeta e garantem a seus habitantes os padrões de vida mais altos. No entanto, em todas elas estão em alta populistas que se alimentam do ressentimento e promovem discursos de ódio. Causas de um fenômeno de alcances e conseqüências imprevisíveis. Os neonazistas sentem-se no paraíso. Neste cenário, o mapa mundi se povoou de ultradireitistas. De Le Pen e Salvini na Europa, passando por Duterte, nas Filipinas, até Bolsonaro, no Brasil. Populistas de extrema-direita deixaram de ser uma área restrita de espectadores nostálgicos para se tornarem uma cruzada mundial. Fascistas e neonazistas, xenófobos, fundamentalistas religiosos,
soberanistas, regionalistas, autoritários ou movimentos pós-ideológicos como o italiano Cinco Estrelas formam uma nova cartografia planetária da oferta política. O sucesso eleitoral os tem acompanhado de forma ascendente desde quando, a partir de meados dos anos 80, a extrema direita francesa da Frente Nacional (hoje Reagrupamento Nacional) rompeu o cerco onde vivia confinada com apenas 2% dos votos.



Desinformar e manipular é a lei


A terra de conquista mais vulnerável continua a ser a Europa. É a partir do Velho Continente, onde os populistas cinzentos estão construindo o que eles mesmos chamam de “uma internacional populista”. Steve Bannon, o ex-conselheiro de Donald Trump, mudou-se para Bruxelas, onde fundou O Movimento com o objetivo de reunir todos os partidos nacionalistas e de extrema direita e tomar de assalto o Parlamento Europeu nas eleições europeias de maio de 2021. Para ele, a Europa “é o centro do levante populista e nacionalista” que levará esses movimentos “à vitória e a governar”, disse Bannon em agosto do ano passado quando chegou a Bruxelas.


Na capital belga, Steve Bannon instalou seu quartel general em uma luxuosa residência de 1.200 metros quadrados com parque e piscina. Seu proprietário é Mischaël Modrikamen, empresário, advogado e líder do partido político liberal-conservador de extrema direita Partido Popular (6% das intenções de voto). O projeto da internacional populista tem uma extensão na Itália através do mosteiro medieval de Trisulti onde, com o apoio de dois outros personagens, Benjamin Harnwell e o cardeal conservador Raymond Leo Burke, espera abrir ali uma academia, isto é, uma escola de capacitação de populistas e nacionalistas. Benjamin Harnwell é o fundador do think tank Dignitatis Humanae Institute (Instituto para a Dignidade Humana), enquanto o cardeal Burke é um adversário ferrenho do Papa Francisco. E é aí que o maior perigo habita. A desconstrução do raciocínio lógico e do que refuta a ciência são a agenda permanente destes senhores. Como diria Paulo Leminsk, "O Poder é o Sexo dos Velhos".



O Brasil da direira radical de Bannon



Bannon que elegeu, também, Jair Messias Bolsonaro no Brasil, preside o cenáculo daquilo que o pensador italiano Antonio Gramsci chamou de “monstros”. Estes chegaram a perturbar o confronto esquerda-direita, em vigor desde o início do século XX. Uma das frases mais citadas pelos analistas ocidentais pertence a Gramsci. Até parece que a escreveu hoje: “o velho mundo morre e o novo mundo tarda em despontar. Nesse claro-escuro aparecem os monstros”. Por enquanto, andam separados. 


Na realidade, vivemos num tempo em que qualquer idiota pode ser o pastor encantado de um gado feliz, que passará pano para todo e qualquer discurso por ele propagado, por mais abjeto que seja. Basta, para isso, ser altissonante, confiante e convincente. Quanto mais absurdo, mais bem aceito. É um nocaute certeiro e sem volta no pensamento crítico contemporâneo.

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Ironia: A Ordem Do Dia



Deserto
















Livrarias fecham, editoras agonizam e só funcionários públicos podem se dedicar à literatura no Brasil, mas está tudo bem. Afinal, pra que serve a literatura? Pra nada. O que os dramas burgueses de Machado fizeram pela emancipação do proletariado? Nada. O que o indeciso príncipe dinamarquês de Shakespeare fez pela restauração do catolicismo na Inglaterra? Nada. O que Euclides fez pelo banimento dos canudos? Acertou: nada. Poderia comentar ainda o papel de Cervantes na emancipação da mulher negra (nenhum) ou de Mário de Andrade na demarcação de terras indígenas (zero), mas acredito que o argumento esteja claro. A literatura é uma atividade inútil e é uma absoluta perda de tempo se ocupar com essa bobagem. Ativismo, sim! Essa é a glória que fica, eleva, honra e consola. Afinal, pra que serve a literatura? Só pra uma coisa, que é, no entanto, desprezível, desnecessária e dispensável: criar o imaginário de um povo. Uma ideia de nação. Uma ideia de país. Uma ideia de cultura. Uma ideia de futuro. Uma ideia de passado. Mas quem precisa disso?

