sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Da-lhe Millor

DAILY MÍLLOR: EU ESTAVA LÁ
Millôr Fernandes




Passeata dos 100.000.
Vocês não vão acreditar, mas eu estava lá.


Em geral, não falo dos meus feitos de bravura porque não os reconheço no que narradores os transformam.

Pelo que leio hoje, eram 100 000 vítimas ou heróis.

Um dos poucos que estavam ali se divertindo era eu.



Não pretendi tomar o Palácio de Inverno (fazia um calor danado), nem mesmo o posto 9 de Ipanema.

Seguia a multidão, agora me lembro, quando passamos pelo Amarelinho. Em uma janela do edifício avistei o pintor Bandeira (Banderrá, como era conhecido em Paris) e acenei. Ele acenou de volta.

Ah, tem mais.
Li numa nota publicada por Arthur da Távola: alguém na parada acendeu um cigarro (não conquistamos outras liberdades, mas perdemos a de fumar, até eu, que nunca fumei) e, distraído, queimou meu braço. Aflito, disse:

- "Desculpe! Desculpe!".

Eu, com meu reconhecido espírito (haja mito), respondi na bucha:

- "É bom eu ir me acostumando".

Arthur, quando é que você inventou essa história?

Passeata dos 100 000.
Quem foi que contou?


* Originalmente publicado na página do autor, hospedada no portal uol:
http://www2.uol.com.br/millor/

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