quinta-feira, 7 de julho de 2011

Com a palavra...

Afirmação ou complexo
 de inferioridade?

  Por Luiz Felipe Leite




      Afirmação. Essa palavra, derivada do verbo afirmar, segundo publicações online significa “Declarar com firmeza; Assegurar que uma coisa é verdadeira; Afirmar um fato; Manifestar; Afirmar seus princípios, sua personalidade”. O ato de manifestar suas ideologias, opiniões, sentimentos, é uma das ações mais (se não a maior) naturais do ser humano. A grande questão é, tratando-se do Estado brasileiro, se a necessidade da afirmação passou dos limites, passando a ser algo nocivo para o mesmo, ou se isso é um direito fundamental inalienável de qualquer ser, ou no caso analisado, da instituição, e se esse não tem limites.

     Para ilustrar o que está sendo mostrado aqui, vamos a um caso que ocorreu em um passado recente. No último mês de junho, após muitas discussões, votações, recursos e sabe se lá mais o que, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu pela manutenção, por seis votos a três, da decisão do ex-presidente Lula sobre o Caso Battisti. Com a determinação, o Governo Brasileiro negou o pedido de extradição do dito cujo pela Itália, e deu o status de refugiado político para o italiano, acusado de terrorismo e assassinato no país de origem. Boa parte dos membros da diplomacia brasileira, entre eles o ex-ministro Celso Amorim, disseram que a decisão foi uma vitória do Brasil sobre as potências européias, pois a nação tupiniquim não se rendeu a “pressão estrangeira”.

     O X da situação é: Comemorar uma decisão, que envolveu duas nações, um réu e dezenas de familiares, como uma vitória da afirmação sul-americana sobre a Europa? A impressão que declarações como essas passa, é que ainda estamos no ano de 1822, quando o então Brasil colônia declarou-se independente da metrópole Portugal. Países do continente europeu, grande maioria sendo impérios coloniais, repudiaram o novo Estado, torcendo o nariz para os brasileiros.

     É fato que o Brasil teve de mostrar (ou pelo menos tentar) o seu valor perante os desconfiados olhos do resto do mundo. E com certa razão: Uma nação que surgiu na selvagem América do Sul, deveras distante do “centro do mundo”, que era a Europa, tinha como produto exportador maior o café. Em termos econômicos e políticos, o Brasil era um pequeno inseto, pronto para ser esmagado pela Grã-Bretanha, pelos Estados Unidos e pelos Impérios Ibéricos (Espanha e Portugal).

     O Brasil mudou muito em alguns aspectos e pouco em outros. Hoje é uma das dez maiores economias do planeta, uma das nações mais miscigenadas do mundo e tem grande potencial para ser uma das três maiores neste novo século. Porém ainda peca em organização, estrutura e, sobretudo, em ética, que parece passar longe de certas áreas, como de algumas instituições do Governo Federal, porém isso é uma discussão para outro artigo.

      Será que ainda é necessário mostrar a capacidade do Brasil? As ações do mesmo no sistema econômico internacional, como o sucesso da contenção da hiperinflação, processo que vinha desde a década de 1950, como o aumento da renda do brasileiro, através de políticas de investimento social, já não são indícios disso? Claro que ainda precisam ser feitas muitas coisas, como melhorar o nível educacional e médico do Brasil, mas são situações “normais”, tratando-se de países fora do eixo europeu.

     Uma coisa é para ser ressaltada: Cansei de ver meu país sendo achincalhado mundo a fora. Seja por libertar um suposto terrorista europeu, ou por incapacidade daqueles que são eleitos pelo povo.



* Luiz Felipe Leite tem 20 anos, é estudante do 6º semestre de Comunicação Social e Jornalismo na UNIMEP - Universidade Metodista de Piracicaba. É colaborador do Jornal Lance, escreve o blog  Fala Ligeira e escreve a coluna "Com a Palavra" todas as quintas-feiras no Arte Vital.


18 comentários:

Barbara disse...

Otima publicaçao ;)

Anônimo disse...

Por quê esse complexo horrível de vira-latas?
O Luiz Felipe trouxe lucidez ao assunto, abordado sem muita sutileza pelas agências de noticias e blogs falastrões. Estamos fritos!

Luana Campanelly - BH

Dayana disse...