Não o Brasil, muito obrigado. Passamos da barbárie à decadência sem fazer escala na civilização. Ficamos reduzidos a duas tribos políticas antagônicas que só se encontram no atraso. De um lado, a corrupção corporativista primitiva e cínica comandada por uma triste figura sebastianista endeusada por padres sem fé. De outro, o fascismo ignorante violento e tosco liderado por um indigente mental endeusado por pastores com fé apenas no dinheiro.

Em 500 anos, foi isso o que conseguimos produzir. Quer dizer, 500 não, que isso é de um eurocentrismo pra lá de abjeto. São 13.500, a contar da chegada de Luzia na nossa horta. Luzia, o fóssil mais antigo das Américas. Aquele que quase virou cinzas quando o Museu Nacional pegou fogo, lembra? Abaixo o obscurantismo e VIVA A MAIS FINA E FERINA IRONIA A QUE NOS
TRANSFORMAMOS! 



sábado, 30 de março de 2019

A Presença Iluminada de Juca TerraNova no Cultura Em Ação Vídeo #13


No
Cultura Em Ação #13, Ives Pierini entrevista uma das vozes mais bela do Rio de Janeiro. Juca Terra Nova, cantor de voz celestial, violonista e compositor de canções magníficas (que certamente marcariam presença na história do cancioneiro popular brasileiro se o mercado não fosse tão vazio de ideias), fala de sua carreira, das suas influências e, claro, de suas belíssimas composições. 











Faça o bem, doe cultura


quarta-feira, 20 de março de 2019

CULTURA EM AÇÃO VÍDEO #12 (Fernando Barreto)




Cultura em Ação é uma realização de Ives Pierini



No décimo segundo vídeo da série CULTURA EM AÇÃO, apresentada por Ives Pierini, a conversa é com o super talentoso guitarrista, vocalista, compositor e fundador da banda Black Dog Brazil, Fernando Barreto. Esta fera fala um pouco da carreira da Black Dog e anuncia algumas novidades que vêm por aí.




terça-feira, 19 de março de 2019

Intelectuais Acadêmicos do Imbecilismo Contemporâneo


Por Antonio Siqueira



     Não há ideias e sociedades perfeitas. É certo que se deve buscar uma sociedade mais igualitária (a igualdade absoluta é uma fantasia, porque o mundo é movido pelas desigualdades profundas entre os indivíduos), mas não se deve mexer nos textos de escritores, ainda que se discorde profundamente deles.

     Histórias complexas, difíceis de aceitar, por vezes são registros de uma época, de visões de mundo cristalizadas num período. Mudá-las, para que se adequam aos novos tempos e às ideias aceitas, além de desfigurá-las, é falsificar como se pensavam e se comportavam os homens de ontem (e, em alguns casos, de hoje). O racismo da época de Monteiro Lobato vai deixar de ser racismo porque sua obra foi modificada? Não vai, é claro. As editoras devem deixar os textos como foram escritos. Quem não gostar, por um motivo ou outro, que não os leia.







       Intelectuais acadêmicos, alguns deles respeitáveis, quando defendem mudanças na obra de Monteiro Lobato e até vetos a determinados trechos (em “Caçadas de Pedrinho”, por exemplo), não percebem que se comportam como se fossem ditadores e como a liberdade de expressão não fosse uma exigência das sociedades democráticas. O ditador soviético Stálin tinha o hábito de retocar fotografias, para se colocar nos centros dos acontecimentos históricos, e de excluir adversários das fotos e dos livros, como se tais indivíduos não existissem. Querem fazer o mesmo com Monteiro Lobato, “limpando” a história e seus livros? Querem construir uma história e uma literatura perfeitas, de boas ações? Se querem, o que querem mesmo é matar a literatura. Stalin matava opositores e queimava livros. Enfatizando aqui que os rumos tomados pela União Soviética, sob a liderança de Stálin, eram visivelmente contrários ao que pregava o socialismo. Com isso, é possível reconhecer que a crise do socialismo soviético corresponde à crise de um regime afastado daquilo que ele dizia representar. O Brasil não precisa e nunca precisou de regimes ou posicionamentos para tratar mal a sua cultura.

