terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Meditações Acerca do Natal de Cristo

Por Antonio Siqueira



No Natal de Cristo, deveríamos lembrar também os outros líderes religiosos






















Nesta época no Natal, quando o pensamento do mundo ocidental se volta para a extraordinária presença de Jesus Cristo, é sempre bom lembrar também os outros enviados de Deus, que estruturaram as bases da religiosidade no mundo dito civilizado, embora até hoje ainda não se possa dizer que já exista realmente mundo civilizado. O genial historiador inglês Kenneth Clark (1903-1983) costumava ironizar, dizendo: “Civilização? Nunca vi nenhuma. Mas se algum dia encontrar alguma, sei que saberei reconhecê-la…”

Esses enviados são os avatares, uma palavra derivada do sânscrito que significa “aquele que descende de Deus” ou, simplesmente, qualquer espírito que ocupe um corpo, representando assim uma manifestação divina na Terra.

A humanidade teve grandes avatares do pensamento filosófico, social e espiritual, que nos influenciam até hoje. Pela ordem de entrada em cena – Krishna na Índia (3 mil anos antes de Cristo); Lao Tse na China (1.300 a.C.); ao mesmo tempo, Moisés no Egito e Oriente Médio (1.291 a.C), Buda na região do Nepal/Himalaia (600 anos a.C.); pouco depois, Confúcio no Nordeste da China (550 anos a.C.); logo em seguida, Sócrates na Grécia (469 a.C.); o próprio Jesus Cristo na Palestina, que marcou a abertura da atual nova Era; e Maomé em Meca, na Arábia (570 depois de Cristo).

Há outros avatares, como Zoroastro (ou Zaratrusta), criador da doutrina dualista (Bem e Mal) dos persas, cerca de 700 anos antes de Cristo,uma religião também muito importante, adotada pelo Império Aquemênida, que dominou grande parte do mundo 500 anos antes de Cristo. Mas vamos nos fixar nos outros oito avatares, que ainda hoje influenciam a humanidade.

 Em todos esses doutrinadores, constatam-se praticamente os mesmos ensinamentos, a idêntica tentativa de melhorar a vida de todos e de criar relações mais justas e humanas, numa impressionante coincidência de propósitos e iniciativas.

Suas origens são bem distintas. Mas tinham em comum os mesmos objetivos sociais e espirituais. Detalhe interessante: nenhum dos grandes avatares deixou por escrito seus pensamentos religiosos e teses filosóficas. As palavras de todos eles foram difundidas ou transcritas por discípulos, apóstolos ou seguidores.

Os registros históricos são precários, especialmente de Krishna, o mais antigo,  que viveu na Índia antiga há mais ou menos 5 mil anos. Seus ensinamentos, transmitidos por uma série de seguidores (também considerados avatares na Índia), formam a base do Hinduísmo, uma das mais importantes religiões.

Depois de Krishna, veio o chinês  Lao Tse (ou Lao Zi, Lao Tzu), filho de um alquimista. Conforme os registros do cânone religioso taoísta, Lao Tse teria sido convidado pelo rei Wen para ser o responsável pela biblioteca real. Portanto, era alfabetizado. No 25º ano da era do rei Zhao, iniciou sua grande viagem para o Ocidente, com intuito de chegar aos reinos da atual Índia, depois ir ao Afeganistão e à Itália. Durante o trajeto, teria aceitado como discípulo um oficial chefe da fronteira, a quem ditou vários escritos, entre eles o Tao Te Ching.

Depois de Lao Tse, o enviado foi Moisés (Moshe ou Mōüsēs), um profeta egípcio da Tribo de Levi, autor da Torah, segundo a tradição judaico-cristã, correspondente aos cinco primeiros livros do Antigo Testamento cristão. Segundo o Livro do Êxodo, o menino Moisés foi adotado pela filha do faraó, que o encontrou enquanto se banhava no Rio Nilo e o educou na corte como o príncipe do Egito. Por ter matado um feitor, levado pela “justa ira”, fugiu do Egito para escapar da pena de morte. E conduziu o povo de Israel até ao limiar de Canaã, a Terra Prometida a Abraão. Moisés é patriarca dos judeus e santo nas Igrejas Católica e Ortodoxa.

Os registros são de que Buda (Siddharta Gautama) nasceu 600 anos antes de Cristo, em família nobre num reino da região do Nepal. Quando descobriu o que representavam a vida e a morte, submeteu-se a sofrimentos, purificou-se e passou a doutrinar os demais, ensinando que uma pessoa não se torna  sacerdote por nascimento e ninguém é pária pelo berço, mas em função de seus próprios atos.