Um colunista gato e com conteúdo surpreendente; é como a mãe dele salientou aui mesmo neste blog e com muita propriedade: 'Muito marmanjo, alguns com décadas de jornalismo na bagagem,não discorrem um assunto com tanta personalidade e inteligência.
O Brasil está pecando muito na diplomacia e nas relações internacionais, quem mora aqui na Europa e é da terra, sabe.
Parabéns Luiz Felipe!

Anônimo disse...

O garoto é bom demais e obviamente vai aparecer mais vezes, pois aqui só tem coisa boa!
Cesare Batisti é um assassino, gente! Foi ridículo o Lula e está sendo ridícula esta administração.

Abraços

Eloy

isadora disse...

Quase não tem o que comentar, olha quem escreveu né? Ótimo texto, trouxe lucidez e abordou um tema que muitos não teriam coragem de abordar... Parabéns Luiz Felipe meu amor, você é dezzzzz. Isadora

Antonio Siqueira disse...

Esse Battisti, ao contrário do que muitos abelhudos dizem, não era das Brigadas Vermelhas que executou Aldo Moro e evitava ao máximo atingir civis inocentes e vulneráveis. Era sim sim, militante do sanguinolento movimento, "Proletários Armados pelo Comunismo (PAC)". grupo armado de extrema esquerda, ativo na Itália no fim dos anos 1970 – os chamados anos de chumbo – período marcado pela violência política, tanto por parte de organizações da extrema esquerda como da extrema direita. O Brasil foi alvo de protestos no Parlamento Europeu por causa dessa decisão absurda. Os crimes de Battisti e seus companheiros foram sangrentos demais e de certa forma, torpes demais. Gente inocente feneceu nas mãos desses terroristas e a coisa tramitou muito longe da esfera do humano. Isso não é idealismo, isto é sadismo e carnificina tribal.
Excelente texto, Felipinho!

baroni disse...

Que país é este?

Anônimo disse...

Complexo de inferioridade?
Pode ser.
Pior é a mentalidade de pobre desse povo, que piorou com a era Lula. Ele sim, o Lula, convenseu o brasileiro de que ele era, como povo, uma grande titica.

Marcelo

Celso Lins disse...

Uma nação 'adolescente' procurando afirmação...Perfeito.

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Antonio Siqueira disse...

Discordo em parte, meu caro Lupo. Os problemas internos da nossa economia foram resolvidos antes de abrirem-se as portas do mercado internacional e a inflação foi o principal deles, como bem ressalta o LFL. A China sempre foi gigante, mesmo em tempos de guerras e revoluções. É comunista sim! Se surgisse um Mao aqui no Brasil nos tempos de Getulio Vargas, as coisas seriam outras em terras tupiniquins. Talvez o nosso chorinho fosse mais sacudido e gostoso do que já é e a nossa caipirinha menos amarga.
O insucesso estadunidense é oriundo das burradas nos 8 anos da era Bush. Uma idade das trevas político-ideológica abateu-se sobre o país e, em meio a tantas guerras absurdas, destroçou, não só a economia deles, como a dos europeus também. As constantes transições do euro e mais uma serie de assuntos que não tenho embasamento para discorrer, ajudaram a afundar a União européia numa franca decadência. O Brasil deu o pulo do gato e aliou-se a BRIC (que não é mais BRIC, pois tem um quinto país, a África do Sul). O Brasil amadureceu nesse processo, sim; As fanfarronices do governo Lula é que transformaram a diplomacia brasileira em motivo de piadas. Quem não se lembra do apoio subserviente ao Irã?

Abraços a todos

marcio enrico disse...

enquanto nossa capital for buenos aires, o presidente te chamar de camarada ou companheiro e não souber conjugar um verbo (mas sabe de matemática, veja a conta bancária dele), a coisa vai assim... valorizando as pessoas certas, como o filho prodígio, que tinha um salário de 700$ como técnico de zoológico e de repente, pela própria capacidade, em meses constrói um patrimônio de milhões.
EDUCAÇÃO? Pra que?

mariza lourenço disse...

