quarta-feira, 2 de outubro de 2013

O Admirável Gado Velho

Aldous Husley:
Mais moderno do que nunca

  Por Antonio Siqueira





 hipotético futuro onde as pessoas são pré-condicionadas biologicamente e condicionadas psicologicamente a viverem em harmonia com as leis e regras sociais












     





     “Admirável Mundo Novo" romance consagrado de 1932, foi sem dúvidas, umas das obras mais proféticas da literatura mundial. Só que só foi incorpora-se, definitivamente, na literatura mundial nos anos 1960, juntamente com Jean Paul Sartre, Herbert Marcuse, Willian Faulkner, Frans Kafka e outros fenômenos da literatura filosófica existencial. ADM, obra ficcional do genial Adous Huxley  ganha, cada vez mais, os contornos de uma realidade sutilmente etérea e desenvolvida por líderes muito menos carismáticos e capacitados como o personagem Thomas "Tomakin", o frio e imprevisível Alfa, Diretor de Incubação e Condicionamento (D.I.C.) de Londres.

      ADM narra um hipotético futuro onde as pessoas são pré-condicionadas biologicamente e condicionadas psicologicamente a viverem em harmonia com as leis e regras sociais, dentro de uma sociedade organizada por castas. O livro retrata a sociedade perfeita onde todos seriam conformados com sua condição social. Mais do que isso, seriam felizes, harmônicos e satisfeitos com a casta pela qual fazem parte. A Sociedade “perfeita” desse futuro criado por Huxley é mostrada através de uma viagem ao Admirável Mundo Novo. Coisa que não é muito diferente do que vivemos, muito antes da "profecia" de Huxley. Ele vislumbra este futuro em 2540 d.C, o que não chega ser uma grande equívoca dada à década de produção desta obra-prima.

O Livro
A temática conta a história de uma jovem típica, pertencente a uma das castas altas, que, em uma crise existencial (uma falha inexplicável no sistema de produção de indivíduos), conhece uma reserva de selvagens, e, particularmente, um “selvagem” (a reserva é uma alegoria para o mundo real e os selvagens são pessoas remanescentes do mundo em que vivemos, ou em que se viveu na década de 30 – quando o livro foi publicado). Os dois personagens representam o antagonismo entre a nova e a velha sociedade. A personagem vive em uma sociedade formada por indivíduos pré-programados genética e psicologicamente para desempenhar um papel social e gostar deste. Sem questionar ou desejar, nem mais nem menos, simplesmente ser o que lhe foi designado pelo sistema, administrador do bem-estar geral. O selvagem, por outro lado, vive em um mundo cheio dos antigos valores e costumes, dogmas, tradições e imperfeições. O personagem Bernard Marx sente-se insatisfeito com o mundo onde vive, em parte porque é fisicamente diferente dos integrantes da sua casta. Num reduto onde vivem pessoas dentro dos moldes do passado uma espécie de "reserva histórica" - semelhante às atuais reservas indígenas - onde se preservam os costumes "selvagens" do passado (que corresponde à época em que o livro foi escrito), Bernard encontra uma mulher oriunda da civilização, Linda, e o filho dela, John. Bernard vê uma possibilidade de conquista de respeito social pela apresentação de John como um exemplar dos selvagens à sociedade civilizada. Para a sociedade civilizada, ter um filho era um ato obsceno e impensável, ter uma crença religiosa era um ato de ignorância e de desrespeito à sociedade. Linda, quando chegada à civilização foi rejeitada pela sociedade. O livro desenvolve-se a partir do contraponto entre esta hipotética civilização ultraestruturada (com o fim de obter a felicidade de todos os seus membros, qualquer que seja a sua posição social) e as impressões humanas e sensíveis do "selvagem" John que, visto como algo aberrante cria um fascínio estranho entre os habitantes do "Admirável Mundo Novo", repleto de personagens fictícios ou reais que já não estavam mais vivos no decorrer do evento do livro, porém são citados no romance como; Henry Ford, Sigmund Freud, H.G. Wells, Ivan Petrovich Parlov, Willian Shakespeare, Karl Marx e Thomas Malthus.

