quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Tempos pagãos

Saturnálias e Sacanagens
Por Antonio Siqueira





Quais serão os seus planos para o Carnaval? Enfrentará estradas e esburacadas? Enlouquecerá dentro de um aeroporto entupido? Ou você, com um pouco de juízo, irá alugar a prateleira inteirinha da locadora mais próxima e ganhará uns quilinhos a mais enchendo a cara de cerveja em casa mesmo? Eu que, como muitos, procuram o “Zensossego” nestes tempos pagãos, ficarei em casa mesmo. Porém, na qualidade de carioca do fundo do ovo, sou de um tempo em que, para alcançar essa paz tão almejada, era imprescindível viajar para bem longe da cidade. O Rio de Janeiro fervia das zonas sul a oeste. A cidade inteira se agitava, as ruas com seus blocos de sujos, de fantasiados, bêbados anônimos e ilustres, os clubes ficavam arrebatados de foliões, associados ou não, à procura de uma folia tresloucada, exaustiva e, muitas vezes, inconveniente, mas que alçava o carnaval carioca ao epíteto de maior festa coletiva de todos os séculos. Eu já fui folião e, há pelo menos vinte anos, separo estes quatro dias para ouvir um bom jazz e conversar com as “fadas”. Eu viajava sempre para alcançar esse momento nirvânico, só que, de uns anos para cá, o inferno mudou de lugar: os balneários (alguns verdadeiros santuários da fauna nativa e da cultura brasileira) e as cidades históricas instituíram seus próprios carnavais. Os habitantes de neuróticas metrópoles como o Rio, resolveram carregar junto consigo seus urbanóides para esses lugares que eram verdadeiros retiros de paz e tranqüilidade. As grandes cidades, assim como o Rio de Janeiro que é o berço do samba e das grandes tradições dos festejos de Momo, diminuíram sensivelmente o seu ritmo. Fenômeno mais que esperado diante de tanta insegurança e violência gratuita. Ficar em casa é menos letal... quase uma terapia.

O carnaval
originou-se de tradições pré-cristãs da Europa e de outros continentes. Alguns historiadores notáveis afirmam que a festa provém de cerimônias em honra ao Deus Egito, mas foi em Roma e na Grécia que o carnaval assumiu suas principais características, mantidas até hoje. Na antiguidade, os romanos celebravam as “saturnálias”, em homenagem a saturno. Eram orgias influenciadas por divindades Greco-romanas como Dionísio e Baco, deuses do vinho e sinônimo de musica, dança e excessos sexuais. A igreja tentou proibir esse festival pagão sem sucesso. Acabou aceitando o inevitável e em 590 o carnaval foi incluído no calendário. O nome carnaval surgiu na Itália no século XIII, mas a expressão “carne levale” é de 695, significando o imposto que os camponeses deviam pagar para realizar a festa.E se esses impostos ainda existissem? Quanto valeria a sua CARNE?


PS: Beba com moderação





3 comentários:

Anônimo disse...

Você tem razão, Antonioni, o carnaval carioca mudou muito. Qdo fui na sua casa no carnaval de 2008 o condomínio que que você mora parecia um mosteiro rs.
E ainda nos trouxe a origem do carnaval. Perfeito!

Luana

mariza lourenço disse...

bela e instrutiva crônica, Antonioni. você faz o serviço completo. conta a história, mostra a origem e, de quebra, opina com bastante propriedade.
em tempos de carne levale o negócio é esconder a carne e driblar o leão... hehe... boa época, aliás, pra pensar em imposto de renda.

beijo

Martha Sandroni disse...

A história do carnaval é bem a cara da Roma Antiga, bem Saturnálias e Sacanagens, perfeito. Gostei muito mais da sua observação final, meu amigo.
Boa prosa com as "fadas verdes", rs!

Martha

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