quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

André Rieu

O Maestro Pop
Por Antonio Siqueira




Muito criticado por puristas, o maestro e violinista holandês André Rieu transformou a música clássica em obra de entretenimento e objeto de consumo em massa. Também conhecido como o “Rei da Valsa”, é considerado responsável pela sobrevida do gênero. “Amo ser chamado assim, pois manter a valsa viva é uma questão pessoal para mim. Sempre fiquei revoltado com a forma como ela é negligenciada na música clássica”, desabafa, em entrevista a Billboard Brasil.



Mas o regente não parece muito preocupado com o ostracismo da academia, já que ao todo, segundo a gravadora, vendeu quase 16 milhões de CDs e cinco milhões de DVDs – apenas na Alemanha já superou cinco milhões de cópias em áudio. Isso sem falar em suas turnês, com direito a cenários grandiosos, figurinos elaborados e 250 músicos no palco, foi o quarto espetáculo musical mais lucrativo de 2008, ficando atrás apenas de Madonna, Tina Turner e Britney Spears.

Segundo o levantamento, foram 554.242 ingressos e uma renda bruta de US$ 57,4 milhões. Agora ele se prepara para conquistar a América Latina. Recentemente veio ao Brasil, onde já vendeu mais de 500 mil DVDs, anunciar a passagem da sua Johann Strauss Orchestra no ano que vem.



Rieu tem uma justificativa bem fácil para o estrondoso sucesso: “Eu tento executar apenas o que realmente me toca. Então, quando me emociono com o que estamos fazendo, sei que o público irá se contagiar”, declara. “O segredo está no jeito que a gente ensaia, no jeito que a gente toca e em como estruturamos os espetáculos. Faço isso já há 30 anos e sei como pegar o público pela mão.”



Filho de maestro, Rieu começou a estudar violino aos cinco anos. Aos 19 ingressou no conservatório local e foi músico de orquestra até os anos 80. Então minha esposa disse: ‘Vou conseguir o dinheiro e você vai realizar o seu sonho’.



” Além de músico, Rieu também é um empresário astuto. Até hoje mantém a orquestra em sociedade com sua esposa, Marjorie Rieu. “Eu cuido de cada detalhe. Das roupas e dos cenários até a escalação dos músicos, tudo passa por mim.” E para ele, misturar arte e negócios jamais foi um problema: “Meu maior exemplo é Johann Strauss [1804-1849, patriarca da família austríaca que popularizou a valsa]. Ele era muito popular, foi o primeiro pop star do mundo e, ao mesmo tempo, era um homem de negócios brilhante. Tinha cinco orquestras enquanto eu tenho apenas uma. Estava por cima dos negócios e ao mesmo tempo era um gênio.”



E suas referências de pop star não estão perdidas no século XIX. Ele já escandalizou ao tocar hits em versão orquestrada. “Quando Michael Jackson morreu, mudei o programa de última hora e inclui “Earth Song”. Amo Queen, amo Bruce Springsteen e tudo isso para mim é boa música”, afirma Rieu, que também se diz admirador de Tom Jobim. Inclusive, o maestro morou no Rio de Janeiro, segundo o próprio, há 35 anos.



Quando tocava em uma orquestra, conheceu o pianista cearense Jaques Klein (1930-1982), que o convidou para jurado de um concurso. “Eu planejava ficar duas semanas. Como era jovem e me diverti muito, acabei ficando seis meses.” Rieu ainda guarda lembranças afetuosas do amigo: “Tocávamos todo dia e ele era um gênio. Jamais conheci outromúsico igual, um homem incrivelmente talentoso.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Aos olhos do poeta...o olhar de Neruda, nesse quadro, é de saudade (e solidão)...acho que também sofro disso.

Saudade
pablo neruda

Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...

Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe o que não existe mais...

Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.

E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.

O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.


domingo, 17 de janeiro de 2010

Quando as guerras se calam

por Antonio Siqueira

Ainda não sabemos quantos brasileiros morreram no Haiti. Há milhares de pessoas desaparecidas, e é difícil saber exatamente quantos de nossos compatriotas – aí incluídos turistas e voluntários das organizações humanitárias – se encontravam em Porto Príncipe ao entardecer de terça-feira, dia 12 de janeiro. A crônica de desastres semelhantes é tenebrosa: o número de vítimas cresce ao serem removidos os escombros.

