sábado, 20 de fevereiro de 2016

O Quarto de Jack

Original: Room
Duração: 118min
Direção: Lenny Abrahamson

Por: Fernando Figueiredo

Antes de falar sobre O Quarto de Jack é importante ressaltar que o impacto do filme será muito maior se nada se souber sobre o enredo. O roteiro de Emma Donoghue é construído em torno de um “suspense dramático”, O impacto vai depender da atenção do espectador, portanto, aqui é a hora de parar de ler se você ainda não viu o filme.
Crítica | O Quarto de Jack
O Quarto de Jack, adaptação do romance homônimo escrito por Emma Donoghue, conta a história de uma mãe chamada de Ma, depois de Joy (Brie Larson) e seu filho, Jack (Jacob Tremblay), de apenas cinco anos, confinados em um pequeno quarto. Ela foi sequestrada há sete anos, quando tinha apenas 17 e, com a ajuda do menino, elabora um plano para tentar fugir do cativeiro. O roteiro, ponto forte do filme, foi adaptado pela própria autora, que conseguiu trabalhar um tema tão forte de uma maneira impressionante.
O filme pode ser dividido em duas partes, na primeira, Jack acredita que o mundo é o “quarto” em que vive, com sua cozinha improvisada, banheiro e cama no mesmo ambiente. Como Jack é uma criança curiosa de apenas 5 anos que pouco conhece o restante do mundo, a direção de Abrahamson se preocupa em acentuar o ponto de vista do garoto com planos fechados e closes de objetos do cenário.
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No segundo momento, vemos o retorno, da mãe, e o primeiro contato, de Jack, com o “mundo real”. O filme todo a direção trabalha com a ideia de claustrofobia, que com os movimentos sufocantes das lentes de Lenny Abrahamson, nos deixa ainda mais comovidos com a situação desta família, clima suavizado pela predominância de cores claras.

O Quarto de Jack promete emocionar bastante, pelo menos, no que depender das atuações de  Brie Larson e Jacob Trembley, a conexão entre seus personagens é tão forte a ponto de roubar o coração do espectador. Os mais críticos podem dizer que o desafio se dá, e é vencido, no “quarto” e assim que eles saem o filme perde em narrativa, mas já é tarde, e estamos todos apaixonados pelo pequeno Jack.

domingo, 7 de fevereiro de 2016

O Regresso

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Original: The Revenant.
Direção: Alejandro González Iñárritu
Roteiro: Alejandro González Iñárritu


Por: Fernando Figueiredo




O Regresso conta a história de um famoso explorador chamado Hugh Glass (Leonardo DiCaprio) que é atacado por um urso e acaba sendo deixado para morrer por sua própria equipe. Em meio a natureza selvagem, lutando para sobreviver, guiado pelo instinto de vingança contra John Fitzgerald (Tom Hardy), homem que assassinou seu filho a sangue frio. O Regresso é um filme de vingança e sobrevivência.

O filme tem sido apontado como aquele em que Leonardo DiCaprio pode, enfim, ganhar seu primeiro Oscar, depois de cinco indicações. Mas, apesar dele realmente merecer a estatueta, O Regresso não é só DíCaprio, é muito mais do que isso. Mas antes de falar de DiCaprio e do diretor, Iñárritu, é preciso destacar o brilhante trabalho do diretor de fotografia, Emmanuel Lubezki, premiado pelos trabalhos em Gravidade e Birdman. Apesar de algumas cenas fortes o filme é muito bonito.
Baseado na obra de Michael Punke e escrito por Iñárritu e Mark L. Smith, o filme possui um bom ritmo e cenas empolgantes, assim como o personagem de DiCaprio, o espectador, é obrigado a confrontar a beleza e vastidão da natureza selvagem. Uma das principais sequências do filme, a do ataque feroz do Urso, é impactante. Gera uma agonia, uma aflição, que faz com que criemos empatia com nosso herói.
A impressionante câmera do Iñárritu, eleva a qualidade das sequências a uma experiência épica. O diretor faz a câmera ser notada em alguns momentos, em pelo menos duas cenas, ela chega tão perto do protagonista que a sua respiração embaça a lente.
Outro destaque vai para Tom Hardy (John Fitzgerald) um homem bruto, que adora contar historias. Mas do que um vilão, Fitz é o contraponto da história, nós passamos a desprezá-lo, a odiá-lo e amamos isso.
Como disse Confúcio, “Antes de sair em busca de vingança, cave duas covas” e antes de assistir O Regresso, prepare seu coração, porque O Regresso dói.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Muito Rigor e pouca Misericórdia


Mais que um manifesto político, "Rigor e Misericórdia" ópera-rock de Lobão é uma intensa jornada pessoal.




Por Antonio Siqueira






























Não importa se você gosta ou não do Lobão - até porque ele não está nem aí - e não importa também se você concorda com a posição política que o artista assumiu nos últimos tempos. Eu mesmo, particularmente, já bati boca com o Lobo, mas tudo terminou com gentilezas sinceras. É preciso admitir que a ópera-rock "O Rigor e a Misericórdia" é seu trabalho mais ousado.

E não é por ter 'desapontado' alguns fãs das antigas ao achincalhar sempre que pode a esquerda (e, especialmente, o PT) e levar isso para a temática das letras que este novo disco é ousado. Isso é apenas um detalhe, já que o disco não é panfletário. Lobão é ousado porque em "O Rigor e a Misericórdia" é ele quem toca todos os instrumentos, assina como produtor, engenheiro de som, além de, obviamente, ter escrito e cantado todas as faixas. Ah, e o disco é independente: o músico fez uma campanha de financiamento coletivo para produzi-lo.

