segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Roberto Carlos não quis falar com Deus





Em 1981, Roberto Carlos pediu uma canção a Gilberto Gil, para gravar. “Do que eu vou falar?” – perguntou-se Gil. “Ele é tão religioso… E se eu quiser falar de Deus? E se eu quiser falar de falar com Deus?”

Gilberto Gil






















Com esses pensamentos e inquirições feitas durante uma sesta,  Gil deu início a uma exaustiva enumeração: ‘Se eu quiser falar com Deus, tenho que isso, que aquilo, que aquilo outro’. E saiu de casa. À noite, voltou e organizou as frases em três estrofes.

Roberto não gravou, porque sua concepção de Deus é deveras tacanha (...) diferente, opus dei demais. Elis Regina e o próprio Gil gravaram. Hoje em dia, mais de três décadas depois, Gil é pouco religioso, mas de vez em quando reza um “Pai Nosso”, por via das dúvidas.





"Se eu quiser falar com Deus"
    Gilberto Gil

Se eu quiser falar com Deus
Tenho que ficar a sós
Tenho que apagar a luz
Tenho que calar a voz
Tenho que encontrar a paz
Tenho que folgar os nós
Dos sapatos, da gravata
Dos desejos, dos receios
Tenho que esquecer a data
Tenho que perder a conta
Tenho que ter mãos vazias
Ter a alma e o corpo nus

Se eu quiser falar com Deus
Tenho que aceitar a dor
Tenho que comer o pão
Que o diabo amassou
Tenho que virar um cão
Tenho que lamber o chão
Dos palácios, dos castelos
Suntuosos do meu sonho
Tenho que me ver tristonho
Tenho que me achar medonho
E apesar de um mal tamanho
Alegrar meu coração

Se eu quiser falar com Deus
Tenho que me aventurar
Tenho que subir aos céus
Sem cordas pra segurar
Tenho que dizer adeus
Dar as costas, caminhar
Decidido, pela estrada
Que ao findar vai dar em nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Do que eu pensava encontrar



Elis Regina - Se eu quiser falar com Deus - ao vivo em P.O

sábado, 13 de setembro de 2014

A Bossa Nova tipo exportação de Bebel Gilberto

Por Antonio Siqueira



¨Tudo" de Bebel: Made in Brazil
Sofisticado mas ao mesmo tempo fácil, o novo disco de Bebel Gilberto, "Tudo", chega depois de cinco anos sem novidades na carreira da cantora. O repertório traz 12 belas faixas, cantadas ora em português, ora em inglês. E ainda há uma canção em francês, "Tout Est Bleu".

O disco abre com a bela "Somewhere Else", e nela Bebel passa do português ao inglês de uma forma tão suave que quase não dá para perceber. É como se sua voz fosse mais um elemento, junto aos outros instrumentos, a criar um clima intimista.

"Nada Não", que vem logo em seguida, é mais lenta, do tipo que faz pensar numa tarde de domingo preguiçosa. "Tom de Voz" é um sambinha com participação de Seu Jorge, criando um dueto interessante, focado no contraste das duas vozes.

Além das canções autorais e das coescritas com o guitarrista Cesar Mendez, o disco traz uma música de Luiz Bonfá e outra de Pedro Baby. E ainda algumas versões: "Vivo Sonhando", de Tom Jobim, e "Harvest Moon", de Neil Young. Duas ótimas versões, vale dizer.

Variado, "Tudo" traz pouco mais de 45 minutos de músicas bonitas e suaves, mas com diversas nuances. Há muita percussão (berimbau, chocalho) e letras que misturam alegrias e dissabores. A produção é de Mario Caldato Jr. e de Liminha. Além de Cesar Mendez, o disco ainda tem Masa Shimizu (guitarra), Didi Gutman (teclado), Kassim (baixo, guitarra), Miguel Atwood-Ferguson (arranjos) e Mauro Refosco (bateria, percussão).

Filha de João Gilberto e da cantora Miúcha, Bebel nunca se desprenderá de sua genealogia - e nem deve, afinal são suas raízes. Talvez a Bossa Nova seja indissociável de Bebel Gilberto. O que não a impede de misturar ao estilo diversas outras coisas. O fato é que "Tudo" encanta logo de cara. Quanto mais você ouve, mais detalhes interessantes descobre.

Em seu quinto disco, Bebel não precisa se preocupar com o que vão dizer, não é mesmo? É Bossa Nova para gringo? É sim. Afinal não são só os brasileiros que consomem música de fora.




   Bebel Gilberto - Saudade Vem Correndo