terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Meu nome é Pablo

A filosofia do visual   
Por Antonio Siqueira




amanhecer deserto_@image_pablo_hero_photografy












     



     


      A arte é manifestação humama e vem do berço que nos embala o sono e estimula a vontade de caminhar pelo mundo e conquistar cada pedacinho deste mesmo mundo que nos abriga, sustenta e, também,  maltrata à medida que o maltratamos; isso é bem verdade. No que diz respeito aos olhos de quem vê e tem a sensibilidade de enxergar um pouco mais além, pode ser translucida e de beleza inigualável. Fotografar é conseguir captar o que existe atrás do que se vê com os olhos...é ver através de uma parede invisível. A fotografia ganhou mais um nome e seu nome é Pablo.

      Vi Pablo crescer e, desde criança, demonstrar o seu diferencial dos meninos de sua infância irriquieta e criativa. Pablo é filho de José de Arimatéia, grande amigo de longuíssima data e pintor de telas belíssimas num passado não tão distante. Foi com Ari que aprendi a ouvir um bom Jazz, a sorver um bom vinho e a amar seus filhos, além de outras coisas que contribuem bastante para que a vida não passe em vão.

      Não sei quando o jovem Pablo (que deve estar com pouco mais 20 anos) começou a fotografar o mundo, mas esta foto que ilustra esta atualização do Arte Vital, me tocou fundo não só pela beleza visual e seus efeitos que beiram a perfeição; este local retratado pelas lentes deste jovem talento é exatamente o local em que nasci e foi; por ele registrado com imensa sensibilidade  e genial acuidade de sentidos, da janela do sobrado onde mora no bairro de Campo Grande RJ. Um amanhecer deserto e infinitamente surreal. Não sabia que havia tanta beleza na Avenida Cesário de Melo. Aliás, só os grandes gênios nos oferecem este privilégio de redescobrir o que, muitas vezes, a nossa alma oculta. O mundo é seu, meu jovem Pablo... Obrigado por este presente.


* "Fotografar, é colocar na mesma linha de mira, a cabeça, o olho e o coraçao."  (Henri Cartier-Bresson, 1994)



** Pablo expôe seus trabalhos no Facebook sob a alcunha de Hero Photograph








quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Espelhos do Tempo

Um clássico da MPB Moderna
Por Antonio Siqueira

Espelho das Águas - Capa





      











     

      A musica pop do Brasil possui mais baixos do que altos e isso está às claras para qualquer bom entendedor. Nunca se produziu tanto lixo cultural como agora e a possibilidade de produzirem-se novidades, cuja qualidade supere o descartável e eternize assim alguma obra de impacto, se torna cada vez mais remota.  Clássicos são coisa de um passado cada vez mais distante, álbuns elaborados do começo ao fim, arranjos impactantes e interpretações épicas... Tudo isso hoje é quase sobrenatural. No universo vasto da musica pop, a jovem Adelle é um fenômeno inquestionável e que alcança, milagrosamente, todas as camadas sócio-culturais. Apenas uma andorinha tentando iluminar um verão de trevas, um marasmo deprimente regado a muito funk delinqüente, axé e samba-nojo.

       Neste caldeirão de sociopatas da musica, alguns excelentes artistas brasileiros tentam produzir a todo custo, álbuns que mantenham a boa qualidade de outrora, resistindo, assim, às exigências de um mercado ávido e febril por resultados esdrúxulos e que perpetuem a burrice coletiva. Zé Renato é um perfeito exemplo: Há 10 anos este cantor e compositor de voz sublime, grava o que sua personalidade autônoma determina, obtendo notável aceitação de um público que só precisa saber que o seu trabalho está lá na prateleira ou em algum servidor de downloads e compras on line.

      No que concerne às bandas que atravessaram as últimas três décadas, o grupo mineiro 14 Bis celebrou  em 2011, 30 anos de estrada com um DVD ao vivo e a reedição de seus clássicos que marcaram uma geração de nostálgicos apreciadores da boa música. Seu antigo líder e co-fundador, Flávio Venturini, deixou o grupo em 1987 para seguir uma carreira solo que o consagrou definitivamente como um dos melodistas mais talentosos da musica contemporânea além de, anteriormente ter saboreado um estrondoso sucesso pilotando os teclados do épico e eterno O Terço em meados dos anos 1970. Porém o grupo permaneceu firme e manteve uma média impressionante de mais de oitenta shows por ano e gravando regularmente, apesar das armadilhas do mercado fonográfico nacional e da total ausência de incentivos fiscais. Foram dez discos autorais de qualidade, um belíssimo acústico gravado em 1999, um DVD (o grupo ensaia a produção de um segundo que celebra a volta de Flávio Venturini) e alguns clássicos inesquecíveis, como Espelho das Águas; belíssimo álbum gravado em 1981 e uma das obras mais bem elaboradas da história dos fonogramas nacionais.

