sábado, 31 de maio de 2014

As cenas de ciúme do compositor Geraldo Pereira

Geraldo Pereira




O compositor mineiro Geraldo Theodoro Pereira (1938-1954), na letra de “Sem Compromisso”, em parceria com Nelson Trigueiro, retrata cenas de ciúme no salão.  Esse samba faz parte do LP Sinal Fechado gravado por Chico Buarque, em 1974, pela Philips.

Sem Compromisso
Nelson Trigueiro e Geraldo Pereira

Você só dança com ele
E diz que é sem compromisso
É bom acabar com isso
Não sou nenhum Pai-João
Quem trouxe você fui eu
Não faça papel de louca
Prá não haver bate-boca dentro do salão

Quando toca um samba
E eu lhe tiro pra dançar
Você me diz: Não, eu agora tenho par
E sai dançando com ele, alegre e feliz
Quando pára o samba
Bate palma e pede bis

Você só dança com ele
E diz que é sem compromisso
É bom acabar com isso
Não sou nenhum Pai-João
Quem trouxe você fui eu
Não faça papel de louca
Prá não haver bate-boca dentro do salão

Quando toca um samba
E eu lhe tiro pra dançar
Você me diz: Não, eu agora tenho par
E sai dançando com ele, alegre e feliz
Quando pára o samba
Bate palma e pede bis


Aqui na Voz de Chico Buarque em faixa do disco "Sinal Fechado", de Chico Buarque, lançado pela gravadora Philips em 1974, com arranjo e coordenação musical de Perinho Albuquerque.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Artigo de Zuenir Ventura revela o que é, de fato, o cidadão Roberto Carlos




Charge_Carlos_Emerson_Jr





















   




     Excelente o artigo de Zuenir Ventura, O Globo de sábado, destacando, para muitos, uma face do cantor Roberto Carlos, um artista a favor da censura, não só à biografia de Paulo Cesar de Araújo sobre ele, mas também chegando ao ponto de cumprimentar o ex-presidente Sarney, quando, no seu governo, proibiu a exibição  do filme “Je vous salue Marie”, de Jean Luc Godard, autor de extensa obra cinematográfica, na qual “O Acossado” tem lugar de destaque. O texto do estúpido telegrama enviado, acentuou Zuenir, encontra-se no site do jornalista Mário Magalhães.

     Aliás, diga-se de passagem, foi igualmente absurda a decisão de José Sarney, um membro da Academia Brasileira de Letras. Voltando a Roberto Carlos, o aspecto a meu ver mais impressionante, é que provavelmente tornou-se o único artista a defender a censura. Uma contradição profunda que o expõe a uma situação muito ruim, além de vergonhosa. Esqueceu que a inspiração da arte está na liberdade de criação e que, até hoje, no mundo, não há exemplo de uma obra interditada no passado que depois não tenha sido exibida livremente. Alias, o srº Roberto Carlos foi a maior arma da ditadura que nos afastou do universo por duas décadas e meia, todos sabem. Não só este senhor, como uma outra horda de lacaios do marasmo que não vale a perda de tempo em cita-los como Renato Aragão, por exemplo, outro "cancro institucionalizado" no âmago das culturas de massa, agora descartado...tarde, mas descartado.



By Web

     Sem exceções. Podem procurar na literatura, no teatro, no cinema, na pintura até mesmo na escultura. A igreja da Pampulha, à beira do lago de Belo Horizonte, de Oscar Niemeyer figura nessa relação de sombras produzidas pelo fanatismo, pelo falso puritanismo, pela burrice enfim. O próprio Vaticano, no passado, chegou a colocar no index obras de arte importantíssimas. Um esforço em vão de tentar eternizar conceitos que o tempo ultrapassa e de julgar, por si, a liberdade e a visão cultural dos outros.

     Como toda censura é retrógrada, o comportamento de Roberto Carlos pode ser também assim classificado. Obscurantista. Ridículo, em total contradição com a arte e, portanto ,como artista que é, consigo mesmo. Colocado à frente de um espelho a imagem que surge e reflete não o favorece. Pelo contrário. O prejudica diante de milhões de pessoas que admiram suas interpretações e composições musicais. Ele não suportaria ver censurada uma de suas obras, claro, até por que não haveria o que censurar, dada a pobreza de argumentos, valores e prerrogativas, RC sempre foi lamentável ideologicamente e até piegas, tanto do ponto de vista estético quanto do ponto de vista cultural. Portanto Mesmo assim sendo, ele não pode apoiar a censura às obras dos outros. A começar pela biografia de Paulo Cesar de Araújo feita sobre sua vida. Pois se todas as biografias dependessem de aprovação prévia dos biografados, os prejuízos recairiam  principalmente na história geral.  Porque todos os focalizados transformariam em heróis de si mesmos. Todos eles titulares de condutas exemplares e próximas da perfeição. E, convenhamos, a biografia de RC é um lixo literário bem aos moldes da sociedade brasileira recriada a parir do Golpe de 1964 e alimentada com fervor pelas Organizações Globo do grande devorador de mentes, Roberto Marinho, parceiro e sócio de Roberto enquanto viveram contemporaneamente.

