sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Progressive Rock : controvérsia e devoção.


Progressivamente Falando
Por Antonio Siqueira
























Poucos estilos musicais geraram tanta controvérsia como o Rock Progressivo (RP), um estilo lembrado hoje em dia pelo enorme espectáculo em palco, pelo seu fascínio por temas derivados da ficção científica, mitologia e literatura fantástica e, acima de tudo, pelo seu esforço em combinar o sentido de espaço e monumentalidade da música clássica com a energia e o poder do Rock. O seu deslumbrante virtuosismo e fascinantes espectáculos ao vivo fizeram-no bastante popular durante a década de 70, a qual viu bandas como King Crimson, Emerson, Lake & Palmer, Yes, Genesis, Camel, Pink Floyd e Jethro Tull trazerem uma nova profundidade e sofisticação ao Rock. Por outro lado, os críticos estigmatizaram os elaborados concertos destas bandas como auto-indulgentes e materialistas. Eles viram a tentativa de fusão rock/clássica do RP como sendo elitista, uma traição às origens populistas do Rock. Mas de uma perspectiva mais realista, o RP é mais uma expressão vital da contra-cultura do final da década de 60 e durante a de 70. No entanto, a sua característica intemporal faz com que, hoje em dia, e para além do facto de a sua capacidade criativa e produtiva estar bem abastecida, este estilo conviva sempre de mãos dadas com as suas origens e influências.

Estavamos em 1967. Na Inglaterra, um dos centros de maior tradição musical, surgia uma necessidade de dar uma abertura estilística à música popular que vinha sendo feita. O cenário político-social da altura era o ideal. Artistas, na sua maioria de formação universitária e procedentes de conservatórios, deram as bases para o RP, juntos com alguns seguidores do psicadelismo. Ao Rock foram acrescentados elementos de música Erudita, Jazz e Folk. A partir de então o movimento cresceu, atingindo o grande mercado nos anos 70, que na época aceitava uma música que não fosse descartável. Foi o auge de grandes bandas inglesas como os Yes, King Crimson, Pink Floyd, Genesis, Jethro Tull, ELP, Gentle Giant, Camel, etc, e que acabaram por influenciar bandas em todos os cantos do planeta até aos dias de hoje. Mas não foi só na Inglaterra que o movimento teve o seu auge. A Itália deu também uma contribuição decisiva para este sucesso com bandas como Premiata Forneria Marconi, Banco Del Mutuo Soccorso, Osanna, Le Orme, Area, etc.

Na segunda metade da década de 70, com a crise do petróleo, as leis comerciais impuseram-se, as editoras começaram a procurar um estilo que exigisse menos investimento e mais vendas. Isso aconteceu com a onda "disco" que explodiu durante o ano de 1978, decretando o fim do RP (assim como outros estilos) em termos comerciais. A ajudar a este aniquilamento surgiu também o Punk Rock, apesar de ter sido um fenómeno mais localizado e efémero, nunca conseguindo alcançar grande numero de vendas a nível internacional.

No início da década de 80, algumas mentes criativas decidiram tentar apostar mais uma vez no RP, influenciadas pelos grandes nomes da década anterior. Face à cada vez maior exigência comercial, onde os contratos eram feitos conforme o numero de vendas, as bandas que então apareceram usaram muito inteligentemente uma mistura de RP com pitadas de uma corrente Pop que então reinava. Entre essas bandas destacam-se os Marillion, mas outras surgiram embora não com tanta notoriedade como IQ, Pendragon, Solaris, etc. Durante esta década, o RP resumiu-se envergonhadamente a um punhado de bandas que não permitiram que o movimento fosse definitivamente sepultado.  Além do mais, estas não podiam contar com qualquer tipo de divulgação e promoção. As editoras não se davam a esse luxo com bandas que estavam destinadas a um baixo numero de vendas e os media foram simplesmente engolidos por uma máquina promocional que se auto-alimentava através das bandas que promovia e das vendas que daí advinham. Esta máquina foi barrando, cegamente e conluiada com os media, todos os caminhos do RP desde a sua origem na banda até ao ouvido do consumidor. No final da década, e quando as forças começavam a faltar aos resistentes, eis que surgiu um fenômeno que veio revolucionar todo o mundo musical: a Internet.

Como se pode facilmente constatar hoje em dia, a Internet revelava-se um meio fundamental para o RP, pois conseguia os dois processos vitais para uma banda: divulgar e vender. Não tardou e, poucos anos passados, logo foram criadas algumas editoras independentes e especializadas no género, as quais utilizavam a Internet como meio fulcral de distribuição e venda dos seus discos. Foi então uma espécie de paraíso para os artistas deste género musical, que assim podiam dar largas à sua criatividade sem ter como pano de fundo o espectro do cumprimento de contratos ao nível das vendas. Até mesmo algumas grandes bandas, que pareciam adormecidas ou a enveredar por estilos muito pouco ligados ao RP, fizeram as pazes com o movimento e voltaram a produzir excelentes trabalhos. Mas não só da Internet viveu este ressurgimento. Também o embaratecimento e vulgarização de instrumentos e bons meios de gravação ajudaram a uma massiva produção discográfica neste meio.

No final da primeira metade da década começaram a aparecer os melhores resultados. Bandas como The Flower Kings, Spock's Beard, Anglagard, Porcupine Tree, etc, ressuscitaram o movimento trazendo consigo não só qualidade, como também uma frente descentralizadora do eixo anglo-saxónico que até então era incontornável. Novos mercados como a península Escandinava, o Japão e a França trouxeram uma maior heterogeneidade à linha musical que até então vinha sendo apresentada. Até aos dias de hoje, estas bandas, assim como muitas e muitas outras, têm provado que o RP está com ótima saúde, rejuvenescido e querendo ir mais além.





Premiata Forneria Marconi PFM - Celebration - Live TV, 1974





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1 comentários:

Dayana disse...

Meu coração pulsa, meus compassos mais brutos conspiram pelo Focus... Era quase a perfeição!

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