       “Espelho das Águas” tem uma ficha técnica de notáveis profissionais, a começar pela belíssima capa concebida por Cafi, um papa da fotografia e das artes gráficas. Antes dos CDs, as capas, contracapas e encartes dos antigos Long Plays eram um detalhe importantíssimo na composição de um disco e Cafi fez história.  O álbum prima pela beleza inquestionável de composições que se tornaram verdadeiros clássicos como “A Qualquer Tempo”, “Razões do Coração”, “Dança do Tempo”, “Mesmo Brincadeira” (que foi o single, o carro chefe do disco), “Ciranda”, “No Meio da Cidade”, “Vale do Pavão” e “Espelho das Águas”, esta última, uma suíte instrumental maravilhosa e que intitula este clássico.

      O disco prima pela beleza de suas letras, a maioria delas escritas pelo “nerudeano” Marcio Hildon Borges, o homem que escreveu e deu voz e poesia ao “Clube da Esquina”. Haja vista as belíssimas, “Dança do Tempo”, “Doce Loucura”, “Vale do Pavão”, que com certeza foi escrita na época em que Marcinho viveu em Visconde de Mauá, na região serrana fluminense (Vale do Pavão é um dos lugares mais belos da região, repleto de orquídeas, bromélias, cachoeiras, uma fauna que impressiona cravado dentro das montanhas e a  pinga da maromba dispensa comentários) e a inspiradíssima, “No Meio da Cidade” em parceria com Vermelho; este, uma enciclopédia repleta de criação; um maestro e visionário compositor, autoridade máxima no piano, no clássico órgão farfisa e nos sintetizadores da época. A música mudou e muito, mas Vermelho não; graças a Deus! A boa música agradece.

     O álbum inicia com “Queima Baby, uma musica leve, uma balada rock de Claudinho Venturini, bem aos moldes do que, profeticamente, viria acontecer nos anos que se sucederiam no rock nacional. Mas o que vem adiante é um verdadeiro show de diversidade, tirando do bom e velho 14 Bis qualquer rotulo que o mantivesse estigmatizado ou estagnado no tempo. Os próprios admiradores do longevo grupo não sabem bem ao certo como classificar a obra dos rapazes, mas recomenda-se algo semelhante à universalidade que sempre foi o cartão de visitas da instituição. Em “Espelho das Águas”, passeia-se até pelo cool jazz na genial “Razões do Coração” com letra sublime de Luiz Carlos Sá que, volta e meia, deixava o seu parceiro Guti Guarabira para curtir outras praias, o que sempre o fez com a competência de um criativo setentista; flerta com a beatlemania em “Lua de Algodão”, assinada pela parceria perfeita de Flávio com Cezar de Mercês, desde os tempos de O Terço; valseia docemente com “Doce Loucura” que deu vez aos bons compositores que são o baixista Sergio Magrão e o baterista e simpatia pura, Hely Rodrigues; invoca Milton Nascimento em “Nos Bailes da Vida”, que talvez seja o mais belo arranjo feito para este clássico da MPB moderna; balança os corações apaixonados com o belo country, “Mesmo de Brincadeira”, de Claudio Venturini, Vermelho e o produtor Mariozinho Rocha... Que foi hit dos mais tocados em todas as AM e FMs por muito tempo e faz sonhar com “Ciranda”, uma canção de beleza delicada e singela que consagrou de vez a grande parceria de Murilo Antunes com Flávio Venturini e o 14 Bis. Só pra lembrar, Flávio e Murilo são autores de “Nascente”, uma das canções mais gravadas da Musica Popular Brasileira que ganhou o mundo jazz, também sendo interpretada por papas e divas do gênero.    