O álbum foi feito sem pressa, mas intensamente. E todo esse processo criativo, laborioso e solitário virou também um livro. Autobiográfico, o texto, a princípio, seria um anexo da nova edição da biografia "50 Anos a Mil", que o músico lançou em 2010. Mas Lobão considerou o material tão rico que os textos ganharam vida própria, num novo livro, intitulado "Em Busca Do Rigor E Da Misericórdia - Reflexões De Um Ermitão Urbano", uma "narrativa poético-político-musical", nas palavras do próprio Lobão. E isso também é parte da ousadia de Lobão para este novo trabalho.

Voltando ao disco, musicalmente, Lobão traz uma mistura de elementos, estilos e ideias ao longo dos 50 minutos de "O Rigor e a Misericórdia". O resultado é épico: há ecos dos anos 70 e ao mesmo tempo as faixas trazem um atmosfera violentamente atual. Soa retro, mas soa moderno. Tem balada, tem blues, tem passagens progressivas.

Rótulos são ineficientes para definir a música mas eles podem ajudar a captar o instante de um movimento, como numa foto. Com esse pensamento, podemos dizer que "O Rigor e a Misericórdia" é poderoso, encorpado e transcende o rock sem abrir mão dele. E isso já fica claro na abertura do disco, "Overture", uma faixa instrumental de pouco menos de dois minutos que serve de prelúdio ao apocalipse - no sentido de revelação - que Lobão pretende fazer.

Pode parecer pretensioso - e talvez seja mesmo - mas é também muito sincero. Seja nos momentos em que há peso, riffs e distorção quanto naqueles em que dedilhados e teclados se sobressaem, a música de Lobão transborda tudo aquilo em que ele acredita: é aí que está a revelação. Não de forma ingênua como um garoto de 15 anos faria com sua banda punk gritando contra o 'sistema', mas do alto da experiência de um senhor de 57.

Quanto à temática, parte do tempo do repertório é dedicado a críticas contundentes ao atual governo. O que, aliás, é o que o rock sempre fez, certo? Em letras como "A Marcha dos Infames", "Os Vulneráveis" e "A Posse dos Impostores", Lobão mostra a distopia política do nosso presente, dando nome aos bois e vomitando todo seu descontentamento - e permitindo que uma grande parte dos brasileiros se identifique com seu discurso.

Mas nem só de política "O Rigor e a Misericórdia" vive. "Assim Sangra a Mata" tem cunho social e fala sobre o garimpo na Amazônia soando como uma canção de ninar de terror. "Ação Fantasmagórica à Distância" é sobre a morte de seu pai, enquanto "O que es la Soledad en Sermos Nosotros" filosofa (em espanhol) sobre a solidão. É interessante ver também como Lobão pensou em detalhes na hora da composição. Há muitas camadas para desvendar no repertório. Por exemplo: a afetação na voz de Lobão na pesada "Alguma Coisa Qualquer" dá ênfase à natureza contundente da canção.

Mais que um manifesto político, "O Rigor e a Misericórdia" é uma busca pessoal por algo que Lobão identifica como rigor e misericórdia. Como pessoa, Lobão pode emitir suas opiniões livremente. Já como artista, ele tem nisso um dever. O artista que não expressa o que sente em sua arte não está fazendo arte. E arte não existe para concordarmos com ela.


Programa:
01. Overture
02. Os Vulneráveis
03. A Marcha dos Infames
04. Assim Sangra A Mata
05. O que es la Soledad en Sermos Nosotros
06. Alguma Coisa Qualquer
07. Dilacerar
08. Os Últimos Farrapos da Liberdade
09. A Posse dos Impostores
10. Ação Fantasmagórica à Distância
11. Profunda e Deslumbrante Como o Sol
12. Uma Ilha na Lua
13. A Esperança é A Praia de um Outro Mar
14. O Rigor e a Misericórdia



Lobão: Os Vulneráveis





terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Trumbo: Lista Negra


Direção: Jay Roach
Duração: 2h 4m
Música composta por: Theodore Shapiro
Roteiro: John McNamara

Em 1940, os EUA instauraram comissões para descobrir se comunistas estavam infiltrados no país, uma das áreas suspeitas era a indústria cinematográfica, o filme conta a história do roteirista Dalton Trumbo (Bryan Cranston), renomado escritor norte-americano que se recusou a responder perguntas do governo dos EUA, pela recusa, foi preso e colocado em uma lista negra, o que dificultava o escritor de conseguir trabalho.
imagem de Trumbo - Lista Negra
O diretor, Jay Roach, contou ainda com outros bons nomes no elenco, como Diane Lane, Elle Fanning, John Goodman, Louis CK e Helen Mirren (agradavelmente má). Bryan Cranston, de Breaking Bad, vive Trumbo que pagou um alto preço pelas convicções políticas e seus ideais.
Roach, conhecido pelas comédias que fez, como, Austin Powers e Entrando Numa Fria, realiza um drama sério e elegante sobre uma era que todos gostariam de esquecer. Talvez por isso tenha demorado tanto tempo para chegar a telona. O roteiro de John McNamara é convencional até demais, linear, e esse é exatamente o maior problema do drama biográfico.
Desde Boa Noite, Boa Sorte a Caça às Bruxas não era lembrada, com qualidade, no cinema. Mas, como peça fílmica, vale apenas pelo peso histórico. E pela belíssima atuação de Cranston, o que lhe rendeu uma indicação ao Oscar.
Trumbo: Lista Negra - Foto