excelente artigo do Felipinho, que terá pela frente a árdua tarefa de precisar optar entre o jornalismo político e o esportivo. dá pra fazer os dois? *;)
esse caso do Battisti abre um precedente perigoso (e nada bonito) no estado brasileiro. a questão do terrorismo está guerreada em dois artigos da nossa carta maior (4º - VIII e 5º - XLIII), ambos bastante claros no repúdio a essa prática hedionda, cometida lá fora ou aqui dentro. embora a concessão de asilo político também esteja prevista na cf, em minha opinião, concedê-lo a qualquer pessoa acusada de desrespeito, ainda que presumível, ao sagrado direito humano de viver, contraria toda a disposição do legislador que houve, por bem, denominar nossa constituição de cidadã. humana, sobretudo.
o presidente Lula foi infeliz em sua decisão, ainda que a tenha justificado sob a alegação de que o julgamento de Battisti foi realizado à sua revelia. ora, se o ordenamento pátrio permite que se processe um réu à revelia, quem somos nós para, literalmente, meter o bedelho na lei alheia? uma decisão infeliz e lamentável que, repise-se, abre um grave precedente para qualquer estrangeiro acusado de crimes hediondos em seu país de origem.
no entanto, há que se fazer dois adendos:
o STF decidiu com o brilhantismo que lhe é costumeiro uma questão constitucional, qual seja, a legitimidade do último ato do presidente Lula. foi lamentável? yes! mas foi legítimo. ao STF não cabia decidir a oportunidade de acolhermos um terrorista assassino, mas sim a legitimidade da decisão do chefe da nação.
como derradeiro adendo, não posso deixar de mencionar que não encontro qualquer semelhança entre Battisti e a nossa presidente, já que sua participação em movimentos político-ideológicos não a transformam necessariamente numa assassina sanguinolenta de inocentes, ao contrário de Battisti, né?
o que me deixa triste é ver o brasil claudicando em suas relações internacionais, sem opiniões e decisões firmes que, certamente, o alçariam à condição de um país sério e respeitado por todos. e tudo por conta de meia dúzia de pseudo-ideólogos que se acham o máximo, mas que, no fundo, no fundo, não diferem em nada dos reacionários de plantão.

Anônimo disse...

Artigo perfeito para esclarecimento do caso e os os comentários estão ótimos. Este post convida à reflexão.

B.T.N.J

Anônimo disse...

Uma decisão mal tomada a favor de um bandido, condenado por um país democrático, pode gerar prejuízos incalculáveis ao Brasil . A quem interessa ter Cesare Battisti no nosso país, gerando conflitos e prejuízos à imagem do Brasil? No caso dos atletas cubanos, durante os Jogos Pan-Americanos de 2007 no Rio de Janeiro, o ex-presidente Lula e seu ministro da Justiça da época, foram rápidos ao enviar de volta os boxeadores, que hoje devem estar sofrendo todo tipo de amarguras pela atitude de um governo que pratica uma política confusa nas suas relações internacionais.
Abraços pra você, Antonioni.
Quem é esse jovem talentoso e bem informado?

Roberto Lamas - RJ

Anônimo disse...

Muito bem abordado essa história dantesca da diplomacia brasileira.

B.N

Vieira Junior disse...

De fato, o Brasil lida com um estereótipo histórico, e não é para menos. Desde que foi descoberto, ou melhor, invadido, nossa imagem não é boa. Cartas de viajantes da época em que Dom João estava em nossas terras relatam o Brasil como um país "sujo", "preguiçoso" e "corrupto".
O tempo passou e, na verdade, ainda temos algumas dessas características enraizadas. Cito a corrupção para ilustrar. No entanto, as ferramentas que temos em mãos e que poderíamos utilizar para modificar essa imagem perante o mundo são utilizadas contra nós mesmos. Mais uma vez para ilustrar, cito a maioria dos filmes nacionais que destacam somente o samba e as favelas brasileiras.
O caso Batisti, por exemplo, representa um caso típico de "Davi contra Golias". Nesse caso, assim como na história bíblica, o pequeno Davi se enche de coragem, enfrenta o gigante e o vence. Claro que na bíblia o motivo era muito mais nobre, não se tratava de defender um acusado de crimes bárbaros. No entanto, por motivos políticos e para demonstrar força, o Brasil enfrentou e venceu o seu gigante. Para ser mais otimista, arrisco dizer que mostrou ao mundo quem é que manda por aqui. Tudo muito lindo. Agora, não podemos nos esquecer de nossa imagem histórica, e verdadeira, de país "pobre" e "corrupto". Isso, não há enfrentamento mundial que mude. Apena um enfrentamento ético, moral e de princípios na própria política brasileira tornará o Brasil, de fato, uma potência de respeito. Antes de enfrentar o mundo todo, é preciso domar os leões de sua casa para então ser aquilo que todo brasileiro quer: um país forte, com ordem e progresso.

Anônimo disse...

Meu amigo, você arranjou um parceiro de peso para postar no seu excelente blog, parabéns!

André - Rio de Janeiro

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