     E todos nós sabemos que não é nada disso. No caminho de todos os seres humanos há sempre um álbum de família, peça de Nelson Rodrigues de difícil ultrapassagem e superação. Por mais importantes que sejam ou tenham sido em suas vidas. Por mais que tenham acrescentado à própria humanidade. Roberto Carlos precisa acordar - ou sumir: se a  censura prevalecesse, a arte já teria chegado ao fim. A arte é, sobretudo, liberdade de criação, de interpretação, de exposição. O que na minha modesta e pessoal opinião, estáaa arte pura, cristalina e essencial à formação humana está há anos-luz da "obra" do cidadão Roberto Carlos Braga.

A.S - Segunda-Feira 26.05.14



O Arte Vital Blog transcreve aqui o excelente artigo do jornalista Zuenir Ventura em O globo de 24.05


O rei saúda a censura
por Zuenir Ventura
 O Globo



Zuenir Ventura
Na época, o telegrama de Roberto Carlos ao então presidente José Sarney teve repercussão, mas é oportuna agora sua publicação na íntegra pelo blog do jornalista Mário Magalhães. Lá está com todas as letras:

“Cumprimento Vossa Excelência por impedir a exibição do filme ‘Je vous salue, Marie’, que não é obra de arte ou expressão cultural que mereça a liberdade de atingir a tradição religiosa de nosso povo e o sentimento cristão da Humanidade. Deus abençoe Vossa Excelência. Roberto Carlos Braga.”

O diretor do filme, o franco-suíço Jean-Luc Godard, era ninguém menos do que um dos principais representantes da Nouvelle Vague e autor de uma obra, de fato, polêmica, mas respeitável.

Era o começo da Nova República, que vinha substituir a ditadura. Menos de um ano antes, no dia 29 de junho de 1985, um ato público no Teatro Casa Grande, no Rio, reuniu cerca de 700 intelectuais e artistas para ouvir o ministro da Justiça de Sarney, Fernando Lyra, anunciar: “Está extinta a censura no Brasil.”

E declarar que o documento que ele recebera, elaborado por Chico Buarque, Antônio Houaiss, Ziraldo, Dias Gomes, entre outros, era a “Lei Áurea da Inteligência Brasileira”. Foi uma festa da cultura, um momento de regozijo como não acontecia havia 21 anos. Portanto, pode-se imaginar a reação, meses depois, à interdição do filme. O novo presidente tinha como álibi o fato de que fora pressionado pela ala mais conservadora da Igreja. Mas, e o rei?

Em artigo na “Folha de S.Paulo’’ de 2 de março de 1986, Caetano Veloso falou da “burrice de Roberto Carlos” e acrescentou que o telegrama saudando a censura a “Je vous salue, Marie’’ (em português, “Eu vos saúdo, Maria”, ou “Ave Maria”) “envergonha nossa classe”. Daí a conclamação: “Vamos manter uma atitude de repúdio ao veto e de desprezo aos hipócritas e pusilânimes que o apoiam.”

O episódio ajuda a desmontar alguns mitos régios, como o de que o rei só foi favorável à proibição das biografias não autorizadas para preservar sua privacidade. Há 28 anos, ele estava preocupado também com a privacidade da Virgem Maria, mesmo sabendo que o filme de Godard era uma obra de ficção.

 O outro mito é o da imagem de um artista afastado do poder, trancado numa torre de marfim, sem sujar as mãos com a impureza da política. O novo livro de Paulo César de Araújo (*), autor da biografia proibida, mostra que ele vai aonde lhe convém, ou seja, aonde pode defender a censura: Senado, Câmara, Judiciário e até ao Planalto, como fez recentemente ao ser recebido pela presidente Dilma, que, segundo a imprensa, ficou “visivelmente emocionada” por abraçá-lo.

(*) Paulo Cesar de Araújo “O réu e o rei — minha história com Roberto Carlos, em detalhes.”



domingo, 25 de maio de 2014

Encontros, Despedidas e Saudades do que já foi muito bom

Milton & Brant

















   

     O advogado, compositor e poeta mineiro Fernando Rocha Brant, na letra de “EncontroS e Despedidas”, em parceria com Milton Nascimento, retrata o que sempre representou uma estação de trem, diariamente, na vida de uma cidadezinha do interior. A música deu título ao Lp gravado por Milton Nascimento, em 1985, pela Barclay/PolyGram.



