domingo, 30 de agosto de 2015

A verdadeira carência do homem brasileiro contemporâneo

Por Antonio Siqueira

Solução e Vitória






















Se formos buscar nos Evangelhos algumas réguas para aferir os valores segundo os quais nos devemos conduzir, veremos que a régua da caridade, do zelo pelos mais necessitados, serve como medida do amor a Deus. Nenhum cristão negará essa realidade ao mesmo tempo material e espiritual. No entanto, o pobre dos Evangelhos é, principalmente, o carente de Deus. E é também, entre muitos outros aspectos, o materialmente pobre, o necessitado de afeto, de justiça, de liberdade, de oportunidade. Desconhecer isto é uma primeira e muito comum perversão do sentido evangélico da palavra “pobre” e da situação da pessoa humana a ela correspondente.

Infelizmente, muitos alegam encontrar, nos Evangelhos, inspiração para uma visão sociopolítica do pobre. O pobre das Escrituras, nessa hipótese, não seria uma pessoa concreta, mas uma classe social. Mais um passo, e ele muda de nome, tornando-se o “excluído da teologia da libertação. É fácil perceber onde se quer chegar com a substituição do vocábulo por um suposto sinônimo.

Dizer-se “excluído” implica a ideia simétrica do “incluído”, ou seja, de alguém que ocupou determinado espaço e rejeita a presença do outro. É o que sugere Lula, por exemplo, cada vez que coloca um suposto pobre num suposto avião e diz que os demais passageiros, supostamente, não o querem ali. Não há limite para a demagogia do multimilionário Lula. E não há limite para a malícia sociopolítica, supostamente religiosa, da teologia da libertação. Esta é uma segunda perversão envolvendo o mesmo conceito.

Uma terceira corresponde ao culto à pobreza material como um bem em si. Nessa perspectiva, muito comum, tudo se passa como se o empenho individual ou coletivo para sair de uma situação de carência material em direção a uma vida com maior dignidade e bem-estar fosse desvio de finalidade da existência humana e não um bem a ser buscado. Afirmo, aqui, o oposto: o ser humano não foi criado com tantos dons físicos, espirituais e intelectuais para se nutrir num pomar e se vestir com folhas de parreira.

Uma quarta perversão – e talvez a socialmente mais maléfica – é a que procura enfrentar a pobreza mediante políticas e sistemas econômicos que a conservam, reproduzem e aprofundam. Refiro-me ao igualitarismo percebido como ideal de vida social, cujos péssimos resultados se tornam nítidos nas experiências comunistas. Em nome da igualdade, mata-se a riqueza na sua fonte. Solapa-se a iniciativa dos indivíduos e das comunidades. Cerceia-se a liberdade de criação, condena-se o mérito e planeja-se a mediocridade. Se a igualdade é o objetivo, a pobreza de todos não perturba os adeptos dessa estranha ideologia que se diz protetora e defensora dos pobres.

A sociedade contemporânea já demonstrou, com excesso de evidências, que o modo mais eficiente de promover o desenvolvimento social, sem prejuízo da caridade, da solidariedade e do amor cristão ao próximo, exige: zelosa formação de recursos humanos, através da educação; inserção dos indivíduos de modo eficiente na vida social, política e econômica; segurança jurídica e atividades produtivas desempenhadas em economia livre, de empresa. Só são contra isso os que têm mais ódio ao materialmente rico do que amor ao materialmente pobre. Cegos pela ideologia, semeiam o que dizem combater: pobreza material e crescentes desníveis sociais.

No Brasil, temos uma assustadora e tenebrosa média de apenas 5% de resolução de homicídios. Nos Estados Unidos, este número é de 65%. No Reino Unido sobe para 85%, Nosso índice é ridículo, estamos no país da impunidade. Mas quem se interessa?




Nota: *Quando ouço (ou leio) um petista reverenciar o assistencialismo, me convém resgatar Rousseau, que no Pacto Social observa que “o homem abdica da sua condição natural de liberdade para viver em sociedade, e sob a sua proteção. Mas, a sociedade organizada em Estado, e este, sem realizar a sua função precípua, violenta e escraviza o homem, trazendo a sua infelicidade. Assim , precisa o Estado fazer valer o seu poder, variando a forma conforme as condições, para resguardar os direitos subjetivos do cidadão, perfazendo o bem comum e promovendo a paz social.” É preciso dar informação e conhecimento ao conjunto da sociedade para que haja a formação de uma consciência política, moral, ética, e responsável, permitindo ao cidadão e eleitor desestimular essas práticas assistencialistas com atos consequentes e voto qualificado. Isso tudo só acontecerá com profundas mudanças na orientação dos investimentos públicos para que beneficiem a população, permitindo acesso à informação e a condições de vida com dignidade e autoestima elevada.



A cronica de hoje tem música.
Tudo a ver com a temática; Milton Nascimento, "Credo" de Milton e do saudoso Fernando Brant.  Do álbum Clube da Esquina nº2 de 1978.






Charge "Educação": Mr Rios

7 comentários:

Rosa Pena disse...

Querido amigo.. vou publicar no Palanque marginal.. Parabéns pelo excelente artigo. beijo/Rosa

Anônimo disse...

É a educação da miséria. Os intelectuais orgânicos que comandam o processo não se importam com o para-efeito do que fazem. O arremedo de ensino que criaram cristaliza a desigualdade, atrasa o país, frustra o desenvolvimento humano de milhões de jovens e lhes impõe um déficit de formação dificilmente recuperável ao longo da vida.

De outro lado, quem escapa à sua rede de captura e vai adiante estudará mais e melhor, lerá mais e melhor, investirá tempo no próprio futuro e, muito certamente, criará prosperidade para si e para a comunidade. O mercado separará o joio do trigo. No tempo presente, as duas maiores causas dos nossos grandes desníveis sociais são: a drenagem de 40% do PIB para o setor público e a incompetência que a tal “educação libertadora” e a respectiva ideologia impuseram ao ensino no Brasil.

Roberto Lamas

Anônimo disse...

A Providência sabe o que faz.
Foi bom a doença não levar o Lula, nem o Genuíno, nem o Dirceu, nem a Dilma. Antes de partirem, precisam testemunhar o ocaso do partido(?) que criaram e da ideologia que pregaram!
(Claro que isso só será possível com o voto impresso na urna)

Celso Lins disse...

E a geração de crianças e jovens logo sucumbida e condenada a viver como alienígenas no mundo real. Os adultos mais resistentes tentaram evitar que a hiperconexão dos jovens os alienassem. Mas a guerra se instalou, adultos no AM, jovens no FM, e, mesmo habitando o mesmo espaço, vivem em mundos absolutamente distintos. Comunicação, comunhão de ideias, sentido de comunidade? Afinal todas essas palavras começam com o termo “comum” ou aquilo que todos compartilham.

Preparem-se, pois após essa fase tribal, egocêntrica e narcisista, mudanças grandes se avizinham, e aí a nova geração corre o risco de cair na real. E a moribunda escola terá que ser ressuscitada na marra neste país esquisito.

Rosa Pena disse...

um beijo amigo querido

Antonio Siqueira disse...

outro imenso beijo, Rosa! :D

Antonio Siqueira disse...

RosA, quando vc aparece por aqui eu até me emocionou.

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