quinta-feira, 30 de julho de 2015

A Ciência, a Bíblia e Outros Infernos: Uma Breve Reflexão

Por Antonio Siqueira




 a vida do lado de lá

























A proibição de Moisés de contato com os espíritos dos mortos (Deuteronômio, capítulo 18) é uma das suas 613 leis mosaicas, que não são divinas. Realmente, elas são diferentes das leis divinas ou naturais dos Dez Mandamentos (Decálogo), que foram confirmadas por Jesus e que Ele até sintetizou em apenas duas: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. (Mateus 22: 38 e 39). Outra síntese de Jesus das leis do Decálogo encontra-se, também, no Sermão da Montanha ou Bem-Aventuranças (Mateus 5: 3 a 11; e Lucas 6: 20 a 23).

Os demônios são almas ou espíritos humanos dos mortos. Esse é o significado da palavra grega “daimon”, no plural “daimones”, na época em que a Bíblia foi escrita. Assim, eles podem ser, pois, demônios maus, mas podem ser também bons. Os demônios de Moisés e Elias manifestaram-se a Jesus e aos apóstolos, médiuns especiais, Pedro, Tiago e João, no monte Tabor. Não se tratava, pois, de demônios maus nem do Espírito Santo trinitário, que muito respeitamos. Com esse episódio da transfiguração, ficou também evidente que Jesus não obedeceu a essa lei mosaica de proibição do contato com os espíritos dos mortos. E Moisés proibiu esse contato porque as pessoas do seu tempo eram muito ignorantes, não estando, pois, preparadas para exercer a mediunidade e, também, porque muitos médiuns faziam comércio com esse dom mediúnico, o que gerava falsos médiuns ou falsos profetas (Números 11: 24 a 30; e 1 João 4: 1).

A citada proibição mosaica deu origem à crença errada de que não existe contato com os espíritos dos mortos. Ela foi entendida, também erroneamente, como prova de que quem já morreu jamais voltou ao nosso mundo para contar-nos como é a vida do lado de lá. E, ainda, essa mesma lei mosaica deu origem à crença de que os demônios são outra categoria de espíritos somente maus e de que apenas eles manifestam-se por meio dos médiuns, o que o espiritismo e a parapsicologia desmentiram com a ciência e a Bíblia.

Demônios

Muitos cristãos pensavam e ainda pensam que para os espíritas a comunicação é somente com demônios maus, e que para eles manifesta-se o próprio Deus que eles chamam de Espírito Santo. Que pretensão!

Se fosse verdade que somente demônios maus se comunicam com os espíritas e adeptos de outras crenças, poderíamos até concluir que Deus, então, dá apoio ao mal, permitindo que somente espíritos ou demônios maus portadores de falsas doutrinas se manifestassem!

Mas não é assim. E foi com Kardec que o mundo foi esclarecido cientificamente sobre a grande verdade de que Deus permite, sim, que tanto os maus como os bons espíritos manifestem-se. Viva, pois Kardec, que, impulsionando a espiritologia, deu um chega pra lá no materialismo, concretizando, assim, seu grande desejo.


Proibir

Pode-se concluir da proibição mosaica de Deuteronômio, capítulo 18, que é uma verdade a comunicação com os espíritos dos mortos, pois Moisés não era doido de proibir uma coisa que não existe! E eis mais um exemplo bíblico da comunicação entre os dois mundos, o espiritual e o físico: “Samuel até depois de morto profetizou” (Eclesiástico 46: 20).

Mas ainda há cristãos católicos, protestantes e evangélicos que acreditam, ou fazem de conta que acreditam, na grande mentira de que os espíritos dos mortos não se comunicam conosco! Vale mais do que nunca a filosofia existencialista de 'São' Jean Paul Sartre: "O Inferno São os Outros".




Sagrado Coração da Terra - Manhã dos 33 - 1987
                                 By Arte Vital Blog





quinta-feira, 2 de julho de 2015

Uma Canção Histórica de 2 Geraldos

Por Antonio Siqueira


Vandré: Uma vida exilada!


















