terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Dadivas da genialidade



Gênios soltos 
Por Antonio Siqueira


Certa vez, numa mesa do Bar Luiz, na Rua da Carioca, no Centro do Rio; eu e Fernando Toledo, entre um chope e uma baforada num charuto baiano enorme, falávamos da liberdade de auto-identificação que certos livros transmitem ao leitor. A mesma abordagem de definições transigíamos à primeira arte, a mãe musica. Na verdade sempre concordávamos que as duas artes transcendiam além do humano.  Que lendo Joyce, nos sentimos no mesmo mundo moral, no mesmo tipo de enredo e abordagem de dilemas psicológicos. Aquele cara descreveria todo aquele sentimento na Dublin do século XIX ou no Rio de Janeiro da década de 1920, com seus malandros e suas navalhas e todo aquele seu corredor cultural selvagem (da Lapa ao Santo Cristo), porém encantador. Chegamos à conclusões, aos olhos de muitos, absurdas.

 Até que Fernando encontrou o fantástico jornalista e amigo, Fausto Wolff, em uma esticada até o Bar Brasil. Naquela mesma noite de sexta-feira em que ele me arrastou para a verdade dos fatos. Era um novembro chuvoso de 2003. Elucubrações filosóficas a parte, devo confessar que jamais esquecerei aqueles diálogos épicos. Acho que depois de uns 6 meses após aquela noitada sem nenhum juízo de valores, resolveram transformar aquelas conversas em uma entrevista com o próprio Fausto. Fui convidado para participar, via e-mail, mas confesso que amarelei. Fernando conduziu a entrevista com os amigos Eduardo Goldenberg e Gustavo Dumas no mesmo Bar Brasil, na Lapa de todas as culturas e tribos.

Se estivesse entre nós, meu amigo Fernando Cesar Toledo estaria completando 43 anos. Essa é uma data em que jamais poderei deixar de homenagea-lo e agradecê-lo por ter passado por esse planeta, convivido e ensinado a cada um de nós. Aprendeu muito também, mas doou muito mais de si. Nossa amizade ia muito mais além de um diálogo literário ou musical; era o dia a dia, o futebol, os bailes, as festas, as baladas, os amores, as noitadas de muito som, as contas a pagar de ambos, e a família. Que os anjos da arte lhe abracem para sempre.






Fernando Toledo, Edu Goldeberg e Gustavo Dumas entrevistam Fausto Wolff - 19/07/2004

10 comentários:

Celso Lins disse...

Essa entrevista é simplesmente a cara do Wolff. Devia estar cheio de si ao falar do Moreira Franco e dos neo comunistas!

Fernandinho é só saudade! Grande amigo, grande gênio! As perguntas são todas feitas por ele naquela dicção clássica de nerd doido, hehehe...saudades demais!

Anônimo disse...

Antonio, eu comecei a curtir leitura na internet com essa figura maravilhosa que foi, que é Fernando Toledo! Bela homenagem e que história, que noite inesquecível essa! E com Fausto Wolff, o maior jornalista que este país já teve. Esta entrevista...demais!

Beijocas

Luana

Anônimo disse...

Bela história. Os bons morrem jovem, como diria Renato Russo.

Eloy

mariza lourenço disse...

belo texto emoldurando uma linda homenagem. gente boa não morre, voa...
ainda não vi a entrevista, o tempo tá curto demais pra isso neste momento, mas à noite, com calma, verei.
beijinho

Dayana disse...

Eu às vezes não acredito que perdemos o Grilo...e tão jovem! Ele morou um tempo na Finlândia e enviou-me um cartão postal que guardo até hoje, eu ainda morava aí. Essa entrevista é muito legal, até porque, foi feita num bar, ambiente bem do Fausto e do Fernando; Lapa, Bar Brasil...e um escárnio mais do que necessário para a vergonha desses sucessivos governos.

Beijo

Dayana

Anônimo disse...

AMIGOS SE VÃO E ISSO É DURO DEMAIS. AMIGOS BONS, OS IMBECIS PERMANECEM POR AQUI PARA QUE AFIRMEMOS SEMPRE QUE O INFERNO É AQUI.

Marcelo

Magda Camila disse...

Eu fui conhecer mesmo, a genialidade do Fernando Toledo, o escritor e jornalista, pela internet. Foi na Revista da Musica Brasileira www.revistadamusicabrasileira.com.br
O conheci pessoalmente, antes da internet. Acho que ele era físico, um ciêntista, um profissional fora do comum! Eu lia a RMB, a coluna Carta Brasilis que aquele jornal feito para brasileiros que moram nos EUA. Depois ainda tive o privilégio de aprecia-lo no JB do Rio, no Caderno B.

Ele dividia a Coluna da CB e da Revista, com Áurea Alves, jornalista e historiadora musical fantástica. Ela tem um blog muito bom chamado unbubble http://unbubblebr.wordpress.com/sobre-aurea-alves/ em versão para PT e inglês.

Tem um artigo histórico que o Fernando publicou no JB, chamado "Batidão - funk não é musica" que andou botando muita gente para pensar, rs. Um genio!Eu tenho esse artigo recortado do jornal que comprei no aeroporto, na ápoca. Agradeço por mim também,esta grande lembrança, Antonio. Você sabe o quanto eu era fã dele.

magda camila

Anônimo disse...

Sumi um pouco e logo no meu retorno, sou brindada com essa homenagem ao Fernando. Sem palavras...

Martha Sandroni - SP

Anônimo disse...

Saudades do Grilo!

Helô

Anônimo disse...

Antes de ler já comento aqui e reitero a minha admiração por este ser que agora é luz. Os textos dele na Carta Brasilis, na RMB, a Agenda Saba&Choro, no Arte Vital...que saudade.

Luana Campanelli

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