      Reescrever obras literárias, para dotá-las de um espírito politicamente correto, é uma atitude stalinista. É um assassinato cultural. Deixem Monteiro Lobato em paz. Ou melhor, deixem as crianças escolherem, porque, rebeldes por natureza, não aceitam totalitarismos de alguns adultos e se divertem — como eu me diverti quando menino — com a prosa divertida, inteligente e livre do escritor. O racismo “de” Monteiro Lobato está sendo “expandido”, não por leitores qualificados (as crianças são), e sim por maus leitores, intelectuais que forçam a literatura a dizer o que não querem dizer, nunca disseram e não estão dizendo.





sexta-feira, 8 de março de 2019

Não caberão parabéns no dia 8 de março até que seja reparada toda a desigualdade entre homens e mulheres

Por Élida Ramirez 

















Estamos no final da segunda década do século 21, onde habitava o sonho de um futuro mais justo, mas o passado opressor ainda é presente na vida de milhões de mulheres. Mais de um século de luta organizada não foi suficiente para mudar a mentalidade de parte da sociedade, dependente do demérito feminino. A maioria das brasileiras ainda tem piores condições de desenvolvimento desde o nascimento e vive espremida por mais e mais exigências de performance. Das piadas aos assassinatos, passamos por abusos, assédios e estupros, e a banalização desses comportamentos não mente: o Brasil ainda é severamente machista e violento conosco. Infelizmente!Não precisamos estar de burca ou ser apedrejadas por desobediência para sentir a barbárie em nossas peles.

 Por aqui, ela começa com sutileza na infância, quando se presenteia as meninas com panelinhas e vassouras e os meninos com pipas e aviões — brinquedos que denunciam as possibilidades de cada papel. Muitas vezes, as meninas são condenadas a ser exclusivamente cuidadoras. Da casa, dos homens da família, dos mais fracos e de todas as necessidades do entorno. Exceto delas mesmas. Por outro lado, aos meninos é oferecida a chance de viver seus voos, naquele céu lúdico e no seu real, empinando sonhos. Nasce desse descuido uma possível educação sexual castradora para elas x caçadora para eles.

Infligem obrigações às fêmeas humanas. E restringem o universo de descoberta e prazer ao mundo masculino, sob o pretexto do bem-estar geral. Eu me pergunto ao bem-estar de quem, já que estar imersos e adormecidos nessas noções à la Crime e Castigo adoece todo mundo. 
Na vida adulta, seguem o massacre. Magras ou gordas. Inteligentes ou alienadas. Resolvidas ou problemáticas. Empresárias ou mães. No casamento, por favor, todo cuidado é pouco! Podem trocar você por alguém mais recatada e do lar, hein? Rótulos de um 8 ou 80 desrespeitoso, que a ninguém protegem. E quando a gente acha que o pior dos cenários é ocuparmos o ranking do quinto lugar em feminicídios no mundo, apesar de todos os avanços do feminismo, uma Ministra da Mulher usa de seu cargo para defender costumes que reduzem pessoas a rosa e azul e potencializam o risco do rico diverso.
 
Atitudes assim prestam o desserviço de seguir repetindo, a essa altura do campeonato, que a mulher nasceu para ser apenas a dona da casa grande, enquanto tentam garantir que residamos eternamente na senzala. Apreciando maus tratos. Sendo escravas de ideias alheias. Encenando corretamente papéis que não necessariamente desejamos. Para a senhora ministra e a todos que tentem se adequar a um manual de existência, aqui vai o meu recado: sejam o que quiserem. Apenas não sigam a obrigação de nenhum modelo. Isso é aviltante. Amordaçador. Pessoalmente, escolho seguir em luta, apesar dos riscos.

Daí penso em quantas Marielles perderam suas vidas por ousarem ser mulheres, pretas, pobres, lésbicas e, o mais ameaçador, corajosas. Sinto medo, passeio por uma desesperança que quase me rouba para sempre. Mas é na revolta com tais descabidas noções que percebo que resistir ainda é o melhor caminho. Aprumo meu corpo e sigo. Tenho avós, mãe, tias, primas, amigas. Uma filha pequena. Sinto irmandade com as manas e monas. E, por tudo isso, não admito um futuro tão limitador para elas. Nem para mim.
Não me ofende que estabeleçam um Dia Internacional da Mulher. Apenas entendo que o calendário não é um aniversário coletivo feminino, pois a construção histórica dessa data refere-se aos protestos pelas más condições enfrentadas desde sempre pelas mulheres.

