uma coisa leva [a] outra
por mariza lourenço*Mariza Lourenço é advogada, escritora e mãe de dois jovems híper talentosos.
De um pé de tamarindo
à mordidez de um Neruda às avessas
Por Antonio Siqueira
Não. Não é exagero literário comparar a linha poética do paraibano de Pau'darco, Augusto dos Anjos a de Pablo Neftali Neruda. A intrínseca relação destas duas vertentes geniais advém de forma bastante prosaica no extremo de um e de outro. A visceralidade dos versos de ambos, não obstante à temática do amor abrasivo, a forma contundente da desilusão e do vinvenciamento de emoções semelhantes. Neruda prima, com versos de urgência magnânima e contumaz o encantamento existencial em todos os pilares da existência humana; do amor, do espírito revolucionário, do ser político. Augusto dos Anjos abala as estruturas do mórbido ao rufar dos corações e mentes traídas. Essa filosofia, fora do contexto europeu em que nascera para Augusto dos Anjos seria a demonstração da realidade que via ao seu redor, com a crise de um modo de produção pré-capitalista, proprietários falindo e ex-escravos na miséria. O mundo seria representado por ele, então, como repleto dessa tragédia, cada ser vivenciando-a no nascimento e na morte. Um personagem constante em seus poemas é um pé de tamarindo que ainda hoje existe no Engenho Pau d'Arco.
Neruda confessou-se em certa feita, amante do único livro de Augusto, EU E OUTRAS POESIAS, editado em 1910. É a reunião do livro "Eu" (publicado em vida) a outras poesias que foram acrescentadas postumamente à obra (seu amigo Órris Soares reescreveu o seu póstumo). Augusto dos Anjos não viveu para conhecer Neruda, pois morreu de pneumonia aos 30 anos em 1914. A antítese das temáticas se encontram, metafisicamente, na narrativa literária. Basta pôr em prática a "Mãe Sensibilidade". Reparem bem nestes versos:
Psicologia de um Vencido
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância…
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme - este operário das ruínas -
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
Augusto dos Anjos
A DANÇA
Não te amo como se fosse rosa de sal, topázio
ou flecha de cravos que propagam o fogo:
te amo secretamente, entre a sombra e a alma.
.
Te amo como a planta que não floresce e leva
dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
e graças a teu amor vive escuro em meu corpo
o apertado aroma que ascender da terra.
.
Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
te amo diretamente sem problemas nem orgulho:
assim te amo porque não sei amar de outra maneira,
.
Se não assim deste modo em que não sou nem és
tão perto que a tua mão sobre meu peito é minha
tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.
Pablo Neruda
Versos Íntimos
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Ausgusto dos Anjos
O teu riso
Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.
Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.
A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.
Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.
À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera , amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.
Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.
Pablo Neruda
Conclúo sem medo de ser contestado que, apesar da cronologia não tão distante, Augusto dos Anjos é, indubitávelmente, um Neruda às avessas.
Um dos mais inventivos escritores do século XX, James Joyce publicou Ulisses, um ponto de inflexão na história da literatura, em 1922. Dominando como poucos escritores o uso do monólogo interior, Joyce criou, em sua obra-prima, o monólogo de Molly Bloom, um exemplo perfeito desta técnica que tenta reproduzir a linguagem inconsciente de um personagem.
“(...) então sim pedi com os olhos que voltasse a me pedir e então me pediu e eu queria dizer sim minha flor da montanha e primeiro abracei-o e o trouxe para cima de mim para que pudesse sentir meus seios todos os perfumes sim e o coração que batia igual um louco e sim eu disse sim quero. Sim.” (Trecho de Ulysses)
Embora Joyce tenha vivido fora de seu país natal pela maior parte da vida adulta, suas experiências irlandesas são essenciais para sua obra e fornecem-lhe toda a ambientação e muito da temática. Seu universo ficcional enraíza-se fortemente em Dublin e reflete sua vida familiar e eventos, amizades e inimizades dos tempos de escola e faculdade. Desta forma, ele é ao mesmo tempo um dos mais cosmopolitas e um dos mais particularistas dos autores modernistas de língua inglesa.
JAMES JOYCE (1882-1941), romancista e poeta irlandês cujas perspicácia psicológica e inovadoras técnicas literárias converteram-no em um dos mais importantes escritores do século XX.