      O Arte Vital tomou a liberdade de mencionar e registrar aqui este álbum que marcou época. Uma maneira de resgatar um clássico que dispensa comentários, classificação de  gêneros, estilos e segmentos. O Grupo 14 Bis tem esse charme e quando se emplaca uma ou mais obras-primas que voem nas asas da eternidade é nela que se deve estar; na história perene de quem ainda está vivo e tem a consciência indestrutível de que bom gosto é fundamental. A cultura de uma civilização não resiste se esta não tiver a sua memória protegida e preservada.


Arte Vital Videos trás Ciranda, de Flávio Venturini e Murilo Antunes, um dos grandes momentos de Espelho das Águas








* Nota:
Se vivo estivesse, Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim completaria exatos 85 anos. Saudades deste maestro maravilhoso  que tive o privilégio de acompanhar, ouvir e saborear sua obra excepcional. O grande divisor de águas da música popular contemporânea no Brasil. Canta mais, Tom!







segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Arte Vital Videos apresenta:



      Algumas canções acabam esquecidas nas gavetas da lembrança, mas não aqui no Arte Vital. A partir de hoje o blog da arte universal reedita algumas dessas preciosidades do planeta musica em vídeos produzidos por este que vos escreve. Torcendo aqui para que os detentores dessas obras-primas não reclamem por seus direitos no que se refere a estas humildes e descompromissadas edições em vídeo que só valem mesmo pela deliciosa terapia de criar e vê-las prontas e apreciadas por nossos, até então, ilustres 112 leitores e seguidores.

      Hoje temos aqui a perfeição do Grupo Yes com o single "Soon" do conceitual e, instrumentalmente, notável álbum Relayer de 1974 na voz marcante de Jon Anderson e da fantástica stellguitar de Steve Howe. Uma boa audição e visualização para todos vocês. ;-)


Soon - Yes - 1974





Produção: Arte Vital Videos
Musica:   "Soon" - Yes
Imagens:  Arte Solitária
                 Arquivos do Autor
                 Terra Dreams www.terradreams.de



quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Um poema ainda existe e é lírico, cósmico, quântico, eterno ...


Realinhamento
por Antonio Siqueira
















Sou um gato que metaboliza o dia e consome a noite vadia...
A luz enche-me os olhos com sua luz fria.
Vejo na escuridão, caminho sobre as águas inundado de paixão,
Criando asas.
Sou aquele cujo o afeto por permanece...
Lírico, cósmico, quântico, eterno coração.
Sou granizo, sou amálgama, sou vulcão.
Vou de encontro ao desconhecido, retorno e resgato o que é meu.
Sou romano, sou etílico, sou cigano, sou plebeu.
Trago de volta as canções,
Miro em tua boca, teu sorriso...
No mar dos teus olhos encontro o meu farol.



sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

20 anos do concerto mais irado de todos os tempos!

 Vinte anos depois...


Há 20 anos o Pearl Jam subia o palco do PinkPop Festival para enlouquecer e esquentar uma platéia gigantesca de 40 mil holandeses pirados,  num frio de 3ºC.  Uma das apresentações mais nervosas da história dos grandes concertos de rock. O Pearl Jam é a banda mais popular do movimento grunge, surgido em Seatle em meados dos anos 1980 e, também, completou duas décadas de muito som e muita qualidade neste 2011 que se foi. AntoniMulti e o Arte Vital  disponibilizam aqui, o álbum extraido do DVD 'Pearl JamJPinkPop Festival 1992', show realizado em Fevereiro de 1992 na Holanda. É PEARL JAM NA VEIA!








 Compilação MP3 em vídeo, feita especialmente por este blog, comemorando os 20 anos do primeiro grande show internacional do Pearl Jam no PinkPop Festival 1992, realizado na Holanda.





quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Um poema ainda existe e carrega consigo o nome da genialidade

SENILIDADE


Fernando Toledo















Somente o passado tem cabelos negros
Um longo sono escorreu, translúcido
E tomou a forma de um guarda-chuva preto

(treze judeus pairam, imóveis,
acima do ruído de mastigação)

Os chinelos são tatuagens
Indeléveis de um desespero esquecido
Em suas costas, há leitos
Abertos por calos antigos
Que a decomposição insiste em ignorar
Somente o passado tem cabelos negros