 E serve de lembrança das conquistas políticas e sociais como combustível para seguir avançando em busca de direitos iguais aos dos homens. Tomo emprestadas as palavras da socióloga Eva Blay, uma das pioneiras nos estudos sobre os direitos das mulheres no País, para encerrar no texto uma discussão que deve ser permanente: “Esse dia tem uma importância histórica porque levantou um problema que não foi resolvido até hoje. A desigualdade de gênero permanece. As condições ainda são piores para as mulheres. Já faz mais de cem anos que isso foi levantado, e é bom a gente continuar reclamando de modo organizado e combativo, porque os problemas persistem. Historicamente, isso é fundamental”.
Por isso, amigos, mesmo que seja boa a intenção, não me venham com bombons, flores ou homenagens vazias. Não caberão parabéns no dia 8 de março. Até que seja reparada toda a desigualdade entre homens e mulheres.
*Todos os direitos reservados




terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Ives Pierini em Cultura em Ação - vídeo 8 - Entrevista com Fabrício St. James


No vídeo #8 da série CULTURA EM AÇÃO bateremos um papo com o músico Fabrício St. James que vai falar do sucesso da sua banda na Europa, suas influências musicais e de como foi o começo da carreira:



Cadeia, o grande sertão de Graciliano


“Memórias do Cárcere”, a obra maior do prisioneiro que radiografou o ofício da literatura ao confiná-la em cubículos, dividindo espaço com a diversidade do povo marcado para morrer.

Por Nei Duclós


Graciliano Ramos


























Cigarros ordinários acesos um no outro para economizar fós­foro, um restinho de iodo para desinfetar um ferimento no dedo, papel e caneta embrulhados em pijamas e outros trapos numa valise que carrega por todo lado, por mais de cinco prisões para onde foi jogado junto com milhares de outros presos políticos, misturados a vigaristas, ladrões e malandros, acompanham o escritor na sua faina: o de escrever notas que mais tarde vão continuar a literatura iniciada nos confins do Brasil seco e violento. Os livros que esmerilha na sua rotina brutal são narrados como personagens ocultos, um amontoado de letra miúda, mal alinhavadas e passíveis de todas as correções.

O protagonista é o livro — pode ser “Angústia”, publicado em 1938, ou as anotações que geraram mais tarde “Memórias do Cárcere”. Ele está sendo esmiuçado nos apertos sem conta, em meio ao pavor, o horror, a miséria, a sujeita e o escândalo. O que lemos em “Me­mórias do Cárcere” é uma obra sobre literatura, que começa a ser esboçada na cadeia. A s notas se transmutam mais tarde, reescritas e editadas (dez anos depois de sua soltura, em 1938) para a posteridade — foi publicado em 1953 pelo seu filho Ricardo, que mudou o título original, “Cadeia”.

Escrever é a ação principal deste grande sertão de Gra­ciliano. É sua obra maior, não só pelo tamanho, mas pela ambição. Longe de ser apenas um mural do povo brasileiro no seu habitat natural — a miséria confinada em porões de uma tirania endêmica. É sua grande obra prima, seu “O Tempo e o Vento”, seu “Guerra e Paz”. O Brasil no porão, explícito, cru, diverso, assustador. Um mural humano com detalhes íntimos de cada figura, cada gesto, cada ação. Nele, vemos que vida não é texto que se costure, a não ser que você costure a vida como um texto.

Em “Memórias do Cárcere”, Graciliano Ramos usa técnicas de ficção para contar a verdade. Uma delas é focar uma dúvida da percepção para iluminar o entorno, destacar um elemento protagonista para elucidar pormenores. Invoca-se, por exemplo, com dois vultos fixos vistos na madrugada da janela da sua cela. Não atina o que seja e usa a dúvida para ir narrando sua insônia, feita de migalhas e vivências. Outra técnica é dizer que não lembra de determinados detalhes enquanto outros se tornam abundantes.

Para tornar explícita a miséria social e política, afunda-se na baixa autoestima, como se o personagem que cria — ele mesmo, a vítima de uma injustiça — seja o fruto da escassez que domina o país. A família que descreve — a esposa mesquinha e histérica, os filhos agitadores — tem perfil fictício, o que o deixa à vontade para reforçar o papel de uma situação doméstica opressiva, contra a qual a prisão acaba se oferecendo como uma bizarra solução. O drama se desenrola no varejo, com vingancinhas pessoais, pequenas traições nos gestos e palavras, ruas mal iluminadas, prédios sinistros, funções inúteis, cidadania zerada.

O narrador está no miolo de um drama que se expõe das bordas às vísceras, em que a rotina doméstica é substituída pela falta absoluta de sentido do encarceramento. Graciliano Ramos conta sua história compondo um mural literário inspirado na memória. É o tempo todo literatura, pois os fatos se unem pelo fio narrativo de uma improbabilidade, o mundo sendo definido pela visão amarga e ríspida de alguém que sobrevive à revelia.

Desisti de ler “Recordações das Casa dos Mortos”, de Dos­toiévski, diante dos horrores que ele descreve da vida na prisão da Sibéria. Descubro agora, lendo “Memórias do Cárcere”, que Graciliano Ramos supera o clima descrito pelo gênio russo ao reproduzir as cenas infernais do porão do navio-prisão Manaus. Nem vou citar a sucessão de cenas descritas, pois prefiro me ater a um detalhe importante. O grande escritor, mestre absoluto da língua, era tido como personagem menor pelos bem postados revolucionários famosos.

Foi até confundido com tira, policial disfarçado, pois entrou no navio vestindo terno, gravata, chapéu e levando uma valise. O mal entendido se dissipou, mas ele continuou sendo tratado como um subalterno. É assim mesmo. Um grupo se forma, se autodenomina líder e coloca quem quiser no limbo. Não adianta espernear. Mais tarde, ao ser transferido de prisão, Gra­ciliano conseguiu se ambientar entre os chamados comunas, sempre mantendo a postura crítica, pois para ele o importante era a crueza humana e não sua ideologia. Uma das forças do livro é a produção de pensamento sobre comportamentos em situações limite.

Sua autocrítica é arrasadora. Sentindo-se incompetente para viver em grupo, enxerga-se como um outsider permanente, a passar sua bateia entre os cascalhos das palavras tartamudeadas por ele e ouvidas nas várias cenas que se sucedem na prisão. Uma de suas magistrais lições de literatura neste livro é a composição de personagens. Temos um exemplo no parágrafo inicial do capítulo 9, da segunda parte, do volume 1. Ele ensina como um mestre formata um personagem, que neste trecho do livro tem a função de sintetizar as dissenções internas dos presidiários políticos. “O capitão de nariz comprido esteve conosco dois ou três dias. Nunca lhe ouvi uma palavra, mas vi-o falar em excesso a grupos pequenos, afirmativo, açodado, a examinar os arredores com jeito de conspirador. Sem revelar em público nenhuma opinião, estava sempre a sussurrar um cacarejo indistinto, passeava na assistência minguada os inexpressivos olhos de ave, erguia o bico longo, baixava-o, reproduzia movimentos sacudidos de galinha a colher grãos. Os cochichos permanentes aborreciam-me, os gestos ambíguos, o proceder furtivo, o conluio visível de meia dúzia de pessoas. Afinal o tipo se sumiu. Na verdade estivera a sumir-se constantemente, a esgueirar-se de um cubículo para outro. Findos esses manejos, bateu asas na fuga definitiva, nem nos deu tempo de gravar-lhe o nome: para mim ficou sendo o capitão de nariz furtivo.”

Outro exemplo é como ele descreve Agildo Barata. No capítulo 13, da segunda parte, do volume 1 , Graciliano traça um perfil primoroso de Agildo Barata, uma personalidade conhecida nas leituras sobre a época das revoluções dos anos 1920 e 1930. Li “A Vida de Um Revolucionário”, de Agildo e também as páginas que a ele se referem em Juarez Távora e outros memorialistas. Jamais tinha tido uma ideia exata da figura até chegar a este parágrafo de ouro.