Canção da Despedida” é a única parceria de Dois Geraldos, dos cantores e compositores  Geraldo Pedrosa de Araújo Dias, o Geraldo Vandré, paraibano, com Geraldo Azevedo de Amorim, o Geraldo Azevedo, pernambucano.

Para entendermos melhor a letra desta música devemos saber que Geraldo Vandré foi um dos que sentiram fortemente o peso da ditadura militar. E a maior responsável por isso foi sua canção “Pra não dizer que não falei de flores”, ou “Caminhando”, apresentada no III Festival Internacional da Canção, em 1968. A canção ficou em segundo lugar (perdeu para “Sabiá”, de Chico e Tom Jobim, que receberam a maior vaia de suas vidas), mas foi cantada e recantada pelo público e chamada de a “Marselhesa Brasileira”.

O certo é que, após o sucesso estrondoso de “Caminhando”, um verdadeiro hino contra a ditadura, a vida de Vandré tornou-se um martírio. Para se ter uma ideia, Zuenir Ventura faz uma referência a um artigo revoltado de um general, publicado no Jornal do Brasil em 06 de outubro de 1968, com o militar dizendo que a final do Festival da canção contemplara 3 injustiças:

Do Júri, ao colocar a música em segundo lugar, desconsiderando a “pobreza” da letra com seus gerúndios e rimas terminadas em “ão”, sem falar da canção em dois acordes.
Do público, que vaiou “Sabiá”.

De Geraldo Vandré, que se insurgira contra “soldados armados”. Mas neste caso o general dizia que apenas essa terceira injustiça poderia ser reparada.

Antes mesmo de ser proibida oficialmente no dia 23 de outubro de 68, os discos já eram apreendidos, e Vandré vivia na paranoia de ser preso. Medo que se intensificou na sexta-feira 13 de dezembro de 1968, quando veio o AI-5, que fechava o Congresso, suprimia garantias individuais (como o habeas corpus) e fazia com que a ditadura mostrasse sua face mais horrenda.

Vandré era advogado, e sabia dos riscos que corria, passou a esconder-se, viver na clandestinidade, mesmo sem saber se ele seria preso ou não, e, como relata Dalva Silveira, no seu livro “Geraldo Vandré: A vida não se resume em festivais (FT Editora), ele passou a planejar a fuga para um autoexílio. Mas, antes de fugir do Brasil, Vandré passou um tempo escondido com ajuda da viúva de Guimarães Rosa.

No período em que estava foragido, uma das pessoas que tinha acesso a Geraldo Vandré era Geraldo Azevedo, que compunha o “Quarteto livre”, banda que o acompanhara na turnê do show “Pra não dizer que não falei de flores”, cujo título, censurado, passou a ser “Socorro – a poesia está matando o povo”.

Geraldo Azevedo disse que, para ver Vandré, tinha que se comportar “como um militante de organização clandestina; entrava num carro, mudava para outro, fazia tudo para despistar pessoas da repressão que pudessem estar me seguindo para, por meu intermédio, chegar a Vandré”.

Nesse clima compuseram em parceria, Vandré e Azevedo, a “Canção da Despedida”, cuja letra é absolutamente clara e explícita.

A primeira gravação de “Canção da Despedida” foi feita por Geraldo Azevedo no LP A Luz do Solo, em 1985, pela Polygram.



"CANÇÃO DA DESPEDIDA"
Geraldo Vandré e Geraldo Azevedo

Já vou embora, mas sei que vou voltar
Amor não chora, se eu volto é pra ficar
Amor não chora, que a hora é de deixar
O amor de agora, pra sempre ele ficar
Eu quis ficar aqui, mas não podia
O meu caminho a ti, não conduzia
Um rei mal coroado,
Não queria
O amor em seu reinado
Pois sabia
Não ia ser amado
Amor não chora, eu volto um dia
O rei velho e cansado já morria
Perdido em seu reinado
Sem Maria
Quando eu me despedia
No meu canto lhe dizia






"Canção da Despedida" com discurso em tom de desabafo de Geraldo Azevedo: