terça-feira, 14 de dezembro de 2010

O Futebol brasileiro e seus craques precisam ser respeitados definitivamente

O Quae sunt Caesaris Caesari do futebol brasileiro
por Antonio Siqueira















Se for verdade a noticia que corre à solta pelos meios de comunicação interativos sobre a CBF ter unificado os títulos nacionais, talvez esteja acontecendo o grande acerto de contas que faltava para que o futebol brasileiro se moralize. Principalmente no que diz respeito à preservação da memória de um esporte que é a alegria, não só dos brasileiros, mas de quase 80% da população planetária. Quando criança me perguntava o porquê dos campeonatos brasileiros serem uma verdadeira “casa de tolerância” e as ligas européias... até as confederações sul americanas serem tão organizadas; inclusive preservando a memória e as tradições do futebol em seus respectivos países. Obvio que com o tempo, fui compreendendo os esquemas sujos das entidades regionais e, principalmente, os da antiga CBD; até o que está aí atualmente e chamamos de CBF. Em 1971, incharam o Campeonato Brasileiro e resolveram começar do zero, apagando a história do nosso futebol até 1970. Naquela época, para disputar o Brasileiro, o clube tinha que ser campeão do seu Estado. Era muito mais difícil do que é hoje.

Não é de se espantar que o poder interno fosse tão medíocre ao tentar apagar da memória de santistas e alviverdes o legado de suas histórias. A coisa vem de longe. Basta citar as copas de 1930, 1934 e 1938 em que dirigentes cariocas e paulistas, numa mistura “abortiva” de qualquer progresso, prejudicaram e muito a seleção brasileira nos primódios das copas do mundo. Por mais talentos que surgissem, era impossível sobreviver ao coquetel destrutivo composto por xenofobia, regionalismo e corrupção venal que quase estacionaram o futebol brasileiro na história das copas. Por pouco não enlamearam definitivamente o esporte bretão, recém chegado ao continente, com idéias fascistas. Estão dando a estes clubes o que lhes são de direito sim, mas muito tarde.

Reconhecer Palmeiras e Santos, como os dois grandes campeões do futebol brasileiro é mais que merecido, principalmente para os craques do passado, como Gerson, Ademir da Guia, Rivelino (então no Fluminense campeão da taça de prata em 1970), Dirceu Lopes (o Cruzeiro também fez história na década de 1960),  que tanto fizeram por seus clubes e pela história do futebol mundial. Cruzeiro, Fluminense, Botafogo e Bahia também tiveram seus triunfos furtados pela bagunça. O Vasco da Gama tem dois títulos sul americanos, na década de 1940 (conquistados pelo lendário Expresso da Vitória), que equivalem à Taça Libertadores de hoje e que vários times latino americanos contabilizam para suas trajetórias. O Vasco reconhece, mas a Confederação Brasileira de Futebol não. Concedei a eles o que é direito, Domine! No blog do Odir Cunha está a integra de uma satira ao suposto telefonema de Joseph Blater para Dom Ricardo Teixeira que seguem aqui os seus trechos finais:


*_Stop, stop, stop Ricardo!!! Quer dizer que Pelé, Tostão, Rivelino, Gérson, Carlos Alberto, Jairzinho, Zito, Clodoaldo e todos esses jogadores que fizeram do futebol do seu país conhecido e respeitado no mundo inteiro, jogaram essas competições oficiais e você ainda não as homologou, Ricardo. Por que?

_Nosso departamento técnico está estudando, presidente…

_Seu departamento técnico está estudando competições realizadas há 50 anos e que reuniram as melhores gerações de jogadores que o seu país já teve, Ricardo?

_Ãhãhãhãh…

_Ricardo, daqui a quatro anos teremos uma Copa do Mundo aí. O mundo olha o Brasil como o berço do futebol arte, da beleza e da magia do esporte. E olha assim não por você, Ricardo, nem por nenhum dirigente, mas por causa desses jogadores que foram campeões e estão sendo ignorados, desprezados pela sua CBF, Ricardo.

……………….

_Sabe em que ano a Itália teve o seu primeiro campeão?

_??????????

_Em 1896, Ricardo, há 114 anos. E para ser campeão, a Udine fez só dois jogos e ambos no mesmo dia. Mas não importa, Ricardo, era o que podia ser feito. E está nos anais do futebol italiano, com muito orgulho. Vocês têm um futebol tão rico, por que desprezar essa história, Ricardo?

………………

_Vamos tentar fazer uma grande Copa do Mundo aí, Ricardo. Um evento pra cima, alegre, que reverencie o futebol arte. Para isso, Ricardo, preciso ter ao nosso lado os maiores campeões que o seu país já teve. Entendeu, Ricardo? Do you understand, my friend?

_Sim, sim, presidente…

_E o telefone de Zurique foi desligado.*


É complicado gostar do bom futebol e conviver com esses contra-sensos. Mas a justiça, até para uma criatura lodosa como Ricardo Teixeira, acaba prevalecendo. Aos poucos vamos deixando de ser vira-latas aos olhos até do mundo do futebol, que é a nossa cátedra. Nem que demore mais 50 anos, a gente chega lá.


*Errata: Rivelino não jogou no time do Fluminense campeão da taça de prata de 1970 como foi dito de maneira errônea por esse escriba que pensa conhecer a história do futebol. Thanks, Antonio Jorge, meu xará! ;-)
-----------------------------------------------------------

Editora Quantum 480 x 60

-----------------------------------------------------------

15 comentários:

Anônimo disse...

Sinceramente, este negócio de aguardar canetadas oficiais para se sentir campeão de um torneio realizado há 40 anos é brincadeira!

É se curvar a decisões meramente políticas!

Abraço.

Celso Lins disse...

Não foi reconhecido oficialmente, Antonio e nem será. Tinham que tirar esse bando de lá na marra, mas temos coisas mais importantes para nos preocupar, não é? Só lamento.

Unknown disse...

Até que enfim.

Camilla Lourenço disse...

Não é preciso de canetadas, eles são campeões reconhecidos já.Agora, o mundialito do Corinthians por exemplo, ele foi como time convidado, quer mais canetada que isso?
Pessoas se doendo é pq o time provavelmente nem assim conseguiu títulos.

Adorei o texto Antonioni!

Beijocas

Anônimo disse...

Ter a consciência de que jogadores magistrais, tri campeões do mundo, verdadeiros fenômenos do futebol mundial foram tão prejudicados e não tentarem fazer nada com o poder nas mãos em prol desses ídolos ou é um tipo de canalhismo fora dos altos da história ou uma era de corrupção histórica entranhada nos anais do futebol do mundo, meu caro! Muito boa matéria. Nenhum jornal que li desde que vazou a notícia, nenhuma publicação em blogs ou colunas, a não ser a do sempre excelente Odir e a sua, nos trouxeram essa veracidade de fatos e esta combatividade à SACANAGEM que sempre foi a CARTOLAGEM em nosso futebol. Muito obrigado. Saudações BOTAFOGUENSES.

Eloy

Anônimo disse...

Continuo discordando dessa unificação ridícula. Um torneio tinha uma formatação e um tipo de participação de peso (Robertão/Taça de Prata) e o outro com outra formatação(mata,mata) e outro tipo de participação. O Robertão/Taça de Prata equivalem ao atual Brasileiro e a Taça Brasil a Copa do Brasil.
Passar a régua como quer a CBF é algo descabido em função do que aconteceu no passado. Parece que a entidade maior do futebol brasileiro não conhece a própria história da evolução desse mesmo futebol brasileiro.
Isso eu chamo de fazer média e colocar todo mundo que conquistou alguma competição nacional no mesmo balaio de gatos, quando na verdade uma coisa era uma coisa e outra coisa era outra coisa.
Sempre fomos zoneados em termos de regulamentos e de critérios de participações em campeonatos nacionais. O próprio Ricardo Teixeira, que tá dando uma de bom moço agora, seguindo um regulamento criterioso, já fez das suas no passado. É a tal história de se perpetuar no poder. E deve ser bom o tal poder, não é a toa que está multimilionário com negociatas de patrocinadores pra seleção.
E salve o Brasil!!!! Somos cinco vezes campeões do mundo, apesar do "rendezvous" internos que sempre perpetuaram e irão se perpetuar no futebol nacional.

Antonio Siqueira disse...

Eu não quero mais ser zoneado não. Eu quero uma civilização que preze a sua memória. Isso aqui não vai melhorar nunca. Mas pelo menos, que construamos um legado. Sou vascaíno e o Vasco da Gama sempre foi perseguido e injustiçado nestes prostíbulos que sempre foram as confederações nacionais de futebol. Naquela época, por que foi o único time que peitou o canalhismo fascista que existia num Brasil ainda engatinhando como sociedade (não mudou muito, mas é o que temos) e lançou em suas equipes, jogadores negros, descendentes de ciganos, de índios. Não só por “Afrofobia”; o futebol só podia ser jogado por jovens de classes mais abastadas e tradicionalistas. Gente bairrista e imensamente preconceituosa. Xenofobia pura...eramos assim aqui.
Não tenho vergonha de ser vascaíno. Todo mundo tem o Eurico Miranda que merece. Eu gosto é de futebol, apenas. Não temos culpa se Palmeiras e Santos tinham os melhores times da década de 1960. Merecidíssimo, pois o Santos era um time de ET's e o Palmeiras de geniais senhores da bola. Pelo menos o Palmeiras não viveu de passado e formou excelentes times nas décadas de 1970 e 1990. O que não foi o caso do Santos que se depender desse time de bastardos irresponsáveis continuará ainda muito tempo sem ganhar um brasileirão ou uma Libertadores. O texto se refere principalmente aos jogadores que triunfaram naquela época e fizeram alguns, muito mais do que apenas marcarem suas trajetórias em seus clubes. O que apelo aqui não é como cronista, articulista ou do que vocês quiserem me chamar; é um cidadão que tenta, de alguma forma, ainda zelar pela memória daqueles que se destacaram por fazer alguma coisa de útil em suas vidas.

Celso Lins disse...

É mais que normal, era mais que previsível que muita gente iria se queimar com essa unificação. Ninguém tem culpa pelo fato de Corinthians, Flamengo e outros "maridos traídos" terem sido umas melecas entre os anos 50 e 60 e só conseguissem algo em seus respectivos campeonatos regionais. Parabéns Palmeiras, Santos,Botafogo, Fluminense, Cruzeiro e Bahia. O Bahia então, amealhou um Bi providencial.

Anônimo disse...

E foi feita a justiça dando o que é de direito ao meu Cruzeiro. A Raposa agradece. Foi apenas um título nesse período, triunfo da melhor geração da história do meu clube. Grande texto, grande visão que geraram comentários excelentes para um debate civilizado sobre futebol; um trem difícil de se obter. Valeu, meu amigo.


Luana BH

Antonio Siqueira disse...

Ás vezes os comentários chegam juntinhos e eu me enrolo, rs.

Celso, os rubro negros ainda não se manifestaram com força. A ficha não deve ter caído.

Lu querida, o Cruzeiro do final dos anos 1960 foi a melhor equipe do mundo.

Camilla, filhota: justiça feita. Ademir e demais mereciam. Ademir está vivo, né? Dirceu lopes (Cruzeiro, 1967-1977) e outros não.

Rodrigo Cabañas: Você viveu no Brasil a sua infância e adolescência inteirinhas e como bom vascaíno, sabe o que é isso aqui.

Eloy: és aqui, com seus coments, o que é nesse imenso condomínio. Um cara com opiniões claras.

Anônimo: muito pertinente a sua opinião, meu caro.

abraços a todos e mantenhamos um debate sadio e civilizado.

Magda Camila disse...

Meu Fluminense tem mais um título!!!

Dayana disse...

Eu sou botafoguense e nem sabia que precisavamos de uma unificação para reconhecer os méritos deos clubes, dos torcedores e craques do passado. Alguém ajuda aí, please!!??!!

Anônimo disse...

Grande Xará !!!!!!
Apenas uma correção no seu texto: ROBERTO RIVELINO não foi campeão brasileiro ...... Em 1970, ele ainda estava no CORINGÃO ....... Ele só foi para o Flu em 1975 ....... Uma pena um cracaço desses não ter esse título .......

De qualquer forma, uma injustiça será reparada ...... Alguém pode conceber que o ATLETA DO SÉCULO 20 ........ Bi-campeão da Libertadores e Bi-campeão mundial de clubes não seja campeão nacional ........ Pois é, sem esse reconhecimento Pelé não é .......

Antonio Jorge Mendes

Antonio Siqueira disse...

Perfeito, Antonio Jorge, meu amigo santista. Errata consertada por vc. O seu xará aqui pede desculpas.

Abração

Anônimo disse...

Justiça mais que feita!!!

R.B.C

Postar um comentário

Diga-me algo