segunda-feira, 1 de março de 2010

Ficou legal?

Você ouviria o meu som?

Por Antonio Siqueira





Freqüentemente recebo recados no orkut ou por email pra ouvir o som de alguém que quer saber da minha opinião. Alguns até pedem pra eu dizer se tem alguma coisa errada... Ora, se você desconfia de algo no seu som, então trabalhe pra sanar o problema antes de mostrar a quem quer que seja!

Pessoalmente, não tenho problemas com esse tipo de coisa; quando tenho tempo até ouço os sons e respondo da forma mais sincera - alguns até me respondem depois, outros não entram em contato nunca mais. O problema mesmo é esse desespero que toma conta das pessoas; elas querem aparecer e querem resultados a qualquer custo; e pra ontem! Querem plantar a semente e ficar abrindo o buraco onde plantaram a cada cinco minutos pra ver se a semente está dando frutos*. Já se sabe onde isso vai dar, não é?

O que quero dizer aqui é simples: não mande mp3, CDs ou vídeos de suas músicas pra caras que você considera mais famosos que você ou mesmo pra caras que você imagina que podem levar o seu trabalho pra gravadoras ou pra outros artistas ainda mais famosos - ou pra quem quer que seja! A maioria das pessoas não vai ouvir e você ainda está se arriscando a ouvir umas besteiras...

Então, simplesmente toque, faça o que tem que fazer. Estude e melhore a cada dia e não tenha essa ânsia nociva por aprovação. Escolha o caminho natural das coisas que é tocar, adquirir experiência e evoluir diariamente. Não tenha pressa e não acredite em saltos evolutivos fora do comum. A música tem o seu tempo e, na maioria das vezes, ele é mais lento que o tempo que a gente acredita ser o ideal pra nós. Sirva à música e tenha como principal ambição apenas estar na sintonia dela.

Agora, pra quem quer ficar famoso da noite pro dia, basta fazer alguma coisa bem idiota pra ser abduzido pelo esquema das grandes gravadoras e da grande mídia. Aí você terá exposição durante algum tempo, será usado até a última gota e será cuspido do esquemão imediatamente após render tudo o que tinha pra render. Se for fazer isso, faça-o conscientemente, sabendo das conseqüências e da sua real motivação. Se for feliz com isso, aproveite.

Por outro lado, para quem quer fazer arte de forma honesta deve haver um preparo mental para não ansiar por qualquer reconhecimento por parte de quem quer que seja - grande público, mídia, crítica, etc. Esse reconhecimento pode vir como pode não vir, mas ele não é condição pra se fazer arte. Acredito que quem escolhe fazer arte deve agradecer pela oportunidade de simplesmente poder fazê-la, é uma grande dádiva! Naturalmente, essa arte vai chegar nas pessoas na hora em que tiver que chegar, seja daqui a um mês ou a cem anos. O que não cabe é essa pressa por reconhecimento. É aí que a arte morre, justamente por se atropelar o ritmo natural das coisas - pelo desejo de ser aceito.

Tem um vídeo com uma entrevista do pianista e compositor Bill Evans no qual ele diz que pôs na cabeça que iria cuidar da música e que o resto viria naturalmente; tem outro vídeo com uma entrevista com o fantástico baixista Ray Brown em que ele diz que o objetivo sempre foi tocar! Pra mim essas são decisões conscientes, lições de vida mesmo, porque apontam para o caminho menos identificado com a cultura de massas que, é claro, pode ser bem mais demorado, mas que é muito mais bonito e verdadeiro.

Então, não peça mais a opinião de ninguém sobre seu trabalho, apenas pratique o seu ofício. Pela experiência, você mesmo terá como avaliar o que faz. E as opiniões virão mesmo sem você perguntar no decorrer do processo... Algumas serão desinteressadas e até reveladoras, vindo de pessoas que você respeita; outras serão levianas e sem base, vindas de pessoas que querem algo de você. A própria experiência lhe dará condições de só absorver o que lhe faz bem, o que lhe faz evoluir.

Apenas plante incansavelmente as sementes todos os dias e não espere os frutos: relaxe e faça música.



*citação do livro “A Eterna Busca do Homem” de Paramahansa Yogananda.
Montagem: Antonioni

1 comentários:

Anônimo disse...

Você ouviria o meu som, Antonioni? Muito bom esse texto, rs e é interessante saber que o srº é tão requisitado!
beijos

Luana BH

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