O AVANÇO DA TARDE


Tecidos necrosados balançam nas janelas
De uma penumbra apenas entrevista
Como fósseis, não sorriem
Como esteiras rasgam-se com lentidão
Sobre a caixa d’água, o desespero
Ensaia os passos de seu suicídio
A decomposição impõe seu nome
A todos os que se dignam a fitá-lo
As sirenes apitam: cinco horas

Nas bocas, nada mais que bacilos
No meio à avenida, o desespero
Espalha seus miolos violáceos

Pudesse o avanço da tarde
Frear toda e qualquer paciência
E os corpos se amontoariam pelas ruas




SONHO


Imagens esparsas
Contudo sólidas
Derretem na seiva da noite
(onze cavalheiros de azul
um gato de unhas pintadas
meu primo aos sete anos
roubando os cajás do vizinho)
Meus dias passaram,
Incompletos
Algo não veio
E eu o quis
Recupero-o agora, satisfeito
No momento em que os medos criam garras
E os prazeres têm coxas macias

Fernando Toledo
Obra do autor: Todos os Direitos Reservados ® .
ARTE VITAL - 2005-2012


quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

A genialidade fica


 Grileira Voadora
          Por Antonio Siqueira


Quando um coração para de bater, ele passa a bater no infinito e eu creio nisso, achem o que queiram achar. Mas me impressiona mesmo é quando o pensamento continua aqui, vibrante, preciso, eloqüente, genial... Como se jamais tivesse partido. Fernando Toledo era isso, um cérebro pensante, criador, gênio de mil textos, matérias, artigos de diversos seguimentos críticos, mas sempre com um carinho muito especial à primeira arte, pois o rapaz, se não foi um brilhante virtuose na pele de guitarrista e violonista, era o ser humano que melhor conhecia a historia da musica do nosso país, nunca perdendo a universalidade musical de suas idéias, enfim...Conhecia a musica, na prática, na teoria e filosóficamente como ninguém.

     Se entre nós estivesse, teria completado no dia de ontem, 44 anos. Meu amigo Fernando prezava e celebrava tanto o seu 04/01, que suas comemorações se entendiam por dias após. Feliz Aniversário, Grillo! Bebe uma por mim aí com os seus amigos ‘anjos geniais’, e diga ao Fausto que eu também entrei para a legalidade.

     Tomo a liberdade de publicar aqui uma das centenas de resenhas do Toledinho, tão difícil escolher uma, mas esta me é especial e nem sei muito explicar o por que. Talvez seja a menção à genialidade de Marcel Proust, comparando-a a de Paulinho da Viola. Posso sim, revelar que o ARTE VITAL existe devido às insistências desse gênio jornalístico-literário que muito me pediu para que tivesse um espaço para publicações. Um dia a gente se encontra para que tu possas me explicar os segredos do infinito, meu brother... E porquê os girassóis morrem tão cedo.


Paulinho da Viola, seu tempo é hoje

          Se ao menos me fosse concedido um prazo para terminar minha obra, eu não deixaria de lhe imprimir o cunho desse Tempo cuja noção se me impunha hoje, com tamanho vigor, e, ao risco de fazê-los parecer seres monstruosos, mostraria os homens ocupando no Tempo um lugar muito mais considerável do que o tão restrito a eles reservado no espaço, um lugar, ao contrário, desmesurado, pois, à semelhança de gigantes, tocam simultaneamente, imersos nos anos, todas as épocas de suas vidas, tão distantes – entre os quais tantos dias cabem – no Tempo. (Marcel Proust – O Tempo Redescoberto).
 
     Paulinho da Viola opera da mesma forma: sua obra é um olhar penetrante e contudo lânguido para o passado, seja o seu próprio ou o da Arte que pratica, filtrado pelas lentes de seu Presente, do qual não abre mão em hipótese alguma. Percebe-se nas composições de Paulinho um apelo ao elementos primordiais do samba e do choro, elementos estes que ganham, em suas mãos, a estatura de bisturis capazes de dissecar o Homem em seus aspectos mais complexos; de, como em Proust, revirar seu lodo íntimo e trazer, como moedas de ouro no cofre de um galeão naufragado (para usar uma imagem ligada ao mar, tema tão freqüente em suas composições), todo o seu mundo à tona. Exemplos claros disso são sambas como Roendo as unhas, Comprimido, Dança da Solidão, Coisas do mundo, minha nega, em que coisas diminutas, fragmentos de pequenos nadas, daqueles que nos passam desapercebidos devido ao turbilhão de informações em que vivemos, adquirem sua real estatura, num exercício de síntese capaz de apresentar o profundo entendimento de sua complexidade por meio de canções populares, que qualquer um seria capaz de assobiar.

      Pois Paulinho é isto: um Proust do samba, expressando-se com as ferramentas que este último lhe proporciona. E ferramenta é um quesito de que Paulinho entende.
     O filme Paulinho da Viola – Meu Tempo é Hoje, de Izabel Jaguaribe, é uma obra serena, como sereno é seu tema: inicia-se com um chamamento, Bebadosamba, em que o compositor evoca os nomes que compõem seu Passado musical – como verbetes de enciclopédia, nomes de bambas de diversas escolas são convidados a integrar sua obra. E, pela qualidade das músicas de Paulinho, torna-se fácil atestar que prontamente atenderam.

      A película prossegue com a imagem de um Paulinho da Viola tranqüilo, caminhando pelas ruas cariocas. Visita a Livraria Elizart, célebre por abrigar uma seção de obras especializadas no Rio Antigo. Entra em diversas lojas de ferramentas e peças de reposição. E assim somos apresentados a uma faceta não muito conhecida de Paulinho, mas que explica muito acerca de sua motivações: sua paixão por consertos, sejam eles de relógios, de poltronas, de carros antigos (possui, em seu sítio uma frota dos mesmos, que promete que vai pôr nas ruas “em breve” – breve este já adiado há algum tempo). É, segundo ele, o que lhe dá algum sentido de ordem, o que o faz pisar no chão. Ao mesmo tempo, declara que sua maior ambição é ter Tempo para não fazer absolutamente nada, apenas se entregar a uma contemplação sem objetivo concreto.
Esses pequenos instantâneos de Paulo César de Faria são entremeados por números musicais. A Velha Guarda de sua querida Portela executa canções e faz depoimentos. Como é dito: Paulinho é o padrinho do conjunto, mas quem pede a benção é ele, a eles – um exemplo da reverência deste mestre para com os seus próprios.

      Outro número musical comovente é o encontro de três gerações: seu pai César de Faria, seu filho João e ele mesmo, executando um choro. Seu César não se contém e deixa caírem as lágrimas. Logo ele que, como diz Paulinho, em “Catorze Anos”: “Perguntou-me se eu queria/ Estudar Filosofia/ Medicina ou Engenharia/ Tinha eu que ser doutor”. Mas, como se sabe, a sua aspiração “Era ter um violão/ para me tornar sambista”. E provou que sambista, apesar dos pesares de ordem financeira, tem valor nesta terra de doutor.
E no que reside o supremo valor de Paulo César de Faria? O de ser um homem gentil, carinhoso, educado e elegante até a raiz azul e branca de seus ossos? O de ser um artista único, capaz de unir, sem maiores atritos ou contradições, toda uma carga de passado e presente, aprimorando a cada dia este último? Sim, tudo isto, e também o fato ter a consciência de que a obra de Arte não é capaz apenas de captar o presente, mas sim de modificá-lo, de atuar no mesmo de maneira marcante, sem a necessidade de pirotecnias: um consertador, em última análise. E dos bons.

Por Fernando Toledo




Artigo originalmente publicado na Revistada Musica Brasileira



 
Foto:
Arquivo de Paulo Toledo


Musica: "Flor de ir embora", na voz de Márcia Cristina




segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Um poema ainda existe e canta à capela

 Voz
Por Antonio Siqueira 


By Sergio Cajado















  





Voz que ecoa,
Profunda voz que sobrevoa;
A mais bela voz
Trespassando o meu peito,
Num calafrio quase eterno.
Uma canção,
Uma cantiga,
Pra se cantar em letra, verso e prosa...
Sete notas,
Sete maravilhas,
Apenas um universo.
O melhor dos mundos
Nos versos mais íntimos
Daquela letra,
Daquele poema
Que te trouxe mais linda
Do que todas as flores
E flores nascem, vão embora e recriam outras milhões de flores urbanas
Nativas
Voz...
Que cantou a terra
E contou a minha história...
 


Imagem:
Elemental Prisioneiro Urbano numero 9, Tela de Sergio Cajado, São Paulo - Seculo passado
...

Musica: "Flor de ir embora" de Fátima Guedes na voz sublime de Márcia Cristina.