Já o chinês Confúcio (K’ung Ch’iu, K’ung Chung-ni ou Confucius) nasceu 550 anos antes de Cristo em uma pequena cidade na região de Lu. Seu pai, Shu-Liang He, teria sido magistrado e guerreiro. O pensador teve seus ensinamentos difundidos na obra “Analectos de Confúcio”, uma coleção de aforismos, compilada muitos anos após a sua morte. Sua filosofia pregava a moralidade pessoal e governamental, além dos procedimentos corretos nas relações sociais, com justiça e sinceridade.

O grego Sócrates, 400 anos antes de Cristo, veio de família humilde. Na juventude era chamado de Sokrates ios Sōfronískos (Sócrates filho de Sophroniscus). Seu pai era operário, especialista em entalhar colunas nos templos, casado com a parteira Phaenarete. Durante a infância, Sócrates ajudou o pai no ofício de entalhador, mas logo depois se tornaria o maior filósofo e educador da Antiguidade. Seus pensamentos foram transmitidos pelos discípulos Platão e Xenofonte. São impressionantes as teses de Sócrates sobre a alma, a espiritualidade e a reencarnação.

Depois, temos Jesus Cristo e seus ensinamentos compilados na Bíblia, também escrita bem depois da morte dele e que deu origem a grande número de ramificações e seitas religiosas derivadas do Cristianismo.

MAOMÉ, O MAIS RECENTE – O avatar dos muçulmanos é Maomé (Muḥammad ou Moḥammed), que nasceu depois de Cristo, em 6 de Abril de 570. Para os islamitas, Maomé foi precedido em seu papel de profeta por Jesus, Moisés, Davi, Jacob, Isaac, Ismael e Abraão. Seria o mais recente e último profeta do Deus de Abraão.

Como figura política, Maomé unificou várias tribos árabes, criando os primórdios da formação do império islâmico que se estendeu da Pérsia até a Península Ibérica. Também Maomé nada deixou escrito, foram seus discípulos que redigiram o Corão.

LEMBRANDO BUDA – Por fim, ainda sobre os avatares, é interessante destacar um pensamento atribuído a Buda, nos seguintes termos:

Não sou o primeiro Buda que existiu na terra, nem serei o último. No tempo devido outro Buda levantar-se-á no mundo, um santo, um ser divinamente iluminado, dotado de sabedoria em sua conduta, benigno, conhecendo o universo, um líder incomparável dos homens, um mestre dos anjos e dos mortais. Ele vos revelará as mesmas verdades eternas que vos ensinei. Ele vos pregará esta religião, gloriosa em sua origem, gloriosa em seu clímax, gloriosa em seus objetivos, tanto no espírito como na forma. Ele proclamará uma vida religiosa tão pura e perfeita como a que agora proclamo. Seus discípulos serão contados em milhares, enquanto que os meus contam-se em centenas.




segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Antonico

Por Antonio Siqueira


O cantor e compositor Ismael Silva (1905-1978), nascido em Niterói (RJ), para fazer a letra de “Antonico”, inspirou-se em uma carta de Pixinguinha para Mozart de Araújo, na qual o maestro pedia ao amigo um emprego para o sambista em dificuldade. O samba “Antonico” foi gravado por Alcides Gerardi, em 1950, pela Odeon.



Ismael era um retrato da elegância em forma de sambista


























ANTONICO
Ismael Silva

Ô Antonico
vou lhe pedir um favor
Que só depende da sua boa vontade
É necessário uma viração pro Nestor
Que está vivendo em grande dificuldade
Ele está mesmo dançando na corda bamba
Ele é aquele que na escola de samba
Toca cuíca, toca surdo e tamborim
Faça por ele como se fosse por mim

Até muamba já fizeram pro rapaz
Porque no samba ninguém faz o que ele faz
Mas hei de vê-lo bem feliz, se Deus quiser
E agradeço pelo que você fizer


Ismael cantando em 1973




segunda-feira, 22 de agosto de 2016

A Origem do “Complexo de Vira-Lata”

Por Antonio Siqueira



Colagem:@arte_vital


















Nelson Rodrigues
todos os domingos ia ao estádio para ver os anjos e os demônios de sua devoção. Ele sempre pregou que o brasileiro precisa acabar com o complexo de vira-lata. Sob a visão de Nelson, nossa vitória sobre a Alemanha na Olimpíada teria sido celestial, porque ele elogiava muito qualquer  vitória apertada e sofrida. Quando o Brasil ganhou de 1X0 o País de Gales, em Gotemburgo, na Suécia, rumo à primeira Copa, o genial cronista escreveu: “O povo queria que enviássemos uns seis ou sete. Eis a nossa tragédia – a pura e simples vitória não basta. Mas eu vos digo, aqui, foi a maior vitória brasileira

Naquela época, Nelson Rodrigues criou a história sobre o complexo de vira-latas, que perdura até hoje:

Temos dons em excesso. E só uma coisa nos atrapalha e, por vezes, invalida as nossas qualidades. Quero aludir ao que eu poderia chamar de “complexo de vira-latas”. Estou a imaginar o espanto do leitor: — “O que vem a ser isso?” Eu explico.

