terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Natal: A visão magníficamente mágica dos gênios da pintura

Por Antonio Siqueira


Na iconografia cristã, os grandes mestres da pintura sempre deram relevada importância em registrar com talento, criatividade e interpretações diversas, o episódio da Natividade (o nascimento de Cristo) com seus personagens – a Virgem Maria, São José, o Menino Jesus, os animais, os pastores e os Reis Magos.

Essas imagens, um dos temas mais comuns na arte cristã, mormente na Idade Média e no Renascimento, estão sempre impregnadas de símbolos, como ressaltam Emile Male e seu discípulo Louis Réau, em livros iconográficos que decodificam a poética dos artistas.


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A Virgem, o Menino Jesus e São José, personagens principais do ato passado na estrebaria, o Nascimento de Cristo, conforme a época e os pintores, a cena, bastante conhecida, sofre variações de um para outro artista. No Retábulo Portinari,  do flamengo Reoger der Weuden, ou na Natividade, do alemão Hans Baldung, há uma inovação: a do Menino iluminado, adorado por seus pais e os pastores.

Do corpo do pequeno Cristo irradia intensa luz que ilumina a face extasiada dos personagens”, diz Emile Male. “Não é apenas um menino comum, que jaz no chão ou na manjedoura, reverenciado por Reis Magos e Pastores, olhado e farejado com certa indiferença por dois animais principais: o asno e o boi”.

Neste painel, outros seres ainda podem ser acrescentados, como na pintura da brasileira Rosina Becker do Valle: pavões, leões, corujas, borboletas, além de anjos cantores. “E com tal fidelidade são estes seres representativos do Renascimento que, na Natividade de Piero Della Francesca, identificam-se as palavras do canto gregoriano que pronunciam pelo formato de suas bocas”, afirma Emile Male.

Os livros iconógrafos relatam que tudo na arte cristão medieval possui caráter simbólico, testemunhos da divindade de Cristo e das verdades do Novo Testamento. E, por isso, existe um verdadeiro zoológico nos quadros primitivos flamengos, nos renascentistas e no de alemães e espanhóis.



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Segundo os especialistas, as fontes do bestiário vieram, principalmente, da Bíblia, dos Salmos e da Lenda Dourada, a hagiografia dos santos (história dos santos) tão consultada pelos artistas da Idade Média. Nelas os animais não são classificados por espécies, família e gênero, como fez Carlos Lineu, no início do século XVIII, e sim por suas virtudes ou malefícios morais.

Na Idade Média”, diz Emile Male, “tudo é signo e o visível só vale porque esconde o invisível. Logo, temos o significado de alguns animais que sempre aparecem em quadros de mestres que pintaram o tema Natividade”.

O Cordeiro (Agnus Dei), por sua mansidão ante a morte inevitável, geralmente, simboliza Cristo e seu sacrifício pela humanidade, sobretudo quando aparece imóvel, salienta Emile Male. ” Mas também pode significar a Ressureição do Cristo. Todavia, devemos nos lembrar que Ele não simboliza, exclusivamente, a imagem de Jesus imolado ou ressuscitado. Ele pode ser o símbolo místico do Apocalipse que se aproxima, ou a inocência dos santos”.

O asno e o boi são animais inevitáveis em todas as Natividades. O asno, que mais tarde ajudará a Sagrada Família a fugir para o Egito, na iconografia do Natal tem vários significados. Humilde o doce, ele era chamado “o cavalo do pobre” e tem sempre um papel simpático na Bíblia. Na gruta natalina, ele esquenta com seu hálito o Menino Jesus na manjedoura.

O asno, entretanto, tem também seu lado perverso, constata Emile Male. “Iconograficamente, ele simboliza a ignorância, a obstinação e até a lubricidade. Sua teimosia simboliza o povo judeu que, mantendo-se fiel a sua milenar crença, não quis seguir Jesus Cristo. No caso, o asno é o símbolo da Sinagoga que renegou o Messias Cristão. E foi o asno que carregou Cristo para Jerusalém no Dia da Páscoa”.
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Já o boi, como São José, tem um papel humilde de Natalidade. Seu hálito também ajuda a acalentar o Menino na noite de inverno natalino. Ele, iconograficamente, simboliza ainda o sacrifício de Jesus, assimila a ideia de reprodução humana e é a vítima nos sacrifícios religiosos. Por isso, o boi não tinha boa reputação na Bíblia, que condenava o sacrifício dos animais aos deuses. Foi aproveitando a ausência de Moisés que os judeus adoraram o Bezerro de Ouro ao pé do Monte Sinai.

Os cavalos dos Reis Magos, ricamente, adornados, significam a riqueza do mundo em comparação à do Filho de Deus, explica Emile Male. “A este bestiário luxuoso, vários artistas como Ticiano, Rubens e Veronese, acresceram outros animais simbólicos: pomba, pavão, cervo, galo e leão, além dos anjos que evoluem como símbolos da pureza velando pela Sagrada Família”.

A pomba, símbolo da paz que reinará um dia sobre a humanidade após o Juízo Final, foi a emissária da Anunciação e do término do Dilúvio Universal. “Signo do Espírito Santo, da alma do penitente purificada pela morte, ela se opõe ao negro corvo, encarnação do Diabo. A pomba também simboliza a Igreja nascida no Pentecostes”, sustenta Emile Male.

O cervo, segundo o Salmo 41, após beber no regato, brame pela presença do Messias. Ele é também o matador da serpente tentadora. Jás o pavão de caudas é um breve contra o mau olhado. “Os cristãos primitivos o reverenciavam ainda como símbolo da redenção e da vigilância contra o pecado. Mas em pintura, era também um animal que permitia vivas combinações de cores”, constata Emile Male.


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O galo não significa apenas o símbolo da regeneração e do remorso de São Pedro, é também a imagem de Cristo que, no terceiro dia, ressurgiu das trevas para a Ressureição. Seu canto matinal não apenas acorda o homem para o trabalho, mas serve para lembrá-lo que mais um dia passou e a morte se aproxima.

O leão, símbolo da coragem e da força, paradoxalmente, significa a sepultura, tal como a baleia, onde um dia os restos mortais irão repousar. Emile Male revela que além desses símbolos iconográficos da Natividade, outros foram adotados para significarem o bem ou o mal. “Na Idade Média e, desde a Arte Cristã Primitiva, o importante das imagens não eram suas qualidades físicas, mas seu conceito metafísico, pois a metafísica, no mundo medieval, era a única filosofia que explicava o Universo”.





Fonte: 
  • L'Art religieux du XIIIe siècle en France (1899) TD. Tr. El arte religioso del siglo XIII en Francia, Encuentro, 2001.

domingo, 21 de dezembro de 2014

"Hercules 56?" O destino teve compaixão de nós

Do que escapamos

Uma breve análise do mal que nos espreitou e que ainda insiste em nos devorar

Por Antonio Siqueira













































Interessado na história do período que vai de 1964 a 1985, ouvi falar e busquei assistir o documentário “Hércules 56”. Trata-se de um longa, do diretor Sílvio Da-Rin, composto por entrevistas, gravações de época e uma espécie de coletiva desenrolada numa mesa de bar. Os participantes da coletiva são remanescentes dos sequestradores do embaixador norte-americano em 1969 e do grupo despachado para o México, por exigência deles, a bordo da aeronave que dá nome ao filme. Entre outros, depõem, com a perspectiva que lhes permitiu um afastamento que já chega a quatro décadas, Franklin MartinsVladimir Palmeira, José DirceuFlávio TavaresDaniel Aarão Reis Filho e Paulo de Tarso Venceslau.

Eu assisti, muitos anos antes, ao “O que é isso companheiro?”  (e também li o best seller que originou o filme). Nele, Fernando Gabeira assume participação importante no sequestro. Em Hércules 56 Gabeira some. Por quê? O diretor, após a estreia, em 2006, explicou que Gabeira fora “soldado raso” na operação e jamais teria participado não houvessem os líderes escolhido para refúgio a casa onde ele morava. Praticamente mandou Gabeira procurar a própria turma e não inventar lorota. Só encontro uma explicação: o então deputado Fernando Gabeira se transferira do PT para o PV e perdera a simpatia dos companheiros.

Do conjunto da obra (Hércules 56 é um bom filme), concluí que, hoje, a maior parte dos protagonistas considera o sequestro e a luta armada como equívocos que estimularam o endurecimento e a continuidade do regime. Escolheram esse caminho por descrerem do jogo democrático. Eram militantes, dispostos a morrer e a matar pela revolução que julgavam estar fazendo, e sobre cuja existência real, pelo que pude presumir, não têm mais tanta certeza.

Foi exatamente aí que nasceu a observação registrada no título deste artigo: do que escapamos!

Imagine, leitor, se, em vez de senhores de meia idade, reflexivos mas orgulhosos dos seus ímpetos juvenis, como se apresentam no filme, eles tivessem sido vitoriosos, e chegassem ao poder, como desejavam, na esteira do que realizara Fidel partindo de Sierra Maestra. O que teriam implantado no Brasil? Totalitarismo marxista-leninista, expropriações, tribunais revolucionários e execução de conservadores, liberais, burgueses, latifundiários, empresários, direitistas. E mais, partido único e total absorção da comunicação social pelo Estado. Era o que na época se chamava “democracia popular”, regime adotado pelas referências mundiais do comunismo.

Não estarei indo longe demais? Não. Assista ao filme e ouvirá Vladimir Palmeira elogiar o chefe do sequestro, Virgílio Gomes da Silva, por lhes ter dito: “Se houver algum problema que, por desobediência a uma ordem minha ou vacilação, coloque em risco a operação, não pensem que vou esperar um tribunal revolucionário. Eu executo na hora”. Quem trata assim os companheiros, como procederá com os adversários?

Noutra passagem, os entrevistados respondem à seguinte questão: caso as exigências não fossem atendidas pelo governo, o embaixador seria executado? Foi unânime a confirmação. Palmeira ilustra que essa mesma pergunta lhe fora feita no interrogatório posterior à sua prisão. Resposta: “Teria executado, sim; eu cumpro ordens”. E os cavalheiros, ex-revolucionários, em volta da mesa do bar, riram com ele. Franklin Martins riu mais alto do que todos.

Hoje, personagens daqueles anos acantonaram-se no poder e estamos sob severo risco de andar na mesma direção, por outros meios e com outros modos.

* O filme “Hércules 56? está disponível para venda na internet e, dividido em nove partes, pode ser assistido no YouTube, buscado pelo título.




O Documentário na íntegra:

domingo, 14 de dezembro de 2014

Papai Noel Filho da Puta

Por Antonio Siqueira



fuck you santa klaus


























A classe média brasileira, geralmente, gasta 50% do valor que receberá do 13º salário com o pagamento de dívidas, mas vai às compras atendendo ao apelo do Papai Noel, um velhinho muito filho da puta, apenas para o comércio.

A chegada de Papai Noel na noite de Natal é esperada com ansiedade por inúmeras crianças em todo o mundo, embora o mito do “bom velhinho” carregue outras versões em nada carismáticas ou bondosas, como revela Roland Barthers em seu livro “Mitologias”, que se ocupa com uma análise semiológica das mensagens veiculadas pelos meios de comunicação de massa.

Segundo o livro, Papai Noel funciona como imagem reparadora da sociedade. É um momento em que a sociedade se livra de sua culpa através do presente e da imagem idealizadora do “bom velhinho” , do pai e do mundo adulto, pois a sociedade não aceita que se possa ter um lado bom e outro mau. Papai Noel surge, neste aspecto, como um personagem apenas bom e com ele a sociedade se redime. Isso passa para a criança que é impedida de expressar o seu lado agressivo (mau).

“A imagem da infância é feita de formulações ideais de bondade e inocência”, afirmam os psicólogos, que veem assim, “um comportamento repressor do Papai Noel, na medida em que o presente, na verdade, é uma troca. Só recebe presente que se comporta bem, uma maneira do pai esconder a repressão que ele exerce sobre o filho”.


A lenda de Nicolau

A ideia de que Papai Noel teve origem como sucessor de São Nicolau ou São Klaus pode ter sido o início do hábito de dar presentes na Alemanha, não é muito aceita pelos psicólogos. Na versão de Walt Disney para Papai Noel, nota-se que ele confecciona brinquedos numa fábrica em que os anões são artesãos e há, naturalmente, um artesão-chefe. Logo, Papai Noel procura ocultar o caráter de produção coletiva da indústria.


Tirania Ocidental
Para os psicólogos, Papai Noel, como se apresenta hoje, é uma construção moldada sobre fragmentos de mitos europeus. “Nessa construção encontramos, entre outros, o componente de humanização que é semelhante aos dos desenhos animados. Quer dizer, a figura do Papai Noel é acentuada pelos traços curvos, é engordada como acontece com os bichos”. Na verdade, Papai Noel só existe como escamoteamento, porque o consumo continua sendo culpado, enquanto ele é o móvel inocentador desse consumo, pois absolve sua culpa. Por outro lado, ele é um dos muitos mitos do poder em sua imagem dadivosa. Por isso, “ele é Papai Noel, um substituto do pai, porque é o pai quem realmente faz. Pai, em escala social, é a instituição. Logo, Papai Noel é uma imagem institucional”, do ponto de vista psicológico.



Na análise psicanalítica, Papai Noel opera como elemento de frustração do superego e de resistência ao consumo. ” Ele frustra o superego do consumidor naquilo que este tem de crítica à gratificação. Quer dizer, o anseio de gratificação pelo presente de Papai Noel e, este presente é uma autogratificação, sobretudo, quando se dá alguma coisa a um filho”.

No Brasil, o incremento da propaganda do mito Papai Noel, a partir de 1930, associa-se à industrialização e ao acréscimo de dependência externa. Vale ressaltar que, na década de 30, em todo o mundo, Papai Noel assumiu a feição que tem hoje, esse caráter bonachão, no quadro de uma crise econômica duradoura, quando foi necessária a intervenção do Estado em todos os setores da economia (política do New Deal reproduzida nos países europeus de diferentes formas).

O Brasil, pelo processo de colonização, vinha desenvolvendo várias representações natalinas próprias, que se centravam nas Festas de Reis. Estas festas, apesar dos folguedos de representações religiosas de origem ibérica, eram de realização brasileira, um ritual que variava de região para região. Não havia no país unidade nacional para manter uma só representação. Mas essas festas foram sendo esmagadas em função da sociedade de consumo, surgindo, então, a imagem definitiva e alienígena de Papai Noel, puxando seu trenó em pleno verão tropical.

O Natal (data do nascimento de Jesus Cristo) foi deturpado pelo mito Papai Noel, pois sua importância como instituição comercial na sociedade brasileira, sobretudo no processo de industrialização de bens de consumo, é notável, uma vez que se reflete nos próprios ciclos de emissão de papel-moeda, explicam os economistas. Nesses ciclos há piques:

O primeiro ocorre entre os meses de maio e julho, e é destinado à indústria de bens; o segundo ocorre entre agosto e setembro, destinando-se ao comércio atacadista de bens; e o último começa em outubro e emenda dezembro, que é o pique do varejo e do financiamento ao consumidor. Mesmo porque uma boa parte dos brasileiros que vive ao nível de subsistência tem como único recurso de compra a gratificação do Natal.





Papai Noel Filho da Puta dos Garotos Podres



sábado, 22 de novembro de 2014

Vinte anos depois



O melhor álbum do Pink Floyd
      depois de "The Wall"

             Por Antonio Siqueira

The Endless River by Pink Floyd
















Embora o embrião de The Endless River seja as sessões de The Division Bell, o disco em nada se parece com um TDB II como muitos comentam, muito pelo contrário, é um disco onde Rick Wright está na liderança com David Gilmour e isso nos remete ao Floyd early seventies com recursos de estúdio do século XXI como já foi dito,inclusive,anteriormente pelo guitarrista em algumas entrevistas promocionais para o disco.

Este álbum é dividido em 4 partes e abre com “Things left Unsaid” que realmente é a que mais me lembrou o PINK FLOYD dos últimos anos, pois os dois últimos discos de estúdio, bem como o último disco solo de estúdio de Gilmour, começam com uma bela melodia sem compromisso cheia de teclados e com um belíssimo solo de cordas. “It’s What We Do” nos mostra Rick Wright com tudo e a música em si lembra a injustiçada parte IX de “Shine on crazy you diamond...” com um belíssimo órgão e a banda acompanhando. Os “Floydianos” de coletâneas e de discos ao vivo não conhecerão esta parte que originalmente saiu no disco Wish You Were Here em 1975, que é assinada somente pelo gênio Richard Wright e que inclusive fecha a obra. “Ebb and Flow”, a seguinte trata-se de uma continuação da primeira música que parece voltar justamente para finalizar a viagem instrumental da primeira parte do álbum.


“Anisina” talvez a mais bela do disco é uma melodia de piano de Richard Wright com um lindíssimo solo de Sax e o velho Gilmour ao seu estilo deixando a celebração mais primorosa ainda. É a canção que o Arte Vital Blog tomou a "liberdade" de produzir e publicar. Este disco, 20 anos depois do "derradeiro" The Division Bell e comandado pelo gênio criativo de Richard  Wright, nos é dado como um belo presente de começo de século. Daqui a 200 anos, talvez, eles sejam lembrados como Vivaldi, Beethoven e Johann Sebastian Bach, só que com seus singles devidamente digitalizados e intactos em qualidade e acuidade sonora. Vida longa à música de qualidade.


Pink Floyd - "Anisina" - Side 2, Pt. 4 By Arte Vital Blog






sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Cecília Absoluta

Por Antonio Siqueira




Fotografia: Antonio Siqueira







































É Mar Absoluto, que dá título à coletânea e exemplifica o "fluxo de inspiração espontâneo e disciplinado" atribuído a ela pelo crítico Otto Maria Carpeaux. Estudante de música especializada em voz e violino, a poeta compunha seus versos com o uso de abundantes assonâncias, aliterações e outros recursos sonoros e rítmicos. O resultado são versos em harmônica cadência musical, que não caem, contudo, na artificialidade parnasiana.

Nesse poema, o tema do mar, que já aparecera em Viagem (1939) e Vaga Música (1942), e as imagens por ele produzidas transmitem a subjetividade mutável do eu-lírico: "Foi desde sempre o mar,/ E multidões passadas me empurravam/ como o barco esquecido. (...) E tenho de procurar meus tios remotos afogados./ Tenho de levar-lhes redes de rezas,/ campos convertidos em velas,/ barcas sobrenaturais/ com peixes mensageiros/ e cantos náuticos.// E fico tonta./ acordada de repente nas praias tumultuosas. (...)/ Queremos a sua solidão robusta,/ uma solidão para todos os lados,/ uma ausência humana que se opõe ao mesquinho formigar do mundo,/ e faz o tempo inteiriço, livre das lutas de cada dia".

O mar aparece como metáfora do desapego ao tempo - aquele existe desde sempre, como afirma o primeiro verso do poema. Apresenta-se, também, como símbolo da ausência, um dos temas centrais da produção da autora. Para a professora Darlene Sadlier, "o que está perdido na vida vive através da essência do seu ser, que é sustentado pelo poeta na memória e no verso".

Tanto em Mar Absoluto como nos outros poemas do livro expressam-se a combinação de espiritualismo e materialismo e a fusão de passado, presente e futuro. A matéria poética está ligada a esse tempo, cujos espíritos estão presos num espaço além do reino da existência material, os problemas e as preocupações da vida diária. Quando se volta ao que passou, o fluxo das experiências vividas transparece apenas pela simbologia da perda, nostalgia e resignação. Afora essa atmosfera comum, esta coletânea possui outra vertente: os poemas de inigualável intensidade chamados Motivo da Rosa, que estão dispersos pelo livro e unem-se pela força estilística. Metáfora para a efemeridade, a flor é uma constante nos trabalhos de Cecília. O segundo desses motivos é dedicado a Mário de Andrade: "Por mais que te celebre, não me escutas,/ embora em forma e nácar te assemelhes/ à concha soante, à musical orelha/ que grava o mar nas íntimas volutas".

Cecília tinha muito pouco em comum com qualquer uma das vertentes modernistas e outros autores que lhe eram contemporâneos. Sua obra não se voltava ao tempo presente, atitude que não se estendia à atuação da escritora como educadora ou jornalista. Entre suas causas, estavam a universalização do ensino, a igualdade entre os sexos e a derrota do autoritarismo político que testemunhou.




quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Coletânea 'Queen Forever' traz inédita com voz de Fredie Mercury

Por Antonio Siqueira


Queen com Mercury nos anos 1980





















Uma das novidades da coletânea Queen Forever, que só chega às lojas na semana que vem, foi divulgada na web. É a música inédita Let Me In Your Heart Again, com a voz do vocalista do grupo Freddie Mercury, e que está disponível para audição no canal oficial da banda no You Tube.

A versão é uma mixagem especial de William Orbit, que está produzindo o disco. Além dela, o álbum terá mais duas músicas novas: There Must Be More to Life Than This, que tem participação de Michael Jackson, e uma nova versão para Love Kills.

A coletânea será comercializada em CD simples, com 20 faixas, e CD duplo, com 36 músicas no repertório.



Confira:


terça-feira, 28 de outubro de 2014

Rodie: Não se vê seu rosto e atrás dele o palco é todo iluminado.



Pouca gente tem noção do que é preciso para realizar um grande show


Por Antonio Siqueira



Capa
Sabe aquelas pessoas de calça jeans e camiseta preta que são vistas andando de um lado para o outro no palco pouco antes do início de um show? São os roadies, a equipe técnica da banda. O livro "Roadie, a minha vida na estrada com o Coldplay", que acaba de chegar ao mercado brasileiro, fala exatamente sobre eles.

Escrito por Matt McGinn, roadie do guitarrista do Coldplay, Jonny Buckland, que trabalha com a banda há quase uma década, o livro conta um pouco do dia-a-dia dos trabalhadores que, na hora do show, não aparecem - e nem devem. A capa do livro, aliás, expressa bem o lugar do roadie: McGinn está na sombra, segurando uma guitarra. Não se vê seu rosto e atrás dele o palco é todo iluminado.

Pouca gente tem noção do que é preciso para realizar um grande show: testes de equipamentos, instrumentos, iluminação, som, instalação de cabos, montagem do palco, transporte, coordenação e alimentação de toda essa equipe de bastidores... Matt McGinn fala de todas essas coisas e passa ao leitor a impressão de realmente amar o que faz. O autor se gaba também de ter feito um riff para uma canção da banda e de ter tocado com o Coldplay ao vivo em alguns shows - atrás das cortinas, é claro.

Apesar de o título anunciar a 'vida na estrada com o Coldplay', é bom ter em mente que não se trata de um livro sobre a banda. Os integrantes do Coldplay aparecem aqui e ali no texto, mas o foco é sempre o cotidiano de quem não possui glamour algum, mas que trabalha duro para o glamour que o público - que paga, muitas vezes, caro, para ver seus ídolos ao vivo - quer ver: a reputação da banda está nas mãos do roadie, conta o autor.

Um toque de humor acompanha todo o livro do roadie. Algumas piadinhas são bem sem graça, mas há passagens divertidas, como o glossário no final do texto que traz entre outras definições para termos técnicos, a seguinte: "Grua: Equipamento moderno e eficiente usado para acertar a cabeça dos roadies e derrubar seus equipamentos. Semelhante a um guindaste grande com uma bola de demolição (desculpe, câmera) em uma extremidade e um sádico (operador de câmera) na outra."

Leve, o texto é voltado para o público em geral e envolve o leitor no mundo dos bastidores trazendo algumas informações técnicas, sem se tornar enfadonho. Mesmo que você não seja fã dos ingleses do Coldplay, se tiver algum interesse nesse trabalho, a leitura de "Roadie, a minha vida na estrada com o Coldplay" é mais que recomendada.


Two Chopper Strategy


 


quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Rio de Janeiro,1985: Rock in Rio I, eu estive lá...

Foram 10 dias de música, emoção e confraternização de todas as tribos.
 Por Pepe Chaves - De Belo Horizonte
 Para o Arte Vital Blog

O Rock in Rio teve uma média de público superior a 110 mil por dia,
somando mais de um milhão pessoas em 10 dias de festival.


Mais de um milhão pessoas em 10 dias de festival















Das montanhas ao litoral


Era um mês de janeiro, como qualquer outro, chuvoso em praticamente todo o país. E assim não deixaria de ser no Rio, de Janeiro. Mas este artigo retrocede alguns meses antes, quando eu estava assistindo o “Fantástico” (Rede Globo) com meus pais, no longínquo ano de 1984, quando veio a notícia que eu mais esperava ouvir: a banda inglesa Yes retornara à ativa e viria se apresentar no Brasil. Lembro que me voltei aos meus pais e disse: “Eu vou!”. Meu pai retrucou: “Você está doido!”.

O Yes era e ainda permanece sendo a banda musical que mais admiro, sobretudo, já naquele ano de 1985, quando eu contava 20 anos e já conhecia a banda por mais de cinco anos. As atividades do Yes estavam interrompidas desde 1979, quando foi lançado o álbum “Drama”, já sem o vocalista original, Jon Anderson. De acordo com o anúncio no “Fantástico”, numa promoção do empresário Roberto Medida, o Yes, com seu vocalista original, faria o encerramento do maior festival de Rock’n Roll até então (e até hoje), acontecido no Brasil, o primeiro Rock in Rio.

Entretanto, não seria fácil sair sozinho de Itaúna, no interior de Minas e seguir até o Rio, naquela época. Somei forças com outros amigos interessados em assistir àquela apresentação, sendo eles, Geovane, Roberto, Joaquim e Elimar (Zé Mil). Programamos seguir os cinco até a capital carioca, no Fusca desse último, de ano 1966, naquele janeiro de 1985. O fusca branco com 19 anos de uso não estava lá grandes coisas, mas aceitava gasolina e estava com a documentação em dia...

Decidimos que iríamos para assistir aos três últimos dias, evidentemente, o meu maior interesse era pelo show do Yes, que fecharia o festival, cujo início se deu sete dias antes de nossa saída. Antes de seguirmos para o Rio, assistimos ao vivo pela tevê à histórica apresentação do Queen - a segunda no país – que já incendiava o evento. Cada chamada na tevê com informações do festival era motivo de emoção para nós, que transpirávamos Rock in Rio por aqueles dias.

Além de nós cinco, outros três amigos, Adilson, Levy e Márcio (Carrapa), saíram de ônibus a partir de Belo Horizonte, fazendo uma espécie de tour pelo litoral carioca, até chegar na cidade do Rio, no dia marcado para nos encontrar. Tempo em que não existia celular nem computador popular, antes, compramos uma revista especial do evento, que trazia o mapa da Cidade do Rock, na Barra da Tijuca. Pelo mapa, combinamos um local de encontro com nossos três amigos lá dentro.

No dia 24 de janeiro, abastecemos o Fusca 66 e caímos na rota do Rio. Era algo ímpar: cinco homens espremidos num fusca antigo, com a logomarca do evento e uma mensagem impressa num adesivo colado no parabrisa traseiro: “Rock in Rio, eu vou!”.

A viagem de ida foi um verdadeiro martírio para todos. Zé Mil e Roberto revezavam a direção. O fusca furou quatro pneus de Itaúna até o Rio. Foi uma via sacra em borracharias com muita conversa sobre tudo quanto são coisas da vida com borracheiros de quatro cidades diferentes naquela noite/madrugada. Eu me lembro que na época (início do da transição de ditadura para a democracia no país), por medida de economia de petróleo no Governo Figueiredo, os postos de gasolina eram obrigados a fechar suas portas às 22h – outros tempos aqueles!



Rio em Janeiro de 1985

Depois de uma noite mal dormida num fusca na estrada, muita dor pelo corpo e após quase despencar na Serra de Petrópolis por causa da neblina na alvorada, finalmente, chegamos ao Rio. Era uma cena única: aquele fusca ousado trafegando por aquelas vias que conhecíamos só pela tevê, sendo ultrapassado pelos carrões da elite carioca, a buscar o seu destino com a maior ansiedade do mundo...

Conseguimos encontrar o rumo da Barra e para lá seguimos, decididos a acampar em qualquer área de camping próxima à Cidade do Rock, já que havíamos levado barracas. Conseguimos uma área bem em frente à Cidade do Rock, com preços módicos e ducha fria durante o dia. E lá ficamos, acampados numa fina areia, às margens da lagoa de Marapendi, podendo ouvir tudo o que rolava lá dentro. Ficamos amigos de alguns argentinos que foram nossos vizinhos no camping e nos declararam seu amor pelo Brasil.

A Cidade do Rock era mesmo grandiosa e consistia numa imensa arena projetada para abrigar muitos milhares de pessoas, com toda uma enorme estrutura, incluindo shoppings e várias lojas, vendendo tudo o que se possa imaginar, além de várias salas para assistir os shows ao vivo em telões e muitas outras coisas para aguçar o consumismo dos cidadãos do Rock.

Contudo, à medida em que se aproximava do palco, havia um verdadeiro lamaçal na pista de terra. A constante chuva fina que caia naqueles dias alimentou e até aumentou esse lamaçal. Debaixo do palco, para se ter uma ideia, a lama atolava até os joelhos... Não era fácil se aproximar do palco, mas, por sorte nossa, o carioca é mesmo um povo que sempre dá um jeito de contornar os problemas: camelôs vendiam sacos plásticos de lixo, para se amarrar nas pernas (tipo bota) e enfrentar a lama; isso se quisesse ver as apresentações de perto. Havia também à venda no local, “bonés-guarda-chuvas”, algo ridículo, mas a bem da verdade, extremamente útil naquelas alturas. Eu optei por dois sacos de lixo em cada pé.

E lá, no local combinado, conseguimos nos encontrar com os outros três companheiros de Itaúna. Assistimos a grandes apresentações, além do Yes, naqueles três últimos dias do Rock in Rio. Entre elas, Gilberto Gil, Pepeu e Baby Consuelo, Skorpions, Whitesnake, Blitz, entre outros. No entanto, houve uma perda irreparável de um show, que eu me arrependeria para o resto da vida. Perdemos a apresentação do Barão Vermelho, numa das últimas aparições com Cazuza, porque decidimos ir à praia. A mais próxima era a de Recreio dos Bandeirantes e para lá seguimos numa lotação. O caminho era só mato e árvores, a praia era linda e em nada tinha a ver com o urbanizado Recreio dos Bandeirantes que me surpreendeu duas décadas depois.

A praia foi ótima, mas na volta, o ônibus nos deixou a vários quilômetros do evento... Foi um martírio. Tivemos que andar por uma enorme rodovia, vendo a Cidade do Rock ao longe, creio, a uns três quilômetros ou mais. Pelo caminho, encontramos um conterrâneo nosso, o Dercinho, acampado clandestinamente num grupamento à beira da estrada. Curioso foi que ele se tornou objeto de comentários na cidade, ao ser entrevistado pela Rede Globo pouco antes de nossa viagem. O caminho asfaltado era longo e à medida que nos aproximávamos do local do evento, podíamos ouvir alguém cantando, “Estamos meu bem por um triz, pro dia nascer feliz...”. Era o Cazuza, já se apresentando com o Barão Vermelho no palco e nós a uns dois quilômetros de lá. Aumentamos o passo e ouvimos ao vivo mais duas músicas do Barão, até chegarmos correndo no camping, pegarmos os passaportes e entrarmos voando. Contudo, ao adentrarmos a Cidade do Rock, o Barão Vermelho acabara de sair do palco... Sentimos uma enorme frustração naquele momento, que só seria acalentada pelo show de Gilberto Gil a seguir.

Na cidade do Rock, estivemos também com outros itaunenses, entre eles o Rômulo (Coroa) e o Carlos (Grilo da Lagoinha) e até o baixista Magrão, do 14 Bis. Durante todo o tempo em que permanecemos no local, não presenciamos nenhum desentendimento, desavença ou ato de violência. Tudo transcorreu na mais perfeita paz e não havia nenhum excesso de policiamento.




 Yes, isso é Rock do bom



















O show do Yes foi um espetáculo à parte. Aquela noite era mágica, a chuva entendeu isso e não deu às caras. Numa época em que os raios laser despontavam como parte integrante das grandes apresentações musicais, um feixe verde saiu do palco e seguiu rumo ao espaço. Entravam em cena os músicos do Yes. Ainda que sem o seu guitarrista tradicional, Steve Howe, (substituído pelo excelente Trevor Rabin) estavam ali os maiores músicos da Terra, na minha concepção – anos mais tarde, em 1998, eu assistiria em Belo Horizonte a uma segunda apresentação do Yes, na ocasião, com o guitarrista Howe.

Numa apresentação que mesclou as tradicionais canções da banda com as novas e diferenciadas composições do álbum recém lançado, o “90125”, o Yes emocionara os seus admiradores. Conseguimos um bom lugar para assistir ao show, onde não havia lama e a uma boa distância do palco. Estávamos com binóculos e pudemos ver alguns detalhes “de perto”.

O show durou cerca de 1h30, com uma boa interatividade de Jon Anderson com a plateia repleta. O músico britânico, trajando uma camiseta com os dizeres “I Love Rio”, até arriscou falar o português por boas oportunidades. O tecladista Tony Kaye usava uma camisa do uniforme número dois do Flamengo. E ali na nossa frente estavam o intrépido baixista Chris Squire e o excelente baterista Alan White - que tocou também na Plastic Ono Band de John Lennon e Yoko.

O repertório que trazia as principais composições da banda emocionou o público, que não permitia que os músicos deixassem o palco ao final. Ao findar o show do Yes, os músicos deixaram  o palco, mas a massa gritou um forte bis e eles retornaram. Foram apresentadas mais três canções, sendo a que fechou o Rock In Rio I, “Owner the lonely hearts”. Os músicos se abraçaram, saudaram o público e deixaram o palco, agora, definitivamente.

E, à medida em que sentíamos que o evento terminaria ali, depois daquele show, aqueles momentos ganhavam mais importância e emoção, dado ao sacrifício e as dificuldades para estarmos ali, testemunhando um momento histórico e legendário para o Rock no Brasil.

Após a saída da banda, as luzes da plateia permanecem apagadas e o hino do Rock in Rio começa a ser ouvido, “Se a vida começasse agora, se o mundo fosse nosso de vez...”. Com sua trilha sonora, o maior evento de Rock do país estava terminando. Não sem antes, derramar cachoeiras de fogos de artifício, do alto de alguns prédios ao redor da grande arena, além de um intenso espetáculo pirotécnico do lado de fora. Findava ali, o maior espetáculo do Rock, na terra do Carnaval.


Rio, Rock e número

Chuva e Alegria

















De 17 a 27 de janeiro, transcorreram 90 horas de muita música da melhor qualidade, emanada pelas distintas vertentes roqueiras. A Cidade do Rock foi uma obra grandiosa, construída num terreno de 250 mil m², onde foram necessários 77 mil caminhões de terra para sua concepção.

De acordo com a organização do festival, o palco utilizado ainda é considerado o maior do mundo, com seus cinco mil metros quadrados, 80 metros de boca de cena e três palcos móveis. A estrutura também era impecável na Cidade do Rock: dois centros hospitalares, dois shopping centers, dois heliportos e varios Fast Foods, Beer Garden e lojas de conveniência.

Os sistemas de sonorização e iluminação eram sincronizados por computador, numa época em que a popularização desta ferramenta era sequer cogitada. Um público superior a 1,3 milhão de pessoas esteve prestigiando os 10 dias de evento, o que equivale a cinco vezes mais que o Festival de Woodstock.

Ainda de acordo com a organização, durante os 10 dias de apresentações foram consumidos: 1,6 milhões de litros de bebidas em quatro milhões de copos; 900 mil sanduíches; 7,5 mil quilos de macarrão; 500 mil pedaços de pizza e, curiosamente, 800 quilos de gel para cabelo. O Mc Donald's entrou para o Guiness, o livro dos recordes e lá ainda permanece, ao vender em 24 horas, 58 mil sanduíches. E diga-se, lá, nós passamos a sanduíches. Na época, foram vendidas no país quase dois milhões de camisetas alusivas ao festival.

O melhor saldo após a realização do mega festival, seria o Brasil ter entrado para o roteiro de apresentações das grandes estrelas musicais, a partir dos anos seguintes. Outras versões do Rock in Rio foram produzidas alguns anos depois, inclusive, na Europa. Mas nenhuma delas deteve a originalidade e o glamour daquela primeira.


Go back to Minas


No dia seguinte ao encerramento do Rock in Rio, desmontamos as barracas, batemos a areia dos corpos e das tralhas e “take the long way Minas” - num trocadilho com o Roger Hodgson, do Supertramp. Ao sairmos do Rio, um errinho típico de mineiro: trocamos a saída para Petrópolis pela de Teresópolis. E na direção errada, lá fomos nós, queimando a sagrada gasolina do Figueiredo por cerca de 60 quilômetros de inúteis idas e voltas, até descobrirmos o correto caminho mineiro.

Felizmente, a viagem de volta foi amena e o fusca se comportou bem, inclusive, não furou nem mesmo um pneu, extravasando as nossas expectativas mais otimistas, que previam dois furos na volta. Enfim, retornamos sãos e salvos à terra de Sant’Ana, trazendo do Rio, excelentes recordações musicais e turísticas, bem como do amável povo carioca que nos recebeu muitíssimo bem, por todos os locais em que passamos.

Ao chegarmos em Itaúna, um dos limpadores do parabrisa do fusca simplesmente se soltou. Era um sinal de que o “Potente” tinha se exaurido com aquela aventura. Em compensação, seus tripulantes estavam mais leves, de alma lavada e com muita história para contar daqueles dias mágicos que vão existir para sempre.







Na íntegra, o show do Yes no Rock in rio em 1985







* Pepe Chaves é editor do diário digital  Via Fanzine e da Rede VF.
- Fotos: divulgação.

- Tópicos relacionados:
  Yes: Magia musical que atravessa décadas
  Outros artigos sobre música em VF
  U2 & tecnologia de ponta encantam o público, São Paulo, 2011
  U2 no Morumbi: apoteose de som e luz, São Paulo, 2006

- Produção: pepe Chaves.
  © Copyright 2004-2011, Pepe Arte Viva Ltda.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Roberto Carlos não quis falar com Deus





Em 1981, Roberto Carlos pediu uma canção a Gilberto Gil, para gravar. “Do que eu vou falar?” – perguntou-se Gil. “Ele é tão religioso… E se eu quiser falar de Deus? E se eu quiser falar de falar com Deus?”

Gilberto Gil






















Com esses pensamentos e inquirições feitas durante uma sesta,  Gil deu início a uma exaustiva enumeração: ‘Se eu quiser falar com Deus, tenho que isso, que aquilo, que aquilo outro’. E saiu de casa. À noite, voltou e organizou as frases em três estrofes.

Roberto não gravou, porque sua concepção de Deus é deveras tacanha (...) diferente, opus dei demais. Elis Regina e o próprio Gil gravaram. Hoje em dia, mais de três décadas depois, Gil é pouco religioso, mas de vez em quando reza um “Pai Nosso”, por via das dúvidas.





"Se eu quiser falar com Deus"
    Gilberto Gil

Se eu quiser falar com Deus
Tenho que ficar a sós
Tenho que apagar a luz
Tenho que calar a voz
Tenho que encontrar a paz
Tenho que folgar os nós
Dos sapatos, da gravata
Dos desejos, dos receios
Tenho que esquecer a data
Tenho que perder a conta
Tenho que ter mãos vazias
Ter a alma e o corpo nus

Se eu quiser falar com Deus
Tenho que aceitar a dor
Tenho que comer o pão
Que o diabo amassou
Tenho que virar um cão
Tenho que lamber o chão
Dos palácios, dos castelos
Suntuosos do meu sonho
Tenho que me ver tristonho
Tenho que me achar medonho
E apesar de um mal tamanho
Alegrar meu coração

Se eu quiser falar com Deus
Tenho que me aventurar
Tenho que subir aos céus
Sem cordas pra segurar
Tenho que dizer adeus
Dar as costas, caminhar
Decidido, pela estrada
Que ao findar vai dar em nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Do que eu pensava encontrar



Elis Regina - Se eu quiser falar com Deus - ao vivo em P.O

sábado, 13 de setembro de 2014

A Bossa Nova tipo exportação de Bebel Gilberto

Por Antonio Siqueira



¨Tudo" de Bebel: Made in Brazil
Sofisticado mas ao mesmo tempo fácil, o novo disco de Bebel Gilberto, "Tudo", chega depois de cinco anos sem novidades na carreira da cantora. O repertório traz 12 belas faixas, cantadas ora em português, ora em inglês. E ainda há uma canção em francês, "Tout Est Bleu".

O disco abre com a bela "Somewhere Else", e nela Bebel passa do português ao inglês de uma forma tão suave que quase não dá para perceber. É como se sua voz fosse mais um elemento, junto aos outros instrumentos, a criar um clima intimista.

"Nada Não", que vem logo em seguida, é mais lenta, do tipo que faz pensar numa tarde de domingo preguiçosa. "Tom de Voz" é um sambinha com participação de Seu Jorge, criando um dueto interessante, focado no contraste das duas vozes.

Além das canções autorais e das coescritas com o guitarrista Cesar Mendez, o disco traz uma música de Luiz Bonfá e outra de Pedro Baby. E ainda algumas versões: "Vivo Sonhando", de Tom Jobim, e "Harvest Moon", de Neil Young. Duas ótimas versões, vale dizer.

Variado, "Tudo" traz pouco mais de 45 minutos de músicas bonitas e suaves, mas com diversas nuances. Há muita percussão (berimbau, chocalho) e letras que misturam alegrias e dissabores. A produção é de Mario Caldato Jr. e de Liminha. Além de Cesar Mendez, o disco ainda tem Masa Shimizu (guitarra), Didi Gutman (teclado), Kassim (baixo, guitarra), Miguel Atwood-Ferguson (arranjos) e Mauro Refosco (bateria, percussão).

Filha de João Gilberto e da cantora Miúcha, Bebel nunca se desprenderá de sua genealogia - e nem deve, afinal são suas raízes. Talvez a Bossa Nova seja indissociável de Bebel Gilberto. O que não a impede de misturar ao estilo diversas outras coisas. O fato é que "Tudo" encanta logo de cara. Quanto mais você ouve, mais detalhes interessantes descobre.

Em seu quinto disco, Bebel não precisa se preocupar com o que vão dizer, não é mesmo? É Bossa Nova para gringo? É sim. Afinal não são só os brasileiros que consomem música de fora.




   Bebel Gilberto - Saudade Vem Correndo

   








quarta-feira, 27 de agosto de 2014

O gênio indomável de Sérgio Ricardo



O cineasta, artista plástico, instrumentista, cantor e compositor paulista João Lutfi, que adotou o pseudônimo de Sérgio Ricardo, afirma que a letra de “Calabouço” foi inspirada em Edson Luis, estudante assassinado por militares no Restaurante Calabouço, em 1968, no Rio de Janeiro, durante a ditadura militar que vigorava no Brasil. A música foi gravada no LP Sérgio Ricardo, em 1973, pela Continental.

Sergio Ricardo
















CALABOUÇO

Sérgio Ricardo

Olho aberto ouvido atento
E a cabeça no lugar
Cala a boca moço, cala a boca moço
Do canto da boca escorre
Metade do meu cantar
Cala a boca moço, cala a boca moço
Eis o lixo do meu canto
Que é permitido escutar
Cala a boca moço. Fala!

Olha o vazio nas almas
Olha um violeiro de alma vazia

Cerradas portas do mundo
Cala a boca moço
E decepada a canção
Cala a boca moço
Metade com sete chaves
Cala a boca moço
Nas grades do meu porão
Cala a boca moço
A outra se gangrenando
Cala a boca moço
Na chaga do meu refrão
Cala a boca moço
Cala o peito, cala o beiço
Calabouço, calabouço

Olha o vazio nas almas
Olha um violeiro de alma vazia

Mulata mula mulambo
Milícia morte e mourão
Cala a boca moço, cala a boca moço
Onde amarro a meia espera
Cercada de assombração
Cala a boca moço, cala a boca moço
Seu meio corpo apoiado
Na muleta da canção
Cala a boca moço. Fala!

Olha o vazio nas almas
Olha um violeiro de alma vazia

Meia dor, meia alegria
Cala a boca moço
Nem rosa nem flor, botão
Cala a boca moço
Meio pavor, meia euforia
Cala a boca moço
Meia cama, meio caixão
Cala a boca moço
Da cana caiana eu canto
Cala a boca moço
Só o bagaço da canção
Cala a boca moço
Cala o peito, cala o beiço
Calabouço, calabouço

Olha o vazio nas almas
Olha um violeiro de alma vazia

As paredes de um inseto
Me vestem como a um cabide
Cala a boca moço, cala a boca moço
E na lama de seu corpo
Vou por onde ele decide
Cala a boca moço, cala a boca moço
Metade se esverdeando
No limbo do meu revide
Cala o boca moço. Fala!

Olha o vazio nas almas
Olha um violeiro de alma vazia

Quem canta traz um motivo
Cala a boca moço
Que se explica no cantar
Cala a boca moço
Meu canto é filho de Aquiles
Cala a boca moço
Também tem seu calcanhar
Cala a boca moço
Por isso o verso é a bílis
Cala a boca moço
Do que eu queria explicar
Cala a boca moço
Cala o peito, cala o beiço
Calabouço, calabouço

Olha o vazio nas almas
Olha um brasileiro de alma vazia.




Sergio Ricardo - "Calabouço"
 



segunda-feira, 11 de agosto de 2014

O Fator Deus


Por José Saramago

O Deus Abraâmico 



















Algures na Índia. Uma fila de peças de artilharia em posição. Atado à boca de cada uma delas há um homem. No primeiro plano da fotografia um oficial britânico ergue a espada e vai dar ordem de fogo. Não dispomos de imagens do efeito dos disparos, mas até a mais obtusa das imaginações poderá “ver” cabeças e troncos dispersos pelo campo de tiro, restos sanguinolentos, vísceras, membros amputados. Os homens eram rebeldes.

Algures em Angola. Dois soldados portugueses levantam pelos braços um negro que talvez não esteja morto, outro soldado empunha um machete e prepara-se para lhe separar a cabeça do corpo. Esta é a primeira fotografia. Na segunda, desta vez há uma segunda fotografia, a cabeça já foi cortada, está espetada num pau, e os soldados riem. O negro era um guerrilheiro. Algures em Israel. Enquanto alguns soldados israelitas imobilizam um palestino, outro militar parte-lhe à martelada os ossos da mão direita. O palestino tinha atirado pedras. Estados Unidos da América do Norte, cidade de Nova York. Dois aviões comerciais norte-americanos, sequestrados por terroristas relacionados com o integrismo islâmico lançam-se contra as torres do World Trade Center e deitam-nas abaixo. Pelo mesmo processo um terceiro avião causa danos enormes no edifício do Pentágono, sede do poder bélico dos States. Os mortos, soterrados nos escombros, reduzidos a migalhas, volatilizados, contam-se por milhares.

As fotografias da Índia, de Angola e de Israel atiram-nos com o horror à cara, as vítimas são-nos mostradas no próprio instante da tortura, da agônica expectativa, da morte ignóbil. Em Nova York tudo pareceu irreal ao princípio, episódio repetido e sem novidade de mais uma catástrofe cinematográfica, realmente empolgante pelo grau de ilusão conseguido pelo engenheiro de efeitos especiais, mais limpo de estertores, de jorros de sangue, de carnes esmagadas, de ossos triturados, de merda. O horror, agachado como um animal imundo, esperou que saíssemos da estupefação para nos saltar à garganta. O horror disse pela primeira vez “aqui estou” quando aquelas pessoas saltaram para o vazio como se tivessem acabado de escolher uma morte que fosse sua.

Agora o horror aparecerá a cada instante ao remover-se uma pedra, um pedaço de parede, uma chapa de
alumínio retorcida, e será uma cabeça irreconhecível, um braço, uma perna, um abdômen desfeito, um tórax
espalmado. Mas até mesmo isto é repetitivo e monótono, de certo modo já conhecido pelas imagens que nos chegaram daquele Ruanda-de-um-milhão-de-mortos, daquele Vietnã cozido a napalm, daquelas execuções em estádios cheios de gente, daqueles linchamentos e espancamentos daqueles soldados iraquianos sepultados vivos debaixo de toneladas de areia, daquelas bombas atômicas que arrasaram e calcinaram Hiroshima e Nagasaki, daqueles crematórios nazistas a vomitar cinzas, daqueles caminhões a despejar cadáveres como se de lixo se tratasse. De algo sempre haveremos de morrer, mas já se perdeu a conta aos seres humanos mortos das piores maneiras que seres humanos foram capazes de inventar. Uma delas, a mais criminosa, a mais absurda, a que mais ofende a simples razão, é aquela que, desde o princípio dos tempos e das civilizações, tem mandado matar em nome de Deus. Já foi dito que as religiões, todas elas, sem exceção, nunca serviram para aproximar e congraçar os homens, que, pelo contrário, foram e continuam a ser causa de sofrimentos inenarráveis, de morticínios, de monstruosas violências físicas e espirituais que constituem um dos mais tenebrosos capítulos da miserável história humana.

Ao menos em sinal de respeito pela vida, devíamos ter a coragem de proclamar em todas as circunstâncias esta verdade evidente e demonstrável, mas a maioria dos crentes de qualquer religião não só fingem ignorá-lo, como se levantam iracundos e intolerantes contra aqueles para quem Deus não é mais que um nome, o nome que, por medo de morrer, lhe pusemos um dia e que viria a travar-nos o passo para uma humanização real. Em troca prometeram-nos paraísos e ameaçaram-nos com infernos, tão falsos uns como os outros, insultos descarados a uma inteligência e a um sentido comum que tanto trabalho nos deram a criar. Disse Nietzsche que tudo seria permitido se Deus não existisse, e eu respondo que precisamente por causa e em nome de Deus é que se tem permitido e justificado tudo, principalmente o pior, principalmente o mais horrendo e cruel. Durante séculos a Inquisição foi, ela também, como hoje os talebanes, uma organização terrorista que se dedicou a interpretar perversamente textos sagrados que deveriam merecer o respeito de quem neles dizia crer, um monstruoso conúbio pactuado entre a religião e o Estado contra a liberdade de consciência e contra o mais humano dos direitos: o direito a dizer não, o direito à heresia, o direito a escolher outra coisa, que isso só a palavra heresia significa.

E, contudo, Deus está inocente. Inocente como algo que não existe, que não existiu nem existirá nunca,
inocente de haver criado um universo inteiro para colocar nele seres capazes de cometer os maiores crimes
para logo virem justificar-se dizendo que são celebrações do seu poder e da sua glória, enquanto os mortos se vão acumulando, estes das torres gêmeas de Nova York, e todos os outros que, em nome de um Deus tornado assassino pela vontade e pela ação dos homens, cobriram e teimam em cobrir de terror e sangue as páginas da história. Os deuses, acho eu, só existem no cérebro humano, prosperam ou definham dentro do mesmo universo que os inventou, mas o “fator deus”, esse, está presente na vida como se efetivamente fosse o dono e o senhor dela. Não é um Deus, mas o “fator Deus” o que se exibe nas notas de dólar e se mostra nos cartazes que pedem para a América (a dos Estados Unidos, e não a outra…) a bênção divina. E foi no “fator Deus” em que o Deus islâmico se transformou, que atirou contra as torres do World Trade Center os aviões da revolta contra os desprezos e da vingança contra as humilhações. Dir-se-á que um Deus andou a semear ventos e que outro Deus responde agora com tempestades. É possível, é mesmo certo. Mas não foram eles, pobres Deuses sem culpa, foi o “fator Deus”, esse que é terrivelmente igual em todos os seres humanos onde quer que estejam e seja qual fora religião que professem, esse que tem intoxicado o pensamento e aberto as portas às intolerâncias mais sórdidas, esse que não respeita senão aquilo em que manda crer, esse que depois de presumir ter feito da besta um homem acabou por fazer do homem uma besta.

Ao leitor crente (de qualquer crença…) que tenha conseguido suportar a repugnância que estas palavras
provavelmente lhe inspiraram, não peço que se passe ao ateísmo de quem as escreveu. Simplesmente lhe rogo que compreenda, pelo sentimento de não poder ser pela razão, que, se há Deus, há só um Deus, e que, na sua relação com ele, o que menos importa é o nome que lhe ensinaram a dar. E que desconfie do “fator Deus”. Nãofaltam ao espírito humano inimigos, mas esse é um dos mais pertinazes e corrosivos. Como ficou demonstrado e desgraçadamente continuará a demonstrar-se.



*José de Sousa Saramago foi um escritor, argumentista, teatrólogo, ensaísta, jornalista, dramaturgo, contista, romancista e poeta português. Foi galardoado com o Nobel de Literatura de 1998.

★16 de novembro de 1922
 ✝
  18 de junho de 2010

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Porquê?


Nós somos uma triste crônica construída por amigos e inimigos



O caminho lógico




















Olhar o mundo e não encontrar nada. Como gritar para ao espaço e não ser ouvido, tampouco correspondido. O absoluto vácuo, solidão não existe, existe sim, o nada. A oração do rei, do rei posto, morto, desencarnado. Do rei que era justo e rude, que era sábio e  errante. O nada é o céu, mas um céu vazio... Azul. Porém vazio.

Uma vida inteira é pouco para errar, para caminhar vazio, uma vida inteira que é um universo  sem chão e, agora, sem teto.  Porém, é uma vida, Acredite. Entretanto é necessário agradecer seja lá ao que for qualquer desgraça forjada pelo que aprendemos a chamar de existência.  Somos concebidos, nascemos, vivemos sem saber ao certo para quê e para onde, mas nascemos e vivemos. Seja de uma puta louca ou de uma santa, mas estamos condenados a existir.

Dizia Jean Paul - Sartre do alto de sua genialidade existencialista: "_Existimos em Função do Futuro." Ora, antes de vivermos, a vida é coisa nenhuma. Atemporalidade? Pode ser. A imortalidade pela literatura, a filosofia como meio de ascender; Mas ascender ao quê? O cerne da escrita, da criação, da demanda desesperada de ideias. Mas vale a pena viver mergulhado em angústias e sofrimentos que só cessam (ou não) no coma eterno da morte?

Todos os escritos possuem um sentido, por que nunca se escreve para si mesmo e quem escreve detém para si o mundo. Mas quem escreve morre a cada dia e muito. A ausência. O fim! Aquele que escreve convive com isso, com perdas. Para ser um bom escritor é preciso sofrer e morrer muito a cada dia. Quando, alguma vez, a liberdade irrompe numa alma humana , os deuses deixam de poder seja o que for contra este ser livre. Porém esta liberdade chama-se morte e a morte assusta. Posso afirmar, entretanto, que esta só assusta a quem não flertou ou sentiu-a bem diante à face, diante da própria alma. E posso afirmar categoricamente que não é um fenômeno tão assustador, quando atravessamos os estágios mais dolorosos e deixamos de sentir a Dor. O alívio é o anuncio da passagem e é a sensação mais nirvânica que se pode ter.

A violência, seja qual for a maneira como se manifesta, é sempre uma derrota. A violência da vida em si contra mim, contra você e contra todos é a vitória de quem? E a derrota? A derrota já está gravada no DNA da maioria dos passantes e viventes neste orbe desajustado e vil. A traição, o desprezo, a espada, a bala que atravessa o peito, o escuro, o escarro...é tudo a mesma coisa! O alimento da maioria das almas que ocupam corpos nesta terra miserável é a maldade. Falo por mim. Alimento-me da maldade ou do amor que me dão na mesma intensidade; faço amor e faço mal com o mesmo prazer e êxtase. A natureza só é perfeita para os hipócritas que se mascaram e a reação é irmã siamesa da ação, seja ela qual for. O melhor é seguir a estrada e enfrentar o demônio mundo desprezando-o.

A misantropia não é insanidade, muito pelo contrário, é uma demonstração de bom senso quando se lida com bestas-feras à solta, agindo livremente, matando almas e corpos sob o julgo infame do livre arbítrio. Este plano terrestre foi moldado para espiação e purgatório geral. Se o espírito insiste em estar aqui, alguma coisa não vai bem. Tu és metade vítima, metade cúmplice, como todos os outros e tuas Mãos estarão Sujas. Lava-las é um simbolismo ultrapassado e ignóbil. Ridiculamente romano.

A Bíblia foi o livro mais sabotado na história da humanidade e suas crenças. O que deveria ser o referencial mais legítimo da espiritualidade, acabou sendo um elemento de indulgência vilipendiado e massacrado em sua essência pela igreja que insiste em representar Jesus de Nazaré. Porém, muitas passagens ali descritas demonstram que, de fato, o tão esperado Messias nasceu e cresceu entre os notáveis monges Essênios de Qunrã e tentou, em vão, ensinar física quântica há dois mil anos à uma humanidade que só foi considera-la quase dois mil anos depois; Lucas 21:17-19 lê-se e vivencia-se: "Todos odiarão vocês por causa do meu nome. Contudo, nenhum fio de cabelo da cabeça de vocês se perderá. É perseverando que vocês obterão a vida. " Algo não deu certo. E creia-me; é tarde demais!

É chegada a hora de ser abandonado e abandonar. É chegada a hora de sorver outras lições. É chegada a hora do ceticismo, da decadência de princípios...é chegada a hora de vestir-se de vergonha, principalmente na cara, na face oculta, nos confins do inferno íntimo e pisar no chão repleto de cadáveres vivos.


Au revoir 


segunda-feira, 28 de julho de 2014

A noite solitária


Aqui forja-se a noite solitária que eu não posso fugir, é a minha sina, o meu destino...é inútil.

By Arte Vital Blog



domingo, 27 de julho de 2014

O Brasil foi de suma importância para a criação de Israel


Um povo sem memória não evolui, tampouco consegue defender-se e/ou defender a história de sua pátria, o que é profundamente lamentável.

Por Antonio Siqueira


Oswaldo Aranha














Sem entrar no mérito da questão no que se refere à convocação do embaixador em Telavive ao país, absolutamente desproporcional e agressivamente despropositada a reação da Chancelaria israelense. Afirmar que o Brasil é um anão no campo da diplomacia, cuja presença não é levada a sério, é simplesmente um absurdo.

Não pode ser considerado sem importância o país cujo representante, Oswaldo Aranha tornou-se o primeiro presidente da Assembléia-Geral da ONU e, nesta qualidade em 1947, tornou possível a criação do próprio Estado de Israel (que sem medo de qualquer represália, afirmo aqui que jamais deveria ser criado e assentado ali naquela região). Foi a votação do projeto que dividiu a Palestina em dois Estados um deles o de Israel.

Não pode ser considerado anão na diplomacia uma das apenas 11 nações que mantêm relações com todas as outras. Tão pouco pode ser minimizada a importância de um país que foi o único da América Latina a declarar guerra a Alemanha de Hitler, a Itália de Mussolini, ao Japão de Hiroito, apesar das escorregadas de Getúlio Vargas. Portanto ao eixo nazi-facista.

Não tivesse o Brasil importância no cenário mundial, não teria sofrido o covarde ato em que submarinos nazistas da Alemanha afundaram vinte e dois navios mercantes brasileiros indefesos, isto segundo conta uma história, mal contada ou não, fossem alemães por motivos cáusticos e estratégicos ou os Estados Unidos da América de Roosevelt a querer nos arrastar à guerra...o sofrimento e o tormento foram os mesmos num mundo tão infame. Em vários casos com requinte de crueldade: depois do torpedeamento, os submarinos vinha à tona e com metralhadoras no convés alvejavam os tripulantes que tentavam sobreviver.

A Chancelaria de Israel esqueceu que a Força Expedicionária Brasileira lutou bravamente nos campos da Itália, sob o comando do general Paton, destacando-se em vários episódios históricos como a tomada de Montecastelo, quando, na escalada, encontraram-se sob o fogo inimigo. E encontraram judeus famintos, maltrapilhos, torturados, vilipendiados e prisioneiros dos alemães...e os libertaram. Muitos oficiais brasileiros ficaram na Europa para o rescaldo de guerra, alguns por até um ano. Um tio meu participou de jornadas de libertação e com estes companheiros de várias nações, encontrou, dentre outras carnificinas, dois campos de concentração na Polônia e em Kiev, na Ucrânia. Não gosto, pessoalmente, de judeus ortodoxos e lido, mas com muito tato, com os da linha mais Easy, sobretudo no que concerne a trabalho. Acho que deveriam retratar-se. é muito fácil tornar-se antissemita de uma hora para outra, enojar-se de um judeu é simples, é uma linha tênue. Não são e nunca foram criatura de fácil relacionamento e a distância é excelente solução.

Israel, ao invés de escolher o Brasil como alvo político, deveria, isso sim, responder ao conteúdo das restrições que vêm sendo feitas pelo exagero das reações a que tem direito pelos ataques que sofre. Não quis discutir essa desproporcionalidade, concretamente. Achou normal e em resposta citou os 7 a 1 como exemplo de fato desproporcional. Neste ponto praticou um erro diplomático muito grande tanto sob o aspecto político quanto sob o prisma cultural. Além de esquecerem-se de que os nobres alemães que nos submeteram à esta humilhação desportiva no campo de jogo são netos ou bisnetos dos mesmos alemães que há pouco mais de 70 anos, mataram 6 milhões de judeus de maneira sistemática e industrial.


quarta-feira, 23 de julho de 2014

O Amor - Verdadeiro ou Falso, para o poeta é amor



O poeta Dante Milano (1899-1991), nascido em Petrópolis (RJ), é um dos poetas representativos da terceira geração do Modernismo. Em “Poema do Falso Amor”, Milano mostra a diferença entre o falso e o verdadeiro amor, para questionar: Qual dos dois é o verdadeiro?


"Poema do falso amor"
   Dante Milano

O falso amor imita o verdadeiro
Com tanta perfeição que a diferença
Existente entre o falso e o verdadeiro
É nula. O falso amor é verdadeiro
E o verdadeiro falso. A diferença
Onde está? Qual dos dois é o verdadeiro?

Se o verdadeiro amor pode ser falso
E o falso ser o verdadeiro amor,
Isto faz crer que todo amor é falso
Ou crer que é verdadeiro todo amor.
Ó verdadeiro Amor, pensam que és falso!
Pensam que és verdadeiro, ó falso Amor!






Versão musicada do poema de Dante 

 



domingo, 20 de julho de 2014

Não Pare de Acreditar

Helloooooo

Em 1973, Neal Schon e Gregg Rolie, que eram músicos que acompanhavam o guitarrista mexicano CARLOS SANTANA, formaram a GOLDEN GATE RHYTHM SECTION com intuito de servir de banda de apoio para artistas que se apresentavam na área de São Francisco-CA.



Rapidamente, a banda abandonou a ideia de dar suporte para outros artistas e passou a desenvolver um trabalho voltado para o JAZZ-FUSION.

A assinatura de um contrato de gravação com a COLUMBIA RECORDS e um novo nome seriam os próximos passos naturais para o grupo.

A partir de 1975 começaram a se apresentar com o nome que os tornaria conhecidos mundialmente: JOURNEY.

As vendas do primeiro álbum, JOURNEY (1975), e de seu sucessor, LOOK INTO THE FUTURE  (1976), foram decepcionantes.

A gravadora então impôs que a banda fizesse um trabalho mais comercial.

NEXT (1977) é lançado com faixas mais curtas e vocais, numa clara tentativa de tornar a banda mais comercial. Mais uma vez, as vendas foram desapontadoras.

Preocupada em não desperdiçar o talento de músicos tão bons, a COLUMBIA novamente interviu e dessa vez propôs uma mudança completa de estilo. Um cantor, com fortes características como frontman, deveria ser incorporado a banda.

Em 1977, JOURNEY apresentou seu novo cantor: Steve Perry.


A límpida e absurdamente potente voz de tenor de PERRY acrescentou a banda um claro viés POP. As vendas de seus próximos álbuns, INFINITY (1978), EVOLUTION (1979) e DEPARTURE (1980) tiveram um aumento significativo. O grupo começa, nessa época, a frequentar as paradas de sucesso.

Em 1979, Gregg Rollie pela segunda vez deixa uma banda de sucesso. Jonathan Cain é seu substituto.



Após o lançamento do álbum ao vivo, CAPTURED (1980), a banda lançaria seu maior sucesso ESCAPE (1981). Puxado pelas canções Don´t Stop Belevin´e Open Arms, as vendas dispararam e o grupo passa a ter status de superstars, apresentando-se através dos EUA em gigantescas arenas.



FRONTIERS (1983) segue o mesmo caminho do lançamento anterior e vai para o topo das paradas.

Claramente, a entrada de Steve Perry para a banda, redefinindo seu som, foi o elemento catalisador para todo esse sucesso.

Naquele momento Perry já era conhecido como THE VOICE



Em 1986, já sem o baixista Ross Valory e super-baterista Steve Smith, lançam RAISED ON RADIO, também com boas vendas.

Após a tour de RAISED ON RADIO, apoiada por músicos convidados, Perry, Schon e Cain resolvem por a banda em hibernação.

Os três integrantes lançam projetos, com alguma repercussão, mas sem atingir os patamares que o grupo conseguiu anteriormente.

TRIAL BY FIRE (1995) é lançado com a volta da formação mais famosa do grupo.

O single When You Loves A Woman  é indicado ao GRAMMY.

Pouco antes do incio da tour de TRIAL BY FIRE, Perry apresenta problemas de saúde.

Um acidente, durante uma escalada no Havaí, o coloca numa mesa de operação para colocar uma prótese em seu quadril. A recuperação seria longa.

Schon, Cain, Valory resolvem inciar a turnê sem Perry. 

Steve Augeri, um cantor com uma voz extremamente parecida com a de Perry, mas sem seu carisma, é colocado em seu lugar. 



Steve Smith também deixa a banda para se dedicar a sua banda de jazz, VITAL INFORMATION. Em seu lugar, assume as baquetas, Dean Castronovo, que já havia tocado anteriormente com Schon and Cain.

Parecia que a banda caminhava, a passos largos, para voltar ao ostracismo, se repetindo indefinidamente e vivendo de seu passado, quando, em 2006, Steve Augeri foi diagnosticado com INFECÇÃO CRÔNICA NA GARGANTA. Mais um caso médico com uma perspectiva de longa recuperação.

JOURNEY faz alguns shows que já estavam agendados com Jeff Scott Soto provisoriamente nos vocais. 

Mas um novo vocalista precisava ser encontrado.

Neal Schon não queria fazer audições para achar um novo frontman. Então, recorreu ao YOUTUBE em sua busca.

Alguns candidatos, sem sucesso, chegaram a ser testados. Nenhum deles satisfez Schon e Cain.

Em dezembro de 2007, Schon encerrou suas buscas. Nas Filipinas, encontrou Arnel Pineda.

Pineda era um órfão filipino que, após a morte da mãe, morou nas ruas de Manila e lutava por sua sobrevivência cantando, muitas vezes, em troca de comida.

Pineda viajou para os EUA, fez audições com a banda e foi anunciado como novo vocalista do JOURNEY.



A entrada de Pineda injetou um novo animo na banda que voltou a se apresentar em grandes arenas e a ter uma venda de álbuns melhor, apesar de não atingir os números de ERA PERRY

A história de Pineda é um conto de fadas moderno. Uma Cinderela do rock´n´roll. 

Isso faz a gente pensar que nesse mundo tudo é possível. A acreditar em contos de fadas e em sonhos se realizando. 

Existem por ai muitas histórias de gatos e gatas borralheiras, como Pineda, acontecendo a todo instante.

By the way, em junho passado, depois de 20 anos sem se apresentar, Steve Perry finalmente voltou aos palcos numa, sob todos aspectos emocionante, participação em um show da banda Eels.

Basta não parar de acreditar ou Don´t Stop Belevin´