À maioria deles – os soldados e os voluntários sociais – não devemos somente as lágrimas do luto, mas a homenagem que se destina aos heróis. Eles não pereceram em guerra de conquista, nem em expedição punitiva. Estavam ali em nome da paz. Procuravam minorar a situação de crueldade que se iniciou há 500 anos, quando, depois da viagem de Colombo, que mudou a História, os espanhóis começaram a colonizar a ilha na qual aportara o navegador. Foi a Santo Domingo que chegaram os primeiros negros no hemisfério ocidental. Eles vieram para substituir os índios que o governador espanhol, Nicolas de Ovando, tentara, sem êxito, escravizar: os nativos, acostumados à liberdade, não aceitaram o jugo, e foram praticamente extintos em todas as ilhas do Caribe. Como costuma ocorrer, as boas intenções levam ao inferno: o padre Bartolomeo de Las Casas, que assessorava o governador, foi quem lhe sugeriu importar negros da África a fim de substituir os índios.

Como todas as forças armadas do mundo, as nossas atuam de acordo com seu tempo e a natureza do Estado a que servem. Poucas foram as expedições externas dos soldados brasileiros. Da Guerra do Paraguai – não obstante as nossas razões legítimas, a de defesa do território nacional que havia sido violado – não temos só a notícia do heroísmo, mas também a do excesso nos combates e na repressão. Ressalve-se que os comandantes militares de ofício – Osório e Caxias – agiram dentro das regras militares. Caxias, depois da vitória de Humaitá, e da entrada vitoriosa em Assunção, considerou a guerra terminada, mas o Imperador decidiu enviar para o Paraguai seu genro, o francês Gastão de Orleães, Conde d’Eu, a fim de perseguir o fugitivo Lopez. Ele, de espada virgem, quis se fazer herói sobre um povo já vencido e destruído e, de acordo com historiadores paraguaios, chegou a incendiar um hospital onde se encontravam feridos. Sua atuação inadequada contribuiu para que muitos militares aderissem à ideia republicana, logo depois do retorno à pátria.

A nossa presença na Itália, apesar das dificuldades, foi gloriosa. Com a força expedicionária, preparada rapidamente, e corpo de aviadores recrutado entre jovens sem nenhuma experiência, marcamos os anais da guerra com atos de extraordinária bravura, ainda que a grandeza dos combatentes sempre se deva mais à causa pela qual lutam do que a seu resultado. E nunca é demais relembrar que os exércitos existem para defender a nação como um todo, não para servir a uma ou outra facção política interna, a uma ou a outra classe social.

Os soldados que morreram no terremoto do Haiti são tão heróis quanto os que tombaram em Monte Castelo e em Lomas Valentinas. Eles deixaram suas famílias, seus amigos, suas noivas e partiram para uma guerra pela paz, contra a miséria e todas as suas consequências. De repente, as imprevistas forças da natureza irromperam, como em uma emboscada. Contra elas de nada poderia a sua coragem. Assim, caíram indefesos, os fuzis mudos, os sabres inúteis.

Os outros mortos foram, também, soldados da mesma causa, como é o caso da doutora Arns. A médica, que salvou milhares e milhares de crianças brasileiras da morte prematura, sentira a necessidade de se desdobrar, de salvar também as crianças haitianas. São momentos assim que nos mostram a possibilidade de um mundo único e novo, no qual as fronteiras políticas não signifiquem trincheiras, mas apenas marcos de jurisdição política.

Sarkozy (a França deve ter
mauvaise conscience com relação ao Haiti) está propondo esforço internacional para a reconstrução do país. Espera-se que não se trate apenas de reconstrução física dos edifícios, mas de verdadeira construção humana, com escolas, hospitais, moradias, trabalho, justiça e esperança.



artigo publicado originalmente no Jornal Atual em 15/01/10

ilustração: "Armas Caladas" - Pablo Picasso





sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Chocolate quente e muito cafuné de macaco

Dias de Chuva


Procuro teu colo

Teu olhar

Tuas mãos

O chocolate quente

Um verso na viola

Beijo de amor

Tua boca

Tua voz

A gente ama mais nos dias de frio? de chuva?

Não.

A chuva é que te deixa mais bonita.

por Antonio Siqueira

sábado, 9 de janeiro de 2010

Pensando...

A música não exprime nunca o fenômeno, mas unicamente a essência íntima de todo o fenômeno, numa palavra a própria vontade. Portanto não exprime uma alegria especial ou definida, certas tristezas, certa dor, o medo, os transportes, o prazer, a serenidade do espírito; exprime-lhes a essência abstrata e a geral, fora de qualquer motivo ou circunstância. E todavia nessa quinta essência abstrata, sabemos compreendê-la perfeitamente.  
(Arthur Schopenhauer)

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Aniversário póstumo



ALGUÉM GENIAL


Fernando Toledo completaria hoje 42 anos; jovem demais para ter a vida ceifada de maneira tão estúpida. Em agosto de 2005, um irresponsável em alta velocidade, avançou o sinal vermelho e deu fim a sua vida. Mas isso não vem ao caso neste momento. Convido todos a brindá-lo, a celebrá-lo como se ele estivesse aqui, entre nós, recitando, ensinando, fazendo valer, fazendo rir, fazendo chorar, chorando, sorrindo e, o que ele sabia fazer muito bem, AMANDO a todos nós como se fossemos um só.

Parabéns meu irmão, esse dia é seu. Bêbado

Há algumas horas, navegava pela rede a procura de notícias no ramo das artes; música, literatura, etc...Deparei-me com a coluna de Roberto M. de Moura com algumas das últimas publicações e Fernando. São trechos que não precisavam de sua assinatura para que fosse reconhecido...

Moments do Fernando

Em 6/12/2004:

“Discute-se muito pouco hoje os critérios de qualidade objetiva na Arte. Depois dos ready-mades de Duchamp, dos HQs tornados quadros de Lichtenstein, das Marylins e Campbells de Andy Warhol, tudo pode ser Arte, desde que seu executor o declare antes, e apresente uma bula explicativa do produto. (...) Acontece que a Estética não pode se valer, única e exclusivamente, de um discurso. Por mais que se fale na Arte da Retórica, esta última, por si só, não se constitui em fato artístico: outros fatores, como equilíbrio, originalidade e significância, tanto no conteúdo e na forma como na relação entre os dois, devem, mandatoriamente, estar presentes e estabelecer a tríade entre autor, público e crítica, de que é composto o fato artístico. Hoje, devido a uma proliferação de uma atitude politicamente correta, que promove um verdadeiro fascismo às avessas, somos quase que juridicamente obrigados a reconhecer valor em qualquer coisa. Não conceder juízo de valor a um pneu furado exposto com gáudio, por um artista neozelandês, pode significar, para os arautos de uma relativização completa, que somos participantes de grupos racistas anti-neozelandeses e, sobretudo, opositores ferrenhos do uso de pneus – o que acarretaria o desemprego de milhares de operários famintos nas fábricas dos mesmos. (O funk, sobre o financiamento pelo MinC da viagem de Tati Quebra-Barraco ao exterior) não opera em termos, inicialmente, musicais: possui apenas sonoridade mal-acabada e ritmo repetitivo (tanto que com uma só base pode-se gravar diversas "composições"), e não inclui entre seus elementos Harmonia e Melodia reconhecíveis, atributos estes indispensáveis para que algo possa ser classificado como Música. Que os europeus nos acham folclóricos e muito engraçados, já sabemos. Não precisamos que nos considerem ridículos e absolutamente imbecis também.

Em 21/2/2005:

“Você já leu ‘A Nova Música’, do Aaron Copland? É muito interessante, apesar de eu discordar da apreciação do autor acerca de Rimsky-Korsakoff e da ‘influência bilateral do jazz’ (não acredita, o autor, numa influência significativa da música de câmara no jazz, do que discordo - basta ouvir Ellington, Gill Evans e, mesmo, Parker, ou seja, três músicos absolutamente diferentes, para constatar isso). Mas vale a pena, estou terminando. O peso que ele confere a Stravinsky é inegável. No entanto, ele dá uma importância enorme ao Darius Milhaud, que acredito desproporcional. Lembre-se que muito do notório ‘Boi no telhado’ é plágio do Nazareth, pelo que consta... Ontem, li ‘O fabuloso e harmonioso Pixinguinha’, do Edigar de Alencar. Ótimo em termos de informação, mas o estilo é meio sofrível, em certos momentos.”


Roberto M. Moura, é carioca jornalista, crítico musical, produtor e diretor de espetáculos, roteirista e apresentador de programas culturais na Tv Educativa/RJ (atualmente, faz parte da equipe fixa do “Comentário Geral”). Email: robertommoura@globo.com
Link original desta publicação:
http://www.brazil-brasil.com/content/view/553/28/




Parabéns Totô Sorte