Por “complexo de vira-latas” entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. Isto em todos os setores e, sobretudo, no futebol.

Dizer que nós nos julgamos “os maiores” é uma cínica inverdade. Em Wembley, por que perdemos? Por que, diante do quadro inglês, louro e sardento, a equipe brasileira ganiu de humildade. Jamais foi tão evidente e, eu diria mesmo, espetacular o nosso vira-latismo.

Na já citada vergonha de 50, éramos superiores aos adversários. Além disso, levávamos a vantagem do empate. Pois bem: — e perdemos da maneira mais abjeta. Por um motivo muito simples: — porque Obdulio nos tratou a pontapés, como se vira-latas fôssemos. (…)

O brasileiro precisa se convencer de que não é um vira-latas e que tem futebol para dar e vender. Uma vez que ele se convença disso, ponham-no para correr em campo e ele precisará de dez para segurar, como o chinês da anedota.”


(Nelson Rodrigues, em “À sombra das chuteiras imortais”, pág. 55).

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Rafaela Silva jamais será uma campeã improvável


Por Antonio Siqueira




Mérito Absoluto















No Brasil, durante décadas, a participação de negros em atividades esportivas foi socialmente condicionada às modalidades onde a explosão, a velocidade e a força bruta eram mais exigidas. Desse modo, tivemos negros brasileiros com destaque nos esportes coletivos, no atletismo (com toda uma geração de brilhantes saltadores, de Adhemar Ferreira da Silva a João do Pulo, passando por Nelson Prudêncio) e no boxe, nas luvas de Servílio de Oliveira, bronze em Cidade do México 1968.

Curiosamente, mas não por acaso, as modalidades consagradas à participação de negros são aquelas que exigem menor estrutura para treinos e competições, bem como as que contam com técnicas de mais fácil aprendizagem, dada a sua notoriedade. Esportes sofisticados, de aparato tecnológico caro e técnicas repletas de especificidades eram restritos a camadas privilegiadas, cujos representantes eram costumeiramente mandados treinar no exterior.

O ouro de Rafaela Silva no judô, o primeiro de uma mulher negra em um esporte individual, é icônico: representa o fenômeno da mobilidade social que o Brasil presencia há mais de uma década. E não se trata apenas de glorificar o papel do Estado brasileiro na formação da atleta e cidadã, muito embora tal apoio seja fundamental, pois Rafaela é militar da Marinha do Brasil, onde recebe o acompanhamento profissional e partilha a estrutura necessária a seu progresso esportivo.

Além de um sintoma de política pública bem executada, a filha da Cidade de Deus é também fruto do amadurecimento de nossa sociedade civil. Cria de um projeto social, o Instituto Reação, do ex-judoca Flavio Canto, Rafaela é a comprovação viva do papel emancipador do esporte quando democratizado a grupos historicamente marginalizados de nossa sociedade, não apenas com o oferecimento das modalidades que sempre foram oferecidas, mas também com novas atividades.

É preciso peneirar talentos que contemplem todas as modalidades olímpicas, do futebol masculino ao tiro com arco, para tornar o Brasil a potência esportiva que ainda não é.

 E muito além do aprimoramento da atuação do Estado brasileiro e das formas de organização de nossa sociedade, o sucesso de Rafaela é também produto de uma precisa intervenção familiar, quando seu pai, Luiz Carlos, enxergou como remédio para a filha brigona, ainda uma criança, o disciplinamento de seus impulsos a partir da prática esportiva. Seu sucesso é prova da relevância de uma sólida base familiar.

A atitude certeira do pai e o amparo em outras instâncias contribuíram para produzir uma campeã aparentemente improvável pela trajetória histórica do negro brasileiro nos esportes olímpicos, quase sempre relegada a um pequeno punhado de modalidades, mas icônica do quanto é possível gerar desenvolvimento social a partir da democratização das práticas esportivas. Gerações podem ser salvas com um pouco de boa vontade e decência nas políticas públicas. De  resto, a vontade de vencer e o amor de quem cria, cumprirá seu papel.




domingo, 31 de julho de 2016

50 anos de Capote. Conhecimento e verdade.

