sábado, 20 de novembro de 2010

Progressivamente Falando



Reascensão Bem vinda
Por Antonio Siqueira
























Poucos estilos musicais geraram tanta controvérsia como o Rock Progressivo (RP), um estilo lembrado hoje em dia pelo enorme espetáculo de palco, pelo seu fascínio por temas derivados da ficção científica, mitologia e literatura fantástica e, acima de tudo, pelo seu esforço em combinar o sentido de espaço e monumentalidade da música clássica com a energia e o poder do Rock. O seu deslumbrante virtuosismo e fascinantes espetáculos ao vivo fizeram-no bastante popular durante a década de 1970, aonde vimos bandas como King Crimson, Emerson, Lake & Palmer, Yes, Genesis, Camel, Pink Floyd e Jethro Tull trazerem uma nova profundidade e sofisticação ao Rock. Por outro lado, os críticos estigmatizaram os elaborados concertos destas bandas como auto-indulgentes e materialistas. Eles viram a tentativa de fusão rock/clássica do RP como sendo elitista, uma traição às origens populistas do Rock. Mas de uma perspectiva mais realista, o RP é mais uma expressão vital da contracultura do final da década de 1960 e durante a de 1970. No entanto, a sua característica atemporal faz com que, hoje em dia, e para além do fato de a sua capacidade criativa e produtiva estar bem abastecida, este estilo conviva sempre de mãos dadas com as suas origens e influências.

Era 1967.  Na Inglaterra, um dos centros de maior tradição musical, surgia uma necessidade de dar uma abertura estilística à música popular que vinha sendo feita. O cenário político-social da época era o ideal. Artistas, na sua maioria de formação universitária e procedentes de conservatórios, deram as bases para o RP, juntos com alguns seguidores do psicadelismo. Ao Rock foram acrescentados elementos de música Erudita, Jazz e Folk. A partir de então o movimento cresceu, atingindo o grande mercado nos anos 70, que na época aceitava uma música que não fosse descartável. Foi o auge de grandes bandas inglesas como os Yes, King Crimson, Pink Floyd, Genesis, Jethro Tull, ELP, Gentle Giant, Camel, etc, e que acabaram por influenciar bandas em todos os cantos do planeta até aos dias de hoje. Mas não foi só na Inglaterra que o movimento teve o seu auge. A Itália deu também um contributo decisivo para este sucesso com bandas como Premiata Forneria Marconi, Banco Del Mutuo Soccorso, Osanna, Le Orme, Area, etc.

Na segunda metade da década de 70, com a crise do petróleo, as leis comerciais impuseram-se e as editoras começaram a procurar um estilo que exigisse menos investimento e mais vendas. Isso aconteceu com a onda "disco" que explodiu durante o ano de 1978, decretando o fim do RP (assim como outros estilos) em termos comerciais. Para contribuir para este aniquilamento, surgiu também o Punk Rock, apesar de ter sido um fenômeno mais localizado e efêmero, nunca conseguindo alcançar grande numero de vendas a nível internacional.

Ian Anderson: mentor da seminal banda de Rock Progressivo Jethro Tull 


No início da década de 1980, algumas mentes criativas decidiram tentar apostar mais uma vez no RP, influenciadas pelos grandes nomes da década anterior. Em face de ser cada vez maior a exigência comercial, onde os contratos eram feitos conforme o numero de vendas, as bandas que então apareceram usaram muito inteligentemente uma mistura de RP com pitadas de uma corrente Pop que então reinava. Entre essas bandas destacam-se os Marillion, mas outras surgiram embora não com tanta notoriedade como IQ, Pendragon, Quaterna Réquiem etc. Durante esta década, o RP resumiu-se envergonhadamente a um punhado de bandas que, teimosamente, não deixaram que o movimento fosse definitivamente sepultado. Além do mais, estas não podiam contar com qualquer tipo de divulgação e promoção. As editoras não se davam a esse luxo com bandas que estavam destinadas a um baixo numero de vendas e os media foram simplesmente engolidos por uma máquina promocional que se auto-alimentava através das bandas que promovia e das vendas que daí advinham. Esta máquina foi toda atrelada aos media, todos os caminhos do RP desde a sua origem na banda até ao ouvido do consumidor. No final da década, e quando as forças começavam a faltar aos resistentes, eis que surgiu um fenômeno que veio revolucionar todo o mundo musical: a Internet.

Como se pode facilmente constatar hoje em dia, a Internet revelava-se um meio fundamental para o RP, pois conseguia os dois processos vitais para uma banda: divulgar e vender. Não tardou e, poucos anos passados, logo foram criadas algumas editoras independentes e especializadas no gênero, as quais utilizavam a Internet como meio principal de distribuição e venda dos seus discos. Foi então uma espécie de paraíso para os artistas deste segmento musical, que assim podiam dar asas à sua criatividade sem ter como pano de fundo o espectro do cumprimento de contratos ao nível das vendas. Até mesmo algumas grandes bandas, que pareciam adormecidas ou a enveredar por estilos muito pouco ligados ao RP, fizeram as pazes com o movimento e voltaram a produzir excelentes trabalhos. Mas não só da Internet viveu este ressurgimento. Também a desvalorização e vulgarização de instrumentos e bons meios de gravação contribuíram para uma massiva produção discográfica neste meio.

No final da primeira metade da década começaram a aparecer os melhores resultados. Bandas como The Flower Kings, Spock's Beard, Anglagard, Porcupine Tree, ressuscitaram o movimento trazendo consigo não só qualidade, como também uma frente descentralizadora do eixo anglo-saxônico que até então era incontornável. Novos mercados como a península Escandinava, o Japão e a França trouxeram uma maior heterogeneidade à linha musical que até então vinha sendo apresentada. Até aos dias de hoje, estas bandas, assim como muitas e muitas outras, têm vindo a provar que o RP goza de ótima saúde, rejuvenescido, e querendo ir mais além... A progredir!

Pink Floyd - Comfortably Numb - Pulse - 1994





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6 comentários:

Silvia Pelanda disse...

Mais um gênero para me aventurar!
Muito bom o texto..
E essa música do Pink Floyd é fodástica!!
=]

Dayana disse...

Composições longas,com harmonia e melodias complexas, aproximando-se muito da música erudita. Por vezes atingindo 20 minutos ou mesmo o tempo de um álbum inteiro, sendo estas muitas vezes chamadas de épicos. é tudo que o musico de alma precisa, mas pode ser um pesadelo para muitos. Cara, os artigos do gênero são chatos, mas eu estou lendo o seu pela segunda vez.

Beijão

Celso Lins disse...

Showww!
Mais um gênero maneiro, Silvinha!!!

Magda Camila disse...

Eu quero o cd Aqualung do Jethro Tull!!!

Anônimo disse...

Eu sempre adorei a banda "Marillion" que está afastada dos palcos, mas volta em 2011. Aliás, 2011 promete a volta de gente muito boa, fique ligado.

André

Unknown disse...

Hablando de rock progresivo y saben mucho de música. Felicitaciones, mi amigo!

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