"Encontros e Despedidas"
Milton Nascimento e Fernando Brant

Mande notícias do mundo de lá
Diz quem fica
Me dê um abraço venha me apertar
Tô chegando
Coisa que gosto é poder partir sem ter planos
Melhor ainda é poder voltar quando quero
Todos os dias é um vai-e-vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai querer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar
E assim chegar e partir
São dois lados da mesma viagem
O trem que chega
É o mesmo trem da partida
A hora do encontro é também despedida
A plataforma dessa estação
É a vida desse meu lugar
É a vida desse meu lugar, é a vida


A.S ARTE VITAL BLOG


Milton Nascimento - "Encontros e Despedidas" - 1984



quinta-feira, 22 de maio de 2014

A Lua Brasileira na Poesia de Fátima Guedes




























A cantora e compositora carioca Fátima Guedes, na letra de “Lua Brasileira”, exalta a beleza e a magia que o luar transmite na cidade ou na floresta.  A música foi gravada por Fátima Guedes no CD Grande Tempo, em 1995, pela Velas.

LUA BRASILEIRA
Por Fátima Guedes

Lua brasileira,
surgindo deslumbrante na floresta
toda verde prata
luz de festa, mãe da mata
Lua delicada,
pelos mares do Atlântico passeia
branca lua cheia
noite alta, madrugada

Linda,
por entre os edifícios brilha a lua
uma em cada rua,
lua feiticeira,
surpreendente,
a cada esquina
ela é feminina
Lua brasileira







sábado, 17 de maio de 2014

A Visão Poética de Elomar





Elomar Figueira de Melo_@arte_arte_vital_blog



















     




      O arquiteto, cantor, compositor e violeiro baiano Elomar Figueira Mello, na letra “Retirada”, retrata o sonho de tantos que partem do interior do país à procura de oportunidades melhores de vida. A música foi gravada, em 1972, no LP “Das barrancas do Rio Gavião”, produção independente, gravada no estúdio J.S. Gravações Bahia. O disco vinha com apresentação de Vinícius de Morais, na qual o poeta declarava fazer Elomar “uma sábia mistura do romanceiro medieval e do cancioneiro do Nordeste”, definindo-o como “um príncipe da caatinga”, tendo em vista que seu trabalho é fiel às suas raízes, guardando os jeitos, falares e sonoridades do povo do semi-árido e também as influências medievais europeias tão presentes no interior do Nordeste.


Retirada
Elomar Figueira de Melo

Vai pela estrada enluarada
Tanta gente a retirar
Levando só necessidade
Saudades do seu lugar

Esse povo muito longe
Sem trabalho, vem prá cá
Vai na estrada enluarada
Tanta gente a retirar

Um ano para a cidade
Sem vontade de chegar
Passa dia, passa tempo
Passa o mundo devagar
Lembrança passa com o vento
Pedindo não retirar

Tudo passa nesse mundo
Só não passa o sofrimento
Na estrada enluarada
Tanta gente a retirar
Sem saber que mais adiante
Um retirante vai ficar
Se eu tivesse algum querer

Nesse mundo de ilusão
Não deixava que a saudade associada com penar
Vivesse pelas estradas do sofrer a mendigar
Vai pela estrada enluarada
Tanta gente a retirar
Levando nos ombros a cruz
Que Jesus deixou ficar

Eu não canto por saber
Nem tanto por reclamar
Tenho minha vida de labuta
Canto o prazer, canto a dor

Que às vezes até labuto
O que Deus do céu não mandou
Vai pela estrada enluarada
Tanta gente a retirar
Passando com traça e vento
Bebendo fel e luar

A.S
Arte Vital Blog


Tema da Novela Gabriela em 1975, aqui a canção na íntegra





quinta-feira, 1 de maio de 2014

O Primeiro de Maio de Chico Buarque e Milton Nascimento



      O cantor, escritor, poeta e compositor carioca Chico Buarque de Hollanda e seu parceiro Milton Nascimento, na letra de “Primeiro da Maio”, usaram  o infindo lirismo para inverter os papéis diários do casal de trabalhadores, que, neste dia, através do amor, personificarão a usina e a ferramenta tecendo (o homem de amanhã).
A música “Primeiro de Maio” foi gravada por Milton e Chico no Compacto Cio da Terra, em 1977, pela Philips/Phonogram.


Chico & Milton: 1975













"Primeiro de Maio"
Milton Nascimento e Chico Buarque

Hoje a cidade está parada
E ele apressa a caminhada
Pra acordar a namorada logo ali
E vai sorrindo, vai aflito
Pra mostrar, cheio de si
Que hoje ele é senhor das suas mãos
E das ferramentas

Quando a sirene não apita
Ela acorda mais bonita
Sua pele é sua chita, seu fustão
E, bem ou mal, é seu veludo
É o tafetá que Deus lhe deu
E é vendito o fruto do suor
Do trabalho que é só seu

Hoje eles hão de consagrar
O dia inteiro pra se amar tanto
Ele, o artesão
Faz dentro dela a sua oficina
E ela, a tecelã
Vai fiar nas malhar do seu ventre
O homem de amanhã




A canção: