quinta-feira, 21 de junho de 2012

A Teoria do Cacique

   
A Cúpula do Nada   
    Por Antonio Siqueira


     Em tempos de Rio+20, com discussões acerca da Sustentabilidade, do Aquecimento Global e outras tragédias planetárias, a conferência, na teoria, até comove; porém, na prática, torna-se inútil e inviável diante de tantos entraves e o maior deles é a crise européia e suas nações em recessões severas.

     O nome Rio + 20 deriva dos Vinte anos após a Cúpula da Terra, realizada no Rio em 1992. A Rio+ 20 deveria ser mais uma oportunidade de refletir sobre o futuro que queremos para o mundo, mas não é bem assim. O que se viu foi um festival de fanfarronices símias promovidas por sindicatos e ONGs vampiras.

      Em 1854, um certo Cacique, da tribo Suquamishbem mais sábio do que os cientistas do Século XIX  e de alguns outros cientistas contemporâneos nossos (esses amparados pela mídia deslumbrativa), enviou esta carta ao presidente dos Estados Unidos, na época Francis Pierce, depois de o Governo haver dado a entender que pretendia comprar o território ocupado por aqueles índios. Faz mais de um século e meio. Mas o desabafo do cacique tem uma incrível atualidade. Eis aqui a carta que calou o Parlamento Ianque:




O Manifesto do Cacique Seatle

"Como podeis comprar ou vender o céu, a tepidez do chão? A idéia não tem sentido para nós.

 Se não possuímos o frescor do ar ou o brilho da água, como podeis querer comprá-los? Qualquer parte desta terra é sagrada para meu povo. Qualquer folha de pinheiro, qualquer praia, a neblina dos bosques sombrios, o brilhante e zumbidor inseto, tudo é sagrado na memória e na experiência de meu povo. A seiva que percorre o interior das árvores leva em si as memórias do homem vermelho.

 Os mortos do homem branco esquecem a terra de seu nascimento, quando vão pervagar entre as estrelas. Nossos mortos jamais esquecem esta terra maravilhosa, pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da terra e ela é parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs, os gamos, os cavalos a majestosa águia, todos nossos irmãos. Os picos rochosos, a fragrância dos bosques, a energia vital do pônei e do homem, tudo pertence a uma só família.

    Assim, quando o grande chefe em Washington manda dizer que deseja comprar nossas terras, ele está pedindo muito de nós. O grande Chefe manda dizer que nos reservará um sítio onde possamos viver confortavelmente por nós mesmos. Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos. Se é assim, vamos considerar a sua proposta sobre a compra de nossa terra. Mas tal compra não será fácil, já que esta terra é sagrada para nós.



    A límpida água que percorre os regatos e rios não é apenas água, mas o sangue de nossos ancestrais. Se vos vendermos a terra, tereis de lembrar a nossos filhos que ela é sagrada, e que qualquer reflexo espectral sobre a superfície dos lagos evoca eventos e fases da vida do meu povo. O marulhar das águas é a voz dos nossos ancestrais.

    Os rios são nossos irmãos, eles nos saciam a sede. Levam as nossas canoas e alimentam nossas crianças. Se vendermos nossa terra a vós, deveis vos lembrar e ensinar a nossas crianças que os rios são nossos irmãos, vossos irmãos também, e deveis a partir de então dispensar aos rios a mesma espécie de afeição que dispensais a um irmão.

    Nós mesmos sabemos que o homem branco não entende nosso modo de ser. Para ele um pedaço de terra não se distingue de outro qualquer, pois é um estranho que vem de noite e rouba da terra tudo de que precisa. A terra não é sua irmã, mas sua inimiga, depois que a submete a si, que a conquista, ele vai embora, à procura de outro lugar. Deixa atrás de si a sepultura de seus pais e não se importa. A cova de seus pais é a herança de seus filhos, ele os esquece. Trata a sua mãe, a terra, e seus irmãos, o céu como coisas a serrem comprados ou roubados, como se fossem peles de carneiro ou brilhantes contas sem valor. Seu apetite vai exaurir a terra, deixando atrás de si só desertos. Isso eu não compreendo. Nosso modo de ser é completamente diferente do vosso. A visão de vossas cidades faz doer aos olhos do homem vermelho.

    Talvez seja porque o homem vermelho é um selvagem e como tal, nada possa compreender.

Nas cidades do homem branco não há um só lugar onde haja silêncio, paz. Um só lugar onde ouvir o farfalhar das folhas na primavera, o zunir das asas de um inseto. Talvez seja porque sou um selvagem e não possa compreender.

    O barulho serve apenas para insultar os ouvidos. E que vida é essa onde o homem não pode ouvir o pio solitário da coruja ou o coaxar das rãs à margem dos charcos à noite? O índio prefere o suave sussurrar do vento esfrolando a superfície das águas do lago, ou a fragrância da brisa, purificada pela chuva do meio-dia ou aromatizada pelo perfume dos pinhos.

    O ar é precioso para o homem vermelho, pois dele todos se alimentam. Os animais, as árvores, o homem, todos respiram o mesmo ar. O homem branco parece não se importar com o ar que respira. Como um cadáver em decomposição, ele é insensível ao mau cheiro. Mas se vos vendermos nossa terra, deveis vos lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar insufla seu espírito em todas as coisas que dele vivem. O ar que vossos avós inspiraram ao primeiro vagido foi o mesmo que lhes recebeu o último suspiro.

    Se vendermos nossa terra a vós, deveis conservá-la à parte, como sagrada, como um lugar onde mesmo um homem branco possa ir sorver a brisa aromatizada pelas flores dos bosques.

    Assim consideraremos vossa proposta de comprar nossa terra. Se nos decidirmos a aceitá-la, farei uma condição: O homem branco terá que tratar os animais desta terra como se fossem seus irmãos.

    Sou um selvagem e não compreendo de outro modo. Tenho visto milhares de búfalos a apodrecerem nas pradarias, deixados pelo homem branco que neles atira de um trem em movimento.

    Sou um selvagem e não compreendo como o fumegante cavalo de ferro possa ser mais importante que o búfalo, que nós caçamos apenas para nos mantermos vivos.

    Que será dos homens sem os animais? Se todos os animais desaparecem, o homem morreria de solidão espiritual. Porque tudo isso pode cada vez mais afetar os homens. Tudo está encaminhado.

    Deveis ensinar a vossos filhos que o chão onde pisam simboliza a as cinzas de nossos ancestrais. Para que eles respeitem a terra, ensinai a eles que ela é rica pela vida dos seres de todas as espécies. Ensinai a eles o que ensinamos aos nossos: Que a terra é a nossa mãe. Quando o homem cospe sobre a terra, está cuspindo sobre si mesmo. De uma coisa nós temos certeza: A terra não pertence ao homem branco; O homem branco é que pertence à terra. Disso nós temos certeza. Todas as coisas estão relacionadas como o sangue que une uma família. Tudo está associado. O que fere a terra fere também aos filhos da terra.

    O homem não tece a teia da vida: É antes um dos seus fios. O que quer que faça a essa teia, faz a si próprio.

    Mesmo o homem branco, a quem Deus acompanha e com quem conversa como um amigo, não pode fugir a esse destino comum. Talvez, apesar de tudo, sejamos todos irmãos.

    Nós o veremos. De uma coisa sabemos, é que talvez o homem branco venha a descobrir um dia: Nosso Deus é o mesmo deus.

    Podeis pensar hoje que somente vós o possuis, como desejais possuir a terra, mas não podeis. Ele é o Deus do homem e sua compaixão é igual tanto para o homem branco, quanto para o homem vermelho.

    Esta terra é querida dele, e ofender a terra é insultar o seu criador. Os brancos também passarão talvez mais cedo do que todas as outras tribos. Contaminai a vossa cama, e vos sufocareis numa noite no meio de vossos próprios excrementos.

    Mas no nosso parecer, brilhareis alto, iluminado pela força do Deus que vos trouxe a esta terra e por algum favor especial vos outorgou domínio sobre ela e sobre o homem vermelho. Este destino é um mistério para nós, pois não compreendemos como será no dia em que o último búfalo for dizimado, os cavalos selvagens domesticados, os secretos recantos das florestas invadidos pelo odor do suor de muitos homens e a visão das brilhantes colinas bloqueada por fios falantes.

    Onde está o matagal? Desapareceu. Onde está a águia? Desapareceu. O fim do viver e o início do sobreviver."

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     *Algumas lições para essa "Cúpula" de cretinos emergentes.



Em tem vídeo sim, por quê não? Em memória ao Cacique Seatle da Tribo Suquamish



Beto Guedes - O Sal da Terra - 1981



segunda-feira, 11 de junho de 2012

O pincel vivo de Jean Claude Monet

Impressionante ao Extrêmo
   Por Antonio Siqueira



Jean Claude Monet
fotografado por Nadar
- 1899

Um dos primeiros quadros de Jean Claude Monet“Impression sunrise”, ou Impressão ao nascer do sol, de 1873, derivou a expressão Impressionismo.  Não menos impressionante foi o fato de ter acontecido após uma crítica feita a este mesmo quadro pelo pintor e escritor Louis Leroy: "Impressão, nascer do Sol” – eu bem o sabia! Pensava eu, justamente, se estou impressionado é porque há lá uma impressão. E que liberdade, que suavidade de pincel! Um papel de parede é mais elaborado que esta cena marinha." Assim mesmo, de forma pejorativa e zombeteira. Como tudo que é fenomenal se origina  a partir do escárnio, com  este parisience nascido em 1840 e que passou pelo menos 65 anos produzindo o que hoje é o maior legado existente das artes plásticas, não podia ser diferente.

    Monet viveu 86 anos e deixou um dos maiores, ou senão, o maior legado das artes plásticas em todo o mundo. Foram quase uma centena de fases: apaixonado, crítico, escarnecedor, invernal, humanista, naturalista, enfim...O que pontuava a obra deste gênio era a simplicidade e, ao mesmo tempo, a plênitude e exuberancia de seus traços. Na sequência de quadros na fase “Efeitos da Neve”, Monet nos mostra o quanto pode ser belo e o quanto há de poesia no inverno desolador e em suas paisagens.

      Monet teve uma catarata no fim da sua vida. A doença o atacou por causa das muitas horas com seus olhos expostos ao sol, pois gostava de pintar ao ar livre em diferentes horários do dia e em várias épocas do ano, o que foi outra característica do Impressionismo. Durante sua doença Monet não parou de pintar, - usou nessa época de sua vida cores mais fortes como o vermelho-carne e vermelho goiaba, cor tijolo, entre outros verdes, rosas, vermelhos e cores mais fortes. Em 1911, com o falecimento de Alice e seu problema de visão, Monet perdeu um pouco a vontade de viver e pintar. Sua vontade só seria animada com a amizade de Georges Clémenceau, que lhe escrevia cartas de apoio.

     Monet morreu em 1926 e está enterrado no cemitério da igreja de Giverny, departamento de Eure, na Alta Normandia, norte de França. Seu legado é algo imprescindível para a história das artes mundo a fora.


English Version


Impressive to the Far

One of the first paintings of Jean Claude Monet's "Impression Sunrise" or Impression Sunrise, 1873, the term Impressionism was derived. No less impressive was the fact that it happened after a critique of this same picture by the painter and writer Louis Leroy: "Impression, sunrise" - I knew it! I thought, rightly, if I'm impressed is because there is a print. And that freedom, which gently brush! A wallpaper is more elaborate than this scene navy. " Likewise, in a derogatory and mocking. As everything is phenomenal originates from the scorn with this Parisian born in 1840 and who spent at least 65 years producing what is now the largest existing legacy of fine arts, could not be otherwise. Monet lived 86 years and left one of the largest, or else, the greatest legacy of the arts worldwide. There were almost a hundred phases: passionate, critical, scoffer, winter, humanist, naturalist, so ... What punctuated the work of this genius was the simplicity and at the same time, the fullness and exuberance of its features. Following frames do in "Effect of Snow," Monet shows us how beautiful and how much can be no poetry in the winter and bleak landscapes. Monet had cataracts in one end of his life. The disease attacked him because of the many hours with his eyes the sun, as he liked to paint outdoors at different times of day and at various times of year, which was another characteristic of Impressionism. During his illness has not stopped painting Monet - used at the time of your life stronger colors such as red meat and red guava, colored brick, and other greens, pinks, reds and stronger colors. In 1911, with the death of Alice and her poor eyesight, Monet a bit lost the will to live and paint. His will only be encouraged by the friendship of Georges Clemenceau, who wrote him letters of support. Monet died in 1926 and is buried in the Giverny church, department of Eure, Upper Normandy, northern France. His legacy is something essential to the history of the arts around the world.


Jean Claude Monet - Os efeitos da neve





Musica: "To Go Beyond II" - Enya
Imagens: Série "Snow Effect" - Jean Claude Monet