Por Fernando Figueiredo
Capote






Eu sempre fui um estudioso e amante da Teoria do Caos, mais precisamente, do Efeito Borboleta. O efeito borboleta se refere à sensibilidade das condições iniciais de um acontecimento, segundo a Teoria do Caos. Como o começo de um furacão, ou de uma doença, podem ser influenciados por eventos aparentemente insignificante. Como o bater de asas de uma borboleta em algum lugar poderia desencadear uma sequência de fenômenos meteorológicos que provocariam um tornado do outro lado do mundo. Sempre pensei nesse tipo de coisas, “E se”? é a frase que eu mais gosto de dizer. Descartes, durante a primeira meditação, apresenta aquele que é um dos mecanismos mais importantes do seu método, o princípio da dúvida. Ou como diria Platão “eu nada sei.” A respeito do conhecimento. Em 2016, comemoram-se os 50 anos da publicação em livro de A Sangue Frio, principal obra do jornalista e escritor estadunidense Truman Capote (1924-1984). O autor ficou seis anos em investigação para escrever A Sangue Frio. Viajou para o Kansas, teve a ajuda de uma amiga no levantamento das informações, anotou cerca de 8 mil páginas e entrevistou as mesmas pessoas várias vezes em busca de detalhes sobre o assassinato dos Clutters. Depois, acompanhou de perto a prisão, o julgamento e o enforcamento dos dois assassinos: Richard Hickcock e Perry Smith. “A cidade de Holcomb fica nas planícies do oeste do Kansas, lá onde cresce o trigo, uma área isolada que mesmo os demais habitantes do Kansas consideram distante.” começa o texto.











Capote foi o símbolo de um novo período na história da relação entre jornalismo e literatura, o chamado new journalism, movimento surgido no âmago da contracultura. A questão é: dá para chamar de jornalismo um relato assumidamente inventado? Sua leitura é uma grande oportunidade para a discussão sobre os limites da profissão jornalística. A Sangue Frio, nos deixa um questionamento, levantado a muitos séculos pelos filósofos e pensadores e que ninguém conseguiu ainda responder: o que é mesmo a “verdade”?

quinta-feira, 2 de junho de 2016

X-Men: Apocalipse

Direção: Bryan Singer Série de filmes: X-Men Música composta por: John Ottman Autores: Bryan Singer, Simon Kinberg, Michael Dougherty, Dan Harris.

Por: Fernando Figueiredo

Em uma das melhores piadas do filme, jean Grey, brinca que o terceiro filme de uma trilogia é sempre o pior. A piadinha se refere a X-Men: O Confronto Final (2006), mas bem que poderia se tratar de uma autocrítica, o que faria todo sentido, Apocalipse é bem inferior a Primeira Classe e Dias de um futuro esquecido.
Logo de cara somos apresentados, de forma épica, a En Sabah Nur (Oscar Isaac). visto por um povo egípcio, de tempos antigos, como um deus. O filme dá um salto no tempo, e é na década de oitenta que o enredo se desenrola. O contorno religioso é abandonado e Apocalipse passa a aparecer mais com um vilão de Power Ranger, que busca o poder pelo poder, do que com o mutante original, principal ameaça da humanidade.
Do outro lado, Charles Xavier (James McAvoy) conta com uma série de novos alunos, como Jean Grey (Sophie Turner), Ciclope (Tye Sheridan) e Noturno (Kodi Smit-McPhee), além de caras conhecidas como Mística (Jennifer Lawrence), Fera (Nicholas Hoult) e Mercúrio (Evan Peters), para tentar impedir o vilão.
Os novos mocinhos são bem desenvolvidos e trabalhados, destaque especial para o Mercúrio, que protagoniza uma das melhores cenas do longa Ao som de "Sweet Dreams (Are Made Of This)", do duo Eurythmics. Outro bom momento é a participação do Wolverine (Hugh Jackman), talvez os fãs curtissem mais se fosse uma surpresa. De qualquer forma, é uma sequência que funciona.

X-Men: Apocalipse não cumpre as expectativas geradas, mas ao menos tem o suficiente para cumprir seu papel como fonte de entretenimento. Chega de histórias de origens, a Fox precisa colocar os mutantes em movimento.

sábado, 7 de maio de 2016

Capitão América 3: Guerra Civil

Crítica 2 | Capitão América: Guerra Civil
CAPITÃO AMÉRICA Vs HOMEM DE FERRO


Direção: Anthony Russo , Joe Russo
Duração: 2h26 min.

Por Fernando Figueiredo


Antes de falar sobre o filme, vale lembrar que não é de agora que as adaptações para o cinema, dos quadrinhos, (sobretudo da Marvel) se distanciaram das obras originais, Guerra Civíl não é diferente. Caso você não saiba, "Capitão América: Guerra Civil" é inspirado em um grande evento de 2006 da Marvel. O arco de histórias envolveu quase todas as revistas da editora e foi escrito por Mark Millar  O que dá para dizer é que o terceiro "Capitão América" é a produção mais importante da editora até aqui.
Depois de toda a destruição causada em Vingadores: Era de Ultron, os políticos resolveram que os super-heróis deveriam se registrar, como medida para conter possíveis futuros estragos envolvendo esse tipo de conflito em larga escala. Steve Rogers (Chris Evans) é contra a medida, já Tony Stark (Robert Downey Jr) acredita que os heróis devem cooperar com o Estado.
Não há um lado certo, mérito maior, do time de autores dos quadrinhos, encabeçado por Mark Millar. É um conflito de ideias levado, no filme, muito para o lado pessoal. O Capitão América fica dividido de verdade por causa de Bucky Barnes, o Soldado Invernal, seu antigo companheiro de guerra. Já o Homem de Ferro ainda se senti culpado pela criação de Ultron e tenta manter sua consciência tranquila.
O super-herói mais popular dos quadrinhos dá o tom cômico da produção, é sério, é impossível não se divertir em qualquer uma das cenas do novo Aranha, uma combinação de inocência e empolgação que é contagiante e torna o jovem Peter Parker muito carismático.
O carismático novo Homem Aranha
Os heróis saem na mão e empolgam, mas fica aquela sensação de que eles estão aliviando pra não machucar porque brincadeira de mão nunca dá certo e sempre acaba em choro. Afinal, convenhamos, se o Visão (Paul Bettany) resolvesse entrar na briga pra valer, não haveria filme.
O príncipe do reino de Wakanda, o Pantera Negra (Chadwick Boseman) tem um objetivo muito claro ao se juntar ao time de Stark. Aliás, o que falar do traje do Pantera Negra, uma das recriações mais vibrantes nos cinemas de super-heróis dos quadrinhos.

Guerra Civil mostra que alianças podem ser forjadas e amizades podem ser desfeita. E, no fim, irá agradar a gregos e troianos, a iniciantes e fanboys. Todos aguardando ansiosamente pelo que vem pela frente.
Trailler


sábado, 9 de abril de 2016

A Volta de Paul Simon

Por Antonio Siqueira


Capa de "Stranger to Stranger"























Paul Simon estava há cinco anos sem lançar um novo disco. E agora os fãs do veterano podem comemorar pois "Stranger to Stranger" chega às lojas e serviços de streaming no próximo dia 03 de junho.

Para antecipar o lançamento, o cantor e compositor já liberou a audição do primeiro single, a faixa "Wristband", que você ouve no final desta nota.

Com produção de Roy Halee e do próprio artista, o repertório de "Stranger to Stranger" terá 11 faixas, listadas abaixo. Todas as músicas foram compostas por Simon que descreveu o disco como "velho e novo ao mesmo tempo".

01. The Werewolf
02. Wristband
03. The Clock
04. Street Angel
05. Stranger to Stranger
06. In a Parade
07. Proof of Love
08. In the Garden of Edie
09. The Riverbank
10. Cool Papa Bell
11. Insomniac’s Lullaby





"Wristband"







Fonte: Rolling Stone Magazine

sábado, 2 de abril de 2016

A Juventude

Direção: Paolo Sorrentino Roteiro: Paolo Sorrentino Título Original: La Giovinezza

Por: Fernando Figueiredo


Youth nos apresenta as histórias de Fred (Michael Caine), um maestro e compositor aposentado e seu melhor amigo, Mick (Harvey Keitel), um cineasta americano que deseja terminar seu "testamento", o filme que ele espera encerrar sua carreira no topo. A palavra "Juventude" surge sobre imagens de corpos enrugados em um spa luxuoso no início do longa, o que logo chama a atenção é a fotografia de Luca Bigazz. Com a linda paisagem, próxima aos Alpes suíços, dando um tom poética ao filme.


Ao redor dos nossos protagonistas podemos ver uma série de outros personagens curiosos, entre eles Jimmy (Paul Dano), um ator, frustrado por ser conhecido apenas por um personagem, que está se preparando para seu novo filme. Além dele tem um astro argentino de futebol, aposentado (a semelhança com Maradona não é mera coincidência), uma miss universo (Madalina Ghenea) e Leda (Rachel Weisz), filha de Fred que vive um momento complicado, após o término de seu relacionamento. O diretor, Paolo Sorrentino, tem muito a dizer sobre a vida, e faz isso com suavidade, bom humor e uma certa dose de ironia. Os dois amigos, que parecem ser o auterego do diretor, refletem sobre o passado, presente e futuro, sobre o mundo e suas conquistas.


Youth também oferece conexões com outro clássico do cinema italiano: Oito e Meio, de Federico Fellini, ambos trazem cineastas em plena crise artística. O cinema, como paixão e indústria do entretenimento, é um dos vários temas abordados no longa-metragem. Não é possível explicar com exatidão a experiência que é assistir Youth, simplesmente devemos sentir a emoção transmitida. São momentos de uma beleza intensa onde não há mais nada a ser feito além de aproveitar, e agradecer. Veja, assim que possível. Daqueles filmes que não apenas emocionam, mas certamente merecem a reflexão que promovem.




sexta-feira, 11 de março de 2016

Boa Noite, Mamãe



























Direção: Veronika Franz, Severin Fiala
Roteiro: Veronika Franz, Severin Fiala
Título original: Ich seh, Ich seh


Por: Fernando Figueiredo

Em Boa Noite, Mamãe, conhecemos os gêmeos Lukas (Lukas Schwarz) e Elias (Elias Schwarz) que vivem em uma bela casa, isolada, no interior de uma cidade, ao lado de sua misteriosa mãe (Susanne Wuest).que acabara de realizar uma cirurgia plástica, por isso tem o rosto coberto por ataduras. Por essa,e outras, razões os meninos passam a desconfiar se aquela é realmente sua mãe.


Esqueça tudo que você sabe sobre os filmes de terror americanos com seus cortes rápidos e efeitos sonoros repentinos. A trama de Boa Noite, Mamãe que, de início, parece ser do subgênero suspense psicológico. possui uma levada mais “europeia” o que é uma virtude da película de  Veronika Franz e Severin Fiala.
Em um primeiro momento o filme é conduzido sob a perspectiva dos garotos, as cenas ganham uma sensação angustiante, quase de terror fantástico, principalmente nos sonhos de Elias. E, embora um tanto repetitivo nesse momento inicial, a produção entrega as respostas.
Durante uma partida de Na Testa (a brincadeira de adivinhação vista em Bastardos Inglórios), descobrimos um pouco mais sobre a personagem de Susanne. Ela é – ou era – apresentadora de televisão. Nesta primeira interação, é possível perceber que existe algo de errado no núcleo familiar e não demora para que a desconfiança dos garotos se transforme em obsessão por descobrir quem realmente está por baixo das bandagens.
A reviravolta começa quando os gêmeos resolvem inquirir a mãe sobre sua real identidade, do meio para o final do filme, então o que vemos é terror de verdade. A produção não tem medo de ir contra a premissa de que as crianças são seres intocáveis.


No fim Boa Noite, Mamãe transita muito bem entre o artístico e o sádico, a violência aqui não é gratuita, mas necessária ao enredo.


Assista o Trailler Legendado



sábado, 20 de fevereiro de 2016

O Quarto de Jack

Original: Room
Duração: 118min
Direção: Lenny Abrahamson

Por: Fernando Figueiredo

Antes de falar sobre O Quarto de Jack é importante ressaltar que o impacto do filme será muito maior se nada se souber sobre o enredo. O roteiro de Emma Donoghue é construído em torno de um “suspense dramático”, O impacto vai depender da atenção do espectador, portanto, aqui é a hora de parar de ler se você ainda não viu o filme.
Crítica | O Quarto de Jack
O Quarto de Jack, adaptação do romance homônimo escrito por Emma Donoghue, conta a história de uma mãe chamada de Ma, depois de Joy (Brie Larson) e seu filho, Jack (Jacob Tremblay), de apenas cinco anos, confinados em um pequeno quarto. Ela foi sequestrada há sete anos, quando tinha apenas 17 e, com a ajuda do menino, elabora um plano para tentar fugir do cativeiro. O roteiro, ponto forte do filme, foi adaptado pela própria autora, que conseguiu trabalhar um tema tão forte de uma maneira impressionante.
O filme pode ser dividido em duas partes, na primeira, Jack acredita que o mundo é o “quarto” em que vive, com sua cozinha improvisada, banheiro e cama no mesmo ambiente. Como Jack é uma criança curiosa de apenas 5 anos que pouco conhece o restante do mundo, a direção de Abrahamson se preocupa em acentuar o ponto de vista do garoto com planos fechados e closes de objetos do cenário.
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No segundo momento, vemos o retorno, da mãe, e o primeiro contato, de Jack, com o “mundo real”. O filme todo a direção trabalha com a ideia de claustrofobia, que com os movimentos sufocantes das lentes de Lenny Abrahamson, nos deixa ainda mais comovidos com a situação desta família, clima suavizado pela predominância de cores claras.

O Quarto de Jack promete emocionar bastante, pelo menos, no que depender das atuações de  Brie Larson e Jacob Trembley, a conexão entre seus personagens é tão forte a ponto de roubar o coração do espectador. Os mais críticos podem dizer que o desafio se dá, e é vencido, no “quarto” e assim que eles saem o filme perde em narrativa, mas já é tarde, e estamos todos apaixonados pelo pequeno Jack.

domingo, 7 de fevereiro de 2016

O Regresso

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Original: The Revenant.
Direção: Alejandro González Iñárritu
Roteiro: Alejandro González Iñárritu


Por: Fernando Figueiredo




O Regresso conta a história de um famoso explorador chamado Hugh Glass (Leonardo DiCaprio) que é atacado por um urso e acaba sendo deixado para morrer por sua própria equipe. Em meio a natureza selvagem, lutando para sobreviver, guiado pelo instinto de vingança contra John Fitzgerald (Tom Hardy), homem que assassinou seu filho a sangue frio. O Regresso é um filme de vingança e sobrevivência.

O filme tem sido apontado como aquele em que Leonardo DiCaprio pode, enfim, ganhar seu primeiro Oscar, depois de cinco indicações. Mas, apesar dele realmente merecer a estatueta, O Regresso não é só DíCaprio, é muito mais do que isso. Mas antes de falar de DiCaprio e do diretor, Iñárritu, é preciso destacar o brilhante trabalho do diretor de fotografia, Emmanuel Lubezki, premiado pelos trabalhos em Gravidade e Birdman. Apesar de algumas cenas fortes o filme é muito bonito.
Baseado na obra de Michael Punke e escrito por Iñárritu e Mark L. Smith, o filme possui um bom ritmo e cenas empolgantes, assim como o personagem de DiCaprio, o espectador, é obrigado a confrontar a beleza e vastidão da natureza selvagem. Uma das principais sequências do filme, a do ataque feroz do Urso, é impactante. Gera uma agonia, uma aflição, que faz com que criemos empatia com nosso herói.
A impressionante câmera do Iñárritu, eleva a qualidade das sequências a uma experiência épica. O diretor faz a câmera ser notada em alguns momentos, em pelo menos duas cenas, ela chega tão perto do protagonista que a sua respiração embaça a lente.
Outro destaque vai para Tom Hardy (John Fitzgerald) um homem bruto, que adora contar historias. Mas do que um vilão, Fitz é o contraponto da história, nós passamos a desprezá-lo, a odiá-lo e amamos isso.
Como disse Confúcio, “Antes de sair em busca de vingança, cave duas covas” e antes de assistir O Regresso, prepare seu coração, porque O Regresso dói.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Muito Rigor e pouca Misericórdia


Mais que um manifesto político, "Rigor e Misericórdia" ópera-rock de Lobão é uma intensa jornada pessoal.




Por Antonio Siqueira






























Não importa se você gosta ou não do Lobão - até porque ele não está nem aí - e não importa também se você concorda com a posição política que o artista assumiu nos últimos tempos. Eu mesmo, particularmente, já bati boca com o Lobo, mas tudo terminou com gentilezas sinceras. É preciso admitir que a ópera-rock "O Rigor e a Misericórdia" é seu trabalho mais ousado.

E não é por ter 'desapontado' alguns fãs das antigas ao achincalhar sempre que pode a esquerda (e, especialmente, o PT) e levar isso para a temática das letras que este novo disco é ousado. Isso é apenas um detalhe, já que o disco não é panfletário. Lobão é ousado porque em "O Rigor e a Misericórdia" é ele quem toca todos os instrumentos, assina como produtor, engenheiro de som, além de, obviamente, ter escrito e cantado todas as faixas. Ah, e o disco é independente: o músico fez uma campanha de financiamento coletivo para produzi-lo.

O álbum foi feito sem pressa, mas intensamente. E todo esse processo criativo, laborioso e solitário virou também um livro. Autobiográfico, o texto, a princípio, seria um anexo da nova edição da biografia "50 Anos a Mil", que o músico lançou em 2010. Mas Lobão considerou o material tão rico que os textos ganharam vida própria, num novo livro, intitulado "Em Busca Do Rigor E Da Misericórdia - Reflexões De Um Ermitão Urbano", uma "narrativa poético-político-musical", nas palavras do próprio Lobão. E isso também é parte da ousadia de Lobão para este novo trabalho.

Voltando ao disco, musicalmente, Lobão traz uma mistura de elementos, estilos e ideias ao longo dos 50 minutos de "O Rigor e a Misericórdia". O resultado é épico: há ecos dos anos 70 e ao mesmo tempo as faixas trazem um atmosfera violentamente atual. Soa retro, mas soa moderno. Tem balada, tem blues, tem passagens progressivas.

Rótulos são ineficientes para definir a música mas eles podem ajudar a captar o instante de um movimento, como numa foto. Com esse pensamento, podemos dizer que "O Rigor e a Misericórdia" é poderoso, encorpado e transcende o rock sem abrir mão dele. E isso já fica claro na abertura do disco, "Overture", uma faixa instrumental de pouco menos de dois minutos que serve de prelúdio ao apocalipse - no sentido de revelação - que Lobão pretende fazer.

Pode parecer pretensioso - e talvez seja mesmo - mas é também muito sincero. Seja nos momentos em que há peso, riffs e distorção quanto naqueles em que dedilhados e teclados se sobressaem, a música de Lobão transborda tudo aquilo em que ele acredita: é aí que está a revelação. Não de forma ingênua como um garoto de 15 anos faria com sua banda punk gritando contra o 'sistema', mas do alto da experiência de um senhor de 57.

Quanto à temática, parte do tempo do repertório é dedicado a críticas contundentes ao atual governo. O que, aliás, é o que o rock sempre fez, certo? Em letras como "A Marcha dos Infames", "Os Vulneráveis" e "A Posse dos Impostores", Lobão mostra a distopia política do nosso presente, dando nome aos bois e vomitando todo seu descontentamento - e permitindo que uma grande parte dos brasileiros se identifique com seu discurso.

Mas nem só de política "O Rigor e a Misericórdia" vive. "Assim Sangra a Mata" tem cunho social e fala sobre o garimpo na Amazônia soando como uma canção de ninar de terror. "Ação Fantasmagórica à Distância" é sobre a morte de seu pai, enquanto "O que es la Soledad en Sermos Nosotros" filosofa (em espanhol) sobre a solidão. É interessante ver também como Lobão pensou em detalhes na hora da composição. Há muitas camadas para desvendar no repertório. Por exemplo: a afetação na voz de Lobão na pesada "Alguma Coisa Qualquer" dá ênfase à natureza contundente da canção.

Mais que um manifesto político, "O Rigor e a Misericórdia" é uma busca pessoal por algo que Lobão identifica como rigor e misericórdia. Como pessoa, Lobão pode emitir suas opiniões livremente. Já como artista, ele tem nisso um dever. O artista que não expressa o que sente em sua arte não está fazendo arte. E arte não existe para concordarmos com ela.


Programa:
01. Overture
02. Os Vulneráveis
03. A Marcha dos Infames
04. Assim Sangra A Mata
05. O que es la Soledad en Sermos Nosotros
06. Alguma Coisa Qualquer
07. Dilacerar
08. Os Últimos Farrapos da Liberdade
09. A Posse dos Impostores
10. Ação Fantasmagórica à Distância
11. Profunda e Deslumbrante Como o Sol
12. Uma Ilha na Lua
13. A Esperança é A Praia de um Outro Mar
14. O Rigor e a Misericórdia



Lobão: Os Vulneráveis





terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Trumbo: Lista Negra


Direção: Jay Roach
Duração: 2h 4m
Música composta por: Theodore Shapiro
Roteiro: John McNamara

Em 1940, os EUA instauraram comissões para descobrir se comunistas estavam infiltrados no país, uma das áreas suspeitas era a indústria cinematográfica, o filme conta a história do roteirista Dalton Trumbo (Bryan Cranston), renomado escritor norte-americano que se recusou a responder perguntas do governo dos EUA, pela recusa, foi preso e colocado em uma lista negra, o que dificultava o escritor de conseguir trabalho.
imagem de Trumbo - Lista Negra
O diretor, Jay Roach, contou ainda com outros bons nomes no elenco, como Diane Lane, Elle Fanning, John Goodman, Louis CK e Helen Mirren (agradavelmente má). Bryan Cranston, de Breaking Bad, vive Trumbo que pagou um alto preço pelas convicções políticas e seus ideais.
Roach, conhecido pelas comédias que fez, como, Austin Powers e Entrando Numa Fria, realiza um drama sério e elegante sobre uma era que todos gostariam de esquecer. Talvez por isso tenha demorado tanto tempo para chegar a telona. O roteiro de John McNamara é convencional até demais, linear, e esse é exatamente o maior problema do drama biográfico.
Desde Boa Noite, Boa Sorte a Caça às Bruxas não era lembrada, com qualidade, no cinema. Mas, como peça fílmica, vale apenas pelo peso histórico. E pela belíssima atuação de Cranston, o que lhe rendeu uma indicação ao Oscar.
Trumbo: Lista Negra - Foto