      Neste mundo criado por Huxley não há pais, mães ou relacionamentos duradouros. Os embriões são “montados” em linhas de produção, de acordo com sua casta. Desde o nascimento, são condicionados, seja por hipnopedia (repetição de frases durante o sono) ou outros métodos, a aceitarem a morte e tratarem o sexo como algo absolutamente trivial, para ser praticado sempre e com todos. Não possui a ética religiosa e valores morais que regem a sociedade atual. Qualquer dúvida e insegurança dos cidadãos eram dissipadas com o consumo da droga sem efeito colateral: o “soma”. As crianças têm educação sexual desde os mais tenros anos da vida. O conceito de família também não existe. Para a sociedade civilizada, ter um filho era um ato obsceno e impensável, ter uma crença religiosa era um ato de ignorância e de desrespeito à sociedade. Faz parte da tríade distópica da literatura mundial, juntamente com 1984 de George Orwell e Laranja Mecânica de Anthony Burgess. Impossível não ver os traços de uma política totalitária que “trabalha incansavelmente” para “o bem-estar da sociedade”. É uma maneira de criticar a substituição das pessoas por máquinas, de uma forma diferente: substituindo o lado humano, os sentimentos e emoções, por sensações pré-programadas.



      O “Admirável Gado Novo” do notável compositor paraibano, Zé Ramalho, está ficando velho, mas procriou outros “bezerros novos” para o grande rebanho do povo e da ignorância; alias este povo nunca esteve tão perto dela nestes tempos de interatividade digital e o que mais assusta; Social. Poderás tu, prezado leitor, sem medo de estar cometendo gafes, comparar estes programas de assistencialismo do atual sistema de governo a que somos submetidos no Brasil do PT (este “partido” que não sabe se é comunista, capitalista ou, simplesmente, uma quadrilha de indecorosos falsos idealistas) aos princípios mais primordiais do embrião desta tríade diabólica. É para ler, pensar, guarda reler e deixar como herança para seu filho.



Nota do autor:

Esta resenha surgiu a partir de um papo profundo com meu amigo Roger (Roger W. Pires M. Silva) acerca da falta de esperança de uma civilização que observa o crescimento de sua nação, contemplando-o de dentro das grades seladas da ignorância. Valeu Roger, muito obrigado pelo generoso diálogo.




A Canção do Povo Marcado...Do Povo Feliz








      Mini Bio
             
Aldous Leonard Huxley

Aldous Leonard Huxley (1894 a 1963) foi um escritor inglês que passou parte da sua vida nos Estados Unidos, e viveu em Los Angeles até à sua morte. Mais conhecido pelos seus romances, Huxley também editou a revista Oxford Poetry e publicou contos e guias de cinema.  Foi um entusiasta do uso responsável do LSD, como catalisador dos processos mentais do indivíduo, em busca do ápice da condição humana e de maior desenvolvimento das suas potencialidades.






2 comentários:

Celso Lins disse...

Huxley é genial! Nos mostra um mundo de pós-guerra em que as pessoas tomam decisão de viver com qualidade de vida, sem sofrimentos, sem culpa, sem remorsos e exclui definitivamente o passado de suas vidas. Você dirá: mas os seres humanos são condicionados a agirem assim no Admirável Mundo Novo, está certo, infelizmente a história está aí para provar que não sabemos o que fazer com a liberdade absoluta.
Temos no mundo de hoje liberdade, para trabalhar, rir, brincar, adoecer, morrer, sofrer e ouvir nossos estômagos roncando, a miséria rondando nossas cidades, a violência nos encarcerando dentro de nossos próprios lares, a degradação do ser humano que trilha para o mundo do crime, prostituição e drogas, a destruição ambiental permanente que faz com que a mãe natureza nos dê respostas, de que irá sem sombra de dúvida nos destruir algum dia.
Creio que algum dia o homem despertará para este Admirável Mundo Novo, que virá; não porque queremos, será sim, consequência dos nossos tresloucados modos de vidas.
Um dos melhores livros que li na minha vida!

Antonio Siqueira disse...

Endosso cada palavra desse seu comentário, meu amigo! É O LIVRO!

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