sábado, 19 de outubro de 2013

Vinícius de Moraes: 100 Anos de Eternidade



Vinícius:
Eternamente do Brasil

   Por Antonio Siqueira



caricature: @image_batistao
Em meio a um temporal, na madrugada de 19 de outubro de 1913- há exatos 100 anos -, nascia o homem que marcaria a música brasileira para sempre com suas composições. Virou ícone e passava bem longe do padrão. Não era careta, falava de amor, era a favor do "eterno enquanto dure", definiu o que poucos conseguiram. O "poetinha", como era conhecido, casou-se e fez isso com propriedade, amou nove mulheres oficialmente e diversas outras por toda a sua vida. Vinicius de Moraes era um homem como poucos, teve parcerias felizes com Toquinho, Baden Powell, João Gilberto, Chico Buarque, Carlos Lyra, Tom Jobim, entre outros. Gostava de beber uísque, o qual garantia ser o melhor amigo do homem, o "cachorro engarrafado". Admirava as mulheres belas, a beleza (como um todo, é bom ressaltar) era fundamental. Sofreu um acidente grave de avião, um de carro, fez uma operação para instalar um dreno cerebral, mas não padeceu em nada disso. Vinicius de Moraes morreria no seu lugar preferido: a banheira. Teve um edema pulmonar. O dia 9 de julho de 1980 amanheceu triste no Rio de Janeiro. Este escriba tinha 12 anos e, logo pela manhã, ouvia pelo rádio, junto à sua mãe, a voz de Adelson Alves pronunciar num misto de imensa tristeza e tom audívelmente lacônico: “Morreu o Poetinha!”. Vinícius tocou o coração de crianças como eu naquela época, não só com “A Arca de Noé”, (Os discos A arca de Noé 1 -1980 e A Arca de Noé 2 -1981, traziam composições como "O pato", "A casa", "O gato", "O pinguim" e "São Francisco", que se tornaram famosas nas vozes de Chico Buarque, Milton Nascimento, Toquinho, Marina Lima e Ney Matogrosso, entre outros intérpretes) uma obra-prima destinada às crianças da geração oitentista mas, também, pelo conjunto da sua obra, que encantava a todas as criaturas de todas as idades, credos, gerações...

       Vinícius era a sensibilidade do poeta e do compositor de todos os gêneros, estilos e ritmos. Um dos maiores nomes da poesia contemporânea; Vinícius, Pablo Neruda e Maiakovski foram insuperáveis, o segundo, seu grande amigo. Neruda dizia que Vinícius de Moraes era insuperável pela capacidade iluminada de fazer da sua poesia, a canção mais bela, para o corpo e a alma da mulher amada. O lirismo e a vitalidade que se desprendem de sua obra contagiaram seus contemporâneos, mudaram o rumo da produção musical no país e influenciaram o modo de encarar a vida de várias gerações de brasileiros. Um sublime poeta e homem de paixões viscerais, dedicou sua vida à perseguição do amor e da felicidade, presenteando o mundo com a bossa nova, gênero que ajudaria a moldar a identidade brasileira. Muito além da sua literatura universalizada e de um nível elevadíssmo, não desfilou sua poesia e sua canção apenas na bossa-nova; ele escreveu, compôs e cantou em diversos gêneros, ritmos e estilos.



Neruda e Vinícius: Genialidade em dose dupla






       Impulsivo, passional, sedutor e "Bon vivant", Vinicius se casou com nove mulheres pelas quais se apaixonou perdidamente e das quais se separou ao término do feitiço, com exceção de Gilda de Queirós Mattoso, sua última companheira, com quem foi casado até 1978, dois anos antes de sua morte. E seu amor pelas mulheres ficou imortalizado nos versos de "Garota de Ipanema", canção que compôs em 1962 junto com o amigo Tom Jobim, com um copo de uísque na mão e na mesa de um bar do Rio de Janeiro, de onde observavam os passos de uma bela jovem de 15 anos a caminho do mar. O uísque, sua bebida preferida, corria em abundância nas famosas reuniões de artistas, intelectuais e boêmios que Vinicius costumava organizar quase que diariamente em sua casa do bairro de Jardim Botânico nos anos 60. Os encontros em questão reuniam diversos talentos da música brasileira, como Toquinho, João Gilberto, Baden Powell e o próprio Tom Jobim, alguns dos artistas, - como citado acima -, com quem Vinicius colaborou em suas melhores composições.


      Esse estilo de vida pouco ortodoxo e os ideais políticos de esquerda desagradaram os militares que governavam o país na época e, por isso, o mesmo acabou expulso do corpo diplomático em 1969 pelo então tiranossaurico gagá, Costa e Silva. Até então, Vinicius ocupou importantes cargos nas embaixadas e consulados do Brasil em Paris, Los Angeles e Montevidéu, funções que alternava com frequentes viagens ao Rio para realizar seus shows, nos quais era obrigado a se vestir de terno e gravata. A crítica literária da época também não tolerou bem seu estilo de vida e passou a persegui-lo. Porém, o engraçado de tudo isso era o fato de a ditadura e seus censores semi-alfabetizados nunca terem notado que as letras e poemas de Vina eram críticas severas ao sistema ou piadas engraçadíssimas. As letras de "Testamento", "Na Tonga da Mironga do Cabuletê", por exemplo, passaram incólumes e incógnitas pela caneta da censura. Vinícius brincava com as palavras e com o regime e os ditadores, apesar de terem o expulsado do corpo diplomático, eram seus fãs de carteirinha, inclusive Costa e Silva; este incapaz de traduzir as mensagens do menino Chico Buarque à sua pessoa de forma direta e até mais explicita, como no samba suingadíssimo, "Jorge Maravilha" (Você não gosta de mim, mas sua filha gosta). E ter dançado "Carolina" num baile de formatura com sua mulher e primeira dama, Iolanda Barbosa da Costa e Silva, foi risível e mostrava o lado cafonamente burro e medíocre dos militares bucéfalos. O poetinha Vinícius de Moraes superou o jovem Chico na genialidade em achincalhar o regime dos boçais de farda, criando metáforas como cenouras penduradas numa varinha para hipinose em jumentos.

      O Poeta maior da música popular contemporânea deixou um legado de mais de oito centenas de poemas editados, trabalhos ainda inéditos, canções maravilhosas, umas duas dezenas de viúvas, seu nome em uma das ruas mais famosas do país... Enfim, se o amor se traduz na arte, se a arte de escrever, compor e cantar puderem ser renomeadas, se a poesia atendesse por um codinome, o codinome da criação, do sentimento, do prazer e da alegria de viver, este nome seria Vinícius de Moraes, o “Vina”... o “Poetinha”! Que com o sol desta nação que ele tanto amou e reverenciou mundo a fora, ele... Vinícius  “...o andrógino meigo e violento, que possuiu a forma de todas as mulheres e morreu no mar”; como no seu “Epitáfio”, ainda nos brinda e encanta com os  100 anos de eternidade. Por que o amor é eterno...e se acaba, pode ser qualquer coisa; menos o amor.


*Caricatura: Batistão
**Foto: Arquivo do Site: www.viniciusdemoraes.com.br 



Vinícius e Tom: "Se Todos Fossem Iguais a Você"



1 comentários:

Celso Lins disse...

Tanto amor em forma de música. Li, li mais uma vez, imprimi.
Vinícius deixava menos chata aquela bossa-nova de metidos à besta. ele era poeta, um dos maiores que passaram pelo mundo. Parabéns pelos 100 anos, poeta. Você merece esta homenagem.

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