quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

A Beija-Flor de Nilópolis é a cara do Brasil do PT

Por Antonio Siqueira


Família do mal


















O carnaval termina melancolicamente, trazendo o país de volta à sua realidade. No principal evento carnavalesco a vitória foi bancada por uma das mais cruéis e implacáveis ditaduras do mundo contemporâneo, mostrando que esse país está mesmo de pernas para o alto. No ano passado o vice-ditador Teodorin Obiang, que passa todo carnaval no Brasil, tinha sido preso pela Polícia Federal em Salvador, por ser procurado pela Interpol (Polícia Internacional), com ordem de prisão emitida pela França.

Não se sabe como, Teodorin deu um jeito, foi liberado e fugiu do país em seu jato particular, antes que a Justiça brasileira se pronunciasse. A maior surpresa veio depois. Não somente conseguiu ganho de causa na apodrecida Justiça brasileira, como também comprou o enredo da Beija-Flor e veio assistir ao desfile, como faz todos os anos.

A  criatividade da Beija-Flor foi comprada por R$ 10 milhões de reais, teve como tema a Guiné Equatorial (leia-se: sanguinária ditadura da família Obiang), um enredo absurdo foi desenvolvido pelo Carnavalescossauro REX Laíla, que é uma cria maldita de Fernando Pamplona, que foi o grande renovador do carnaval carioca, apesar de deixar sequelas irreversíveis, é verdade.

Como explicar que um enredo como este possa tirar tirado 10 na contagem dos três jurados do quesito e 9,9 no outro julgador? Ora, a vitória da Beija-Flor só é explicável pelo surrealismo atual, pois o Brasil está vivendo uma fase de completa inversão de valores, onde os cidadãos de bem passaram a ser a escória do país. No ano que vem, quem sabe o Estado Islâmico também queira participar, com o enredo sobre as Mil e uma Noites? É claro que vai levar 10, nota 10!


sábado, 7 de fevereiro de 2015

As Sequelas Morais de Auschwitz

Por Antonio Siqueira






Horror Secular























O mundo acaba de lembrar, na Polônia, os 70 anos da libertação, por soldados da antiga União Soviética, do campo de extermínio de Auschwitz, talvez o mais terrível exemplo do exercício da discriminação e do mal, na história humana, e da máquina de genocídio nazista.

Auschwitz destacou-se, entre os outros e numerosos campos de concentração e de extermínio. Não pela perversidade de seus oficiais, dos guardas e dos kappos, prisioneiros que controlavam as barracas em que se amontoavam, às centenas, seres humanos esquálidos e sub-alimentados, doentes e torturados pelas ameaças, as pancadas, o frio e assombrados pela perda de seus pais, mulheres e filhos, assassinados, muitas vezes, na sua frente, comuns a outras sucursais do inferno, como Sobibor, Maidanek, Belsen e Treblinka.

Mas, principalmente, por sua escala inimaginável, gigantesca, da qual tomava parte o campo vizinho de Birkenau, e pela organização metódica, planejada, de suas instalações. Elas foram planejadas para o roubo dos pertences, a exploração e a morte de milhares de pessoas por dia, da recepção dos prisioneiros, em sua dantesca estação ferroviária, até sua execução a tiros, por extenuação, espancamento ou em câmaras de gás, com a posterior destruição do corpo em fornos crematórios, em uma especie de matadouro tão bem organizado, que tudo era aproveitado, do ouro das jóias e dos dentes, ao cabelo dos prisioneiros, usado para forrar botas de inverno.

O fato de o presidente Vladimir Putin, líder do país herdeiro da URSS, potência que libertou Auschwitz, e venceu a batalha de Berlim, derrotando a Alemanha Nazista e levando Hitler ao suicídio, não ter sido convidado, é significativo.

Principalmente, quando se leva em consideração, que, na cerimônia, como convidado, esteve presente Petro Poroshenko, presidente da Ucrânia, país de origem de muitos dos guardas que trabalhavam em Auschwitz, e em outros campos, auxiliando prazeirozamente os SS nazistas, na vigilância, tortura e morte de milhares de homens, mulheres e crianças das mais diferentes origens.

Na Ucrânia de hoje, desfilam orgulhosamente neonazistas, e cresceram, vertiginosamente, depois da derrubada do governo que estava no poder anteriormente, os ataques a judeus, ciganos – dos quais milhares também morreram em Auschwitz – e outras minorias.

Por mais que os revisionistas e deturpadores da história – extremamente ativos nos últimos tempos – insistam em equiparar russos e nazistas, a verdade é que quando um criminoso nazista era capturado pelos soviéticos, ele era julgado, e na maioria das vezes, condenado à morte ou a pesadas penas de prisão, enquanto a maioria dos que foram apanhados pelos norte-americanos e pelos alemães ocidentais, mais tarde, permaneceram impunes, ou se tornaram colaboradores de organizações como a CIA durante a Guerra Fria – morrendo gordos e velhos, na cama, como não mereciam.



quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Candeia é a Flor do Samba (...) Reeditado, Remasterizado e Revivido

Por Antonio Siqueira




O Gênio Criativo, Candeia





















Não é à toa que “não deixe o samba morrer” é um verso tão emblemático não só da música como da cultura brasileira. “A voz do morro” é “a voz do povo de um país”, como já diz o clássico que você não tem como negar que conhece. E um povo que canta em coro “eu samba” faz dele sua personificação musical.

Mais que cultura popular, o samba tem um caráter quase folclórico, tanto pelas mensagens quanto pela transmissão oral que faz com que as origens de muitos registros seja desconhecida ou diluída em incontáveis intérpretes. Ainda assim há alguns cânones cuja importância continua ecoando, e pessoas empenhadas em fazer com que suas vozes sejam ouvidas.

O selo Discobertas é um dos mais engajados com essa missão e segue nela com o box “Sou Mais o Samba”, com cinco álbuns de Candeia que provam que “o samba é o tesouro maior que se deixa na vida”, como diz o próprio em “A Flor e o Samba”.

A caixa é quase uma continuação da série iniciada pelo selo em 2011, quando foram relançados os três primeiros álbuns do sambista. Esses trabalhos - "Candeia" (1970), "Seguinte... Raiz" (1971) e "Samba de Roda" (1975) – voltam agora acompanhados dos discos “Raridades” e “O Compositor”.

Raridades” inclui pérolas de discos como “Quatro Grandes do Samba” (1977), parceria com Nelson Cavaquinho, Guilherme de Brito e Elton Medeiros, e da coleção “Partido Alto em 5 Vols 1 e 2” (1975). “O Compositor”, por sua vez, traz músicas de Candeia interpretadas por nomes que incluem Elza Soares, Elizeth Cardoso, Jair do Cavaquinho e a Escola de Samba Portela.

Além de história, o samba pode ser salvação. No caso de Candeia foi ambos: depois de crescer cercado de música, compôs aos 17 anos seu primeiro samba-enredo e levou a Portela a tirar nota 10 em todos os quesitos. Pouco menos de uma década depois, porém, entrou para a polícia e se tornou um oficial descrito como “truculento”, que interrompeu diversas rodas de samba por perturbação da ordem pública e chegou a enquadrar um então desconhecido Paulinho da Viola, que inclusive escreveria uma nota no encarte de “Samba de Roda”.

Foi depois de uma operação que o deixou paraplégico que o músico voltou a fazer do samba o centro de sua vida, permitindo que não só se encontrasse como deixasse esse belo legado, que mostra que Candeia realmente tinha “o samba no sangue”, como diz em uma cadência diferente e irresistível em “A Volta”. Candeia era e é Gênio do Samba de Qualidade.




Teresa Canta Candeia