quinta-feira, 14 de julho de 2011

Com a palavra...


Feridas abertas

Por Luiz Felipe Leite









   
    
     Chegou ao fim na última sexta (08) a investigação da Comissão de Verdade e Reconciliação de Honduras. O intuito da análise foi averiguar o que ocorreu em 2009, após a deposição do então presidente do país, Manuel Zelaya, por forças de segurança. Em menos de três anos, nossos vizinhos da América Central conseguiram dar o pontapé inicial para esclarecer um golpe de estado, algo que, mais de duas décadas depois do final da Ditadura Militar, os brasileiros não chegaram nem perto. E por quê?

     Segundo o relatório da comissão hondurenha, após o golpe, 20 pessoas morreram - 12 pelas forças de segurança e 8 de forma seletiva. O texto também aponta que a decisão de Zelaya de desobedecer à Justiça e à Procuradoria da República para tentar convocar um plebiscito sobre a convocação de uma Constituinte, motivou o golpe. Conforme o texto final, as instituições democráticas não foram capazes de achar uma saída constitucional para o impasse.

     Historicamente, o Brasil, de maneira geral, trata seus assuntos de uma forma não-violenta. Foi assim no processo de independência, durante a adoção da república, e também, sobretudo, contra o regime dos militares, que dominou o país durante duas décadas (1964-1984). Sempre na base da conversa, sem empunhar armas. Claro que existiram conflitos armados durante todos esses processos citados, mas em menor escala, comparando-nos aos demais países da América Latina. A tradição diplomática do brasileiro em relação aos seus problemas institucionais é uma marca conhecida, porém muito questionável.

    O povo tupiniquim não é revanchista. Podemos exemplificar isso analisando a configuração atual do Senado, uma das casas legislativas do Governo Federal. Muitos dos presentes já foram acusados de corrupção, entre outros crimes. Inclusive temos o "glorioso" ex-presidente Collor, que sofreu um processo de impeachment após ser acusado de crime de responsabilidade e foi perdoado pelo povo alagoano. Porém, nem todos os povos do mundo são tão benevolentes quanto o brasileiro.

    Peguemos, por exemplo, a Argentina, nação vizinha que passou por um processo ditatorial tão penoso quanto o nosso. O povo argentino pressionou e o governo derrubou a Lei de Anistia, levando os militares a julgamento.

    Seria tão penoso assim mexer nas feridas? Avaliar o que aconteceu durante os "anos de chumbo", tanto do lado do governo quanto das milícias de esquerda? O que mais impressiona é ver que temos um governo de "esquerda", há oito anos no poder, e nada ser feito. Creio que o Brasil ainda terá que aguardar algumas décadas para cutucar suas feridas, pois elas ainda estão doendo, e muito.



*
Luiz Felipe Leite tem 20 anos, é estudante do 6º semestre de Comunicação Social e Jornalismo na UNIMEP - Universidade Metodista de Piracicaba.
É colaborador do Jornal Lance, escreve o blog  Fala Ligeira  e publica a coluna "
Com a Palavra" todas as quintas-feiras aqui no Arte Vital, engrandecendo ainda mais este espaço.




14 comentários:

mariza lourenço disse...

o brasileiro, em sua maioria esmagadora, é maravilhoso. e aquilo que todo mundo chama de alegria sem causa e que, muitas vezes, é confundida com idiotice, não passa de genuina disposição em seguir adiante sem pensar ou ter tempo para o revanchismo. naturalmente não me refiro a engajamento político, à militância partidária, porque, convenhamos, o que eu vejo todo dia é gente saindo pro trabalho, cuidando da própria vida, sobrevivendo a duras penas e rindo do que não deu certo. esse é o brasileiro que sobreviveu à ditadura, que sobrevive à corrupção e precisa muito mais de alegria do que buscar no passado motivos pra empunhar bandeiras.
muito bom seu artigo, Felipinho, especialmente para reflexão sobre expectativas, sobre o que nos fará andar pra frente e se vale, sobretudo, a pena, revolvermos feridas e lixos que ainda habitam nossos porões.