“Esquisita pessoa, Agildo. Minguado, mirrado. A voz fraca e a escassez de músculos tornavam-no impróprio ao comando. A sua força era interior. Dizia a palavra necessária, fazia o gesto preciso, na hora exata. Economizava ideias e movimentos para utilizá-los com segurança: moreno, rosto impassível, tinha uns longes de esportista japonês: ligeiro desvio, avanço ou recuo oportuno assegurava-lhe a vitória. Preso, dirigira a sublevação do 3º Re­gimento e tão bem se comportara que, após breve luta, estava no cassino, vigiando os oficiais legalistas vencidos. Faltava um major e ninguém dera pela ausência dele: provavelmente sucumbira na peleja. Súbito o desaparecido invadira a sala, gigantesco, chegara-se ao carcereiro, uma pistola em cada mão. Às desvantagens naturais Agildo somava então inconvenientes acessórios: apanhavam-no de surpresa, sentado, via um sujeito enorme, em pé diante dele, manejando armas. Estou frito, dissera por dentro. E levantara-se para morrer. O colossal major, rubro e afobado, largara as duas pistolas em cima de uma banca e expressara-se veemente: — Rendo-me. Contra a força não há argumento.”

O capítulo todo é dedicado a Agildo, que, segundo Graciliano, tinha a qualidade rara de “apre­ender num instante as disposições coletivas”. O episódio em que Agildo lidera a briga por talheres decentes, em que os presos jogam as refeições no pátio com grande estardalhaço, é de fazer saltar da cadeira.


O texto pelo avesso

A palavra, como Corisco, não se entrega. Tem a vocação da permanência, apesar de fustigada pela passagem da fanfarra. Por um tempo, pode até colorir o discurso, vender sabonete ou escorrer em panfletos de rua. Mas seu destino final, conduzido sob a ética do talento, é refazer o mundo, por pior que ele seja. Mesmo aquele mundo seco, rude, duro do interior de Alagoas, que criou Graciliano Ramos a partir de 1892.

No seu livro “Infância”, ele conta como foi difícil aprender a ler no meio do sertão. O pai sem paciência e a escola, ameaçadora e punitiva, forjaram na dificuldade sua iniciação ao texto. É esta lição, de um mestre de ofício a iluminar, na pedra, suas origens e o futuro, que ele deixa para um país ainda pobre e perdido.

“Graciliano nos ensinou a provocar emoção discretamente, concisamente”, diz a escritora Edla Van Steen. “Ele nos apontou uma nova maneira de escrever, através do acabamento impecável do texto, num estilo sem adjetivos. É o pai dos modernistas brasileiros.” Esse é um dos paradoxos do mestre: de formação clássica, nunca tinha lido Proust e gostava mesmo era de Flaubert, Balzac, Dostoiévski. Seu poeta predileto era Manuel Bandeira, assim mesmo de “Cinza das Horas”. Não gostava da oralidade dos modernistas e chegou a falar mal de Oswald e Mário de Andrade. Segundo o crítico Fábio Lucas, ele dizia que precisava comprar uma gramática paulista para entendê-los.

Logo o “velho Graça” — ex­pressão lembrada, numa crônica, pela sua contemporânea Rachel de Queiroz —, tão cheio de regionalismos: “Graciliano é o mais representativo de uma região que se universaliza”, diz Fábio Lucas. “A partir de ‘Caetés’, seu primeiro romance, publicado em 1933, introduz um vocabulário exclusivo do Nordeste, usando com rigor a tradição da língua.” Fábio nota que em sua obra prima, “Vidas Secas” (1939), ele despoja as personagens com tal riqueza de traços que estes acabam se tornando o prolongamento dos animais e da paisagem.

Outro contemporâneo, o poeta Ledo Ivo — ex-menino prodígio que em 1933, aos 10 anos de idade, foi cumprimentado pelo diretor de Instrução Pública de Maceió, o próprio Graciliano em pessoa — destaca a análise psicológica do mestre, feita num cenário geográfico e político. “É um escritor elíptico e sumário”, diz, “que se baseou na tradição literária. Ao mesmo tempo, ele é singular por não ter a eloquência do perfil brasileiro. Mas o traço mais marcante da personalidade do escritor é, segundo Ledo Ivo, o da vítima inocente, que so­freu a punição sem culpa.

“Memórias do Cárcere”, seu alentado depoimento sobre um ano de encarceramento em 1936 — quando foi acusado de comunista — e publicado depois de sua morte em 1953, é a obra mais citada por Ledo Ivo: “Além do ressentimento de ter sofrido uma prisão kafkiana, ele tinha uma visão trágica da vida. Era um bicho do mato, um caracol. Vivia recolhido e era avesso à publicidade. Não participava da festa do sucesso dos escritores nordestinos, como José Lins do Rego ou Jorge Amado. Sua glória é póstuma”.
Laços de família tinham aproximado ainda mais Ledo Ivo da casa de Graciliano, que ficava no Rio de Janeiro no início da década de 1940. Foi lá que conversara longamente pela primeira vez, quando o escritor mostrou ao jovem poeta um artigo que este tinha publicado aos 14 anos, sobre “Vidas Secas”.

Esse foi também o início da amizade do poeta com o filho do mestre, Ricardo Ramos. “É curiosa a relação entre pai e filho”, diz a pesquisadora Yedda Dias Lima, do IEB — Instituto de Estudos Brasileiros, da USP. “Ambos morreram no mesmo dia, 23 de março, vítimas da mesma doença, o câncer, e deixaram, cada um, um livro não concluído.” O pai deixou “Me­mórias do Cárcere” e o filho, que morreu em 1992, quando se preparava para coordenar as festividades do centenário, “Graciliano, um Retrato Fragmentado”, lançado pela Siciliano.

A polêmica que se seguiu à publicação do livro póstumo de Graciliano está relacionado diretamente aos 3500 originais que deixou em poder da mulher, Heloisa e se encontra no IEB desde 1982, sob a responsabilidade de uma equipe coordenada por Yedda. O crítico Wilson Martins chegou a dizer que “Memórias do Cárcere” foi corrigido pelo Partido Comunista.

A fidelidade ao que realmente acontece, o sentido de retidão, a sua recusa à mentira, a sua reflexão profunda sobre a realidade faz de Graciliano um prato cheio para estudiosos como o professor de Literatura Comparada da USP, João Luís Tafetá (1946-1976), autor de um estudo sobre a riqueza e complexidade da obra do escritor. “Ele é a sua própria experiência”, disse Lafetá. “Nele, o fundamental é o modo honesto de contar. O escritor está preso ao real e longe, portanto, da falsidade.” O trabalho, tese de livre docência, enfoca três ângulos principais, que se comunicam internamente. O primeiro é literário, examina as técnicas das formas de narrativa, onde se sobressai o texto neorrealista que acaba transcendendo os rótulos.

O segundo é psicanalítico, que levanta um oblíquo complexo de Édipo em “Caetés” e dois triângulos amorosos: um imaginário em “São Bernardo” — no qual os ciúmes do anti-herói Honório leva a mulher ao suicídio — e outro real em “Angústia”, no qual Luis da Silva, outro anti-herói, acaba matando o rival. Para Lafetá, Graciliano diminui suas personagens e revela os cortes que sofreu ao longo da vida. Ele gosta de citar um trecho de “Infância”: “Herdei a vocação para as coisas inúteis”.

O terceiro enfoque é da linguagem da ironia, que basicamente é uma inversão e procura dizer o máximo num mínimo de palavras. Lafetá estuda a ética da construção da linguagem de Graciliano, raiz da sua exigência e contenção. “Ele cortava tanto seus textos a cada nova edição, que a esposa advertiu que acabaria apenas com páginas em branco”, lembra Fábio Lucas. Yedda conta detalhes da sua técnica de escrever: “Colocava um cigarro ao lado do outro, fora do maço, para não perder tempo. Desenhava uma letra caligráfica, que descia a detalhes da perna da letra a. Quan­do cortava, passava uma régua em cima e abaixo da palavra, riscava no meio e até, ás vezes, um cigarro aceso, para não haver dúvidas”.

Descoberto pelo poeta Augusto Frederico Schmidt, graças aos seus relatórios quando foi prefeito em Palmeira dos Índios, Graciliano Ramos foi traduzido em 32 línguas e seus livros venderam, até 1992, cinco milhões de exemplares, só no Brasil. Alguns deles, como “Vidas Secas”, “Insônia”, “São Bernardo” e “Memórias do Cárcere”, viraram filmes. Ele destacou-se por virtudes que por um tempo foram esquecidas no Brasil. Hoje elas ressurgem como um exemplo para um país que precisa desesperadamente reencontrar seu rumo.



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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Cultura em Ação no Arte Vital Blog



Ives Pierini transpira a primeira arte. Nesta publicação do Arte Vital, copio e colo sua mini biografia através da sua própria apresentação de sua página no Facebook. Amigo dos mais fiéis, colaborador ideológico e uma esperança em meu minguado otimismo acerca da atual conjectura. A arte aponta sempre uma solene resposta:



IVES PIERINI Arte e Cultura ·
Sábado, 25 de agosto de 2018

Ives Pierini



























"Nascido em 1973, em uma família profundamente ligada à arte e ao movimento cultural, Ives Pierini, estudou música aos 13 anos e passou a viver direta ou indiretamente de música desde então, como contra-baixista e também tocando flauta transversa. 

Como produtor cultural no projeto lonas culturais no Rio de Janeiro, na Lona Cultural de Campo Grande Ives Pierini desde 1993 elabora e produz projetos, eventos e atividades culturais multilinguagem.

Fez teatro durante oito anos e desde 2004 realizou alguns trabalhos  em trilhas sonoras de filmes de animação, peças teatrais e temas para dança étnica contemporânea . 

Desde 1995 Ives Pierini trabalha como produtor da banda de Classic Rock “BLACK DOG BRAZIL” assumindo também em 1999 a função de baixista da banda, que é especialista em interpretações das obras Led Zeppelin, Deep Purple e Black Sabbath.  
Em 2000 o artista lançou um disco na Europa, em uma produção conjunta dos selos Rock Symphony (Brasil) e o selo francês Musea com a banda Cactus Peyotes. O disco foi muito bem falado na crítica internacional. 

Apreciador da cultura e gastronomia de forma geral em 2014 se tornou cervejeiro caseiro, e ganhou o troféu de campeão no programa de TV Cervejantes (o primeiro reality show cervejeiro do Brasil) com a maravilhosa cerveja Stout Black Dog Beer .
Estudante e entusiasta da Cultura Racional, dos livros Universo em Desencanto criou ao Projeto 1935 um coletivo musical que aborda em suas musicas temáticas ligadas há cultura Racional e sua divulgação."





Ives Pierini em ação na sua  Black Dog Brazil






Cultura em Ação com Christian Pierini, músico, multi instrumentista é artista plástico.


sábado, 9 de fevereiro de 2019

Sapiens: Uma Breve História da Humanidade; Um tratado definitivo

Por Antonio Siqueira



Uma breve e magnífica história






























O autor de
 Sapiens: História Breve da Humanidade é Yuval Noah Harari, um historiador (doutor em História pela Universidade de Oxford) e professor da Universidade Hebraica de Jerusalém.


Em seu best-seller ficamos conhecendo o processo de evolução da espécie humana pelo planeta. A partir de uma perspectiva interdisciplinar e científica, descobrimos o percurso do homem na Terra.

Aprendemos o que se passou nesse período de 70.000 anos da história humana e somos apresentados as revoluções que o homem promoveu ao longo do tempo (vale sublinhar as três maiores revoluções da espécie: a Revolução Cognitiva, a Revolução Agrícola e a Revolução Científica).

Percebemos, ao longo da leitura, como somos uma espécie ao lado de tantas outras e como a nossa existência individual é provisória e insignificante perante a noção de grupo. Ao contrário da cultura contemporânea - que nos faz crer que somos sujeitos únicos e especiais - Harari abre uma grande angular e nos mostra que fazemos parte de um sistema muito mais amplo: "Há cerca de 13,5 bilhões de anos, a matéria, a energia, o tempo e o espaço surgiram naquilo que é conhecido como o Big Bang. A história dessas características fundamentais do nosso universo é denominada física. 
Por volta de 300 mil anos após seu surgimento, a matéria e a energia começaram a se aglutinar em estruturas complexas, chamadas átomos, que então se combinaram em moléculas. A história dos átomos, das moléculas e de suas interações é denominada química. Há cerca de 3,8 bilhões de anos, em um planeta chamado Terra, certas moléculas se combinaram para formar estruturas particularmente grandes e complexas chamadas organismos. A história dos organismos é denominada biologia." 
A obra de Harari não tão somente um livro, é o tratado antropológico definitivo dos últimos 
200 anos.

Em Sapiens: História Breve da Humanidade voltamos para o passado e testemunhamos o surgimento da matéria e da energia, o começo da física e da química, o aparecimento de átomos e moléculas - e depois somos remetidos para o futuro (será o homo sapiens substituído por super-humanos?).

Entre esses dois períodos aprendemos os eventos mais importantes para a espécie humana e como ela foi capaz de superar os desafios impostos pelas circunstâncias. Somos pequenos demais, diante do que está sob nossos pés e sobre nossas cabeças.