Depois do seu primeiro livro de poemas, Música de câmara (1907), e do livro de contos Dublinenses (1914), publicou o romance Retrato do artista quando jovem (1916), quase autobiográfico e no qual utilizou amplamente o monólogo interior.
Alcançou fama mundial em 1922, com a publicação de Ulisses, romance considerado um ponto de inflexão na literatura universal.
Finnegans wake (1939), sua última e mais complexa obra, constitui uma experiência de linguagem que abrange várias línguas. Postumamente, foi lançado, entre outros, Stephen hero (1944), primeira versão de Retrato do artista quando jovem. Em 1968, seu biógrafo, Richard Ellman, publicou um original inédito, Giácomo, obra pequena considerada o antecedente de Ulisses.
Conheci outro genio literário: Fernando Toledo. Acho que um dos poucos seres capazes de decifrar os truques literários do inventivo e excepcional escritor Irlandês. Fernando faleceu a 3 anos e, em póstuma homenagem, chegou a ser cremado com o seu inseparável Ulisses. Tema de muitos debates acirradamente interessantes em nossas longas noitadas filosofais.
Joyce morreu no inverno de 1941, pobre, bêbado e doente num subúrbio de Londres e sua obra atravessou o século XX incólume e se perpetuará por outros tempos, enquanto a ignorãncia dos homens perdurar.
Principais Obras
Música de câmara 1907 Poemas de amor
Dublinenses 1914 Contos
Retrato do artista quando jovem 1916 Romance
Exílios 1918 Peça teatral
Ulysses 1922 Romance
Pomes Penyeach 1927 Poemas
Collected Poems 1936 Poemas
Finnegans Wake 1939 Romance
Imagem: news.minnesota.publicradio.org
O QUE É O
ROCK PROGRESSIVO BRASIL?
Por Antonio Siqueira
Quem disse que no Brasil não se faz um Rock Progressivo de alta qualidade e fidelidade? Muita gente nova ( e até os contemporaneos do prog) acha. Vou citar aqui algumas perolas do progressivo brasileiro
A Barca do SoL
A Barca Do Sol é uma daquelas raridades que o mundo deveria conhecer e nem mesmo o Brasil conhece direito, com 3 discos na bagagem essa banda maravilhosa mesclou MPB, música de câmara, Rock Progressivo e letras em forma de poesia, vale a pena pra quem curte nosso velho Rock Nacional!!
Saecula Saeculorum
Saecula Saeculorum é uma lendária banda de rock progressivo que foi criada em 1974, no estado do Minas Gerais. A banda era formada por Giacomo Lombardi (piano e voz), José Audisio (guitarras), Bob Walter (bateria), Edson Plá Vieguas (baixo), Juninho (baixo) e, especialmente, pelo renomado violinista Marcus Viana, que depois viria a formar o excelente Sagrado Coração da Terra.
Este álbum “Saecula Saeculorum” foi gravado em 1976 e se trata de um trabalho que segue a linhagem do Symphonic Rock com tendências clássicas muito fortes. Os maiores destaques são o violino e o “great piano” executado com bastante virtuosismo.
A letras são em português, mas, devido a gravação, muitas pessoas não entendem o que é cantado. Não que a gravação esteja ridiculamente ruim. Dá para se ouvir tranquiliamente todos os intrumentos, bem definidos.
A banda acabou em 1977, mas ainda chegou a se apresentar, recentemente, num tributo ao baterista Mário Castelo, porém com uma formação diferente, apenas mantendo Marcus Viana e Giacomo Lombardi.
Este trabalho é altamente recomendável para qualquer amante do rock progressivo, tanto pela virtuosidade por parte de alguns integrantes da banda, como também pela curiosidade dos fatos.
Principais Bandas de Progressivo do Brasil Main Prog Bands of Brazil
A BARCA DO SOL - Prog Folk
ACIDENTE - Prog Related
AETHER - Symphonic Prog
AKASHIC - Progressive Metal
ALEXL - Art Rock
ALGARAVIA - Art Rock
ALPHA III - Symphonic Prog
ANGRA - Progressive Metal
ANIMA DOMINUM - Symphonic Prog
APOCALYPSE - Symphonic Prog
ARAÚJO, MARCO ANTÔNIO - Prog Folk
ARION - Symphonic Prog
ASA DE LUZ - Symphonic Prog
ASHTAR - Prog Folk
ATMOSPHERA - Art Rock
BACAMARTE - Symphonic Prog
BENCHIMOL, SÉRGIO - Art Rock
BLEZQI ZATSAZ - Symphonic Prog
CALIX - Prog Folk
CARTOON - Prog Related
CASA DAS MAQUINAS - Symphonic Prog
CHRONOS MUNDI - Symphonic Prog
CINEMA SHOW - Art Rock
DOGMA - Symphonic Prog
ECLIPSE - Symphonic Prog
GRANDBELL - Symphonic Prog
HADDAD - Neo Progressive
III MILENIO - Symphonic Prog
INDEX - Symphonic Prog
KAIZEN - Symphonic Prog
KHALLICE - Progressive Metal
LEHMEJUM - Jazz Rock/Fusion
LEI SECA - Symphonic Prog
LOCH NESS - Symphonic Prog
MARSICANO, ALBERTO - Indo-Prog/Raga Rock
MINDFLOW - Progressive Metal
MUTANTES, OS - Psychedelic/Space Rock
NAVE - Art Rock
OCTOHPERA - Art Rock
POÇOS & NUVENS - Symphonic Prog
QUANTUM - Symphonic Prog
QUATERNA REQUIEM - Symphonic Prog
RECORDANDO O VALE DAS MAÇÃS - Prog Related
SAECULA SAECULORUM - Symphonic Prog
SAGRADO CORAÇÃO DA TERRA - Symphonic Prog
SATWA - Indo-Prog/Raga Rock
SEMENTE - Psychedelic/Space Rock
SHAAMAN - Progressive Metal
SLEEPWALKER SUN - Progressive Metal
SOLIS - Neo Progressive
SOM IMAGINÁRIO - Psychedelic/Space Rock
SOM NOSSO DE CADA DIA - Art Rock
TARKUS (BR) - Symphonic Prog
TAU CETI - Jazz Rock/Fusion
TELLAH - Art Rock
TEMPUS FUGIT - Symphonic Prog
TERÇO, O - Symphonic Prog
TERRENO BALDIO - Art Rock
TESIS ARSIS - Symphonic Prog
TISARIS - Symphonic Prog
TREM DO FUTURO - Symphonic Prog
VERDAGUER - Jazz Rock/Fusion
VESANIA - Symphonic Prog
VIA LUMINI - Symphonic Prog
VIOLETA DE OUTONO - Psychedelic/Space Rock
ZARG - Art Rock
O show apresenta musicas do primeiro DVD da banda, lançado em 2008 e alguns números inéditos, como a nova versão de "Eu já fechei os meus olhos", que Cláudio e Vermelho adaptaram em 1992. A banda é de estrada mesmo, pois, segundo Vermelho, tecladista e um dos fundadores do grupo, "as viagens se multiplicam e não nos sobra tempo para mais nada." Que bom que a boa música corre pelo mundo num estilo quase mambembe. Essa é a essência para que a arte aconteça de maneira plena!
O 14 Bis toca hoje (Sexta - 19/04), ás 22 horas, no Theatro de Arena Elza Osborne, e amanhã (sábado, 20/04) na Lona Cultural de Jacarépagua, às 21 horas. O mais interessantes de todos esses shows, com certeza será o show de domingo em praça pública, às 17 horas, no balneário de Barra de Guaratiba, no litoral oeste da cidade. A enseada de BG é belíssima e com o sabor do bucolismo dentro da metrópole do Rio de Janeiro . O lugar é belíssimo e histórico e fica escondido do agito louco da cidade. Barra de Guaratiba é um pedacinho do paraiso ainda, por mais que tentem destruíla, e o 14 Bis, com seus mil sons e tons têm tudo a haver com a paisagem de lá.
Esta semana está sendo delas desde segunda-feira. Porém, apesar de todo esse glamour feminino, o que assusta são as estatísticas recentes: há cada 5 segundos, uma mulher é agredida físicamente, há cada minuto, uma mulher dá entrada em alguma emergência hospitalar, vítima de espancamento, há cada 1 hora, uma mulher é morta em algum lugar deste país. Por que isso? Por que essa violência sem sentido, torpe e de uma selvageria sem precedentes?
JEALOUS GUY