Anônimo disse...

O Brasil é históricamente um país pacífico, um país que não se metia em encrencas desde a guerra do Paraguai. Depois de Lula, a coisa encrencou e ganhou contornos até hilários.
Esse artigo é excelente para essas reflexões! Muito bom.
Tá me devendo o ColdPlay e o Pink Floyd, amigão!
Beijos e parabéns para o jovem articulista e futuro jornalista, Luiz Felipe!

Marcelo Lopes - CG - RJ

Dayana disse...

Foda esse seu artigo, Luiz!
É tão reconfortador quando você se refere a “mexer nas feridas” e em fazer justiça... E tão jovenzinho, 20 aninhos!
Eu tenho dois tios que foram mortos neste período e minha família pena por justiça, eu era um bebê! O responsável por esse blog quase não conheceu o pai dele. Deve ser tão saboroso para ele ler esse artigo, como para mim e para todos e com a certeza de que, ao ver um menino lindo e esclarecido como você abordar causa tão complexa e hedionda e com tanta coragem, existe uma luz intensa e promissora neste túnel trevoso que se chama Brasil.
Um beijo e obrigada por estes artigos tão bons.

Dayana Fontenelle

Allan Simon disse...

Sou imensamente favorável à punição aos ditadores. Mas não aconteceu com Sarney, Collor, Itamar, FHC, Lula e Dilma. Ou seja, nunca vai acontecer.

Mas, há outro ponto: por que ficar parado olhando para trás e pedindo punição, punição, punição, em vez de olhar para a frente e evitar que a democracia volte a perder o lugar neste país?

Existem comissões internacionais que ficarão em cima do Brasil pela resolução de crimes da ditadura. Já houve uma condenação na Corte Internacional que obrigou o país a realizar busca de corpos dos desaparecidos políticos.

Nossa missão é seguir o jogo e fazer deste país um lugar melhor para viver. Viver no presente e no futuro.

Márcio Donizete disse...

A época da ditadura vai acabando com o tempo. Países estão derrubando esse sistema, e graças à união do povo e de golpes de estado. Foi assim em Honduras, recentemente na Líbia e Egito e antigamente, no Brasil e Argentina. Aos poucos, a democracia prevalece. É a naturalidade. Estamos longe de ser um mundo ideal, mas um dia, quem sabe isso aconteça.

Anônimo disse...

No Brasil isso não rola.
Muita gente fez fortuna com toda desgraça que o país produziu desde a contrução de Brasília. Parabéns ao povo Hodurenho. Aqui ainda temos muito capim pra comer e ladrão de galinha pra botar na cadeia.
Excelente matéria!

Eloy

Anônimo disse...

E aí?
Fazer o q?
Esse país é uma lata de lixo institucional.
O Luiz tocou na ferida mostrando com conhecimento o que rola, mas e aí?
Simplesmente conduziu-se a Dilma ao poder! A "cria" ilustre do imbecil.

Prof Wladmir

Antonio Siqueira disse...

O Brasil sempre foi e ainda é, tradicionalmente, uma nação pacífica, de diálogo franco no que diz respeito à antiga “Liga das Nações” e, atualmente, ONU. Participou de decisões importantes e teve um confuso e ao mesmo tempo, heróico desempenho na Segunda Guerra Mundial. Participou com voz ativa e com denodo diplomático da criação do Estado de Israel (E o Governo Lula bem que tentou sujar esse belo histórico), inclusive enviando tropas com missões pacifistas para a garantia da manutenção desse acordo de escala universal.

A única grande guerra em que a nação brasileira se envolveu foi a Guerra contra o Paraguai por conta das loucuras de Solano Lopes, chefe de estado e ditador hidrófobo da republiqueta, no final do sec XIX.

Visando a província de Mato Grosso, o ditador paraguaio aproveitou-se da fraca defesa brasileira naquela região para invadi-la e conquistá-la. Fez isso sem grandes dificuldades e, após esta batalha, sentiu-se motivado a dar continuidade à expansão do Paraguai através do território que pertencia ao Brasil. Seu próximo alvo foi o Rio Grande do Sul, mas, para atingi-lo, necessitava passar pela Argentina. Então, invadiu e tomou Corrientes, província Argentina que, naquela época, era governada por Mitre. Decididos a não mais serem ameaçados e dominados pelo ditador Solano Lopes, Argentina, Brasil e Uruguai uniram suas forças em 1° de maio de 1865 através de acordo conhecido como a Tríplice Aliança. A partir daí, os três países lutaram juntos para deterem o Paraguai, que foi vencido na batalha naval de Riachuelo e também na luta de Uruguaiana.

Esta guerra durou seis anos debaixo de muito sangue e sofrimento. Duque de Caxias, ao perceber que a fragilidade dos seus inimigos era maior que as dificuldades de brasileiros, uruguaios e argentinos, resolveu ceifar de vez as forças paraguaias dizimando mais de 100 mil cidadãos guaranis numa escala de extermínio que durou 1 ano. Antes da guerra, o Paraguai era uma potência econômica na América do Sul. Além disso, era um país independente das nações européias. Para a Inglaterra, este país era um exemplo que não deveria ser seguido pelos demais países latino-americanos, que eram totalmente dependentes do império inglês. Foi por isso, que os ingleses ficaram ao lado dos países da Tríplice Aliança, emprestando dinheiro e oferecendo apoio militar. Era interessante para a Inglaterra enfraquecer e eliminar um exemplo de sucesso e independência na América Latina. Após este conflito, o Paraguai nunca mais voltou a ser um país com um bom índice de desenvolvimento econômico, pelo contrário, passa atualmente por dificuldades políticas e econômicas sem precedentes.
América Latina é um barril de pólvora quase flamejante e que ainda não explodiu, por conta dos prejuízos que conflitos dessa natureza podem causar e da miséria que ainda assola o continente. O exército de Honduras forçou Zelaya a sair do país de pijamas em 28 de junho depois de disputa com os líderes empresariais do país, Suprema Corte, Congresso e militares sobre os planos da realização de um plebiscito para garantir apoio público à ampliação do mandato presidencial. Seus críticos afirmam que ele tentava manter-se no poder, mas nega que teve essa intenção. Zelaya não ocupa mais a embaixada brasileira. Aliás, os embaixadores brasileiros devem viver um constrangimento enorme por conta das macaquices do Governo Lula.

baroni disse...

Esse cara é bom!
Deveria estar num jornal grande, mesmo tão jovem.

Celso Lins disse...

Eu acho que Zelaya foi um grande teste para amadurecer o jeito de se fazer diplomacia por aqui e o Brasil agiu como deveria agir. Simultaneamente, o Lula enrolava o país em questões como Irã e a mais delicada delas, a extradição ou não de Battisti (como abordou brilhantemente o Felipinho na ultima quinta-feira, 7 de julho). O grande macaco zombeteiro barbudo deu lugar a uma mulher forte, mas que precisa se desvencilhar de vez de um ebó chamado Luiz Inácio Lula da Silva. Perfeito seu artigo, Luiz Felipe.

OBS: Antonio, Duque de Caxias foi um dos maiores carniceiros que América Latina teve o desprazer de parir.

Dayana disse...

Será que vale a pena exumar esses malditos crimes?

Anônimo disse...

Não sei o porque de eu não conseguir logar e comentar com minha conta, mas assino para que o administrador possa aceitar.

Luiz Felipe, você é um menino muito talentoso e vivo nas questões politicas, informado do que se passa no mundo e muito bonito (vide foto). Vai voar alto! Parabéns

Magda
Camila - São Paulo

Anônimo disse...

Renan Belini - Santos

Concordo com tudo no texto... é um absurdo agente ver caras como o Collor e tantos outros acusados de corrupção, e alguns que até participaram da ditadura, nos congresso e no senado... um absurdo

Anônimo disse...

Sim, o Brasil trata seus assuntos de e uma forma não-violenta, mas consensiosa demais e isso é um perigo...Você está certíssimo.

É isso aí!!!

Marcelo - RJ

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